Por Carina Vitral* e Cláudia Rodrigues, na revista Fórum:
Este 8 de Março é um dia que, para além de reafirmar as lutas, os desafios e as conquistas das mulheres no mundo inteiro, adquiriu maior significado aqui no Brasil, depois que o presidente da República cometeu crime de responsabilidade ao convocar seus seguidores para desestabilizar outros poderes da República. Na campanha, ele falava em acabar com os “vermelhos”, agora afronta o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Nós, mulheres, iremos às ruas neste domingo em defesa do regime democrático, da harmonia entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, em favor dos direitos coletivos e individuais, em prol da liberdade de expressão, da liberdade de organização, da liberdade religiosa e de tantos outros preceitos essenciais à humanidade.
As mulheres assumiram papéis de destaque em momentos cruciais da história mundial. Basta citar nomes como Joana D’Arc (França), Catarina, a Grande (Rússia), Angela Davis (Estados Unidos), as Mães e Avós da Praça de Maio (Argentina) e milhares de outras, como Leolinda Daltro, uma das pioneiras na conquista do voto feminino no Brasil. Ela, aliás, é lindamente homenageada pelo Coletivo Feminista da Universidade Mackenzie, em São Paulo, que leva o nome dessa precursora de um direito que, no dia 24 de fevereiro, completou 88 anos, graças a muita dedicação, persistência e até sofrimento de muitas mulheres ao longo do tempo.
E continuamos tendo presença marcante nas lutas contemporâneas em vários países. Na Argentina, em 2016, foi convocada a primeira greve nacional de mulheres contra a violência de gênero, após vários casos de violência sexual que chocaram o país. O lema “Ni una menos” (“Nenhuma a menos”) ganhou força. Na pauta também constava o combate à “feminização da pobreza”, que foi aumentando durante o governo Macri até atingir 35% da população em 2019, ao término do seu governo neoliberal. A mesma Argentina na qual, desde 2006, as mulheres dos lenços verdes protagonizam memorável campanha por aborto legal e seguro que, embora ainda não aprovado, deixou latente a demanda pela legalização. Fruto da conscientização sobre os direitos femininos – e de uma legislação mais avançada que a brasileira –, as mulheres, hoje, são 40% das deputadas no país vizinho.
Nos Estados Unidos, tornou-se anual a Marcha de Mulheres desde que Trump assumiu o governo. Ao lado de temas como as mudanças climáticas, igualdade salarial, direitos reprodutivos e imigração, tão atuais no cotidiano do povo estadunidense, milhares de mulheres saem às ruas nos meses de janeiro para rechaçar o machismo, a misoginia e o preconceito com que o presidente do país trata uma parcela relevante de sua população.
E o Brasil? Nosso país vem sofrendo profundo retrocesso em conquistas civilizacionais, trabalhistas, feministas, culturais, científicas, educacionais. Com a chegada do bolsonarismo ao governo federal e a outras esferas de poder nos estados e municípios, caminhamos não só para a eliminação de direitos básicos da população, como para um regime ditatorial. O presidente é um neofascista que cultua o ódio, a barbárie, a tortura, a burrice e muitas outras coisas malignas.
Não bastasse o chefe ser um obscurantista, os ministros se igualam na ignorância, na desumanidade e no fanatismo conservador. Damares, a ministra da Mulher nesse governo de falsos moralistas recheado de hipocrisia, quer ditar regras sobre comportamento às pessoas e controlar o corpo das mulheres, numa postura que atenta contra a nossa liberdade de decidir o que fazer da nossa vida.
Em vez de aumentar o orçamento da saúde pública, o governo quer cuidar da vida íntima das pessoas. Em vez de criar emprego, quer impor abstinência sexual aos jovens. Em vez de construir casas para as famílias sem teto, quer decidir a cor da roupa das meninas e dos meninos. Enquanto isso, a economia minguando, o meio ambiente em ruínas, a miséria se alastra, crianças sem creche, mulheres sem trabalho, jovens explorados em “vagas” precárias dos aplicativos.
Estamos submetidos a um governo golpista e destruidor. Destrói a aposentadoria, o SUS, a educação, a cultura, a ciência, a proteção social, o emprego dos brasileiros. Mas não destruirá a nossa esperança, nem a nossa capacidade de resistir. Por isso, sairemos às ruas neste 8 de março, pela vida das mulheres, porque somos as maiores prejudicadas pelo desgoverno Bolsonaro, e também em defesa da nossa frágil democracia, da Constituição e do Estado de Direito, indispensáveis à estabilidade social e institucional do país. Da mesma maneira que nós mulheres precisamos contar com a sociedade para acabar com o machismo, oferecemos o nosso dia à união de todos que queiram barrar a sanha autoritária do presidente que convocou apoiadores para um golpe de Estado. Não aos arroubos fascistizantes de quem não tolera o regime democrático!
* Carina Vitral é presidente nacional da União da Juventude Socialista e presidiu a União Nacional dos Estudantes. Claudia Rodrigues é presidente da União Brasileira de Mulheres na cidade de São Paulo.
Este 8 de Março é um dia que, para além de reafirmar as lutas, os desafios e as conquistas das mulheres no mundo inteiro, adquiriu maior significado aqui no Brasil, depois que o presidente da República cometeu crime de responsabilidade ao convocar seus seguidores para desestabilizar outros poderes da República. Na campanha, ele falava em acabar com os “vermelhos”, agora afronta o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Nós, mulheres, iremos às ruas neste domingo em defesa do regime democrático, da harmonia entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, em favor dos direitos coletivos e individuais, em prol da liberdade de expressão, da liberdade de organização, da liberdade religiosa e de tantos outros preceitos essenciais à humanidade.
As mulheres assumiram papéis de destaque em momentos cruciais da história mundial. Basta citar nomes como Joana D’Arc (França), Catarina, a Grande (Rússia), Angela Davis (Estados Unidos), as Mães e Avós da Praça de Maio (Argentina) e milhares de outras, como Leolinda Daltro, uma das pioneiras na conquista do voto feminino no Brasil. Ela, aliás, é lindamente homenageada pelo Coletivo Feminista da Universidade Mackenzie, em São Paulo, que leva o nome dessa precursora de um direito que, no dia 24 de fevereiro, completou 88 anos, graças a muita dedicação, persistência e até sofrimento de muitas mulheres ao longo do tempo.
E continuamos tendo presença marcante nas lutas contemporâneas em vários países. Na Argentina, em 2016, foi convocada a primeira greve nacional de mulheres contra a violência de gênero, após vários casos de violência sexual que chocaram o país. O lema “Ni una menos” (“Nenhuma a menos”) ganhou força. Na pauta também constava o combate à “feminização da pobreza”, que foi aumentando durante o governo Macri até atingir 35% da população em 2019, ao término do seu governo neoliberal. A mesma Argentina na qual, desde 2006, as mulheres dos lenços verdes protagonizam memorável campanha por aborto legal e seguro que, embora ainda não aprovado, deixou latente a demanda pela legalização. Fruto da conscientização sobre os direitos femininos – e de uma legislação mais avançada que a brasileira –, as mulheres, hoje, são 40% das deputadas no país vizinho.
Nos Estados Unidos, tornou-se anual a Marcha de Mulheres desde que Trump assumiu o governo. Ao lado de temas como as mudanças climáticas, igualdade salarial, direitos reprodutivos e imigração, tão atuais no cotidiano do povo estadunidense, milhares de mulheres saem às ruas nos meses de janeiro para rechaçar o machismo, a misoginia e o preconceito com que o presidente do país trata uma parcela relevante de sua população.
E o Brasil? Nosso país vem sofrendo profundo retrocesso em conquistas civilizacionais, trabalhistas, feministas, culturais, científicas, educacionais. Com a chegada do bolsonarismo ao governo federal e a outras esferas de poder nos estados e municípios, caminhamos não só para a eliminação de direitos básicos da população, como para um regime ditatorial. O presidente é um neofascista que cultua o ódio, a barbárie, a tortura, a burrice e muitas outras coisas malignas.
Não bastasse o chefe ser um obscurantista, os ministros se igualam na ignorância, na desumanidade e no fanatismo conservador. Damares, a ministra da Mulher nesse governo de falsos moralistas recheado de hipocrisia, quer ditar regras sobre comportamento às pessoas e controlar o corpo das mulheres, numa postura que atenta contra a nossa liberdade de decidir o que fazer da nossa vida.
Em vez de aumentar o orçamento da saúde pública, o governo quer cuidar da vida íntima das pessoas. Em vez de criar emprego, quer impor abstinência sexual aos jovens. Em vez de construir casas para as famílias sem teto, quer decidir a cor da roupa das meninas e dos meninos. Enquanto isso, a economia minguando, o meio ambiente em ruínas, a miséria se alastra, crianças sem creche, mulheres sem trabalho, jovens explorados em “vagas” precárias dos aplicativos.
Estamos submetidos a um governo golpista e destruidor. Destrói a aposentadoria, o SUS, a educação, a cultura, a ciência, a proteção social, o emprego dos brasileiros. Mas não destruirá a nossa esperança, nem a nossa capacidade de resistir. Por isso, sairemos às ruas neste 8 de março, pela vida das mulheres, porque somos as maiores prejudicadas pelo desgoverno Bolsonaro, e também em defesa da nossa frágil democracia, da Constituição e do Estado de Direito, indispensáveis à estabilidade social e institucional do país. Da mesma maneira que nós mulheres precisamos contar com a sociedade para acabar com o machismo, oferecemos o nosso dia à união de todos que queiram barrar a sanha autoritária do presidente que convocou apoiadores para um golpe de Estado. Não aos arroubos fascistizantes de quem não tolera o regime democrático!
* Carina Vitral é presidente nacional da União da Juventude Socialista e presidiu a União Nacional dos Estudantes. Claudia Rodrigues é presidente da União Brasileira de Mulheres na cidade de São Paulo.
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