Por Altamiro Borges
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar que a produção industrial em março caiu 1,3%, na comparação com fevereiro. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi de 6,1% – a maior desde a paralisação dos caminhoneiros. Para a mídia ultraliberal, que apostou todas as suas fichas na recuperação econômica a partir do golpe do impeachment de Dilma Rousseff, a informação é desesperadora. “Queda no setor industrial reforça a retração no crescimento da economia brasileira”, destacou a Folha em título bem pessimista.
Segundo a reportagem, “com a queda disseminada em praticamente todos os segmentos, a produção industrial no país despencou em março, comprometendo o resultado do crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre sob o governo Jair Bolsonaro (PSL)”. O jornal privatista culpa a “dificuldade em aprovar as reformas” – em especial a da Previdência – pela “inesperada” notícia. O artigo ainda cita a falta de confiança dos “investidores e consumidores” no mercado interno e a “queda nas exportações”. Ou seja: o cenário é dramático e as previsões otimistas dos “especialistas do mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos banqueiros – foram para o beleléu.
"A indústria brasileira recuou um ano"
“Após a divulgação dos dados, economistas passaram a rever as projeções para o desempenho da economia em 2018. Solange Srour, economista-chefe da gestora ARX, já vê o PIB do primeiro trimestre em queda de 0,2%, ante alta de 0,1% na projeção anterior. ‘A queda [da indústria em março] foi generalizada e reflete uma atividade que encontra grande dificuldade para acelerar’, diz ela. Srour reduziu sua estimativa de alta do PIB de 1,5 para 1,3%... ‘Se a gente pensar nesses últimos 12 meses, que eram para ser meses de recuperação, a gente está no mesmo ponto de um ano atrás. A indústria brasileira recuou um ano", comentou o economista da RC Consultores Everton Carneiro”.
Dos 26 grupos analisados pelo IBGE, 16 apresentaram recuo em relação a fevereiro. Na comparação com março, foram 22. Segundo o instituto, 56,9% dos 805 produtos pesquisados registraram queda nessa comparação. No trimestre, os setores que mais contribuíram com a queda foram as indústrias de produtos alimentícios (-4,9%), veículos automotores (-3,2%) e derivados de petróleo e biocombustíveis (-2,7%). “O primeiro e o terceiro estão ligados ao consumo interno, enquanto a produção de veículos no país vinha sendo sustentada por importações da Argentina. A indústria extrativa, impactada pela crise da Vale, caiu 1,7% no mês”.
Em março, a produção da indústria brasileira atingiu o mesmo patamar de janeiro de 2009. “A grande realidade é que a indústria como um todo já vem numa trajetória descendente desde o segundo semestre do ano passado", comenta o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo. “Dado que a gente observa em todos esses indicadores uma trajetória descendente, neste momento, a gente está longe de enxergar uma melhora”. O seu pessimismo é corroborado por outras sondagens, como a realizada no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas. Ela constatou que a confiança do empresário da indústria cresceu apenas 0,7 ponto em abril, na comparação com março, ritmo considerado “discreto”.
Queda na demanda interna e nas exportações
Entrevistada pela repórter Nicola Pamplona, da Folha, a economista Silvia Matos, do Ibre, foi taxativa: “Estamos terminando mal o primeiro trimestre e não estamos começando bem o segundo... A gente esperava um resultado ruim, mas não esse resultado... Nesse primeiro trimestre o componente novo é a fraqueza da demanda doméstica. É uma novidade e temos que olhar com mais cuidado. Não é uma questão pontual, mas realmente uma piora no desempenho da demanda doméstica, tanto do consumo das famílias como do investimento... Do lado do investimento, uma variável importante é a expectativa do futuro. A gente tem visto uma incerteza muito grande sobre o futuro, uma piora na avaliação da capacidade de o governo aprovar reformas”.
“Esse cenário mais confuso, levando à discussão das reformas lá para o segundo semestre, tornou o primeiro semestre um período de esperar para ver. Havia uma expectativa muito grande, talvez um excesso de otimismo, de que haveria início da recuperação do investimento. Mas há hoje uma decepção grande, e os investimentos foram postergados... Temos também piora de perspectiva de contratação. Lembro-me das empresas reportando que havia perspectiva de crescimento do emprego. Isso se frustrou diante da demanda doméstica fraca. A gente até tem uma recuperação do emprego, mas a composição do emprego continua muito informal, que tem não só menor renda mas risco maior. E isso também dificulta o cenário do consumo das famílias”.
Em tempo: Os dados negativos não são apenas da indústria. A quebradeira atinge todos os setores. Na sexta-feira (3), a Folha deu uma notinha registrando que “acabou o ano para a construção civil... Mesmo que a reforma da Previdência seja aprovada e venham medidas para destravar a economia, dificilmente o mercado formal de obras crescerá em 2019, segundo os mais pessimistas”. Ouvido, o empresário Eduardo Zaidan, que dirige o Sinduscon-SP e era um entusiasta do fascistoide Jair Bolsonaro, jogou a toalha. “Há um lapso de tempo entre a tomada de decisão de investimento e o desembolso no canteiro”. Segundo a matéria, “a estimativa é que o PIB do setor suba 1% a 2%, mas impulsionado pelo mercado informal, não pelas construtoras... Para piorar, os custos estão em alta. A inflação do setor nos últimos 12 meses até abril cresceu 6,59% – só insumos como areia e aço avançaram mais que 12%”.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar que a produção industrial em março caiu 1,3%, na comparação com fevereiro. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi de 6,1% – a maior desde a paralisação dos caminhoneiros. Para a mídia ultraliberal, que apostou todas as suas fichas na recuperação econômica a partir do golpe do impeachment de Dilma Rousseff, a informação é desesperadora. “Queda no setor industrial reforça a retração no crescimento da economia brasileira”, destacou a Folha em título bem pessimista.
Segundo a reportagem, “com a queda disseminada em praticamente todos os segmentos, a produção industrial no país despencou em março, comprometendo o resultado do crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre sob o governo Jair Bolsonaro (PSL)”. O jornal privatista culpa a “dificuldade em aprovar as reformas” – em especial a da Previdência – pela “inesperada” notícia. O artigo ainda cita a falta de confiança dos “investidores e consumidores” no mercado interno e a “queda nas exportações”. Ou seja: o cenário é dramático e as previsões otimistas dos “especialistas do mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos banqueiros – foram para o beleléu.
"A indústria brasileira recuou um ano"
“Após a divulgação dos dados, economistas passaram a rever as projeções para o desempenho da economia em 2018. Solange Srour, economista-chefe da gestora ARX, já vê o PIB do primeiro trimestre em queda de 0,2%, ante alta de 0,1% na projeção anterior. ‘A queda [da indústria em março] foi generalizada e reflete uma atividade que encontra grande dificuldade para acelerar’, diz ela. Srour reduziu sua estimativa de alta do PIB de 1,5 para 1,3%... ‘Se a gente pensar nesses últimos 12 meses, que eram para ser meses de recuperação, a gente está no mesmo ponto de um ano atrás. A indústria brasileira recuou um ano", comentou o economista da RC Consultores Everton Carneiro”.
Dos 26 grupos analisados pelo IBGE, 16 apresentaram recuo em relação a fevereiro. Na comparação com março, foram 22. Segundo o instituto, 56,9% dos 805 produtos pesquisados registraram queda nessa comparação. No trimestre, os setores que mais contribuíram com a queda foram as indústrias de produtos alimentícios (-4,9%), veículos automotores (-3,2%) e derivados de petróleo e biocombustíveis (-2,7%). “O primeiro e o terceiro estão ligados ao consumo interno, enquanto a produção de veículos no país vinha sendo sustentada por importações da Argentina. A indústria extrativa, impactada pela crise da Vale, caiu 1,7% no mês”.
Em março, a produção da indústria brasileira atingiu o mesmo patamar de janeiro de 2009. “A grande realidade é que a indústria como um todo já vem numa trajetória descendente desde o segundo semestre do ano passado", comenta o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo. “Dado que a gente observa em todos esses indicadores uma trajetória descendente, neste momento, a gente está longe de enxergar uma melhora”. O seu pessimismo é corroborado por outras sondagens, como a realizada no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas. Ela constatou que a confiança do empresário da indústria cresceu apenas 0,7 ponto em abril, na comparação com março, ritmo considerado “discreto”.
Queda na demanda interna e nas exportações
Entrevistada pela repórter Nicola Pamplona, da Folha, a economista Silvia Matos, do Ibre, foi taxativa: “Estamos terminando mal o primeiro trimestre e não estamos começando bem o segundo... A gente esperava um resultado ruim, mas não esse resultado... Nesse primeiro trimestre o componente novo é a fraqueza da demanda doméstica. É uma novidade e temos que olhar com mais cuidado. Não é uma questão pontual, mas realmente uma piora no desempenho da demanda doméstica, tanto do consumo das famílias como do investimento... Do lado do investimento, uma variável importante é a expectativa do futuro. A gente tem visto uma incerteza muito grande sobre o futuro, uma piora na avaliação da capacidade de o governo aprovar reformas”.
“Esse cenário mais confuso, levando à discussão das reformas lá para o segundo semestre, tornou o primeiro semestre um período de esperar para ver. Havia uma expectativa muito grande, talvez um excesso de otimismo, de que haveria início da recuperação do investimento. Mas há hoje uma decepção grande, e os investimentos foram postergados... Temos também piora de perspectiva de contratação. Lembro-me das empresas reportando que havia perspectiva de crescimento do emprego. Isso se frustrou diante da demanda doméstica fraca. A gente até tem uma recuperação do emprego, mas a composição do emprego continua muito informal, que tem não só menor renda mas risco maior. E isso também dificulta o cenário do consumo das famílias”.
Em tempo: Os dados negativos não são apenas da indústria. A quebradeira atinge todos os setores. Na sexta-feira (3), a Folha deu uma notinha registrando que “acabou o ano para a construção civil... Mesmo que a reforma da Previdência seja aprovada e venham medidas para destravar a economia, dificilmente o mercado formal de obras crescerá em 2019, segundo os mais pessimistas”. Ouvido, o empresário Eduardo Zaidan, que dirige o Sinduscon-SP e era um entusiasta do fascistoide Jair Bolsonaro, jogou a toalha. “Há um lapso de tempo entre a tomada de decisão de investimento e o desembolso no canteiro”. Segundo a matéria, “a estimativa é que o PIB do setor suba 1% a 2%, mas impulsionado pelo mercado informal, não pelas construtoras... Para piorar, os custos estão em alta. A inflação do setor nos últimos 12 meses até abril cresceu 6,59% – só insumos como areia e aço avançaram mais que 12%”.
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