sexta-feira, 13 de março de 2020

Bagunça do governo agrava crise econômica


O índice da Bolsa de Valores brasileira despencou novamente nesta quinta-feira (12), em mais um dia de forte nervosismo nos mercados financeiros globais em razão dos desdobramentos ligados à pandemia do coronavírus. Às 10h, o Ibovespa, o índice de ações em São Paulo, caiu 11,65% e os negócios foram paralisados por meia hora. Às 11h12, o índice recuou para 15,43% (a 72.026 pontos) e foi acionado o segundo circuit brake, sistema que interrompe os negócios automaticamente. Dessa vez, a paralisação foi por uma hora.

Durante a tarde, por volta de 15h30, o Ibovespa tinha queda de 14,16%. A última paralisação por queda de mais de 15% ocorreu em 2008. No ano, a queda de valor das ações é de quase 40%.

O economista Guilherme Mello, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que a situação é bastante delicada não só no Brasil, como no mundo. Ele destaca que o Fed, o Banco Central americano, anunciou na tarde de hoje “uma injeção brutal de liquidez no mercado financeiro”, cerca de US$ 1,5 trilhão. Isso foi feito “porque as pessoas estão desesperadas, saindo da bolsa e dos ativos privados e correndo para os ativos públicos”.

Esse movimento ocorre em função da busca por ativos de segurança para os investidores. “Quando chega nesse ponto, e diante de uma escassez de liquidez, porque ninguém empresta dinheiro para ninguém, isso quer dizer que há um cenário gravíssimo de crise financeira e de crédito na economia”, afirmou ao jornalista Rafael Garcia, na edição da tarde do Jornal Brasil Atual, na Rádio Brasil Atual.

Ele explicou que o cenário brasileiro é agravado por dois problemas, um estrutural, e outro conjuntural. O primeiro fator tem a ver com o fato de o Brasil ser um país periférico, subdesenvolvido, e a moeda, o Real, é tratada pelos investidores globais como um ativo financeiro arriscado, diferentemente do dólar, do yen, ou outra moeda de país desenvolvido. “A moeda brasileira é um dos ativos mais voláteis do mundo”, disse.

“Neste momento de aversão ao risco e preferência pela liquidez, e pela segurança dos títulos públicos norte-americanos, eles acabam tirando o dinheiro tanto da bolsa como dos próprios títulos públicos brasileiros”, destacou. Segundo ele, esse é um fator estrutural porque todos os países em desenvolvimento, que não têm moedas centrais, sofrem com isso. “No caso do Brasil, é pior por causa da volatilidade enorme do câmbio e também porque somos um país financeiramente muito aberto, sem proteção para impedir que todo mundo saia”, analisou.

Já em relação ao fator conjuntural, o economista diz que o aspecto complicador é que a economia vem muito mal, já desde antes do coronavírus. “O governo é uma bagunça, é um caos, e diante dessa crise de saúde pública, crise de economia e social a única coisa que o governo consegue fazer é chamar para manifestação do contra o Congresso e falar em reforma administrativa para cortar salários de médicos, professores e policiais. É um governo absolutamente incapaz, inábil – e eles têm uma ideologia e fecham os olhos para a realidade, tanto que negaram até outro dia a própria gravidade do surto de coronavírus”, avaliou. “Esse fator conjuntural torna o país ainda mais inseguro, ainda mais alvo dessa especulação dos mercados internacionais”.

Na entrevista, o professor da Unicamp também recomenda calma aos pequenos investidores que têm aplicações em ações, e que não devem retirar o dinheiro agora. “Se tirar agora, vai realizar uma perda, deixa a crise passar”, recomenda. Ele chega inclusive a dizer que pode ser melhor contrair um financiamento do que mexer nas ações, para quem tem a aplicação e precisa do dinheiro agora. “O melhor é ter paciência, calma, para atravessar a turbulência”, defende.

Mello também avalia que a desvalorização do real frente ao dólar, que nesta quinta-feira fechou em R$ 4,786, reflete a procura por liquidez. “Todos correm para comprar dólar porque tem mais confiança.”

O economista diz ainda que as perspectivas para os próximos dias não são nada alentadoras. “A economia real vai começar a sofrer, os casos de coronavírus devem se alastrar exponencialmente”, afirmou. Isso vai afetar a economia real, e muitos eventos e atividades serão cancelados, como aliás já vem ocorrendo.

Confira a entrevista [aqui].

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