terça-feira, 18 de novembro de 2025

A decadência política, moral e física de Trump

Charge: Antonio Rodríguez/Cartoon Movement
Por Marcelo Zero, no site Brasil-247:


Um dos mitos mais explorados pelo Maga e pelo chamado QAnon é o de que o presidente Trump estaria travando uma guerra contra uma rede mundial de pedófilos e de “adoradores de Satanás”.

Segundo esse mito, essa rede seria chefiada por grandes figuras do Partido Democrata e por empresários e celebridades vinculados a esse partido, bem como à “esquerda” de modo geral.

Por isso, os próprios trumpistas pressionaram Trump para divulgar os relatórios judiciais sobre o “caso Epstein”, o maior escândalo de pedofilia da história dos EUA.

Mas o tiro está saindo pela culatra.

As fortes suspeitas sobre as “relações perigosas” entre Trump e Epstein estão se revelando verdadeiras.

Com efeito, e-mails obtidos judicialmente pelo Representative (o equivalente a deputado federal no Brasil) James Corner, presidente da House Oversight Committee, informam que Epstein teria afirmado que Trump tinha conhecimento de suas atividades e frequentava as suas festas orgiásticas, além de ter passado “várias horas na casa dele (Epstein)” com uma das vítimas do esquema de pedofilia.

Trump, é óbvio, nega. Mas a coisa cheira muito mal. Os miasmas se espalham rapidamente.

Parece pouco provável, para dizer o mínimo, que Trump, amigo e confidente de Epstein, com quem intercambiava epístolas picantes e muito sugestivas, não tenha participado de nada. Donald Trump, lembre-se, tem uma condenação em júri popular por assalto sexual a uma mulher.

Quando todos os documentos do caso Epstein forem revelados, o que deverá acontecer em breve, a situação pode se tornar bem mais complicada.

Esse grande golpe moral contra Trump surge em um momento em que sua popularidade política despenca, principalmente em razão da subida de preços de muitos produtos e serviços, derivada, em boa parte, dos choques tarifários irracionais e erráticos - outro tiro pela culatra que, agora, cobra seu preço político e seu preço literal no mercado de consumo.

Sua aprovação caiu para 41%, na média das pesquisas, sendo que algumas apontam para uma aprovação ainda mais baixa: 38%. No início de seu governo, em fevereiro deste ano, a aprovação de Trump superava os 50%. Já a desaprovação alcançou 55%. No início do governo, há poucos meses, era de 43%.

Sua política contra o Estado e contra muitos programas sociais relevantes, agravada pelo shutdown, também começa a cobrar um preço caro na opinião pública.

As recentes e avassaladoras derrotas sofridas pelos republicanos na Virgínia e em Nova Jérsei (Nova Iorque conta menos, pois sempre foi um grande bastião democrata, além de ser uma cidade cosmopolita e progressista) prenunciam midterm elections muito complicadas para os republicanos.

Mas, além dessa decadência moral e política, Trump começa a dar sinais preocupantes de decadência física.

Trump, que tanto criticava Joe Biden, chamando-o de “sleeping Joe” (Joe, o dorminhoco), começa a exibir sintomas de senilidade. Outro tiro que sai pela culatra.

Os programas de humor político dos EUA, sempre atentos (provavelmente as melhores fontes de informação política daquele país), têm mostrado que Trump, com frequência, cochila em algumas audiências, passa muito tempo jogando golfe e apresenta sinais de problemas circulatórios, como mãos arroxeadas e tornozelos muito inchados. Em alguns casos, comete falas inapropriadas e descontextualizadas.

Para quem não sabe, Trump é o presidente mais velho da história dos EUA a inaugurar um mandato. Caso permaneça como presidente até 15 de agosto de 2028, será o presidente em exercício mais velho da história americana.

Claro está que a idade cronológica, em si mesma, não significa muito. Lula, por exemplo, tem idade aproximada à de Trump, porém demonstra grande energia e lucidez.

Trump, ao contrário, muito obeso e sedentário, mostra crescentes sinais de fragilidade. Mesmo assim, sonha com um inconstitucional terceiro mandato.

E ainda tem a pachorra de propor que pessoas com comorbidades (como obesidade, diabetes, pressão alta etc.) sejam impedidas de entrar nos EUA.

Trump me lembra o equilibrado e sensato Calígula. E sua equipe de governo recorda, sem dúvida, o brilhante Incitatus.

Felizmente, está em baixa acelerada. Só falta cometer a estupidez de envolver os EUA em uma encalacrada militar e geopolítica na Venezuela.

Se não for bem-sucedido na empreitada ilegal de um terceiro mandato e não fizer sucessor à baixeza, os EUA poderão ascender, com o auxílio de lideranças progressistas que “prometem”, como a de Mamdani, as quais promoveriam, eventualmente, um salutar arejamento em um Partido Democrata bastante esclerosado.

A reação a Trump poderá reposicionar, em alguma medida, a política dos EUA.

Claro que o Império, no plano externo, teimará, de forma obtusa, em continuar Império, em um mundo que ruma para uma verdadeira e irreversível multipolaridade. Brasil à frente.

Porém, poderá, sem Trump, ser um Império mais racional e previsível. Talvez mais maleável. Seria um avanço notável em relação ao horripilante status quo atual.

E o planeta, aliviado, poderia respirar de novo. E com menos gás carbônico.

0 comentários: