Por Cesar Benjamin
Qualquer tentativa de analisar a situação mundial, prevendo desdobramentos, é temerária, dada a crescente complexidade que se criou. A mesma afirmação serve, em escala muito ampliada, para a região do Oriente Médio. A quantidade de atores e de interesses, internos e externos, estatais e não estatais, é imensa, e o número de combinações possíveis entre eles é típico de um sistema caótico.
Neste momento, está em curso mais uma tragédia de grandes proporções. Estados Unidos, Israel e Turquia reorganizaram as gangues jihadistas e as lançaram novamente contra a Síria, a pátria de um islamismo moderado e tolerante, que até aqui protegeu grandes minorias cristãs e seus locais de aglomeração e de culto, de valor histórico inestimável.
Parece que, desta vez, o banditismo islâmico vencerá, com o altíssimo custo humano que acompanha essas situações. Mais um importante país se tornará uma região sem Estado e sem lei, entregue aos senhores da guerra, uma guerra sem fim que propiciará bons negócios.
Eu não posso, nem saberia, me estender em detalhes. Mas é claro que os Estados Unidos, potência decadente, tornaram-se uma poderosa força anticivilizatória. Cada vez mais, sua política externa usa o terrorismo, o jihadismo, o neonazismo e grupos afins como peões, sem limites. Cada vez mais, multiplica guerras, instabilidades e tensões, enquanto se apresenta, no mundo encantado dos meios de comunicação, como bastião da democracia e das liberdades.
O nazismo também agia assim. Na imprensa alemã, o nazismo nunca atacava, estava sempre se defendendo. O perímetro controlado pelo Exército de Hitler era chamado de “fortaleza Europa”, onde a cultura e os valores da democracia estavam sendo defendidos dos ataques das “hordas asiáticas” (soviéticos) e dos “agentes judeus” (americanos e ingleses). Essa visão de mundo capturou milhões de pessoas, tal como ocorre hoje conosco.
Os Estados Unidos não escondem que estão treinando em Ohio um contingente mercenário para invadir a Venezuela. Há poucos dias, Marco Rubio, o secretário de Estado que tomará posse em 20 de janeiro, defendeu explicitamente, falando em espanhol, o sequestro de Nicolás Maduro e seu envio para uma prisão perpétua em território americano. Não será difícil obter apoio ou, pelo menos, neutralidade: ele já foi suficientemente demonizado pela mídia oficial.
Não há regras. Não há direitos. Não há instituições multilaterais. Não há soberanias. O mundo civilizado acabou. Tudo em nome de valores da civilização ocidental, exatamente como os nazistas faziam.
Hoje é dia de lamentar pela Síria. Amanhã será o nosso dia. Enquanto os nossos políticos discutem emendas e propinas, os nossos militares se aferram a pensões e os nossos juízes querem mais privilégios, caos americano se aproxima nos países da bacia amazônica.
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