Carreata contra o quarentena/isolamento social (19/4/20, Av Paulista São Paulo SP). Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas |
O uso da palavra “respeito” pelo presidente Jair Bolsonaro ao se referir ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo maia (DEM-RJ), tem um significado que vai muito além da etimologia. Ao dizer que Maia “resolveu assumir o papel do Executivo” e precisa respeitá-lo, o presidente está dizendo, no fundo, que cabe ao Legislativo o papel de mero seguidor das suas diretrizes de governo.
A afirmação de Bolsonaro de que Maia “quer atacar o governo federal” para tirá-lo do poder tem como propósito fustigar o Legislativo com a intenção de difamá-lo entre os bolsonaristas. Não é preciso grande esforço para se entender que a forçada de barra do presidente pela polêmica diz respeito à forma como ele e Maia vêm agindo a respeito da crise econômica e da Covid-19.
São duas linhas distintas, por isso conflituosas. Maia tem feito movimentos amplos em algumas votações polêmicas e na questão do coronavírus vem se posicionando distante das teses bolsonaristas, como na recente aprovação da Medida Provisória de auxílio aos estados e municípios. O fato de cada um pensar e agir de um e de outro jeito faz parte da égide constitucional, da independência dos Poderes da República.
O que Bolsonaro pretende é a subordinação do Legislativo ao Executivo. Essa manobra diversionista faz parte da sua praxe de criar animosidade com os demais Poderes – o bolsonarismo tem atacado também o STF sistematicamente –, com segundas intenções. Bolsonaro nunca escondeu seu desapreço pela democracia e ao chegar à Presidência da República tratou de provar que de fato não está interessado em seguir as regras democráticas no exercício do cargo.
Sua prática tem sido de acumular contradições para forjar antagonismos políticos, uma clara manobra para criar caldo de cultura em busca de novas aventuras golpistas. Bolsonaro e seus seguidores não poupam esforços para atacar, domar e tentar dizimar todas as organizações e instituições que compõem o espectro democrático – como, além dos Poderes da República, a imprensa, os movimentos sociais e as entidades representativas da sociedade.
Tudo isso faz parte do seu cálculo de marchar na direção da ruptura com o regime democrático. Pode-se dizer que ele já criou uma crise federativa, com o tensionamento rotineiro com a maioria dos governadores, e avança com seu projeto de poder autoritário na busca de reunir as condições para tentar impô-lo sobre as instituições democráticas. Seu isolamento é uma tática para avaliar o terreno e calcular passos mais ousados.
A resposta de muitas lideranças partidárias a mais esse ataque antidemocrático, e do Senado de não seguir os ditames do governo para votar com celeridade a Medida Provisória do contrato de trabalho Verde e Amarelo – que pode perder a vigência por caducidade –, mostram que uma fenda está aberta entre os que de uma forma ou outra defendem a democracia e projeto bolsonarista. Ela se traduz na urgência de avanços de uma frente de salvação nacional.
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