Silvio Tendler nasceu em 1950. Ele é cineasta, documentarista, professor e historiador. É conhecido como o “Cineasta dos Sonhos Interrompidos”. Conta histórias como a dos presidentes Juscelino Kubitscheck e João Goulart, do político e líder guerrilheiro Carlos Marighella, do poeta Castro Alves, do médico e ativista do combate à fome Josué de Castro, do geógrafo Milton Santos, do cineasta Glauber Rocha e tantas outras. Ganhou o apelido justamente por contar histórias de personagens essenciais à trajetória do Brasil, mas que não conseguiram completar suas obras.
Tendler tem uma carreira de sucesso no cinema brasileiro e reconhecimento internacional. Já produziu e dirigiu mais de 70 filmes, entre longas, médias e curtas metragens. Em 1981 fundou a Caliban Produções.
Seu mais recente documentário é “A Bolsa ou a Vida” que aborda o desmonte do conceito de bem-estar social e nos faz refletir sobre a incompatibilidade do neoliberalismo com um projeto humanista de sociedade.
“No futuro pós-pandemia do novo coronavírus, a centralidade será o cassino financeiro e acumulação de riqueza por uma elite ou uma vida de qualidade para todos, com menos desigualdade?”, questiona o filme.
Na abertura do programa Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato, destacou ser um prazer e uma honra estar em um debate do Brasil de Fato.
“Eu adoro esse jornal, é das coisas mais importantes que acontecem nesse país, não só o jornal, como o próprio movimento que lhe deu origem, o MST. E acho que esse é o verdadeiro reconhecimento do artista, quando ele tá junto com as pessoas justas.”
Confira a íntegra da entrevista.
Tu começaste a trabalhar muito jovem, e tem uma produtividade que pelo amor de Deus, que coisa fantástica...
Eu comecei a trabalhar em 1968, mas essa virada que eu dei na minha vida, por incrível que pareça foi a partir de 2011.
Porque eu já tinha muitos trabalhos, mas em 2011 eu um dia acordei tetraplégico, acordei sem o movimento, deitado na cama sem nenhum movimento. E aí eu negociei com Deus, eu falei não me tira a razão, nem a fala.
Eu era muito marcado por aquele filme com Javier Bardem, o “Mar a Dentro”, em que ele fica completamente tetraplégico, não fala, aquele filme é horrível. E eu, tudo o que eu não queria era viver aquilo, então como eu tinha a palavra e podia me expressar, e a razão, eu negociei com Deus, falei: não, não vou me entregar assim.
Eu procurei o grande Paulo Niemeyer, que é um dos maiores neurocirurgiões do Brasil, filho do Paulo Niemeyer, que é o neurologista de primeira, e sobrinho do Niemeyer, do Oscar.
Então ele me atendeu, e aí estava todo mundo achando que a minha doença era fruto da minha diabete, ele falou: não, isso aí que você tem não é diabete, isso é medula.
E ele perguntou: como é que você tá dormindo? Eu falei: eu tô dormindo sentado. Olha, se eu não te operar, você vai morrer. Então eu vou te operar, eu não sei o que que eu vou te devolver, mas vamos salvar a vida.
Me operou, foi uma coisa assim fantástica, e eu tô aqui 10 anos depois conversando com vocês, e desses 70 filmes, uns 20 estão nessa trajetória, nesses poucos anos.
Eu tenho que deixar alguma coisa pra minha filha, meu neto tem que ficar com uma obra, e eu comecei a trabalhar e não parei mais.
E deixou muita coisa mesmo. Inclusive esse último filme, Silvio, eu fiquei muito impressionada, esse “A Bolsa ou a Vida”, que tu finalizaste na pandemia, foi lançado esse ano, e ele é realmente um retrato do mundo que nós estamos vivendo.
Ele é todo feito por videoconferência. Eu não tive presencialmente com nenhum daqueles personagens, e nenhuma daquelas locações.
Eu estava colado nessa mesa que eu tô falando com vocês agora, um ano e meio.
No dia 12 de março de 2020 eu fiz 70 anos, e como eu comecei cinema na cinemateca do MAM, eu pedi que eles me emprestassem a sala, fiz a projeção de um filme chamado “Nas Asas da Pan Am”, que é autobiográfico, meus amigos foram, 200 pessoas, bebemos, comemos, dançamos.
Havia rumores de um vírus, 3 dias depois o país estava fechado.
Eu entrei dentro de casa e não saí nunca mais, fiquei nessa mesa aqui, colado, um ano e meio.
No dia 2 de novembro eu saí, fui almoçar na casa do Henrique Pizzolato, que fez um belo macarrão pra mim. E foi a primeira vez que eu saí depois de um ano e meio. “A Bolsa ou a Vida” foi feito por videoconferência dentro de casa.
E eu acho que ficou um filme forte, de resposta a isso que tá aí.
Tem uma cultura colaborativa no ar muito grande, ninguém se recusou a participar, tem personagens fortíssimos dentro do filme, tem o padre Júlio Lancellotti, Dom Mauro Morelli, Ailton Krenak, Almir Suruí. O Suruí é de uma grande liderança indígena.
Ele é parente da Txai?
É o pai da Txai, eu tô citando-o por isso, porque eu tenho muita honra de ter ele no filme, e a filha dele é grande guerreira, o melhor discurso da ONU foi o dela.
No inglês impecável, acabou com o discurso da Greta bla bla bla. Porque eu não acho que se pode criminalizar a política, eu acho que esse negócio do bla bla bla da Greta me lembrou muito o Daniel Cohn-Bendit, ele era uma grande liderança em 68, a coisa mais importante que ele fez na vida foi uma foto dele encarando um policial em Paris, que viralizou o mundo.
Depois disso ele virou um dos fundadores do movimento verde, teve cargos políticos, virou deputado, deputado europeu. E aí depois ele começou a meter os pés pelas mãos.
Na época que o Milton Santos denunciava o globalitarismo, ele fez uma aliança com os governos europeus pra votar num plebiscito a favor da Europa.
Eu acho que ele e o Toni Negri foram os dois que se equivocaram, entraram nessa canoa do globalitarismo. Eu o entrevistei e perguntei: Mas, Dani, você na juventude era ao contrário disso. Ele disse: Eu era muito jovem, tenho o direito de mudar.
E aí quando eu vejo a Greta tão revolucionária, eu digo daqui a 30 anos ela vai me dizer a mesma coisa, eu era muito jovem, eu tenho o direito de mudar.
Então eu pego essas pessoas que eu acredito na coerência, e eu acredito na coerência da Txai, um pouquinho mais velha que a Greta, mas com uma história mais sólida.
Ela é de Rondônia, de uma aldeia Suruí que sabe o que é que isso representa pra o povo dela. Então eu tô feliz de ter o Almir no filme, a Duda, tô com muita gente boa nesse filme, que eu ainda não tive o prazer de apertar a mão.
Os teus filmes são um manifesto. Esse último filme, eu tenho impressão de que vai ser um soco no estômago como “O veneno está na mesa”, porque ele é um manifesto esclarecedor.
A ideia é um soco no estômago, foi assim com o “O Veneno Está na Mesa”, o “Dedo na Ferida” também, e esse agora, “A Bolsa ou a Vida”.
É para as pessoas acordarem pra realidade, acordarem pro mundo que nós estamos vivendo.
E eu agora quero fazer um desconstruindo a mídia e a justiça, porque está todo mundo falando mal da política, mas a gente não existe sem a política, a política é o espaço possível da negociação.
Então quem pode ajudar com isso é a mídia, e a mídia está fazendo um papel lamentável nessa história inteira, e a justiça é muito complicada.
Aliás o Deltan [Dallagnol] hoje saiu do ministério para tentar ser candidato. Para tentar ter foro privilegiado.
A tua primeira entrevista, em 1968, foi com o almirante negro, João Cândido, um filme que tu nunca conseguiste realizar. Nos conta um pouco essa história.
Eu tive na casa do João Cândido em 1968, eu conheci o almirante negro. Desse eu apertei a mão, consegui apertar a mão. E lamentavelmente a gente sofreu um processo aqui, consequência da época, e a pessoa que estava guardando o negativo ficou com medo e queimou.
Então ficou a lembrança, mas dá raiva, eu me contive, não desisti, segui em frente. Às vezes isso é uma porrada tão grande, você quer desistir, e eu não desisti não, continuei em frente fazendo.
Mas foi uma honra conhecer o almirante negro, conversar com ele, e era uma linda figura, adorei ele.
Outro que eu adorei conhecer também pessoalmente foi o General Giap.
Em 2003 eu estive no Vietnã e dei a mão pro maior general do século XX. Ele derrotou japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, os franceses em 1954, e os americanos em 1975.
E nós estávamos em 2003 as vésperas da invasão do Iraque pelo Bush, e aí eu perguntei a ele se não tinha medo de uma nova guerra, e ele falou: não, nós estamos entrando no milênio da paz.
Um velhinho de 94 anos pensando em termos de milênio, e a gente pensando em termo de meses. Então eu entendi, não, esse cara vai longe. E ainda durou 10 anos, foi um belo encontro.
O filme “O Veneno Está na Mesa” mudou a vida de muita gente que nós conhecemos, inclusive da bancada ruralista, porque eles tiveram que gastar muito dinheiro para tentar desconstruir essa verdade. Gastam até hoje.
A agro é tech, a agro é pop está até hoje no ar. A Rede Globo devia me dar uma graninha, eu mereço. Deviam ser mais carinhosos comigo.
Pelo menos me convidar para dar umas entrevistas, não precisa ser em grana, pode ser em espaço na televisão... A agro é pop está até hoje, sacudiu muita gente.
O João Pedro [Stédile] me disse que já fez mais de 5 milhões de espectadores, que é o meu filme com maior bilheteria. Não tem como avaliar isso, porque não é só no Brasil. Ele disseminou pelo mundo.
Eu viajei o país como se fosse um grande lançamento comercial. Teve um dia que eu fui em Santa Catarina, Paraíba e voltei pra São Paulo no mesmo bate e volta. Eu não tive tempo nem de ficar na Paraíba. Foi uma loucura.
E as pessoas queriam ver como se fosse um popstar, não bastava passar o filme, queriam debater. Eu acho que esse foi o filme que mais viralizou. Mas o “Dedo na ferida” também.
O “Veneno Está na Mesa” nasceu numa história divertida, num restaurante chinês em Montevidéu. Eu fui jantar com Eduardo Galeano, liguei pra ele pra gente se encontrar, ele me convidou pra jantar. E o Galeano era muito guloso, e ele detestava dividir comida. E aí ele falou: eu não divido comida com ninguém. E cada um pediu um prato, só que os pratos eram uma bacia.
Quando o Galeano viu o tamanho do prato que ele ia ter que comer aquelas alturas, pelo menos por educação, ele ficou louco. E foi nesse jantar no Uruguai que ele me falou que estava muito triste que um país como o Brasil, que tinha um governo progressista, estava deixando envenenar tudo, as águas, o ar, as florestas, as cidades, os seres humanos... E ele ficava triste, mas vocês têm um governo progressista, como é que vocês deixam acontecer isso com o país?
E aí eu voltei e falei, vou fazer um filme sobre isso. E a minha ideia era simplória, era pegar um morango, que era uma fruta que tinha uma carga de tóxicos muito grande, ia botar uma boca bonita comendo o morango, morango mata.
Eu contei essa história pro João Pedro [Stédile] e ele ficou com aquilo na cabeça. A gente conseguiu R$ 50 mil e eu fiz “O Veneno Está na Mesa”.
Isso não é nada, viajava o Brasil inteiro… fomos filmar no Interior do RS, foi um filme feito na base de fusca e solidariedade. Foram duas mulheres que viajaram, e elas ficavam hospedadas na casa dos camponeses, viajavam de fusca, acho que foi o MPA que armou o esquema, e aí a gente conseguiu.
Tu também tens uma série sobre os militares que disseram não na ditadura. Esse é um tema muito importante, porque não se fala disso, a gente não houve falar que houve de militares que não aceitaram a ditadura militar.
Naquela época, o exército era pendular, não era esse monolito gorila. O exército tinha muita gente de esquerda, tinha muita gente inclusive no alto oficialato, você tinha Brigadeiro comunista...
Eu tô falando de um segredo, o Brigadeiro Chico Teixeira era do Partido Comunista Brasileiro. Você tinha vários generais que se não eram comunistas, eram liberais, eram homens amigos […].
Havia muitos militares progressistas em todas as camadas das Forças Armadas, e eles fizeram uma limpeza que foi uma loucura. Então acabou com essa pluralidade nas Forças Armadas, e ela passou a olhar o mundo com antolhos. Então virou isso aí que tá, essa bobagem que tá aí.
Mas eu acho que a gente vai ter que lutar para reconstruir um outro mundo, e eu sou a favor da dissolução das Forças Armadas, eu sou a favor da criação das forças amadas, forças que defendam a população.
Eu ajudei a criar o movimento chamado estados gerais da cultura. Ao invés de a gente ter uma escola superior de guerra como eles têm baseado na escola de americano, que foi criada na Guerra Fria, pós Segunda Guerra Mundial, a gente criou a escola superior de paz.
Então ao invés de forças armadas, ter forças amadas, em que o povo seja o protagonista da história, e aí para com essa bobajada toda de general mandar twitter pro Supremo ameaçando prender o Lula, se o Supremo não prendesse o Lula, eles invadiriam o Supremo.
Esse estado de coisas que nós chegamos, eu acho que tem que acabar com isso, esse protagonismo militar pressionando a nação.
A gente tem que construir um outro país, e esse país existiu, e era mais feliz. A reconstrução de um estado de felicidade não é uma novidade, é a recomposição de um país que aconteceu e que existiu, e que a gente tem que reconstruir.
No campo da produção eu não tenho dúvida que uma escola superior de paz seria uma escola superior de agroecologia...
Eu acho que a centralidade é o que “A Bolsa ou a Vida” propõe, é a natureza. A natureza é um ser biológico ao qual a humanidade pertence, nós somos 0,01% dos seres vivos do planeta, com um peteleco o planeta nos expulsa.
Essa semana saiu a estatística, em torno de 5 milhões de pessoas morreram só com o coronavírus.
Então eu acho que a gente tem que lutar pela vida, e lutar pela vida é pela agroecologia, pelos saberes sustentáveis, você não precisar produzir transgênicos, produzir cepas naturais agroecológicas, você ter os milhos, os grãos, as raízes, tudo natural.
Se hoje tu fosse fazer mais um episódio da série “A Era das Utopias”, qual seria a tua utopia?
A minha utopia seria essa, uma continuação da “A Bolsa ou a Vida”, uma relação de profundo respeito com a natureza e com os seres humanos.
E essa coisa da gente perder a urgência que a gente vive, a gente tá sempre imprensado, o tempo não cabe nada, porque a gente tem muito mais coisa pra fazer do que consegue.
E pros povos originários essa questão não existe, eles não têm essa urgência.
Eu tô muito me sentindo no universo imprensado entre radicalismos.
Então eu acho que o terraplanismo, o negacionismo e o antagônico dele que são as pautas identitárias, estão fazendo mal a humanidade. Eu acho que a gente é um só, a gente tem que juntar todo mundo, somos um povo mestiço. Eu tô defendendo essa mestiçagem brasileira, e não nós como doadores de lição, mas como receptores de lição.
Eu acho que os povos originários têm muito a nos ensinar, eu acho que os quilombolas têm muito a nos ensinar, eu acho que essa urgência que a gente vive não leva a nada.
No filme “A Bolsa ou a Vida” tu questiona pra onde a humanidade está caminhando. Tu viveste no Chile de Allende, em Portugal da Revolução dos Cravos. Qual seria a revolução hoje, como seria pra ti?
A revolução hoje pra mim é o respeito à natureza, é o respeito à diversidade cultural, e o respeito aos animais, o respeito a tudo.
Eu acho que a gente vive num mundo muito agressivo, a gente se acha soberano. E nós não somos soberanos, nós somos 0,01% das espécies vivas que habitam o planeta.
Então você pegar uma cepa de um vírus mais violento que esse que tá aí no ar, invés de 5 milhões, vão 50 milhões embora da noite pro dia.
Daí não adianta, é o que o personagem do filme fala, que é o ator, o Luiz Carlos Bahia, quando ele diz: teu caixão tem gavetas? Como é que tu vais levar isso? Pra que que adianta tu ter 80 bilhões de dólares, tu não vais levar isso.
E aí o cara vive numa paranoia, ele é obrigado a inventar uma fundação pra salvar o dinheiro da família dele.
É a mulher, os filhos, todo mundo brigando por aquele dinheiro dele. A segunda esposa brigando com a primeira, os filhos de um casamento com outro, o outro que divorciou, a nora quer dinheiro.
É um mundo terrível, muito dramático você viver com essa pressão do capital. Eu acho que não é agradável não. E aí o cara é obrigado a inventar empresas, fundos, botar lá fora. Aí o cara tá seguro lá fora porque ele tem uma ilhazinha no Caribe e 10 milhões de dólares.
Pode usufruir dessa grana? Não pode, essa grana não pode nem aparecer, se aparecer dá cadeia, então é complicado. Eu acho que a gente tá num momento muito difícil da humanidade, mas tenho fé que a gente vai conseguir sair dessa.
Tu conheces o Memorial Luiz Carlos Prestes em Porto Alegre?
Não conheço, mas já gritei muito, já assinei manifestos, porque é um absurdo querer alterar o nome do Memorial.
Com Prestes eu tenho uma história genial. A gente ia fazer uns debates em Pelotas, entrava numa kombi e ia pra Rio Grande, voltava pra kombi e ia pra Pelotas, 3 dias de debate intenso.
Era o velho Prestes, dona Maria, o Theotônio dos Santos, a Vânia Bambirra e o Ruy Mauro Marini. E eu era o garotinho ali da trupe viajando entre Pelotas e Rio Grande. Foi genial a convivência com o velho Prestes, eu tinha o maior carinho por ele.
E ele era amado naquela região, teve uma noite que a gente foi pra um jantar, sei lá, eu fui dormir uma hora da manhã completamente cansado, estressado, e o velho Prestes lá conversando com as pessoas até altas madrugadas, contando as histórias dele, da coluna, e aí no dia seguinte a gente tinha que 8 horas da manhã estar pronto pra continuar a maratona.
Eu desci com os olhos pregando, e o velho Prestes lá todo serelepe, bonitinho, com o chapéu dele, vamos? Eu falei vamos, se o senhor tá assim, quem sou eu que vou dizer que não, e aí continuamos a viagem, foi maravilhosa. Eu gostava muito dele, a gente conversava muito. E agora eu me dou muito bem com a Anita Leocádia. O Luiz Carlos Prestes é uma figura fundamental na história do Brasil, merece todo o respeito.
Pra ti, qual a importância da arte, da ciência e da ética pra construção de um Brasil de Fato?
Total, eu acho que o futuro vai ser pautado por essas 3 questões, a arte, a ciência e a ética.
E eu acrescentaria a palavra paciência. Isso também vem do Galeano, aprendi fazendo a entrevista com ele pro filme “Utopia e Barbárie”.
A gente tem que entender que a história é aquela senhora velhinha, cansada, mas que toma o rumo próprio dela.
Ela não é açodada como nós, que quer resolver tudo na hora, ela tem o tempo dela, todo o tempo dela, a gente quer levar ela pra um lugar, ela vai pra outro. Então a gente não domina essa senhora chamada história, a gente é passageiro dela, então a gente tem que entender também os momentos que nós estamos vivendo. Desistir, jamais.
Tendler tem uma carreira de sucesso no cinema brasileiro e reconhecimento internacional. Já produziu e dirigiu mais de 70 filmes, entre longas, médias e curtas metragens. Em 1981 fundou a Caliban Produções.
Seu mais recente documentário é “A Bolsa ou a Vida” que aborda o desmonte do conceito de bem-estar social e nos faz refletir sobre a incompatibilidade do neoliberalismo com um projeto humanista de sociedade.
“No futuro pós-pandemia do novo coronavírus, a centralidade será o cassino financeiro e acumulação de riqueza por uma elite ou uma vida de qualidade para todos, com menos desigualdade?”, questiona o filme.
Na abertura do programa Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato, destacou ser um prazer e uma honra estar em um debate do Brasil de Fato.
“Eu adoro esse jornal, é das coisas mais importantes que acontecem nesse país, não só o jornal, como o próprio movimento que lhe deu origem, o MST. E acho que esse é o verdadeiro reconhecimento do artista, quando ele tá junto com as pessoas justas.”
Confira a íntegra da entrevista.
Tu começaste a trabalhar muito jovem, e tem uma produtividade que pelo amor de Deus, que coisa fantástica...
Eu comecei a trabalhar em 1968, mas essa virada que eu dei na minha vida, por incrível que pareça foi a partir de 2011.
Porque eu já tinha muitos trabalhos, mas em 2011 eu um dia acordei tetraplégico, acordei sem o movimento, deitado na cama sem nenhum movimento. E aí eu negociei com Deus, eu falei não me tira a razão, nem a fala.
Eu era muito marcado por aquele filme com Javier Bardem, o “Mar a Dentro”, em que ele fica completamente tetraplégico, não fala, aquele filme é horrível. E eu, tudo o que eu não queria era viver aquilo, então como eu tinha a palavra e podia me expressar, e a razão, eu negociei com Deus, falei: não, não vou me entregar assim.
Eu procurei o grande Paulo Niemeyer, que é um dos maiores neurocirurgiões do Brasil, filho do Paulo Niemeyer, que é o neurologista de primeira, e sobrinho do Niemeyer, do Oscar.
Então ele me atendeu, e aí estava todo mundo achando que a minha doença era fruto da minha diabete, ele falou: não, isso aí que você tem não é diabete, isso é medula.
E ele perguntou: como é que você tá dormindo? Eu falei: eu tô dormindo sentado. Olha, se eu não te operar, você vai morrer. Então eu vou te operar, eu não sei o que que eu vou te devolver, mas vamos salvar a vida.
Me operou, foi uma coisa assim fantástica, e eu tô aqui 10 anos depois conversando com vocês, e desses 70 filmes, uns 20 estão nessa trajetória, nesses poucos anos.
Eu tenho que deixar alguma coisa pra minha filha, meu neto tem que ficar com uma obra, e eu comecei a trabalhar e não parei mais.
E deixou muita coisa mesmo. Inclusive esse último filme, Silvio, eu fiquei muito impressionada, esse “A Bolsa ou a Vida”, que tu finalizaste na pandemia, foi lançado esse ano, e ele é realmente um retrato do mundo que nós estamos vivendo.
Ele é todo feito por videoconferência. Eu não tive presencialmente com nenhum daqueles personagens, e nenhuma daquelas locações.
Eu estava colado nessa mesa que eu tô falando com vocês agora, um ano e meio.
No dia 12 de março de 2020 eu fiz 70 anos, e como eu comecei cinema na cinemateca do MAM, eu pedi que eles me emprestassem a sala, fiz a projeção de um filme chamado “Nas Asas da Pan Am”, que é autobiográfico, meus amigos foram, 200 pessoas, bebemos, comemos, dançamos.
Havia rumores de um vírus, 3 dias depois o país estava fechado.
Eu entrei dentro de casa e não saí nunca mais, fiquei nessa mesa aqui, colado, um ano e meio.
No dia 2 de novembro eu saí, fui almoçar na casa do Henrique Pizzolato, que fez um belo macarrão pra mim. E foi a primeira vez que eu saí depois de um ano e meio. “A Bolsa ou a Vida” foi feito por videoconferência dentro de casa.
E eu acho que ficou um filme forte, de resposta a isso que tá aí.
Tem uma cultura colaborativa no ar muito grande, ninguém se recusou a participar, tem personagens fortíssimos dentro do filme, tem o padre Júlio Lancellotti, Dom Mauro Morelli, Ailton Krenak, Almir Suruí. O Suruí é de uma grande liderança indígena.
Ele é parente da Txai?
É o pai da Txai, eu tô citando-o por isso, porque eu tenho muita honra de ter ele no filme, e a filha dele é grande guerreira, o melhor discurso da ONU foi o dela.
No inglês impecável, acabou com o discurso da Greta bla bla bla. Porque eu não acho que se pode criminalizar a política, eu acho que esse negócio do bla bla bla da Greta me lembrou muito o Daniel Cohn-Bendit, ele era uma grande liderança em 68, a coisa mais importante que ele fez na vida foi uma foto dele encarando um policial em Paris, que viralizou o mundo.
Depois disso ele virou um dos fundadores do movimento verde, teve cargos políticos, virou deputado, deputado europeu. E aí depois ele começou a meter os pés pelas mãos.
Na época que o Milton Santos denunciava o globalitarismo, ele fez uma aliança com os governos europeus pra votar num plebiscito a favor da Europa.
Eu acho que ele e o Toni Negri foram os dois que se equivocaram, entraram nessa canoa do globalitarismo. Eu o entrevistei e perguntei: Mas, Dani, você na juventude era ao contrário disso. Ele disse: Eu era muito jovem, tenho o direito de mudar.
E aí quando eu vejo a Greta tão revolucionária, eu digo daqui a 30 anos ela vai me dizer a mesma coisa, eu era muito jovem, eu tenho o direito de mudar.
Então eu pego essas pessoas que eu acredito na coerência, e eu acredito na coerência da Txai, um pouquinho mais velha que a Greta, mas com uma história mais sólida.
Ela é de Rondônia, de uma aldeia Suruí que sabe o que é que isso representa pra o povo dela. Então eu tô feliz de ter o Almir no filme, a Duda, tô com muita gente boa nesse filme, que eu ainda não tive o prazer de apertar a mão.
Os teus filmes são um manifesto. Esse último filme, eu tenho impressão de que vai ser um soco no estômago como “O veneno está na mesa”, porque ele é um manifesto esclarecedor.
A ideia é um soco no estômago, foi assim com o “O Veneno Está na Mesa”, o “Dedo na Ferida” também, e esse agora, “A Bolsa ou a Vida”.
É para as pessoas acordarem pra realidade, acordarem pro mundo que nós estamos vivendo.
E eu agora quero fazer um desconstruindo a mídia e a justiça, porque está todo mundo falando mal da política, mas a gente não existe sem a política, a política é o espaço possível da negociação.
Então quem pode ajudar com isso é a mídia, e a mídia está fazendo um papel lamentável nessa história inteira, e a justiça é muito complicada.
Aliás o Deltan [Dallagnol] hoje saiu do ministério para tentar ser candidato. Para tentar ter foro privilegiado.
A tua primeira entrevista, em 1968, foi com o almirante negro, João Cândido, um filme que tu nunca conseguiste realizar. Nos conta um pouco essa história.
Eu tive na casa do João Cândido em 1968, eu conheci o almirante negro. Desse eu apertei a mão, consegui apertar a mão. E lamentavelmente a gente sofreu um processo aqui, consequência da época, e a pessoa que estava guardando o negativo ficou com medo e queimou.
Então ficou a lembrança, mas dá raiva, eu me contive, não desisti, segui em frente. Às vezes isso é uma porrada tão grande, você quer desistir, e eu não desisti não, continuei em frente fazendo.
Mas foi uma honra conhecer o almirante negro, conversar com ele, e era uma linda figura, adorei ele.
Outro que eu adorei conhecer também pessoalmente foi o General Giap.
Em 2003 eu estive no Vietnã e dei a mão pro maior general do século XX. Ele derrotou japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, os franceses em 1954, e os americanos em 1975.
E nós estávamos em 2003 as vésperas da invasão do Iraque pelo Bush, e aí eu perguntei a ele se não tinha medo de uma nova guerra, e ele falou: não, nós estamos entrando no milênio da paz.
Um velhinho de 94 anos pensando em termos de milênio, e a gente pensando em termo de meses. Então eu entendi, não, esse cara vai longe. E ainda durou 10 anos, foi um belo encontro.
O filme “O Veneno Está na Mesa” mudou a vida de muita gente que nós conhecemos, inclusive da bancada ruralista, porque eles tiveram que gastar muito dinheiro para tentar desconstruir essa verdade. Gastam até hoje.
A agro é tech, a agro é pop está até hoje no ar. A Rede Globo devia me dar uma graninha, eu mereço. Deviam ser mais carinhosos comigo.
Pelo menos me convidar para dar umas entrevistas, não precisa ser em grana, pode ser em espaço na televisão... A agro é pop está até hoje, sacudiu muita gente.
O João Pedro [Stédile] me disse que já fez mais de 5 milhões de espectadores, que é o meu filme com maior bilheteria. Não tem como avaliar isso, porque não é só no Brasil. Ele disseminou pelo mundo.
Eu viajei o país como se fosse um grande lançamento comercial. Teve um dia que eu fui em Santa Catarina, Paraíba e voltei pra São Paulo no mesmo bate e volta. Eu não tive tempo nem de ficar na Paraíba. Foi uma loucura.
E as pessoas queriam ver como se fosse um popstar, não bastava passar o filme, queriam debater. Eu acho que esse foi o filme que mais viralizou. Mas o “Dedo na ferida” também.
O “Veneno Está na Mesa” nasceu numa história divertida, num restaurante chinês em Montevidéu. Eu fui jantar com Eduardo Galeano, liguei pra ele pra gente se encontrar, ele me convidou pra jantar. E o Galeano era muito guloso, e ele detestava dividir comida. E aí ele falou: eu não divido comida com ninguém. E cada um pediu um prato, só que os pratos eram uma bacia.
Quando o Galeano viu o tamanho do prato que ele ia ter que comer aquelas alturas, pelo menos por educação, ele ficou louco. E foi nesse jantar no Uruguai que ele me falou que estava muito triste que um país como o Brasil, que tinha um governo progressista, estava deixando envenenar tudo, as águas, o ar, as florestas, as cidades, os seres humanos... E ele ficava triste, mas vocês têm um governo progressista, como é que vocês deixam acontecer isso com o país?
E aí eu voltei e falei, vou fazer um filme sobre isso. E a minha ideia era simplória, era pegar um morango, que era uma fruta que tinha uma carga de tóxicos muito grande, ia botar uma boca bonita comendo o morango, morango mata.
Eu contei essa história pro João Pedro [Stédile] e ele ficou com aquilo na cabeça. A gente conseguiu R$ 50 mil e eu fiz “O Veneno Está na Mesa”.
Isso não é nada, viajava o Brasil inteiro… fomos filmar no Interior do RS, foi um filme feito na base de fusca e solidariedade. Foram duas mulheres que viajaram, e elas ficavam hospedadas na casa dos camponeses, viajavam de fusca, acho que foi o MPA que armou o esquema, e aí a gente conseguiu.
Tu também tens uma série sobre os militares que disseram não na ditadura. Esse é um tema muito importante, porque não se fala disso, a gente não houve falar que houve de militares que não aceitaram a ditadura militar.
Naquela época, o exército era pendular, não era esse monolito gorila. O exército tinha muita gente de esquerda, tinha muita gente inclusive no alto oficialato, você tinha Brigadeiro comunista...
Eu tô falando de um segredo, o Brigadeiro Chico Teixeira era do Partido Comunista Brasileiro. Você tinha vários generais que se não eram comunistas, eram liberais, eram homens amigos […].
Havia muitos militares progressistas em todas as camadas das Forças Armadas, e eles fizeram uma limpeza que foi uma loucura. Então acabou com essa pluralidade nas Forças Armadas, e ela passou a olhar o mundo com antolhos. Então virou isso aí que tá, essa bobagem que tá aí.
Mas eu acho que a gente vai ter que lutar para reconstruir um outro mundo, e eu sou a favor da dissolução das Forças Armadas, eu sou a favor da criação das forças amadas, forças que defendam a população.
Eu ajudei a criar o movimento chamado estados gerais da cultura. Ao invés de a gente ter uma escola superior de guerra como eles têm baseado na escola de americano, que foi criada na Guerra Fria, pós Segunda Guerra Mundial, a gente criou a escola superior de paz.
Então ao invés de forças armadas, ter forças amadas, em que o povo seja o protagonista da história, e aí para com essa bobajada toda de general mandar twitter pro Supremo ameaçando prender o Lula, se o Supremo não prendesse o Lula, eles invadiriam o Supremo.
Esse estado de coisas que nós chegamos, eu acho que tem que acabar com isso, esse protagonismo militar pressionando a nação.
A gente tem que construir um outro país, e esse país existiu, e era mais feliz. A reconstrução de um estado de felicidade não é uma novidade, é a recomposição de um país que aconteceu e que existiu, e que a gente tem que reconstruir.
No campo da produção eu não tenho dúvida que uma escola superior de paz seria uma escola superior de agroecologia...
Eu acho que a centralidade é o que “A Bolsa ou a Vida” propõe, é a natureza. A natureza é um ser biológico ao qual a humanidade pertence, nós somos 0,01% dos seres vivos do planeta, com um peteleco o planeta nos expulsa.
Essa semana saiu a estatística, em torno de 5 milhões de pessoas morreram só com o coronavírus.
Então eu acho que a gente tem que lutar pela vida, e lutar pela vida é pela agroecologia, pelos saberes sustentáveis, você não precisar produzir transgênicos, produzir cepas naturais agroecológicas, você ter os milhos, os grãos, as raízes, tudo natural.
Se hoje tu fosse fazer mais um episódio da série “A Era das Utopias”, qual seria a tua utopia?
A minha utopia seria essa, uma continuação da “A Bolsa ou a Vida”, uma relação de profundo respeito com a natureza e com os seres humanos.
E essa coisa da gente perder a urgência que a gente vive, a gente tá sempre imprensado, o tempo não cabe nada, porque a gente tem muito mais coisa pra fazer do que consegue.
E pros povos originários essa questão não existe, eles não têm essa urgência.
Eu tô muito me sentindo no universo imprensado entre radicalismos.
Então eu acho que o terraplanismo, o negacionismo e o antagônico dele que são as pautas identitárias, estão fazendo mal a humanidade. Eu acho que a gente é um só, a gente tem que juntar todo mundo, somos um povo mestiço. Eu tô defendendo essa mestiçagem brasileira, e não nós como doadores de lição, mas como receptores de lição.
Eu acho que os povos originários têm muito a nos ensinar, eu acho que os quilombolas têm muito a nos ensinar, eu acho que essa urgência que a gente vive não leva a nada.
No filme “A Bolsa ou a Vida” tu questiona pra onde a humanidade está caminhando. Tu viveste no Chile de Allende, em Portugal da Revolução dos Cravos. Qual seria a revolução hoje, como seria pra ti?
A revolução hoje pra mim é o respeito à natureza, é o respeito à diversidade cultural, e o respeito aos animais, o respeito a tudo.
Eu acho que a gente vive num mundo muito agressivo, a gente se acha soberano. E nós não somos soberanos, nós somos 0,01% das espécies vivas que habitam o planeta.
Então você pegar uma cepa de um vírus mais violento que esse que tá aí no ar, invés de 5 milhões, vão 50 milhões embora da noite pro dia.
Daí não adianta, é o que o personagem do filme fala, que é o ator, o Luiz Carlos Bahia, quando ele diz: teu caixão tem gavetas? Como é que tu vais levar isso? Pra que que adianta tu ter 80 bilhões de dólares, tu não vais levar isso.
E aí o cara vive numa paranoia, ele é obrigado a inventar uma fundação pra salvar o dinheiro da família dele.
É a mulher, os filhos, todo mundo brigando por aquele dinheiro dele. A segunda esposa brigando com a primeira, os filhos de um casamento com outro, o outro que divorciou, a nora quer dinheiro.
É um mundo terrível, muito dramático você viver com essa pressão do capital. Eu acho que não é agradável não. E aí o cara é obrigado a inventar empresas, fundos, botar lá fora. Aí o cara tá seguro lá fora porque ele tem uma ilhazinha no Caribe e 10 milhões de dólares.
Pode usufruir dessa grana? Não pode, essa grana não pode nem aparecer, se aparecer dá cadeia, então é complicado. Eu acho que a gente tá num momento muito difícil da humanidade, mas tenho fé que a gente vai conseguir sair dessa.
Tu conheces o Memorial Luiz Carlos Prestes em Porto Alegre?
Não conheço, mas já gritei muito, já assinei manifestos, porque é um absurdo querer alterar o nome do Memorial.
Com Prestes eu tenho uma história genial. A gente ia fazer uns debates em Pelotas, entrava numa kombi e ia pra Rio Grande, voltava pra kombi e ia pra Pelotas, 3 dias de debate intenso.
Era o velho Prestes, dona Maria, o Theotônio dos Santos, a Vânia Bambirra e o Ruy Mauro Marini. E eu era o garotinho ali da trupe viajando entre Pelotas e Rio Grande. Foi genial a convivência com o velho Prestes, eu tinha o maior carinho por ele.
E ele era amado naquela região, teve uma noite que a gente foi pra um jantar, sei lá, eu fui dormir uma hora da manhã completamente cansado, estressado, e o velho Prestes lá conversando com as pessoas até altas madrugadas, contando as histórias dele, da coluna, e aí no dia seguinte a gente tinha que 8 horas da manhã estar pronto pra continuar a maratona.
Eu desci com os olhos pregando, e o velho Prestes lá todo serelepe, bonitinho, com o chapéu dele, vamos? Eu falei vamos, se o senhor tá assim, quem sou eu que vou dizer que não, e aí continuamos a viagem, foi maravilhosa. Eu gostava muito dele, a gente conversava muito. E agora eu me dou muito bem com a Anita Leocádia. O Luiz Carlos Prestes é uma figura fundamental na história do Brasil, merece todo o respeito.
Pra ti, qual a importância da arte, da ciência e da ética pra construção de um Brasil de Fato?
Total, eu acho que o futuro vai ser pautado por essas 3 questões, a arte, a ciência e a ética.
E eu acrescentaria a palavra paciência. Isso também vem do Galeano, aprendi fazendo a entrevista com ele pro filme “Utopia e Barbárie”.
A gente tem que entender que a história é aquela senhora velhinha, cansada, mas que toma o rumo próprio dela.
Ela não é açodada como nós, que quer resolver tudo na hora, ela tem o tempo dela, todo o tempo dela, a gente quer levar ela pra um lugar, ela vai pra outro. Então a gente não domina essa senhora chamada história, a gente é passageiro dela, então a gente tem que entender também os momentos que nós estamos vivendo. Desistir, jamais.
0 comentários:
Postar um comentário