sábado, 18 de setembro de 2010

A covardia do governo diante da mídia

Reproduzo artigo de Cláudio Gonzalez, publicado no blog Papillon:

Uma das vantagens de manter um blog pessoal é poder escrever sem o compromisso de ter de observar algumas normas de conduta que o exercício do jornalismo nos obriga a seguir. Este é um espaço livre, sem as amarras de um veículo de comunicação. Portanto, posso desabafar e questionar: até quando os covardes do governo Lula vão permitir ser esmagados pelo denuncismo midiático sem esboçar qualquer reação à altura? Qualquer um ligado ao governo que faça um mínimo comentário sobre os excessos da imprensa é imediatamente desautorizado. Gente do próprio Palácio do Planalto atende telefonemas de Lo Pretes e Bergamos da vida para desautorizar quem critica a imprensa.

Esta “denúncia” da Folha de ontem, repercutida com naturalidade espantosa em todos os veículos da grande imprensa, é tão escandalosamente falsa, montada, superficial… que se eu fosse um dos jornalistas que a assinaram, passaria o resto da vida envergonhado. Mas como o governo não reage – pelo contrário, dá corda para as ilações –, eles vão em frente. Acusações sem nenhuma prova e com inúmeros indícios de falsidade vão sendo reproduzidas aos borbotões e chega a um ponto tão surreal que ninguém mais sabe exatamente quais são as acusações ou onde está a infração. Fica no ar apenas a atmosfera de escândalo.

E o que faz o governo diante deste cenário? Simplesmente aceita a chantagem midiática, pois parece concordar que não há pecado maior para um político do que criticar a imprensa, mesmo quando ela comete um crime grave de calúnia e difamação com claros objetivos eleitorais. Eu gostaria muito de estar errado. Sei lá, talvez os que estão no centro do poder, como Franklin Martins, o Lula, o Marco Aurélio, o Santana… já tenham pensado em tudo, traçado um plano de reação que nós, pobres militantes que conhecemos apenas aquilo que a imprensa divulga, não podemos saber qual é para não atrapalhar o sucesso da empreitada.

Mas, infelizmente, desconfio que eles não têm plano nenhum. São apenas seres acovardados diante do poder da mídia. Aí ficamos nós aqui, fazendo papel de ridículos em nossos blogs, no Twitter, nas redes sociais, esperneando diante dos abusos da corja midiática, enquanto as “fontes palacianas” atendem com sorrisos o telefonema do jornalista da Folha e confirmam: “é, a Erenice errou no tom da nota, não podia ter atacado a imprensa e a candidatura do Serra como ela fez…”.

O governo Lula tem muitos méritos. Muitos mesmo. Mas sua relação covarde e de submissão em relação à grande imprensa é de dar dó. Parece que eles não aprenderam nada, absolutamente nada, com a crise política de 2005. Repetem os mesmos erros e se submetem pacificamente às pressões do mesmo denuncismo irresponsável e golpista. Ainda que isso não tenha conseguido, até o momento, produzir resultados eleitorais concretos – Dilma continua favorita – a mídia se fortalece de tal forma que os poderes Judiciário, Legislativo, Executivo e até os movimentos sociais acabam ficando sem armas para enfrentar os abusos da imprensa. Viram reféns de um quinto-poder sem limites, que se coloca acima do bem e do mal, destrói reputações, acaba com carreiras, prejudica negócios legítimos com a certeza da impunidade. Lembra muito um trecho daquele poema “No caminho com Maiakovski”:

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

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Carta capital a um jornalista do futuro

Reproduzo artigo de Lula Miranda, publicado no sítio Carta Maior:

Prezado Jornalista,

Escrevo-lhe do Brasil, cidade de São Paulo, em meados de Setembro do ano de 2010 (a caminho da sagração da Primavera). Peço-lhe o máximo de paciência [a prosa será por demasiado extensa], cuidado, ponderação e desprendimento ao ler esse depoimento/testemunho. Intuo que um calendário, na parede à sua frente, registre um ano qualquer na segunda metade desse século XXI. Certamente, se tomar como parâmetro a realidade dos tempos que você vivencia aí, aquilo que chamaria grosseiramente de “übermídia”, achará absurdos, inacreditáveis mesmo, os fatos que passarei a lhe narrar. Mas, asseguro-lhe, trata-se da mais pura verdade (a tal “factual”).

Estou seguro de que o seu “olhar épico” propiciará um julgamento e uma visão mais eqüidistante e reveladora dos dias difíceis que vivemos por aqui. Remeto-lhe essa mensagem com a esperança de que zele para que parte da história da imprensa seja contada de forma a que esteja preservada a verdade dos fatos, como eles ocorreram realmente; para que não prevaleça apenas a versão deturpada daqueles que chamamos de “donos do poder” [ver Raymundo Faoro].

Aqui, nos dias que correm e, em verdade, desde sempre, os principais veículos de comunicação pertencem a cerca de meia-dúzia de famílias [sim, por incrível que pareça tal oligopólio existe e, o que é pior, ainda é permitido]. Dá para você imaginar o que disso resulta em termos de controle e manipulação da informação? Compreendo ser difícil você ter a mais remota idéia do que essa realidade que vivemos hoje significa [algo aos seus olhos tão distante, extemporâneo, atrasado, estapafúrdio e espúrio], mas…

Digo-lhe ainda outra [impropriedade]: os proprietários desses veículos são aqueles aos quais esses mesmos meios deveriam fiscalizar. Grandes empresários e/ou parlamentares são donos [ou sócios majoritários] dos principais jornais, revistas, redes de rádio e televisão, e suas retransmissoras – até portais de internet. Já pensou no absurdo dessa situação?! Ou seja: a raposa no encargo de tomar conta do galinheiro. Impensável, não?

Esses veículos trabalham em sintonia e em rede. “Claro! Como conseqüência do avanço da tecnologia das comunicações” – exclamaria você, inocentemente. Não propriamente, esclareço. A “sintonia” e a “rede” funcionam aqui com o seguinte significado e fim: todos os veículos, mancomunados, em “sintonia fina”, transmitem de maneira massiva a mesma versão dos fatos e, claro, só os temas e notícias que interessam à preservação do status quo. Estão todos a serviço dos conservadores de sempre, aqueles que querem manter as coisas exatamente como estão; os que defendem o estabelecido [os já citados “donos do poder”].

Captou a nuance da coisa? Tentando ser ainda mais claro: quando eles desejam se ver livre de algum ministro ou alto funcionário do governo que está atrapalhando seus negócios e interesses, ou mesmo se livrar de algum membro do partido desse governo (ou de um partido aliado do governo), ou ainda, em última instância, quando querem/desejam derrubar o próprio presidente começam a “operação bombardeio”. Exemplo de caso: um determinado veículo [por exemplo, a revista Veja, cuja tiragem já foi de um milhão de exemplares, hoje, caindo, na casa dos oitocentos mil] dá como matéria de capa um suposto escândalo contra determinado integrante da máquina pública. Então, na seqüência, o principal noticiário da rede de televisão [o jornal Nacional da Rede Globo – audiência também cadente] dá a notícia com pompa e circunstância. Em seguida, quase sempre de modo simultâneo, todos os demais veículos esquentam e repercutem essa matéria até transformar aquele “suposto” escândalo num fato consumado. Com esse ardil, aprenderam a forjar “novas realidades” ou “supra-realidades”, bem como “novas” lógicas e linguagens, muito semelhantes à “novilíngua” e ao “duplipensar” [ler “1984” de George Orwell].

Um dos dois maiores jornais daqui de São Paulo [com circulação em todo o Brasil], tamanho é o seu parcialismo às escâncaras, que foi recentemente ridicularizado, em escala global, com piadas e mensagens sarcásticas no Twitter [foi trending topic: com cerca de 50.000 mensagens postadas!]. Ou seja: exagerou tanto na dose que se tornou motivo de zombaria na rede. Sobre esse veículo pesquise os seguintes termos ou expressões: “ditabranda” e “ficha falsa da Dilma”. Veja a que ponto seus editores chegaram, a que nível baixaram! É de estarrecer.

Porém, reitero o devido registro, talvez até por se utilizarem desses artifícios antiéticos, capciosos, esses veículos estão perdendo, a cada dia, mais e mais leitores, condenados que estão ao descrédito – e, você bem sabe, a credibilidade é o maior patrimônio intangível de uma empresa de comunicação. A falta de credibilidade certamente os conduzirá, de modo célere, à bancarrota.

Peço-lhe desculpas, pois sei que falo sobre coisas que há muito deixaram de existir aí no seu tempo: revistas, jornais, televisão, Veja, Rede Globo etc. Imagino que aí, na segunda metade do séc. XXI, a internet holográfica (em 3D) e a blogosfera sejam as principais fontes de informação. Por aqui ainda vivemos a expectativa desse auspicioso “porvir”. Mas a blogosfera já se insinua como a ponte que nos auxiliará nessa grande e instigante travessia.

As redações dos grandes veículos da mídia, nos dias de hoje, têm, como se fossem supermercados, um verdadeiro estoque de falsas denúncias. Metaforicamente falando, são prateleiras e mais prateleiras onde estão dispostas, e muito bem organizadas [por partido, por grupo de interesse, por esfera de governo (federal, estadual e municipal), por cargo na hierarquia governamental etc.], denúncias diversificadas, “escândalos” variados. Tem escândalo para toda hora e ocasião.

“Mas não é exatamente essa a função dos jornalistas: vigiar governos, instituições e fazer denúncias?” – ponderaria você, com legítima razão. É verdade. Mas o “demônio” se esconde nos detalhes – como se diz por aqui. O problema é que os grandes veículos nos dias de hoje só fazem denúncias contra os partidos desse governo que aí está, de um perfil e estrato mais popular, e nenhuma crítica ou denúncia para valer contra os partidos das elites conservadoras, que desejam a todo custo e meios retomar o poder. Outra: a maior parte dessas denúncias é nitidamente falsa ou manipulada; muitas delas são “plantadas” pelas máfias da política e da imprensa, algumas são grosseiras “armações”. Acredite no que lhe digo.

Quem são/eram os “fornecedores” dessas denúncias ardilosas? Os jornalistas compactuavam/aceitavam esse estado de coisas? São perguntas mais do que legítimas, óbvias, e sei que você as está formulando nesse exato instante. Com relação aos fornecedores, num dado instante, houve uma deturpação do chamado “jornalismo investigativo”. Jornalistas passaram a se utilizar dos serviços de estelionatários e “arapongas” [inclusive ex-agentes da época da ditadura] que, por sua vez, se utilizavam de métodos similares aos utilizados pelas máfias – foi aí, tudo indica que, o jornalismo se irmanou ao crime e começou a cair em desgraça.

Já sobre o silêncio e cumplicidade, tenho uma teoria, pois testemunhei inúmeros casos: basta dar a um jornalista trinta, cinqüenta e até cem mil “dinheiros” [converta à moeda da sua época] de salário por mês que esse indivíduo, como num passe de mágica, se transforma e passa a falar com a voz do chefe, e a pensar com a cabeça do patrão. Os demais, os “focas” ou os jornalistas “proletários”, são, quase sempre, pessoas honestas, decentes, mas nada podem fazer por medo de perder o emprego (têm muitas bocas a alimentar – daí utilizar-me do termo “proletários”). Em face disso, creio, o mau-caratismo começou a prevalecer.

Tem também a questão do “mensalão” da mídia [“Mensalão” - rótulo que a grande mídia deu a esquema de caixa 2 dos partidos da base aliada ao atual governo]. Mas esse tema requer uma outra carta.

Sei que você deve estar pensando que tudo isso é absurdo, vergonhoso e se indagando como é possível que jornalistas e cidadãos em geral se submetessem a esse estado de coisas. Saiba que, para mim, é deveras constrangedor confessar-lhe que vivi nesses tempos de vergonha e infâmia. Porém, informo-lhe, apenas para registro, por mais incrível que isso possa lhe parecer, quando reclamávamos disso (perante o Congresso e as instituições) éramos estratégica e maliciosamente rotulados de “stalinistas”, de “inimigos da democracia”, e de que estávamos cometendo um atentado contra a liberdade de imprensa; redargüíamos, tentávamos explicar, incessantemente, diuturnamente, que estávamos indo em verdade, não contra, mas a favor desse “princípio dos princípios” – de nada adiantavam os nossos argumentos. Assim tentavam nos calar e impediam qualquer tentativa de democratização dos meios, ou mesmo qualquer embrionária iniciativa que visasse esse fim.

Veja bem, o que buscávamos era exatamente uma imprensa livre! Livre por princípio. Livre das sombras, das amarras e dos ditames dos interesses escusos dos patrões e seus grupos de pressão. “Utópicos”, “idealistas”, desejávamos exatamente uma imprensa livre, libertária e comprometida apenas com a verdade factual e a serviço de todas as classes [com ênfase, claro, nos desassistidos e nos trabalhadores]; a serviço do homem enfim. Acredite se quiser, mas, como disse, é a pura verdade.

Desculpe-me ter me utilizado de excessivo número de caracteres nessa comunicação. Ainda somos demasiadamente “prolixos” e pretensamente “literários”. Saudações de tempos pretéritos.

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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Cureau tenta intimidar CartaCapital

Reproduzo matéria publicada no sítio Vermelho:

A revista CartaCapital, reduto isolado de jornalismo independente na grande mídia, virou alvo de intimidação de Sandra Cureau — a polêmica vice-procuradora-geral eleitoral. Na quinta-feira (16), ela encaminhou ofício a Mino Carta, diretor de redação e proprietário majoritário da revista.

A vice-procuradora, no ofício datado do dia 9 de setembro, cobra de CartaCapital "relação das publicidades do governo federal dos anos 2009/2010, os respectivos contratos, bem como os valores recebidos a esse título". Cureau dá à revista o prazo de cinco dias para que as informações sejam enviadas "sob pena de responsabilização nos termos do artigo 8º, parágrafo 3º, da Lei complementar nº75/93, cumulada com o artigo 330 do Código Penal".

Em entrevista a Bob Fernandes, do Terra Magazine, Cureau diz que apenas recebeu uma denúncia e abriu “um procedimento”, que foi encaminhado “para a Casa Civil da Presidência da República, para o Tribunal de Contas da União e para a CartaCapital”. A crer em suas palavras, a acusação beira a leviandade: a revista editada por Mino Carta “apoia o governo Lula e a candidatura de Dilma e para tanto receberia verbas do governo federal”.

Mino — que também conversou com Bob Fernandes — não passou recibo. “Isso é uma atitude indevida — não teria sentido sequer se fosse dirigida a mesma requisição às demais editoras do país”, declarou.

O ofício, segundo ele, “significa que a senhora Cureau entende que nós somos comprados pelo governo federal, via publicidade. Se ela se dedicasse, ou se dedicar, porém, à mesma investigação junto às demais editoras de jornais, revista, e outros órgãos da mídia verificaria, verificará, talvez com alguma surpresa, que todos eles têm publicidade de instituições do governo em quantidade muito maior e com valor maior do que CartaCapital”.

Mino agregou que, ao ser boicotado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, não houve preocupação semelhante. “Fomos literalmente perseguidos pela absoluta ausência de publicidade do governo federal”, lembra. “Alguém, inclusive na mídia, se incomodou com isso? Ninguém considerou esse fato estranho? Uma revista de alcance nacional não receber publicidade alguma enquanto todas as demais recebiam?”

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A mídia em busca do golpe

Reproduzo artigo de Luciano Martins Costa, publicado no Observatório da Imprensa:

As eleições estão aí e as próximas duas semanas prometem mais fúria e sangue. Se ainda existe a possibilidade de análises frias e não engajadas sobre o papel da imprensa nesse cenário, é preciso antes registrar alguns elementos.

1. Os grandes jornais, aqueles que são chamados de circulação nacional, e que concentram o noticiário mais agressivo, funcionam claramente como linhas auxiliares da campanha oposicionista.

2. O governo é extremamente vulnerável a ações de lobistas, tem uma assessoria de comunicação pouco eficiente e tende a negligenciar cuidados básicos quando trata com correligionários.

3. O sistema partidário e o modelo de financiamento de campanha favorecem a corrupção.

Isso posto, observe-se que o interesse jornalístico desapareceu das páginas da imprensa, uma vez que as linhas de divulgação dos escândalos associados ao noticiário político já não seguem uma lógica de investigação, de reportagem, mas o objetivo de causar impacto na opinião pública. Predominam as ilações sobre as informações.

Ruído puro

No caso que custou o cargo à ex-ministra Erenice Guerra, por exemplo, uma análise das mensagens supostamente enviadas pelo consultor ou lobista que é a fonte principal da imprensa deixa indícios de que o acusador tentava chantagear os supostos intermediários.

O prontuário policial do acusador recomendaria mais cuidado dos jornalistas, se de fato o que motivasse as reportagens fosse o desejo de informar e esclarecer os fatos.

O objetivo da imprensa parece ser provocar o segundo turno na eleição presidencial. O resto, ou seja, a apuração e o esclarecimento, ficam para depois, como aconteceu em 2002 e 2006. Ou para nunca.

Mas quais as chances de os grandes jornais e as revistas semanais de informação influenciarem a escolha de um número suficiente de eleitores?

Vejamos: o Brasil tem 135 milhões de cidadãos aptos a votar. Desse total, uma porcentagem desconhecida – predominante entre os menos educados – perderá o voto por causa da exigência de levar junto com o título de eleitor um documento com fotografia e pela complexidade do processo.

Os grandes jornais são lidos por cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente, ou seja, pouco mais de 1% do eleitorado. Com mais 2 milhões de leitores de revistas, esse total não chega a 3% dos que vão às urnas.

Para a maioria, que só se informa pela televisão, os telejornais são puro ruído — a não ser nos casos em que a notícia pode ser vista.

Aguarde-se, portanto, para os próximos dias, alguma cena de mala com dinheiro, dinheiro na cueca — ou na calcinha, coisa do gênero.

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Baixarias: restam duas capas da Veja

Reproduzo matéria publicada do sítio Carta Maior:

A coalizão demotucana e seu dispositivo midiático atiram-se com sofreguidão em qualquer ‘língua negra’ que desponte no solo ressequido da semeadura eleitoral demotucana.

Como tem anunciado todos os seus colunistas de forma mais ou menos desabrida, às vezes escancarada, a exemplo de Fernando Rodrigues, da Folha, há uma ‘encomenda’ em licitação aberta no mercado de compras do denuncismo lacerdista: “…é necessário um escândalo de octanagem altíssima (com fotos e vídeos de dinheiro) …”, especificou o jornalista em seu blog do dia 14-09.

Na ausencia de oferta equivalente, usa-se por enquanto o que aparecer. Apareceu um ‘empresário’ indignado com supostas práticas de lobby, segundo ele, encasteladas na engrenagem da Casa Civil do governo, comandada pela agora ex-ministra Erenice Guerra.

A Folha elevou-o à condição de paladino da honestidade. Esponjou-se no material pegajoso derramado da obscura tubulação. Claro, há o Manual de Redação, sobretudo as aparências de uma redação. Muito lateralmente, então, informa-se na ‘reportagem-derruba Dilma’ que a fonte da indignação cívica que adiciona um novo tempero à mesmice do cardápio diário apregoado pelos Frias inclui em sua folha corrida o envolvimento comprovado com roubo de carga, falsificação de notas de cinquenta reais e crime de coação, não detalhado. Há pouco tempo e espaço para detalhes. Nem o mínimo cuidado com a averiguação de valores se observa.

O escroque que já cumpriu pena de 10 meses de cadeia, lambuzou a Folha com cifras suculentas e isso era o bastante: a negociata envolveria a ‘facilitação’ para um empréstimo de R$ 9 bilhões junto ao BNDES , desde que em contrapartida fossem desviados quase R$ 500 milhões a intermediários de uma cadeia supostamente iniciada com parentes ou subalternos da ministra Erenice Guerra para desembocar em caixas de campanha de candidatos do governo.

Se a sofreguidão da Folha fosse menor, o jornalista, quem sabe seu editor, quiça o próprio diretor do jornal teriam tido a cautela de verificar a existência no BNDES de projeto e valores mencionados, já que o acepipe oferecido pelo ladrão de carga de tempero remetia à liberação de financiamento barrado na instituição. Se tal fosse a prática, o leitor teria a oportunidade de saber, em primeiro lugar, que os valores relatados são absurdos (equivalem a meia usina de Belo Monte para fornecer 6% da energia que ela prevê); ademais, há discrepância de cifras entre o relato do meliante e o projeto que deu entrada no BNDES, cujo corpo técnico jamais o aprovaria. Diz a nota do banco divulgada 5º feira,”[o referido projeto]…foi encaminhado por meio de carta-consulta, solicitando R$ 2,25 bilhões (e não R$ 9 bilhões como afirma a reportagem) para a construção de um parque de energia solar”.

O BNDES considerou que o montante solicitado era incompatível com o porte da referida empresa. Vetou a solicitação. Naturalmente, isso comprometeria um pouco a ‘octanagem’ da manchete de seis colunas com duas linhas bombásticas saídas da sinergia estabelecida entre a Folha e um ladrão de carga de condimento. Não há tempo para minúcias. Restam apenas duas capas de Veja para detonar a vantagem de Dilma e tentar uma sobrevida que leve Serra ao 2º turno. Essa é a lógica do que vem por aí.

A esposa do candidato, Monica Serra, já diz em campanha de rua que “ela [Dilma] quer matar as criancinhas”. Nas redações circulam rumores de que o comando demotucano estaria interessado em depoimentos de parentes de militares mortos em confrontos com grupos da esquerda armada, nos anos 70. Em especial se houver, ao menos, leve insinuação de suposto comprometimento de Dilma Rousseff.

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O papel dos jornalistas tucanos

Reproduzo artigo de Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, publicado na revista CartaCapital:

Quando, no futuro, for escrita a crônica das eleições de 2010, procurando entender o desfecho que hoje parece mais provável, um capítulo terá de ser dedicado ao papel que nelas tiveram os jornalistas tucanos.

Foram muitas as causas que concorreram para provocar o resultado destas eleições. Algumas são internas aos partidos oposicionistas, suas lideranças, seu estilo de fazer política. É bem possível que se saíssem melhor se tivessem se renovado, mudado de comportamento. Se tivessem permitido que novos quadros assumissem o lugar dos antigos.

Por motivos difíceis de entender, as oposições aceitaram que sua velha elite determinasse o caminho que seguiriam na sucessão de Lula. Ao fazê-lo, concordaram em continuar com a cara que tinham em 2002, mostrando-se ao País como algo que permanecera no mesmo lugar, enquanto tudo mudara. A sociedade era outra, a economia tinha ficado diferente, o mundo estava modificado. Lula e o PT haviam se transformado. Só o que se mantinha intocada era a oposição brasileira: as mesmas pessoas, o mesmo discurso, o mesmo ar perplexo de quem não entende por que não está no poder.

Em nenhum momento isso ficou tão claro quanto na opção de conceder a José Serra uma espécie de direito natural à candidatura presidencial (e todo o tempo do mundo para que confirmasse se a desejava). Depois, para que resolvesse quando começaria a fazer campanha. Não se discutiu o que era melhor para os partidos, seus militantes, as pessoas que concordam com eles na sociedade. Deram-lhe um cheque em branco e deixaram a decisão em suas mãos, tornando-a uma questão de foro íntimo: ser ou não ser (candidato)?

Mas, por mais que as oposições tivessem sido capazes de se renovar, por mais que houvessem conseguido se libertar de lideranças ultrapassadas, a principal causa do resultado que devemos ter é externa. Seu adversário se mostrou tão superior que lhes deu um passeio.

Olhando-a da perspectiva de hoje, a habilidade de Lula na montagem do quadro eleitoral de 2010 só pode ser admirada. Fez tudo certo de seu lado e conseguiu antecipar com competência o que seus oponentes fariam. Ele se parece com um personagem de histórias infantis: construiu uma armadilha e conduziu os ingênuos carneirinhos (que continuavam a se achar muito espertos) a cair nela.

Se tivesse feito, nos últimos anos, um governo apenas sofrível, sua destreza já seria suficiente para colocá-lo em vantagem. Com o respaldo de um governo quase unanimemente aprovado, com indicadores de performance muito superiores aos de seus antecessores, a chance de que fizesse sua sucessora sempre foi altíssima, ainda que as oposições viessem com o que tinham de melhor.

Entre os erros que elas cometeram e os acertos de Lula, muito se explica do que vamos ter em 3 de outubro. Mas há uma parte da explicação que merece destaque: o quanto os jornalistas tucanos contribuíram para que isso ocorresse.

Foram eles que mais estimularam a noção de que Serra era o verdadeiro nome das oposições para disputar com Dilma Rousseff. Não apenas os jornalistas profissionais, mas também os intelectuais que os jornais recrutam para dar mais “amplitude” às suas análises e cobertura.

Não há ninguém tão dependente da opinião do jornalista tucano quanto o político tucano. Parece que acorda de manhã ansioso para saber o que colunistas e comentaristas tucanos (ou que, simplesmente, não gostam de Lula e do governo) escreveram. Sabe-se lá o motivo, os tucanos da política acham que os tucanos da imprensa são ótimos analistas. São, provavelmente, os únicos que acham isso.

Enquanto os bons políticos tucanos (especialmente os mais jovens) viam com clareza o abismo se abrir à sua frente, essa turma empurrava as oposições ladeira abaixo. Do alto de sua incapacidade de entender o eleitor, ela supunha que Serra estava fadado à vitória.

Quem acompanhou a cobertura que a “grande imprensa” fez destas eleições viu, do fim de 2009 até agora, uma sucessão de análises erradas, hipóteses furadas, teses sem pé nem cabeça. Todas inventadas para justificar o “favoritismo” de Serra, que só existia no desejo de quem as elaborava.

Se não fossem tão ineptas, essas pessoas poderiam, talvez, ter impulsionado as oposições na direção de projetos menos equivocados. Se não fossem tão arrogantes, teriam, quem sabe, poupado seus amigos políticos do fracasso quase inevitável que os espera.

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O caso do sigilo fiscal e o “bebê-diabo”

Reproduzo artigo de Hideyo Saito, publicado no sítio Carta Maior:

A acusação de que o comitê de Dilma Rousseff teria violado o sigilo fiscal de um grupo de pessoas ligadas ao PSDB e a seu candidato presidencial, José Serra, saiu das manchetes coincidentemente depois de confirmado que não está arranhando o favoritismo da petista, após feroz campanha que ocupou as manchetes da mídia oligopólica durante mais de três semanas. Nesse período, o assunto foi martelado diariamente, com manchetes anunciando supostos “desdobramentos” do caso, que, entretanto, não trouxeram qualquer prova da ligação dos fatos alegados com a coligação petista. Em 2 de setembro, aliás, o corregedor eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Aldir Passarinho Junior, já havia arquivado uma representação demotucana, que pedia nada menos que a cassação da candidatura Dilma, justamente por falta de provas. Mesmo assim a campanha da mídia – em dobradinha com a propaganda eleitoral do candidato tucano – prosseguiu, imperturbável.

A maior evidência de que se tratava de um factóide eleitoral de péssima fatura é que não houve qualquer uso de informações fiscais das supostas vítimas na campanha de Dilma ou de seus aliados. Aliás, a denúncia ganharia alguma verossimilhança se essa candidata estivesse desesperada por causa de pesquisas eleitorais desfavoráveis. Outro importante detalhe é que, como já lembrado, os fatos apontados remontam a setembro de 2009, quando Serra se engalfinhava com seu companheiro de partido, Aécio Neves, na disputa pela candidatura tucana. Naqueles dias, surgiram falatórios sobre o jogo pesado que ambos os lados estavam protagonizando.

Mesmo a ilação, surgida a partir do episódio, de que a Receita Federal está “aparelhada” pelo PT dificilmente se encaixa com as denúncias. Ora, se isso é verdade por que o partido teria de apelar a um obscuro contador para solicitar, mediante uma procuração falsa, as informações desejadas? Recordemos que os operadores tucanos, quando manobraram para colocar a Previ a favor de Daniel Dantas na privatização das empresas de telecomunicações, não se valeram de recursos tão toscos. Tinham o controle do Banco do Brasil e dispensaram intermediários de baixo calibre (1).

O fato é que o assunto subitamente saiu das manchetes, substituído por outro. O jornal eletrônico “Brasília Confidencial” de 10 de setembro, em editorial intitulado “Monstruosa armação”, registrou que a própria “Folha de S. Paulo”, na edição do dia imediatamente anterior, teve de desmentir as acusações. Diz o editorial: “A Folha confessa, em texto sem assinatura, produzido pela sucursal de Brasília: o comitê de Dilma não produziu um dossiê; apenas teve acesso a um dossiê feito pelo PT de São Paulo há cinco anos. Trata-se, na verdade, de uma papelada de cem páginas escrita pelo partido para solicitar que o Ministério Público e a Procuradoria da República investigassem possíveis irregularidades em privatizações tucanas, que poderiam ter beneficiado José Serra, sua filha e seu genro”. Mesmo assim, constata, “a Folha não se retrata: limita-se a noticiar ‘naturalmente’ que mentiu”. (2)

O leitor atento poderia legitimamente questionar esse sumiço repentino da notícia: afinal, não diziam que se tratava de um fato capaz de por em cheque até mesmo a democracia brasileira? A oposição, incluída aí toda a grande imprensa e seus jornalistas mais subservientes, gastou toneladas de papel para alardear uma ameaça de mexicanização e o avanço do totalitarismo no Brasil. É legítimo questionar como um assunto tão transcendental desaparece das manchetes de uma hora para outra. Mas foi exatamente assim, sem qualquer cerimônia, que o assunto ficou relegado às páginas internas.

O “bebê-diabo” que infernizou São Paulo

A mídia oligopólica, definitivamente, mandou às favas qualquer compromisso com a verdade, com a ética e com os mais comezinhos princípios do jornalismo. A sucessão diária de manchetes vazias desse caso lembra um lamentável precedente, clássico do jornalismo marrom, criado pelo hoje extinto jornal “Notícias Populares”, também do grupo Folha (ora, ora, eles têm tradição no ramo!). Trata-se da farsa anunciada em manchete da edição de 10 de maio de 1975: “Nasceu o diabo em São Paulo”. O jornalista Edward de Souza assinou involuntariamente a primeira matéria, que resultou de completa distorção do que havia sido efetivamente apurado na rua. O mais incrível é que a mentira foi sustentada durante quase um mês, em seguidas manchetes.

Tudo começou, segundo ele, quando o editor do jornal o escalou para averiguar um boato segundo o qual, em São Bernardo do Campo, havia nascido uma criança estranha, com chifres e até rabo. Os médicos do hospital esclareceram, entretanto, que se tratava apenas de um bebê com malformação, que apresentava “um prolongamento no cóccix e duas pequenas saliências na testa”. O problema foi eliminado por uma cirurgia simples realizada na própria maternidade. “Escrevi o relato – prossegue o jornalista – sem nenhum sensacionalismo, em texto de 30 linhas. No domingo pela manhã vi o jornal com a manchete forçada e a minha assinatura. Fiquei apavorado, temendo processo e demissão por justa causa.” (3)

O texto da notícia tinha trechos completamente inventados, como este, de abertura: “Durante um parto incrivelmente fantástico e cheio de mistérios, correria e pânico por parte de enfermeiros e médicos, uma senhora deu a luz num hospital de São Bernardo do Campo, a uma estranha criatura, com aparência sobrenatural, que tem todas as características do diabo, em carne e osso. O bebezinho, que já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos na cabeça e um rabo de aproximadamente cinco centímetros, além do olhar feroz, que causa medo e arrepios”.

O repórter conta que, longe de ser demitido, foi elogiado pelo presidente do grupo Folha, Octavio Frias de Oliveira, que o chamou a seu gabinete. Ele determinou ainda que a matéria deveria ter continuidade. Foram ao todo 27 “reportagens”, que ajudaram a elevar a tiragem do jornal de 80 mil para 200 mil exemplares diários, de acordo com Souza. Algumas das mirabolantes manchetes da série: “Bebê-diabo inferniza padre no ABC”; “Nós vimos o bebê-diabo”; “Feiticeiro irá ao ABC expulsar bebê-diabo”; “Viu bebê-diabo e ficou louca”; “Santo previu bebê-diabo”; “Fazendeiro é o pai do bebê-diabo” e “Bebê-diabo foge para o nordeste”. O ponto alto foi alcançado no dia em que o jornal “informou” que o bebê-diabo tomou um taxi e assustou o motorista quando ordenou: “Toca para o inferno”. Mas assim que o assunto começou a cansar, o jornal anunciou a fuga do seu incrível personagem. E a notícia saiu das capas do jornal de uma hora para outra, como aconteceu com o caso do sigilo fiscal.

Ambas as fraudes são similares, pois visam em essência enganar o leitor. O objetivo do “Notícias Populares” foi meramente o de ganhar dinheiro com a mistificação, que foi então desdenhosamente ignorada pelo resto da imprensa. Já a tentativa de induzir em erro os leitores atuais, atribuindo (explícita ou implicitamente) a responsabilidade pelas quebras do sigilo fiscal à candidata Dilma Rousseff, foi encampada pelo conjunto da mídia dominante (dizem que com a isolada – e significativa – exceção dos grandes jornais de Belo Horizonte) por ideologia. A imprensa transformou-se em defensora de uma candidatura que representa melhor os seus interesses – mas o faz fraudulentamente, como se não fosse parte visceralmente interessada na disputa eleitoral. E a primeira vítima dessa postura, como sempre, é a verdade.

NOTAS

1- Segundo gravações de conversas telefônicas dos responsáveis pelo caso, que vieram à tona na ocasião, cogitou-se até envolver o “chefe” (isto é, o então presidente FHC) na negociata.

2- Brasília Confidencial. Monstruosa armação. Brasília, 10/09/2010. Ver no endereço http://www.brasiliaconfidencial.inf.br/?p=21097.

3- O depoimento do jornalista foi retirado de http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=5903.

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Manchetes que viram propaganda eleitoral

Reproduzo artigo de Ricardo Kotscho, publicado no blog Balaio do Kotscho:

Pelos comentários que leio diariamente aqui, os leitores estão cada vez mais indignados com o comportamento da grande imprensa brasileira na cobertura da campanha eleitoral de 2010. Um exemplo que resume a bronca da maioria é a mensagem enviada às 14h06 desta quinta-feira pelo leitor Eduardo Bonfim, pedindo que eu me manifeste sobre o assunto:

“Prezado Ricardo Kotscho

Sou fã do seu blog. Gostaria que você escrevesse um artigo sobre a propaganda que a Rede Globo vem fazendo no Jornal Nacional (JN no Ar) todos os dias, onde claramente só mostra a parte ruim do Brasil para que o povo vote no 45. Realmente, o casal do JN é 45. Isso é liberdade de imprensa?”


Sim, meu caro Eduardo, esta é a liberdade de imprensa que os oligopólios de mídia defendem. Ninguém pode contestá-los. Trata-se de um direito absoluto, sem limites. O citado JN no Ar, por exemplo, levanta todo dia a bola dos problemas das cidades brasileiras, onde falta de tudo e nada funciona. No mínimo, tem lugar onde falta homem e tem lugar onde falta mulher… Logo em seguida, entra o programa do candidato José Serra para apresentar as soluções.

Na outra metade do programa tucano, em tabelinha com os principais veículos de comunicação do país, são apresentadas as manchetes dos jornais e revistas com denúncias contra a candidata Dilma Rousseff, o governo Lula e o PT, numa sucessão de escândalos sem fim até o dia de disparar a tal “bala de prata”.

Já não dá mais para saber onde acaba o telejornal e onde começa o horário político eleitoral, o que é fato e o que é ilação, o que é notícia e o que é propaganda. A estratégia não chega a ser original. Mas, desde o segundo turno entre Collor e Lula, em 1989, eu não via uma cobertura tão descarada, um engajamento tão ostensivo da imprensa a favor de um candidato e contra o outro.

O esquema é sempre o mesmo: no sábado, a revista Veja lança uma nova denúncia, que repercute no JN de sábado e nos jornalões de domingo, avançando pelos dias seguintes. A partir daí, começa uma gincana para ver quem acrescenta novos ingredientes ao escândalo, não importa que os denunciantes tenham acabado de sair da cadeia ou fujam do país em seguida. Vale tudo.

Como apenas 1,5 milhão de brasileiros lê jornal diariamente, num universo de 135 milhões de eleitores, ou seja, o que é quase nada, e a maioria destes leitores já tem posição política firmada e candidato escolhido, reproduzir as manchetes e o noticiário dos impressos na televisão, seja no telejornal de maior audiência ou no horário de propaganda eleitoral, é fundamental para atingir o objetivo comum: levar o candidato da oposição ao segundo turno, como aconteceu em 2006.

À medida em que o tempo passa e nada se altera nas pesquisas, que indicam a vitória de Dilma no primeiro turno, o desespero e a radicalização aumentam. Engana-se, porém, quem pensar que o eleitorado não está sacando tudo. Basta ler os comentários publicados nos diferentes espaços da internet _ este novo meio que a população vem utilizando mais a cada dia, para deixar de ser um agente passivo no mundo da informação e poder formar a sua própria opinião.

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Os estragos que a velha mídia pode causar

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Para atacar o centro do poder e da coligação lulo-dilmista, a velha mídia se aliou a um empresário que já passou dez meses na cadeia.

Nassif explicou quem é o empresário que serviu de “fonte” para a “Folha”, na nova denúncia a envolver o nome da (agora) ex-ministra Erenice Guerra. O tal empresário narra episódios ocorridos há meses e que, convenientemente, resssurgem agora – do nada – em plena reta final da eleição.

Acho normal que a imprensa vasculhe as relações de personagens próximos aos principais candidatos. É a tal função fiscalizadora do poder. O curioso é saber: por que a fiscalização é unilateral? Nos velhos jornais e revistas, nenhuma palavra sobre Ricardo Sérgio, sobre Preciado e tantos outros personagens próximos a Serra. Leandro Fortes escreveu sobre o silêncio generalizado - na velha mídia – a respeito da denúncia que ele, Leandro, levou ás páginas da CartaCapital: mostrou como a empresa de Verônica Serra, a Decidir, quebrou o sigilo de milhões de brasileiros.

Esse é o jogo. Sujo. Por isso, desde que Dilma passou Serra nas pesquisas, dedico-me a escrever aqui: calma, gente. Serra está em queda, a mídia já nao tem tanto poder. OK. Mas, juntos, podem sim provocar estragos. Meus argumentos estão num texto intitulado “Sobre fábulas e o menosprezo”.

Acabamos de ver comprovada minha tese. O governo Lula aceitou a pressão midiática, e Erenice se demitiu.

A “Folha” derrubou Erenice. Esse é o fato. Um jornal que perdeu muita força, mas que hoje – como “produtor de conteúdo” para as edições do “JN” e para os programas de Serra na TV – ainda tem algum peso.

As pesquisas mostram que grande parte do eleitorado não muda o voto em Dilma por conta do escândalo. Isso é fato.

Outros fatos:

- nas camadas médias, entre eleitores mais escolarizados e com renda mais alta, Dilma caiu sim após o bombardeio; se dependesse apenas desse segmento, a eleição iria pra segundo turno;

- nos setores populares e mais próximos do lulismo, a tática do escândalo não pega; o que poderia pegar é o terror religioso; e isso está em marcha, como escrevi aqui; nos últimos dias, tive relatos de gente que, no trabalho, já começou a ouvir de colegas (de origem humilde) que “o pastor pediu pra não votar na mulher do Lula, porque ela é a favor do aborto”.

Isso quer dizer o que? Por agora, os números indicam vitória no primeiro turno, e Serra ainda tem que pagar um preço alto por bater tanto: cresce a rejeição a ele. Isso é um “meio” problema. Para Serra forçar o segundo turno, basta que Dilma perca votos – mesmo que o tucano não os ganhe. Para isso, existe Marina Silva. Ela é claramente contra o aborto, evangélica, pode receber parte dos votos que Dilma venha a perder se a campanha do terror religioso prosperar.

Vamos aos números. No DataFolha (com resultado muito parecido ao do Sensus), Dilma tem 51%, Serra 27% e Marina 11%. Se calcularmos que Plinio e os nanicos cheguem a 1%, teríamos o seguinte quadro: Dilma 51% x Todos os outros 39%. Parece muito, mas não é. A diferença é de 12 pontos. Portanto, bastaria Serra tirar 6 pontos de Dilma, transferindo esse total para Marina, Plinio e para o próprio tucano.

Como?

Paulo Henrique Amorim já avisou que Onésimo vem aí. Quem é ele? O tal araponga que a turma do PT – em dado momento- teria tentado contactar (e contratar?). Onésimo conversou com a “Veja” essa semana.

Portanto, teremos nos próximos dias o seguintes quadro:

- governo ainda a sangrar pelo escândalo de Erenice e a saída da ministra;

- novas denúncias do consórcio “Veja”/”Folha”, que ganharão farto espaço no “JN”;

- campanha terrorista nas Igrejas.

Serra não precisa de muito pra forçar o segundo turno: basta que ele chegue a 29%, Marina suba para 15% e Dilma caia para 45%.

Impossível? Eu não acho. Tenho dito isso há 3 meses. Ainda mais porque parte do eleitorado dilmista pode ter dificuldades com a exigência de dois documentos para votar.

O governo Lula não enfrentou o PIG durante 8 anos. Franklin Martins teve um papel importante, democratizando em parte o acesso às verbas públicas de publicidade. O PIG chiou, a grana agora vai para mais jornais, não só a velha turma. Isso foi feito.

Mas e o trabalho político e pedagógico de mostrar o que é essa velha mídia? Lula poderia ter travado esse combate. Não o fez. Tentou ganhar no gogó. Em parte teve sucesso, mas mesmo assim precisou encarar segundo turno em 2006 – graças a 15 dias de bombardeio, numa eleição que parecia ganha.

E se agora vierem mais 15 dias de bombardeio, como em 2006? Vocês acham impossível virar 6 pontos percentuais? O guru indiano, os pastores e padres de direita, os Civita, o Ali Kamel, a família Marinho e o Serra. Nem eu. Lamento estar em péssima compania.

Como enfrentar esse quadro? Com resposta política dos movimentos sociais. O ato público covocado pelo Barão de Itararé é só um exemplo. Mas falta o ator principal entrar em campo: Lula precisa vir a público e peitar a velha mídia.

Não o fez durante 8 anos. Fará isso agora em 15 dias? O futuro da eleição pode passar por aí.

E, para concluri: mesmo que Dilma vença no primeiro turno, terá que pagar um preço altíssimo pelo fato de Lula não ter usado sua força para enfrentar esse complexo midiático – transformado em partido politico. Dilma iniciaria o governo já na defensiva. Encurralada pela velha mídia, e sem o apelo da mística lulista.

Um quadro político complicado. Mesmo que os números das pesquisas e da economia, hoje, apontem o contrário.

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Parabéns! Um ano da TV Vermelho



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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ato contra o golpismo midiático

Reproduzo convite do Centro de Estudos Barão de Itararé:

COMPAREÇA AO ATO EM DEFESA DA DEMOCRACIA!

CONTRA A BAIXARIA NAS ELEIÇÕES!

CONTRA O GOLPISMO MIDIÁTICO!

Na reta final da eleição, a campanha presidencial no Brasil enveredou por um caminho perigoso. Não se discutem mais os reais problemas do Brasil, nem os programas dos candidatos para desenvolver o país e para garantir maior justiça social. Incitada pela velha mídia, o que se nota é uma onda de baixarias, de denúncias sem provas, que insiste na “presunção da culpa”, numa afronta à Constituição que fixa a “presunção da inocência”.

Como num jogo combinado, as manchetes da velha mídia viram peças de campanha no programa de TV do candidato das forças conservadoras.

Essa manipulação grosseira objetiva castrar o voto popular e tem como objetivo secundário deslegitimar as instituições democráticas a duras penas construídas no Brasil.

A onda de baixarias, que visa forçar a ida de José Serra ao segundo turno, tende a crescer nos últimos dias da campanha. Os boatos que circulam nas redações e nos bastidores das campanhas são preocupantes e indicam que o jogo sujo vai ganhar ainda mais peso.

Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando da ofensiva estão grupos de comunicação que – pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar – já mostraram seu desapreço pela democracia.

É por isso que centrais sindicais, movimentos sociais, partidos políticos e personalidades das mais variadas origens realizarão – com apoio do movimento de blogueiros progressistas - um ato em defesa da democracia.

Participe! Vamos dar um basta às baixarias da direita!

Abaixo o golpismo midiático!

Viva a Democracia!

Data: 23 de setembro, 19 horas

Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

(Rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista).


Presenças confirmadas de dirigentes do PT, PCdoB, PSB, PDT, de representantes da CUT, FS, CTB, CGTB, MST e UNE e de blogueiros progressistas.

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"Fonte" da Folha acabou de sair da cadeia

Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:

Alguns elementos para tentar entender essa nova denúncia da Folha:

1. Segundo informações da própria Folha, o acusador Rubnei Quícoli já foi condenado duas vezes em São Paulo (por interceptação de carga roubada e por posse de moeda falsificada). E em 2007 passou dez meses preso. O fato de antecipar as denúncias sobre sua fonte não absolve o jornal. Pelo contrário, é agravante. Quando uma pessoa com tal currículo faz uma denúncia, é praxe de qualquer jornalismo sério ouvir as denúncias e exigir a apresentação de provas.

2. A única prova que o tal consultor apresenta é um email marcando audiência na Casa Civil e que tem o nome de Vinicius Oliveira no C/C . Todo o restante são acusações declaratórias. Nenhum juiz do mundo tomaria como verdade acusações desacompanhadas de provas, de um sujeito que acaba de sair da cadeia.

3. O jornal não explica como um sujeito com duas condenações criminais, que passou dez meses na prisão dois anos atrás, pilota um projeto de R$ 9 bilhões. É apostar demais na ignorância dos leitores.

4. O BNDES é um banco técnico, constituído exclusivamente por funcionários de carreira trabalhando de forma colegiada. É impossível a qualquer pessoa – até seu presidente – influenciar a análise do comitê de crédito. Essa informação pode ser facilmente confirmada com qualquer ex-presidente do banco, de qualquer governo. É só conversar com o Luiz Carlos Mendonça de Barros, Pérsio Arida, Antonio Barros de Castro, Márcio Fortes – que foram presidentes durante o governo FHC. A ilação principal da reportagem – a de que o projeto de financiamento foi recusado pelo BNDES depois da empresa ter recusado a assessoria da Capital – não se sustenta. Coloca sob suspeita uma instituição de reconhecimento público fiando-se na palavra de um sujeito que já sofreu três condenações na Justiça e três anos atrás passou dez meses preso.

5. Existem empresas de consultoria que preparam projetos para o BNDES e cobram entre 5 a 7% sobre o valor financiado. É praxe no mercado. Confundir essa taxa com propina é má fé. Segundo o empresário que denunciou, Israel apresentou uma proposta de acompanhamento jurídico de processos da empresa, que acabou não sendo assinado. Tudo em cima de declarações.

Ninguém vai negociar propostas ocultas em reuniões formais na Casa Civil, à luz do dia. Só faltava.

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Condenado se torna "fonte" da Folha

Reproduzo matéria publicada no blog Conversa Afiada:

A Folha de S.Paulo de hoje (16.09) estampa uma foto de meia página (E3) de Rubnei Quícoli, apresentado como “empresário” e representante da empresa EDRB do Brasil S/A, de Campinas (SP). Embaixo da foto dele, em pose de CEO de grupo multinacional, a mesma Folha informa que Quícoli foi condenado em processos movidos pela Justiça de São Paulo pelos crimes de receptação e coação. Uma das penas foi por desvio de uma carga de 10 toneladas, produto de roubo. A outra, por receptação de moeda falsa. Em 2007, informa a FSP, Quícoli passou dez dias na cadeia.

A FSP recorre ao depoimento deste homem – que identifica como “consultor” – para acusar, sem provas, a ministra-chefe da Casa Civil, e seu filho Israel, de terem pedido dinheiro da empresa EDRB para liberar um empréstimo do BNDES e para a campanha da candidata Dilma Rousseff.

O absurdo é que, na entrevista (pág E3) é o próprio Quícoli quem afirma que o dinheiro teria sido pedido por Marco Antonio Oliveira, ex-diretor dos Correios, demitido recentemente, e não por Erenice ou Israel Guerra.

Fala Quícoli: “Ele (Marco Antonio) falou que precisava de R$ 5 milhões para poder pagar a dívida lá que a mulher de ferro tinha”. Acrescenta Quícoli: “O Marco Antonio é que pediu. Eu falei: Eu não vou dar dinheiro nenhum. Eu estou fazendo um negócio que é por dentro e estou me sentindo lesado.”

Segundo o “consultor”, foi Marco Antonio quem afirmou que “Israel bloqueou a operação (no BNDES). Quícoli também afirma que Israel não lhe pediu dinheiro: “O Israel nunca pediu nada, porque eu não dei chance. Eu não sabia que ele era filho da Erenice. Soube pelo Marco Antonio.”

Sobre a ministra, à época secretária-executiva da Casa Civil, o “consultor” afirma: “Ela se colocou num patamar assim: Vou ver onde eu coloco isso”. Ela concordou que a Chesf seria e empresa recomendada (para avaliar o projeto de energia solar) porque está no Nordeste. Nessa condição, ela agiu corretamente.”

A Folha reforça: “Segundo eles, ela ouviu sobre o projeto e se propôs a fazer a ponte entre a EDRB e a Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), estatal geradora de energia. “Nesse dia, ela [Erenice] propôs o quê? Viabilizar o projeto dentro da Chesf. [...]”

Conforme informado à FSP, ontem (15), representantes da empresa KVA Elétrica (e não da EDRB), foram recebidos na Casa Civil, em 10 de novembro de 2009, pelo então assessor especial da Secretaria-Executiva. Segundo a FSP, ambas empresas são representadas por Quícoli. Os empresários apresentaram um perfil da empresa e tecnologias para a produção de energia solar na região Nordeste. Nenhum encaminhamento ou pedido foi derivado desta audiência. Nem Erenice Guerra, nem o ex-assessor da Casa Civil, Vinícius Castro, participaram da audiência.

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Carta de demissão de Erenice Guerra

Excelentíssimo Senhor
Luiz Inácio Lula da Silva
DD Presidente da República
Nesta

Senhor Presidente,

Nos últimos dias fui surpreendida por uma série de matérias veiculadas por alguns órgãos da imprensa contendo acusações que envolvem funcionários e familiares meus.

Tenho respondido uma a uma, buscando esclarecer o que se publica e, principalmente, a verdade dos fatos, defrontando-me com toda sorte de afirmações, ilações ou mentiras que visam desacreditar meu trabalho e atingir o governo ao qual sirvo.

Não posso, não devo e nem quero furtar-me à tarefa de esclarecer todas essas acusações e nem posso deixar qualquer dúvida pairando acerca de minha honradez e da seriedade com a qual me porto no serviço público. Nada fiz ou permiti que se fizesse, ao longo de toda essa trajetória de trinta anos, que não tenha sido no estrito cumprimento de meus deveres.

Agradeço a confiança de Vossa Excelência ao designar-me para a honrosa função de Ministra-Chefe da Casa Civil da Presidência da República, e solicito em caráter irrevogável que aceite meu pedido de demissão.

Cabe-me, daqui por diante, a missão de lutar para que a verdade dos fatos seja restabelecida.

Brasília (DF), 15 de setembro de 2010.

Erenice Guerra


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O velho filme das denúncias eleitorais

Reproduzo artigo de Urariano Motta, publicado no sítio Direto da Redação:

O roteiro é conhecido, o filme é velho, mas continua a ser exibido a cada quatro anos, quando se anunciam mudanças políticas no Brasil. É um filme B, de candidatos a canastrão, de poucas locações, mas ainda assim caro, muito caro, pelo preço cobrado e pelas repercussões na vida econômica do Brasil.

É uma película grossa, repleta de truques manjados, repetidos à exaustão, sem qualquer voo tecnológico ou design de jornadas nas estrelas, mas ainda assim eficaz como uma armadilha de sexo, cujo final é sempre conhecido, mas ainda assim sedutor.

Os mais maduros já viram. Assim como neste setembro de 2010, quando aparece a denúncia do vazamento do sigilo da pulcra filha de Serra, cuja pulcritude não conseguiu arrancar votos de Dilma, apesar do reforço da pulcríssima candidata Marina... assim como nestes últimos dias, quando surgiu mais um escândalo, desta vez para responsabilizar a Casa Civil do governo Lula, utilizando a ponte do filho da substituta de Dilma, que não está mais do governo, mas “aí tem coisa”, pois os links se fazem com lances de ilusionismo, não custa lembrar a última exibição desse arrasa quarteirão da guerra política.

Em setembro, Lula, que estava próximo a ganhar as eleições no primeiro turno, recebeu um golpe desse filme em 15 de setembro de 2006. O dia desse clássico da velhacaria não é certo. Mas o título, sim. Na sua versão de 2006, ficou conhecido “O escândalo do dossiê”. O certo é que em 16.09.2006 a Folha de São Paulo denunciou:

PF prende petistas acusados de comprar dossiê anti-Serra

A Polícia Federal apreendeu ontem US$ 248,8 mil e R$ 1,168 milhão (R$ 1,7 milhão), em um hotel de São Paulo, em poder do petista Valdebran Carlos Padilha da Silva, empreiteiro mato-grossense, e de Gedimar Pereira Passos, advogado e ex-agente da PF. Eles estavam intermediando a compra de vídeos, fotos e documentos que mostrariam suposto envolvimento dos candidatos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra com a máfia dos sanguessugas.


A duas semanas do primeiro turno de 2006, um raio de Cecil B. DeMille riscou os céus do Brasil. A hipocrisia e a malandragem se juntaram em uníssono. Com espaço aberto em toda grande imprensa, instigados, como dizem os jovens hoje, vieram as vozes dos varões de Plutarco:

Pega ladrão! (A chantagem eleitoral de Lula)

Jorge Bornhausen

Surpreendido, o ladrão antecipa-se ao alarme e grita: "Ladrão!
Pega ladrão!". Mistura-se aos seus próprios perseguidores e se livra da polícia. (Ou então, numa variável da cena, usada como cortina cômica dos picadeiros de circo de antigamente, o ator que faz o papel do descuidista ou do sedutor apanhado em flagrante de adultério grita "Fogo! Fogo!", e aproveita a confusão pra fugir.)...

Heloísa compara PT a facção criminosa por elo com dossiê

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GOIÂNIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A candidata do PSOL à Presidência Heloísa Helena classificou o PT como "organização criminosa" ao comentar, ontem, a participação de membros do partido na compra de dossiê contra tucanos....

É mais prático afastar Lula, diz Alckmin

O candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, afirmou ontem, quando questionado sobre a série de demissões no PT e no governo provocadas pelas crises políticas, que é ‘mais prático afastar o Lula’.

Cinco ministros afastados, indiciados, denunciados, a direção do PT envolvida em escândalos, agora um novo. Eu acho que tem que afastar o Lula, é mais prático”.


Mas faltava para a televisão a imagem escandalosa do crime. No dia 29 de setembro, pela versão da mídia, uma “pessoa” (o criminoso em off) entrega aos jornalistas um CD com as fotos do dossiê. O Delegado da Polícia Federal de São Paulo, Edmilson Pereira Bruno, declara que foi vítima de furto, ao contar que as fotos vazadas foram roubadas de sua sala. Na verdade, desde 28 de setembro as fotos das pilhas de dinheiro haviam sido tiradas pelo próprio delegado. Em seguida, como se não soubesse de nada, deu entrevista dizendo que abriria investigação para descobrir como as fotos foram parar na imprensa.

Era tudo de que precisava o filme do escândalo. O Jornal Nacional, no dia 29 de setembro, dois dias antes das eleições do primeiro turno, deu o furo, previsível, programado, das pilhas do dinheiro dos “petistas”. E Lula foi para o segundo turno.

Esse é o enredo, o roteiro. Esperamos não ter desta vez, nestes tempos da web livre, mais um campeão de audiência.

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Mídia, poder e os domadores de leões

Reproduzo artigo de Antonio Lassance, publicado no sítio Carta Maior:

Certa vez, um ministro resolveu levar ao Presidente da República seu pedido de exoneração. Diante de uma crise aguda, uma verdadeira “blitzkrieg” (guerra-relâmpago) que assolava o Planalto na tentativa de deixar apenas terra arrasada, o ministro explicou a auxiliares por que achava que estava na hora de “pegar o boné”: “os leões precisam de carne”. Os leões eram os veículos de imprensa.

Esta é uma ótima analogia sobre a relação entre a imprensa e o “poder”. Isenta os leões de serem recriminados por sua ferocidade e apetite. É da sua natureza e instinto serem assim. É mais do que uma circunstância. Pelo menos, desde a Revolução Francesa, desde Jean-Paul Marat e seu jornal insurrecional e maledicente, “O amigo do povo” – recheado por política e fofocas, como os atuais.

Por outro lado, se os leões estão isentos de culpa, os políticos e o público, por obrigação, não podem ter com a imprensa uma relação ingênua. Os leões não estão à espreita para promover espetáculo, para fazer bonito e agradar ao público. Mesmo aqueles que lhes dão carne diariamente não podem ser ingênuos e românticos.

“No Planalto, com a imprensa”, livro em dois volumes, de quase mil páginas, produzido pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), sob o comando do ministro Franklin Martins, reúne entrevistas com antigos domadores - responsáveis pela intermediação das relações dos governos com a imprensa. Alguns o foram na condição de secretários de Imprensa; outros, na de porta vozes.

As entrevistas foram feitas pelo professor, jornalista e assessor da Secom, Jorge Duarte, um dos maiores especialistas do país em jornalismo e comunicação. Duarte faz uma cuidadosa reconstituição histórica do aparecimento da figura do jornalista “do presidente”, desde a I República até o golpe de 64.

Duarte demonstra que a imprensa ancestral, liberal, foi nutrida pela República Velha, como no caso do tradicionalíssimo e importante, à época, Jornal do Comércio (do Rio de Janeiro). Os jornais liberais recebiam encomendas, ou incumbências, principalmente a partir do governo Campos Sales (que governou o País de 1898 a 1902). “Há relatos de que a direção do jornal [do Comércio] recebia regularmente bilhetes de Campos Sales com opiniões, sugestões de reportagens e agradecimentos pela veiculação de informações” (pág. 11).

Um parêntesis: trata-se do mesmo Campos Sales que estava entre os 16
que insuflaram a transformação do velho jornal A Província de São Paulo em um “diário republicano”, passando a denominar-se O Estado de S. Paulo. Assim atesta o próprio veículo, em sua página de histórico
http://www.estadao.com.br/historico/resumo/conti1.htm . O jornal se tornaria intimamente associado aos destinos do Partido Republicano Paulista e da oligarquia (da qual fazia parte) que controlava a “República do Café com Leite”.

É bem provável que o conhecido anticlericalismo de Campos Sales tenha influenciado até num detalhe que normalmente passa desapercebido: na troca do nome, o “São” passou a ser grafado sempre abreviado, e A Província de São Paulo passou a ser O Estado de S. Paulo. Ou seja, o velho diário, com seu liberalismo ainda hoje arraigado, nasceu, cresceu e conformou sua identidade sob as asas do Estado, fazendo jus ao apelido carinhoso que faz questão de empunhar: Estadão.

A função de secretário de Imprensa só se estabeleceu formalmente no Governo João Goulart, com o jornalista Raul Ryff. Ryff e Carlos Castello Branco, o Castelinho, são as grandes lacunas do livro, supridas tanto pela introdução de Duarte quanto pelo depoimento do jornalista Carlos Chagas.

Além de Jorge Duarte, o livro teve a organização do diplomata Carlos Villanova, também da Secom, de Mário Hélio Gomes (responsável por um minucioso trabalho de notas) e de André Singer (que foi porta voz e secretário de imprensa de Lula).

Nenhuma declaração bombástica ou segredo que já não tenha sido revelado. Os presidentes parecem ter a prática de não incluir os secretários de Imprensa entre seus confidentes. Certos depoimentos são primorosos e bastante intensos. Um deles (Cláudio Humberto) é visceral. A maioria é repleta de casos elucidativos e saborosos. Alguns, além de terem sido grandes jornalistas, ainda são bons contadores de história. Por exemplo, Carlos Chagas, que fala do “pijânio” (pág. 49), um misto de pijama e roupa indiana, que o presidente Jânio começou a usar, no lugar do terno. A moda fez sucesso apenas entre os puxa-sacos.

São relembrados momentos históricos. O assassinato de Vladimir Herzog,
a bomba do Riocentro, a morte de Tancredo Neves, a Constituinte, o
impeachment de Collor, a crise política que abalou o Governo Lula em 2005, dentre tantos outros acontecimentos de grande importância, são revistos com o olhar de quem estava dentro do Planalto, ao lado dos presidentes e, muitas vezes, com a ingrata função de ser sua trincheira.

Autran Dourado conta da famosa foto de Juscelino, estendendo a mão e fazendo um gesto vago ao secretário de Estado Americano, Foster Dulles, mas estampado nos jornais como um pedido de dinheiro (de fato, o Brasil estava atrás de empréstimo do FMI). “Aquilo foi uma maldade” (pág. 34). A imagem mendicante quase gerou um processo do presidente JK contra o Jornal do Brasil. Carlos Chagas fez um relato detalhado sobre o AI-5, de 1968 (págs. 67-73). Carlos Fehlberg atribuiu ao jornal “O Globo” ter lançado ao estrelato a frase entusiástica de Médici, “ninguém segura este país”, que virou bordão da ditadura (pág. 119).

Humberto Barreto, do período Geisel, lembra que alguns jornalistas “se tornaram meus comensais; notadamente o Merval Pereira” (pág. 135). Alexandre Garcia, secretário de imprensa do período Figueiredo, conta porque escreveu o livro “João Presidente” - num período em que se tentava “humanizar” o general que teria dito preferir o cheiro de cavalo ao cheiro do povo. Garcia diz que sua demissão (pág. 241) teve a ver com o título de uma entrevista concedida: “o porta-voz da abertura”. Na verdade, é notório que a demissão foi motivada, de fato, não pela entrevista, na revista Ele&Ela, mas pela foto que a acompanhava: o jornalista foi fotografado na cama, nu, coberto apenas por uma toalha sobre o corpo (a mesma informação consta do Memória Globo, do portal da própria Rede Globo
http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYP0-5271-259099,00.html). A Ele&Ela era uma revista “masculina”, como se dizia no século passado, e a foto deixava em má situação o presidente que antes havia feito declarações moralistas contundentes, imagine, sobre a nudez... no Carnaval do Rio de Janeiro.

Os únicos que não aceitaram ser entrevistados foram o general José Maria de Toledo Camargo (que serviu ao governo Geisel, de 1977 a 1978), e a secretária de imprensa de FHC, Ana Tavares. Toledo Camargo foi da época de Armando Falcão e do "nada a declarar", mas tem a seu favor o fato de ter escrito um livro, “A espada virgem”. Ele alega já ter dito, neste livro, tudo o que teria a pronunciar. Ana Tavares, secretária de Imprensa de FHC, apenas justificou que não se considera notícia. Nada a declarar mesmo.

Todos os secretários são chapa branca, até hoje. Todos, sem exceção –
com o perdão da ênfase, para destacar que comunicação chapa branca existe e independe de ditadura ou democracia. Fica patente – de novo,
independentemente de regime – que, de todos aqueles que um presidente
pode nomear, os secretários de Imprensa são os que mais valem a pena,
do ponto de vista da imagem: é incrível como continuam atuando como se
ainda fossem secretários de Imprensa, mesmo sem receber o salário a
que fizeram jus. Defendem seus antigos chefes com unhas e dentes.
Mesmo os que não merecem são retratados como mocinhos e vítimas de
injustiças, armações ilimitadas ou de erros cometidos no esforço de
acertar (só não se diz em quem). Vários consideram que a imprensa foi
deliberadamente malvada e até ingrata.

Há quem não se furtou a expor ódios particulares ou rancores especiais aos que lhes proporcionaram percalços e saias justas, ou que disputavam a mesma atenção do presidente. Os ex-secretários descrevem muito bem o jogo bruto a favor e contra o
Planalto, que aí sim variava conforme os interesses em questão e as
relações dos veículos com os regimes.

Ricardo Kotscho proporciona um ótimo relato sobre a relação do presidente Lula com a imprensa, reproduzindo avaliações presentes em seu livro (“Do golpe ao Planalto: uma vida de repórter”). O depoimento de André Singer ficou em parte prejudicado por ter sido feito à época em que estava no cargo de secretário de Imprensa, razão pela qual se deve ler também a entrevista de Fábio Kerche.

Kotscho revela um traço que está presente em muitos dos depoimentos: os secretários de Imprensa em geral são jornalistas bem conhecidos pelos profissionais das redações e editores; costumam ter uma relação direta com os presidentes, ou pelo menos com alguém que seja de sua absoluta confiança e faça a “ponte”. Mas a grande lacuna, o que eles mais sentiram falta, o flanco pelo qual mais apanharam é o da experiência política, algo que normalmente chamam de “Brasília”. Há uma diferença razoável entre a lógica da imprensa e a lógica da política, embora ambas estejam entrelaçadas.

“No Planalto, com a imprensa” é um belo legado do Governo Lula, além
de ser um manual completo para a área de comunicação dos governos e
também aos profissionais da comunicação contra os governos.

O livro é oportuno e esclarecedor. Por exemplo, num momento em que se ouve falar, em editoriais, sobre supostos riscos do Estado à liberdade da imprensa, “No Planalto, com a imprensa” ilustra vivamente como certos interlocutores, editorialistas, comentaristas, articulistas e âncoras de veículos de comunicação de massa foram íntimos e aguerridos defensores do Estado em seus piores momentos. Um tempo quando o Estado estalava o chicote para mostrar quem é que manda, e uns abanavam o rabo atrás de um pedaço de carne.

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O que Diogo Mainardi fará com o espumante?

Reproduzo texto sarcástico de Renato Rovai, publicado em seu blog na Revista Fórum:

O tuiter agora tem aquele serviço de indicações de seguidores. Até hoje não descobri que cruzamentos são feitos para indicar os que eles consideram que têm algo a ver com você. A coisa é tão estranha que outro dia me deparei com o Diogo Mainardi sendo apresentado a este blogueiro como alguém que eu poderia me interessar em seguir.

Logo depois de bater três vezes na madeira e rezar treze pais nossos, não resisti à curiosidade e fui dar uma espiada no perfil do tão “badalado colunista”.

Pela periodicidade das notas, se percebe que o moço é muito ocupado. Sua última postagem foi às 3h17 do dia 26 de julho. É exatamente esta que segue:

“O que mais? Em outubro, venho passar uns dias no Brasil para celebrar a derrota dos petistas. Eu trago o espumante”.

A pergunta que não quer calar é: o que você vai fazer com o espumante, Diogo Mainardi?

O leitor tem sugestões?

Alerta aos navegantes: não vale sacanagem. Este blogue não é da Veja.

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Serra dá chilique na CNT



Será que a TV Globo vai mostrar a postura "autoritária" de José Serra, que atenta contra a "liberdade de expressão"?

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FHC prega golpe contra Lula

Reproduzo artigo de José Reinaldo Carvalho, publicado no sítio Vermelho:

Demorou. Mas, finalmente, a oposição neoliberal e conservadora liderada pelo PSDB e a mídia, diante da evidência de que os escândalos fabricados não repercutem a seu favor no eleitorado, que continua manifestando a tendência de votar em Dilma Rousseff e dar-lhe a vitória já no primeiro turno, apresentou as suas armas e desvelou seu discurso.

Através de ninguém menos do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pretenso líder da facção declinante da aliança PSDB-DEM, a oposição propôs com todas as letras um golpe político-jurídico, invocando a defesa da democracia e o combate ao “autoritarismo” do presidente Lula.

FHC não teve pejo de instar a suprema corte do país, o STF: “Acho até que caberia uma consulta ao STF porque, se você não tiver instrumentos para conter essa vontade política, fica perigoso”. FHC foi mais além: “Alguma instância tem de dizer que o presidente está extrapolando e abusando do poder político de maneira contrária aos fundamentos da democracia”.

O ex-presidente reagia, numa entrevista à Rede Mobiliza, portal de internet da facção de que faz parte, o PSDB, a uma elementar declaração de Lula em comício eleitoral, no qual o presidente conclamou o povo a “extirpar o DEM” da vida política brasileira. Para FHC, Lula agiu como “chefe de facção” e lançou contra o presidente o anátema de “autoritário”, que “quer o poder absoluto”. Comparou-o com o ex-líder fascista italiano Benito Mussolini, no que foi acompanhado por Rodrigo Maia, chefete do DEM, que insinuou uma identidade de Lula com Hitler.

Nada mais natural que na luta político-eleitoral o presidente da República, que é também o líder de uma grande corrente política vitoriosa, de esquerda e centro-esquerda, exorte a população a “extirpar” pelo voto o partido que encarnou como nenhum outro o conservadorismo, o direitismo e o reacionarismo das classes dominantes brasileiras - o DEM, ex-PFL, herdeiro da Arena, sustentáculo da ditadura militar, e da UDN da oposição a Getúlio Vargas e do golpe contra João Goulart.

Não é segredo para ninguém, no Brasil e mesmo além fronteiras, que se fosse constitucionalmente permitido, Lula venceria com folga uma terceira eleição. E que se não fosse tão estrito no respeito à Carta Magna e ao equilíbrio do processo político, ele teria, com respaldo popular, alterado a seu favor a norma. Porém, agiu com autenticidade democrática, rigor legal e apostou na evolução natural do curso político.

Contudo, não se pode exigir de Lula que dessa postura passasse à de um dirigente político omisso. A popularidade e a autoridade política que adquiriu impuseram-lhe a responsabilidade de conduzir o processo, o que envolveu a escolha da candidata, a articulação da aliança e obrigatoriamente envolve a participação direta da campanha, imprimindo-lhe tom, rumo e orientação.

Nada há de ilegal nem autoritário nisso. O estrebucho de FHC tem outro sentido. Primeiramente, está reagindo à derrota eleitoral do seu candidato, José Serra. Para isso mostra-se disposto a qualquer tipo de aventura, factoide, mentira, fraude e até mesmo golpe. A 15 dias do final da campanha está difícil, pois formou-se uma praticamente irreversível tendência no país de continuidade para seguir mudando, resultante do êxito do governo Lula, tanto mais evidente quando comparado ao desastre a que ele, FHC, levou o país durante o seu (des) governo (1995-2002). E em situações como esta é da natureza humana que se manifestem também patologias nos atores políticos, no caso em tela a inveja.

Mas não é apenas nem principalmente disso que se trata. A pregação golpista de FHC é a reação a uma derrota política estratégica da facção das classes dominantes e do imperialismo que ele representa. O rumo que adotaram, sob sua liderança, sofreu contundente derrota, fracassou por completo e inevitavelmente a resultante política disto é o ocaso dos partidos que concretizaram no parlamento e no governo semelhante orientação.

Passadas as eleições, com a provável vitória de Dilma, haverá ampla reorganização do quadro político, à direita e à esquerda. Protagonistas pessoais e legendas partidárias obrigatoriamente se reciclarão e assumirão novos papeis. É algo a conferir. O que parece certo é que o tempo de FHC, Serra, Bornhausen et caterva acabou. Daí a pregação do golpe via STF.

O Brasil, como qualquer outro país, tem suas peculiaridades políticas e as lideranças e partidos, suas idiossincrasias. Fatos de outras latitudes não vão obrigatoriamente se repetir no país. Mas nunca se deve subestimar que a tentação golpista tem sido frequente nas formas de reagir das classes dominantes e do imperialismo no atual quadro político na América Latina, em que predomina a tendência democrática, popular, progressista e anti-imperialista.

Para citar apenas alguns emblemáticos exemplos, em 2002, na Venezuela, tentaram tirar do poder o presidente Chávez, legitimamente eleito com esmagadora maioria, alegando combater seu “estilo autoritário”; em 2008, o imperialismo e a elite racista e neocolonial boliviana tentaram o “golpe cívico”, contra o indígena Evo Morales e em 2009 consumou-se um “golpe constitucional” em Honduras, em que se mancomunaram o Legislativo e o Judiciário para interditar uma consulta popular sobre emendar ou não a Constituição.

A eleição de Dilma Rousseff abre caminho para a consolidação da democracia, para um maior protagonismo das forças populares e de esquerda, para acumular forças no combate às classes dominantes retrógradas e ao imperialismo. E para sepultar políticos e partidos reacionários, como FHC e seus liderados, o PSDB e o DEM.

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O setembro da direita ainda não terminou

Reproduzo artigo de Marcelo Salles, publicado no blog Escrevinhador:

A direita brasileira, cujo ícone maior são as corporações de mídia e os partidos PSDB e DEM, tem uma estratégia bem traçada para setembro: atacar o PT, o governo e Dilma. Se pudéssemos dividir o mês em três partes, diria que os dez primeiros dias foram dedicados a atacar o PT (acusação quebra de sigilos), os dez dias seguintes para atacar a Casa Civil (acusação tráfico de influência) e, no último terço do mês, o ciclo deve se fechar com ataques centrados diretamente na figura da candidata Dilma (acusação de terrorismo e, quiçá, assassinato enquanto resistia à ditadura de 1964).

Nos vinte primeiros dias de setembro, busca-se atingir a imagem do governo e do PT. A acusação de quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas a José Serra e o suposto tráfico de influência na Casa Civil servem para questionar a capacidade de gestão do Partido dos Trabalhadores, bem como a de sua candidata. Seria o aparelhamento do Estado. A mensagem está na esfera do racional. Pode não derrubar votos de imediato, mas produz um estoque que será usado mais adiante, pouco importando se as acusações são caluniosas. O que importa é que o fato político está criado e presente no horário nobre dos telejornais.

No terceiro momento, as acusações deverão se voltar diretamente à Dilma. Não haverá tempo para construir pontes entre o filho de uma ex-assessora e Dilma. Ela será o alvo primário, pouco importando, novamente, se as denúncias serão consistentes ou não. O corajoso passado de Dilma, que enfrentou ao lado de milhares de brasileiros uma ditadura sanguinária, sustentada pelas corporações capitalistas e pelo governo dos Estados Unidos, será transformado pela direita brasileira em ato criminoso. Dilma será apresentada ao povo como uma mulher impiedosa, capaz até de matar para transformar o Brasil numa ditadura comunista. Ela seria, por este raciocínio, a chefe suprema do Estado aparelhado. Os impactos eleitorais de uma mensagem como essa são imprevisíveis.

O terceiro momento, ao contrário dos anteriores, é marcado por forte carga emocional. É aí que a direita espera conseguir os votos necessários para chegar ao segundo turno. E quando o eleitor está diante da urna, sozinho, a emoção fala mais alto. Se essa estratégia será bem sucedida ou não, só o tempo dirá. Mas o fato concreto é que a vitória de Dilma no primeiro turno não está assegurada, como muitos estão dizendo. O setembro da direita ainda não terminou.

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