Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Quarta-feira, 31 de julho de 2019.
Esta data, no dia em que se completam 7 meses de desgoverno Bolsonaro, poderá ser lembrada pelos historiadores do futuro como o marco do movimento que começa a se organizar em defesa da democracia e das liberdades públicas, ameaçadas mais do que nunca pelo capitão, que planejava jogar bombas nos quartéis do Exército, foi preso, processado, e depois virou deputado.
Há quanto tempo não se ouvia mais falar em sociedade civil, o conjunto de entidades e instituições, que teve papel fundamental na redemocratização do país nos anos 80 do século passado?
Uma dessas entidades, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), deu a largada na noite de terça-feira, ao levar uma multidão à sua sede e ruas próximas, no Rio, para o ato público de defesa das liberdades democráticas e em solidariedade ao jornalista americano Glenn Greenwald, ameaçado de prisão e expulsão do país por revelar a grande farsa da Lava Jato que levou Bolsonaro ao poder.
“Ditadura nunca mais!”, ouviu-se novamente o coro de milhares de vozes indignadas, o mesmo que acompanhou a campanha das Diretas Já, em 1984, nas maiores manifestações cívicas já vistas no país.
Por um momento, parecia que Prudente de Moraes Neto e Barbosa Lima Sobrinho, os dois grandes brasileiros que já comandaram a ABI, estavam de volta ao velho auditório, comandando a eterna luta da centenária instituição em defesa da democracia.
Tive a honra de ser conselheiro da ABI quando eles presidiram a entidade, que volta agora a cumprir seu papel histórico.
Foi a resposta desta sociedade civil brasileira com vergonha na cara, que parecia anestesiada diante da guinada ditatorial de Bolsonaro, desde a sua posse, e que se tornou uma ameaça real nas últimas semanas, com seu permanente ataque ataque às instituições e ao Estado de Direito.
Como aconteceu 35 anos atrás, outra vez a Folha, que se tornou na época o porta-voz das Diretas, foi o único jornal a dar uma cobertura decente ao ato da ABI, dando-lhe a exata dimensão da sua importância histórica (ver matéria na página A10: “Não vou fugir do país”, diz Glenn em ato público em seu apoio).
Em editorial, sob o título “Espiral de infâmias”, a Folha mostrou a gravidade dos últimos acontecimentos:
“Numa escalada sem precedentes de insultos às normas de convívio democrático, aos fatos históricos, às evidências científicas e aos direitos humanos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) aguçou nos últimos dias as tensões e incertezas em torno da sua administração”.
ABI, CNBB e OAB, as três entidades que lideraram a sociedade civil nos estertores da ditadura militar, voltam a se reunir hoje à noite para preparar o lançamento da Mesa Nacional Contra a Violência, no próximo dia 15, em Brasília.
Convocadas pela Comissão Arns, lançada em março, dezenas de entidades de defesa dos direitos humanos ligadas a igrejas, sindicatos e movimentos sociais já aderiram ao movimento que se espalha silenciosamente pelo país.
Em São Paulo, a reunião está marcada para as 19 horas, na sede da OAB, na praça da Sé, 385, 2º andar. A ABI será representada pelo conselheiro Juca Kfouri, colunista da Folha.
Com os generais à volta de Bolsonaro acuados diante da metralhadora verbal do capitão, um celerado aprendiz de ditador, que vai atropelando tudo que encontra pela frente, é mais uma vez na mobilização da sociedade civil que estão as esperanças dos brasileiros de não voltar aos tempos do regime militar.
Em tempos normais, caberia ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal enquadrar o presidente da República nos limites da Constituição, mas não é o que está acontecendo, com os demais poderes subjugados pelo Executivo.
Esta semana, os parlamentares e magistrados deveriam voltar das férias, mas até o momento não se ouviu uma única voz de repúdio à ofensiva ditatorial do capitão, em desabalada carreira rumo ao caos institucional.
Bolsonaro se agarra em Moro e Moro se agarra em Bolsonaro para manter fiéis seus fanáticos seguidores, enquanto o país se desmancha e a economia continua em ponto morto.
Mas tudo tem um limite, e esse limite acaba de ser ultrapassado por um presidente que não respeita nem os mortos da ditadura.
No final do seu editorial, a Folha observa que “os destemperos verbais já começam a fornecer munição para um eventual enquadramento em crime de responsabilidade, por procedimentos incompatíveis com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”.
Mas quem vai enquadrar o capitão?
Só o povo mobilizado em suas entidades e de volta às ruas, como nas Diretas Já, poderá pressionar o Congresso e o STF a assumirem suas responsabilidades diante da barbárie em que o país se meteu.
E o povo já começou a se mover novamente.
Esta é a melhor notícia do ano.
Há esperanças, outra vez.
Vida que segue.
Esta data, no dia em que se completam 7 meses de desgoverno Bolsonaro, poderá ser lembrada pelos historiadores do futuro como o marco do movimento que começa a se organizar em defesa da democracia e das liberdades públicas, ameaçadas mais do que nunca pelo capitão, que planejava jogar bombas nos quartéis do Exército, foi preso, processado, e depois virou deputado.
Há quanto tempo não se ouvia mais falar em sociedade civil, o conjunto de entidades e instituições, que teve papel fundamental na redemocratização do país nos anos 80 do século passado?
Uma dessas entidades, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), deu a largada na noite de terça-feira, ao levar uma multidão à sua sede e ruas próximas, no Rio, para o ato público de defesa das liberdades democráticas e em solidariedade ao jornalista americano Glenn Greenwald, ameaçado de prisão e expulsão do país por revelar a grande farsa da Lava Jato que levou Bolsonaro ao poder.
“Ditadura nunca mais!”, ouviu-se novamente o coro de milhares de vozes indignadas, o mesmo que acompanhou a campanha das Diretas Já, em 1984, nas maiores manifestações cívicas já vistas no país.
Por um momento, parecia que Prudente de Moraes Neto e Barbosa Lima Sobrinho, os dois grandes brasileiros que já comandaram a ABI, estavam de volta ao velho auditório, comandando a eterna luta da centenária instituição em defesa da democracia.
Tive a honra de ser conselheiro da ABI quando eles presidiram a entidade, que volta agora a cumprir seu papel histórico.
Foi a resposta desta sociedade civil brasileira com vergonha na cara, que parecia anestesiada diante da guinada ditatorial de Bolsonaro, desde a sua posse, e que se tornou uma ameaça real nas últimas semanas, com seu permanente ataque ataque às instituições e ao Estado de Direito.
Como aconteceu 35 anos atrás, outra vez a Folha, que se tornou na época o porta-voz das Diretas, foi o único jornal a dar uma cobertura decente ao ato da ABI, dando-lhe a exata dimensão da sua importância histórica (ver matéria na página A10: “Não vou fugir do país”, diz Glenn em ato público em seu apoio).
Em editorial, sob o título “Espiral de infâmias”, a Folha mostrou a gravidade dos últimos acontecimentos:
“Numa escalada sem precedentes de insultos às normas de convívio democrático, aos fatos históricos, às evidências científicas e aos direitos humanos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) aguçou nos últimos dias as tensões e incertezas em torno da sua administração”.
ABI, CNBB e OAB, as três entidades que lideraram a sociedade civil nos estertores da ditadura militar, voltam a se reunir hoje à noite para preparar o lançamento da Mesa Nacional Contra a Violência, no próximo dia 15, em Brasília.
Convocadas pela Comissão Arns, lançada em março, dezenas de entidades de defesa dos direitos humanos ligadas a igrejas, sindicatos e movimentos sociais já aderiram ao movimento que se espalha silenciosamente pelo país.
Em São Paulo, a reunião está marcada para as 19 horas, na sede da OAB, na praça da Sé, 385, 2º andar. A ABI será representada pelo conselheiro Juca Kfouri, colunista da Folha.
Com os generais à volta de Bolsonaro acuados diante da metralhadora verbal do capitão, um celerado aprendiz de ditador, que vai atropelando tudo que encontra pela frente, é mais uma vez na mobilização da sociedade civil que estão as esperanças dos brasileiros de não voltar aos tempos do regime militar.
Em tempos normais, caberia ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal enquadrar o presidente da República nos limites da Constituição, mas não é o que está acontecendo, com os demais poderes subjugados pelo Executivo.
Esta semana, os parlamentares e magistrados deveriam voltar das férias, mas até o momento não se ouviu uma única voz de repúdio à ofensiva ditatorial do capitão, em desabalada carreira rumo ao caos institucional.
Bolsonaro se agarra em Moro e Moro se agarra em Bolsonaro para manter fiéis seus fanáticos seguidores, enquanto o país se desmancha e a economia continua em ponto morto.
Mas tudo tem um limite, e esse limite acaba de ser ultrapassado por um presidente que não respeita nem os mortos da ditadura.
No final do seu editorial, a Folha observa que “os destemperos verbais já começam a fornecer munição para um eventual enquadramento em crime de responsabilidade, por procedimentos incompatíveis com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”.
Mas quem vai enquadrar o capitão?
Só o povo mobilizado em suas entidades e de volta às ruas, como nas Diretas Já, poderá pressionar o Congresso e o STF a assumirem suas responsabilidades diante da barbárie em que o país se meteu.
E o povo já começou a se mover novamente.
Esta é a melhor notícia do ano.
Há esperanças, outra vez.
Vida que segue.
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