terça-feira, 7 de julho de 2020

Perigoso, Moro nunca deixou de ser tolo

Por Joaquim de Carvalho, no Diário do Centro do Mundo:

Há um provérbio que diz: “Até um tolo pode passar por sábio e inteligente se ficar calado.”

Assim era Sergio Moro quando titular da 13a. Vara de Justiça Federal de Curitiba.

Como juiz, falava pelas sentenças - que talvez nem escrevesse, já que na magistratura não é raro que esse trabalho fique a cargo de um escrivão.

Nas raras vezes em que tinha de falar, desafinava, não apenas literalmente, já que a voz dele é fina.

Confrontado, demorava a responder e, quando respondia, dizia às vezes frases sem nexo.

Por exemplo, no primeiro depoimento prestado por Lula, ele disse há blogs que patrocinavam o ex-presidente.

Como assim?

Lula havia dito que ele havia trilhado um caminho equivocado para um juiz.

O ex-presidente não chegou a dizer que ele se comportava como parte, mas o sentido da frase era esse.

“Esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais de que eu serei absolvido, preparem-se. Os ataques ao senhor vão ser muito mais fortes do que eles fazem até com os ministros da Suprema Corte que não pensam como a imprensa brasileira hoje”, disse.

Nos últimos dias, Moro se expôs muito e praticamente deu a razão aos advogados de Lula, que chamaram a atenção das cortes recursais para a parcialidade de Moro.

Na Globonews, o ex-juiz disse que o depoimento colhido de Lula foi como num ringue.

Foi exatamente a expressão “ringue” que Cristiano Zanin Martins usou no habeas corpus apresentado no ano passado, que está em julgamento na segunda turma do Supremo Tribunal Federal desde dezembro de 2018.

“Consoante exaustivamente demonstrado, a imagem que a sociedade possui da relação entre o Julgador e o Jurisdicionado é a de que são rivais, afinal, são vistos como inimigos que ocupam polos opostos.

Não foi por outro motivo que, na véspera do interrogatório do ex-presidente Lula na Ação Penal número 5046512-94.2016.4.04.7000/PR, as capas de dois dos principais periódicos do país circularam com a ilustração do Paciente (Lula) e deste Juízo (Moro) como lutadores e os colocaram em um ringue, retratando-os como oponentes.

Assim, o interrogatório seria o momento em que se realizaria “ajuste de contas” e o “primeiro encontro cara a cara”.

Como se viu pelo vazamento das mensagens da Lava Jato, não foi só imagem.

Moro se comportou como parte.

Tanto que, às 22h04 do dia 10 de maio, cerca de duas horas depois do fim do depoimento, Moro acionou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima para orientar como a Lava Jato deveria proceder para conquistar a opinião pública e evitar que Lula passasse a impressão de que venceu o duelo.

“O que achou?”, perguntou Moro por meio do aplicativo Telegram.

“Achei que ficou muito bom”, respondeu Carlos Fernando.

“Ele começou polarizando conosco, o que me deixou tranquilo. 
Ele cometeu muitas pequenas contradições e deixou de responder muita coisa, o que não é bem compreendido pela população.
Você ter começado com o Triplex desmontou um pouco ele.”

Como parceiro da acusação, Moro comentou:

“A comunicação é complicada, pois a imprensa não é muito atenta a detalhes.”

E alguns esperam algo conclusivo.

Talvez vcs devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele.

Porque a Defesa já fez o showzinho dela”, disse, em relação à coletiva que os advogados de Lula deram naquela mesma noite.

“Podemos fazer. Vou conversar com o pessoal”, respondeu, obediente, Carlos Fernando.

“Não estarei aqui amanhã. Mas o mais importante foi frustrar a ideia de que ele conseguiria transformar tudo em uma perseguição sua.”

No dia seguinte, a Lava Jato se manifestou na linha proposta por Moro, e a velha imprensa (que muitos chamam de grande) repercutiu como o então juiz queria.

Moro se comportou um como um boxeador numa luta contra Lula, não há dúvida, mas era uma disputa totalmente desigual, como se pode ver pelo diálogo.

Moro era o competidor e tinha a favor dele a imprensa, e outros lutadores menos famosos, no caso os procuradores. Além disso, era o árbitro.

Na luta livre, muitas vezes o vilão, quando em desvantagem, conta com a ajuda de uns lutadores menores, que costumam agredir o adversário por trás. E o juiz deixa seguir.

A diferença é que, no telecatch, a luta é de mentira, é tudo combinado antes.

No caso de Moro, o processo também foi uma farsa, mas seu resultado foi bem concreto.

E quem pensa que foi apenas Lula quem perdeu nesse processo armado se engana.

O grande derrotado foi o Brasil, nossas atividades econômicas e a democracia.

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