domingo, 28 de junho de 2020

Pandemia ofusca real quadro político do país

Por Bepe Damasco, em seu blog:

Existe um fator decisivo que vem sendo levado em conta de forma lateral por boa parte dos analistas da conjuntura política do país: o isolamento social impede as manifestações de rua pelo impeachment de Bolsonaro e em defesa da vida e da democracia.

Se é verdade que o isolamento tem cada vez menos adesão, revelando o alto grau de estupidez e egoísmo presente na sociedade, também é inegável que o contingente da população que mais cumpre a quarentena é a vanguarda política e social do país. Justamente os brasileiros e brasileiras que estão ávidos por levar o “Fora Bolsonaro” para as ruas.

Há clima para, como pontapé inicial, reeditar as grandes manifestações em defesa da educação que ocorreram em 2019. Os meios de comunicação monopolistas se verão forçados inclusive a fazer uma cobertura digna do movimento.

Como não dispomos do recurso da bola de cristal, é impossível prever os desdobramentos dessa retomada dos protestos. Mas, de forma alguma, podemos descartar a possibilidade da classe trabalhadora e do povão gradativamente engrossarem essas jornadas, conferindo-lhes a condição de campanha cívica de massas.

Infelizmente, o Brasil caminha para atingir a casa das 100 mil vítimas fatais da pandemia assassina. E Bolsonaro, que tem grande responsabilidade por esse morticínio, cedo ou tarde será cobrado pelo sofrimento atroz imposto ao povo brasileiro.

As pesquisas feitas por telefone, metodologia que afeta sua eficácia como instrumento de aferição do que pensa a população, mostram que Bolsonaro compensou o terreno que perdeu na classe média e entre os mais escolarizados com o aumento de sua aprovação na base da pirâmide social.

Isso se deve principalmente à desinformação que credita o auxílio emergencial a uma iniciativa do governo federal, quando na verdade o projeto tem a paternidade da oposição, pois se dependesse de Guedes, os mais desassistidos teriam que se contentar com a merreca de R$ 200.

Mas isso vai acabar, embora já tenha sido anunciada a prorrogação por mais três meses e, sacanamente, com valores decrescentes de R$ 500, R$ 400 e R$ 300.

E o que Bolsonaro tem para colocar no lugar como política voltada para o povo, como projeto de país? Rigorosamente nada, a não ser a radicalização do ultraneoliberalismo tardio, a marcha batida da dilapidação dos direitos e a liquidação completa de quaisquer resquícios de bem-estar social.

A entrega de cargos para o Centrão, que joga por terra seu discurso oportunista de nova política, a organização criminosa chefiada por Flávio Bolsonaro, a possível delação de Queiroz, o envolvimento cada vez mais nítido do clã com as milícias e as trapalhadas do advogado Wassef empurram Bolsonaro para um isolamento cada vez maior. No momento, parece evidente que ele resolveu se calar para tentar salvar sua pele e a de seus filhos.

Em que pese as mazelas da oposição de esquerda serem públicas e notórias e mereçam um artigo específico, não compartilho do derrotismo que grassa entre muitos de seus militantes. Cabe lembrar que Bolsonaro segue como o presidente pior avaliado para esse período de mandato desde a redemocratização.

Muita água ainda vai correr debaixo da ponte até a eleição de 2022. Pesquisas eleitorais neste momento quando muito revelam tênues inclinações do eleitorado, mas alerto os que superdimensionam sua importância que nunca, jamais, em tempo algum, um governante com índices de ruim e péssimo superiores ao ótimo e bom conseguiu se reeleger.

Datafolha publicado dia 26/6 : consideram o governo Bolsonaro ruim e péssimo 44% dos consultados, enquanto 32% o avaliam como ótimo e bom.

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