quarta-feira, 6 de maio de 2020

Números oficiais da Covid são imprestáveis

Por Fernando Brito, em seu blog:

A divulgação do número recorde de mortes – 600! – pelo novo coronavírus pouco se prestam, pela inexatidão, a qualquer política pública de prevenção ou de reação a uma epidemia.

Desde o início desta tragédia, aqui se aponta o erro de, num país que não tem meios e estruturas para testar os pacientes, dimensionar o alcance da doença exclusivamente por testes, deixando da lado o diagnóstico clínico.

O senhorzinho que segue firme – até que o Centrão lhe tire o cargo, porque o colete do SUS ele mesmo tirou – na gestão Teich diz que, dos 600 óbitos, apenas 25 pessoas morreram hoje. Os outros 575 são os que, post mortem, esperavam o laudo que confirmaria o novo coronavírus, bem depois de enterrados.

Como as pessoas estão morrendo às centenas, as centenas de hoje ficam para amanhã ou depois de amanhã, ou quem sabe para semana que vem.

O quadro da pandemia no país é um retrato de Dorian Gray: o que vemos já não é assim desde tempos atrás.

É o retrato da tragédia quando jovem e, por isso, as ruas se enchem.

Posto aí em cima as marcações que fiz nos gráficos oficiais do Ministério da Saúde, mostrando como as mortes “caem” nos finais de semana e feriados, faz tempo, como se o vírus fizesse seu mórbido trabalho em semana inglesa, descansando aos sábados e domingos, o que evidentemente não faz.

Olhe os dados do gráfico aí de cima, retirados da página oficial do Ministério da Saúde, com “quedas” nos dados de sábado e domingo.

Isso mostra a incapacidade de nossas autoridades sanitárias de, dois meses depois de começado o ciclo de morte e contaminação pelo novo coronavírus, sequer ter conseguido organizar um sistema de informações eficiente.

Isso não demanda equipamento, remédios, pessoal, demanda protocolos de diagnóstico, pura inteligência médica.

O interventor bolsonarista na Saúde passa o tempo todo dizendo que precisa de informações.

As mais básicas são, é claro, as sobre quantos e onde as pessoas adoecem e morrem.

Dizer que só 25 dos que morreram de ontem para hoje ou que das mortes que se registraram hoje mais de 95% do monte de cadáveres entra na conta do Covid-19 é saber e fingir que não sabe.

Estamos apenas no preâmbulo de uma tragédia e, infelizmente, por falta de governo, uma tragédia inevitável.

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