Reproduzo relato de Alisson Almeida, publicado no blog Embolando as Palavras:
No último final de semana, o movimento dos blogueiros progressistas do RN realizou seu primeiro Encontro Estadual em Natal, com a presença da educadora, historiadora e ativista social Conceição Oliveira, autora do blog “Maria Frô”. Democratização da comunicação, redes sociais, governança solidária, gestão e políticas públicas foram alguns dos temas tratados durante o evento realizado no auditório do IFRN da Cidade Alta.
No debate de abertura sobre militância na rede, Conceição Oliveira destacou que, com a explosão da blogosfera, o jornalismo tradicional precisou se “refazer”. “Uma das riquezas da internet é que, quando você tem contribuições de outras áreas, você faz o jornalismo se refazer. É preciso contextualizar as coisas”.
Como exemplo da força da blogosfera progressista, Conceição citou a eleição presidencial de 2010, quando a grande imprensa jogou pesado para eleger o candidato da direita, o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
“Olhando o que podemos fazer na blogosfera, fico impressionada com o que as ‘formiguinhas’ podem fazer. Conseguimos vencer toda a mídia institucional nas eleições do ano passado. É impressionante”, comemorou.
Para Conceição, a blogosfera progressista, “apesar das diferenças políticas, tem muita clareza do lugar em que deve estar”. Ela acrescentou que o trabalho da militância de esquerda na rede é ser “contra-hegemônico”.
“Temos que disputar esse campo político. Quando a gente faz esse trabalho de formiguinha, organiza-se, nós fazemos a diferença. Na hora em que o [Jair] Bolsonaro [deputado federal pelo PP-RJ] falou aquilo no CQC , na hora subiu uma tag no twitter. A gente estava de olho, estamos envolvidos de uma maneira que não deixamos nada passar. Nós somos solidários quando a causa vale a pena”.
No dia 23/03, em resposta à cantora Preta Gil, que perguntou o que o deputado faria se seu filho namorasse uma negra, Bolsonaro disse que seus filhos não corriam esse risco, muito menos tornarem-se homossexuais, porque não haviam sido criados em ambiente promíscuo.
Por causa das declarações racistas e homofóbicas, o presidente da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro), Wadih Damous, pediu a cassação do mandato de Bolsonaro.
“O desafio é sair dessa fase puramente militante”
Conceição enfatizou que o desafio da blogosfera progressista é “sair dessa fase puramente militante”, porque a grande imprensa atua, verdadeiramente, “como um partido político”.
“Fazemos uma oposição cerrada a esse jornalismo cheio de factóides, sem compromisso com a verdade. Há dezenas de casos que dariam pra fazer tese de factóides que viraram capa da ‘Veja’. Nós estamos lidando de fato com um partido político. Os leitores que inventaram a expressão PIG [Partido da Imprensa Golpista]têm toda razão”, pontuou.
Como exemplo desta atuação partidária da imprensa conservadora, Conceição lembrou das constantes crises fabricadas para derrubar o governo Lula.
“Como é que você tem uma imprensa que, durante oito anos, criou crises dia a dia? As críticas que o governo Lula merecia foram feitas pela esquerda. Lula foi chamado de ‘estuprador’, foi chamado de cerceador da liberdade de imprensa, mas não fez um enfrentamento contra essa mídia”.
Conceição conclamou os blogueiros progressistas a cerrarem fileiras para que o novo marco regulatório da comunicação se torne realidade.
“Nosso grande desafio é fazer esse marco regulatório sair do papel. Ele não vai sair como queremos, mas precisamos que saía o mais próximo possível. Mesmo sem o marco, temos uma legislação que é constantemente desrespeitada, principalmente pelas TVs”.
O Projeto de Lei que regulamenta os meios de comunicação no Brasil foi concluído no fim do governo Lula e estava pronto para ser enviado ao Congresso Nacional. Com a posse da presidenta Dilma Rousseff, o novo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, recolheu o projeto para fazer nova “avaliação” — o que indica que, sem pressão popular, o documento não sairá da gaveta.
Alerta
Conceição observou ainda que é preciso “politizar o debate” sobre a disputa política. Para ela, quando se limita ao “poder pelo poder”, mesmo no campo da esquerda, a disputa não vale a pena.
Citando o caso de Natal, onde se vive um caos administrativo sob a administração da prefeita Micarla de Sousa (PV), cuja eleição se apoiou numa combinação de populismo, preconceito e xenofobismo, Conceição alertou para a urgência de nos organizarmos “para impedirmos que outro oportunista chegue ao poder”.
Mais debates
Além do debate com Conceição Oliveira, o encontro promoveu uma discussão sobre políticas nas áreas da educação, saúde, cultura e segurança, reunindo à mesa a educadora Cláudia Santa Rosa, o ex-diretor do Conselho Nacional de Saúde Francisco Júnior e os jornalistas Tácito Costa e Cézar Alves.
A programação do sábado terminou com um debate com o sociólogo Paulo Araújo, consultor da Unesco, sobre redes sociais, governança solidária e gestão pública.
No domingo pela manhã, os blogueiros revisaram a aprovaram a Carta de Natal, com os pontos programáticos que serão defendidos pelo movimento e servirão para orientar as próximas ações e debates do Blogprog-RN.
O I Encontro dos Blogueiros Progressistas do RN reuniu uma média de 30 participantes, entre blogueiros, tuiteiros, usuários de outras redes sociais e ativistas sociais. O evento contou ainda com as ilustres presenças da deputada federal Fátima Bezerra (PT), do deputado estadual Fernando Mineiro (PT) e do vereador George Câmara (PCdoB).
Apesar da ausência, os vereadores Raniere Barbosa (PRB) e Júlia Arruda (PSB) contribuiram para a realização do Encontro do Blogprog-RN e, por isso, merecem nosso agradecimento.
terça-feira, 5 de abril de 2011
Alta recorde do lucro corporativo nos EUA
Reproduzo artigo de Andre Damon, do World Socialist, publicado no sítio da Carta Maior:
Os lucros corporativos nos EUA atingiram seu nível mais alto na história, enquanto que as vendas de novas casas caíram para o seu patamar mais baixo em todos os tempos, de acordo com dados divulgados esta semana pelo governo federal. A atual "recuperação" econômica está sendo levada a cabo inteiramente às custas da classe trabalhadora.
Os lucros corporativos tiveram um salto de 36,8% no último ano, para uma taxa anual de US$ 1,68 trilhão, e estão agora 61,5% acima da queda registrada no quarto semestre de 2008. Esta situação ofusca os níveis de lucros pré-recessão e representa o maior salto nestes registros desde 1947. Os dados foram liberados dia 25 de março pela Secretaria de Análises Econômicas, como parte de uma nova revisão das estimativas do Produto Interno Bruto.
Este salto nos lucros corporativos foi atingido através de agressivas políticas de reestruturações elaboradas pelas corporações em 2009, que fizeram milhões de pessoas perderem seus empregos. A produtividade cresceu em 1,9% no último ano, de acordo com um relatório anterior do governo, enquanto que os trabalhadores viram seus ganhos reais despencarem, apesar de estarem trabalhando mais duro.
A política de restruturamento drástico – cuja ponta de lança foi a administração Obama e sua intervenção na indústria automotiva – resultou numa aguda redução nas condições de vida da classe trabalhadora. Isso é melhor refletido no contínuo declínio do mercado de casas. As vendas de novos lares caíram 16,9% em fevereiro, o terceiro mês consecutivo de quedas, para um patamar de 250.000 por ano, de acordo com estatísticas liberadas na quarta-feira pelo Departamento de Comércio. Os números do último mês estão 28% abaixo do ano anterior.
O preço médio de uma casa nova caiu para US$ 202.000 em fevereiro, abaixo dos US$ 234.000 de janeiro e dos US$ 221.900 em fevereiro de 2010. Enquanto isso, o tempo para se conseguir vender uma casa tem aumentado de 8,6 meses em fevereiro de 2010 para 8,9 meses em fevereiro de 2011.
Os economistas atribuem a deterioração do mercado de residências principalmente ao problema crônico da alta taxa de desemprego, que deixa os compradores desprovidos de crédito, aliado a maiores restrições por parte dos bancos. Mas salários estagnados e aumento de preços tiveram um papel significativo no empobrecimento da população, o que está alimentando a crise no setor dos imóveis residenciais.
O ganho real médio da hora trabalhada pelos trabalhadores caiu quatro centavos ao longo do último ano, de acordo com um relatório da Secretaria de Estatísticas do Trabalho do começo deste mês de março. Os salários reais estão para cair ainda mais enquanto que os preços continuam a aumentar. Os preços para o consumidor aumentaram 0,5% em fevereiro, e têm aumentado 2,1% durante o último ano, de acordo com o relatório.
A tendência é de aumentos de preços ainda mais expressivos. Como a Secretaria observou em seu relatório, a taxa de inflação do últimos ano quase dobrou nos últimos seis meses.
As altas inflacionárias estão sendo lideradas pelos aumentos dos preços dos alimentos e de energia. O petróleo chegou a US$ 106 o barril nesta semana, enquanto estava abaixo dos US$ 70 em maio de 2010. Os preços médios da gasolina nos Estados Unidos chegaram a US$ 3,56 por galão, contra US$ 2,76 de um ano atrás.
Os preços dos alimentos também subiram de forma expressiva neste ano, com aumentos de 0,5% em janeiro e 0,6% em fevereiro, de acordo com dados da Secretaria de Estatística do Trabalho.
Estes aumentos de preços elevaram as expectativas de inflação para seus níveis mais altos desde o final de 2008, de acordo com informações divulgadas na sexta pelo índice de impressões do consumidor medido pela Thomson Reuters em parceria com a Universidade de Michigan. Os consumidores esperam uma inflação média de 3,2% ao longo dos próximos cinco anos, 50% mais alta do que no último ano.
Os receios sobre a inflação, aliados a um persistente índice de alto desemprego e salários estagnados, causou uma aguda retração nos sentimentos dos consumidores, cujos números caíram para os seus níveis mais baixos desde novembro de 2009, de acordo com o estudo da Reuters/UM. O índice caiu 12% em março, enquanto que os analistas disseram que isso "indica claramente que os números reais de gastos com consumo irão diminuir".
As últimas informações sobre o PIB, divulgadas na sexta, mostram que a economia norte-americana cresceu mais rapidamente do que as estimativas anteriores previram para 2010, expandindo-se numa taxa de 3,1% no quarto semestre, resultando num crescimento anual de 2,9%. Esse ritmo, no entanto, mal cobre o declínio de 2,6% que o PIB sofreu em 2009, e não representa crescimento econômico suficiente para ter um impacto significativo sobre os empregos.
Os dados mais recentes comprovam a tendência mostrada pelos números do ano passado: as corporações e seus donos estão se enriquecendo através do sofrimento de milhões.
O excedente de mão de obra criado pelo índice de desemprego persistentemente alto – junto com as decorrentes pioras nas condições de trabalho – é a base para o contínuo aumento nos lucros. Mas, para os trabalhadores, os próximos anos anunciam preços mais altos e queda dos salários reais, além dos altos índices de desemprego esperados para perdurar ainda por anos a fio.
* Traduzido para Diário Liberdade por Henrique Abel.
Os lucros corporativos nos EUA atingiram seu nível mais alto na história, enquanto que as vendas de novas casas caíram para o seu patamar mais baixo em todos os tempos, de acordo com dados divulgados esta semana pelo governo federal. A atual "recuperação" econômica está sendo levada a cabo inteiramente às custas da classe trabalhadora.
Os lucros corporativos tiveram um salto de 36,8% no último ano, para uma taxa anual de US$ 1,68 trilhão, e estão agora 61,5% acima da queda registrada no quarto semestre de 2008. Esta situação ofusca os níveis de lucros pré-recessão e representa o maior salto nestes registros desde 1947. Os dados foram liberados dia 25 de março pela Secretaria de Análises Econômicas, como parte de uma nova revisão das estimativas do Produto Interno Bruto.
Este salto nos lucros corporativos foi atingido através de agressivas políticas de reestruturações elaboradas pelas corporações em 2009, que fizeram milhões de pessoas perderem seus empregos. A produtividade cresceu em 1,9% no último ano, de acordo com um relatório anterior do governo, enquanto que os trabalhadores viram seus ganhos reais despencarem, apesar de estarem trabalhando mais duro.
A política de restruturamento drástico – cuja ponta de lança foi a administração Obama e sua intervenção na indústria automotiva – resultou numa aguda redução nas condições de vida da classe trabalhadora. Isso é melhor refletido no contínuo declínio do mercado de casas. As vendas de novos lares caíram 16,9% em fevereiro, o terceiro mês consecutivo de quedas, para um patamar de 250.000 por ano, de acordo com estatísticas liberadas na quarta-feira pelo Departamento de Comércio. Os números do último mês estão 28% abaixo do ano anterior.
O preço médio de uma casa nova caiu para US$ 202.000 em fevereiro, abaixo dos US$ 234.000 de janeiro e dos US$ 221.900 em fevereiro de 2010. Enquanto isso, o tempo para se conseguir vender uma casa tem aumentado de 8,6 meses em fevereiro de 2010 para 8,9 meses em fevereiro de 2011.
Os economistas atribuem a deterioração do mercado de residências principalmente ao problema crônico da alta taxa de desemprego, que deixa os compradores desprovidos de crédito, aliado a maiores restrições por parte dos bancos. Mas salários estagnados e aumento de preços tiveram um papel significativo no empobrecimento da população, o que está alimentando a crise no setor dos imóveis residenciais.
O ganho real médio da hora trabalhada pelos trabalhadores caiu quatro centavos ao longo do último ano, de acordo com um relatório da Secretaria de Estatísticas do Trabalho do começo deste mês de março. Os salários reais estão para cair ainda mais enquanto que os preços continuam a aumentar. Os preços para o consumidor aumentaram 0,5% em fevereiro, e têm aumentado 2,1% durante o último ano, de acordo com o relatório.
A tendência é de aumentos de preços ainda mais expressivos. Como a Secretaria observou em seu relatório, a taxa de inflação do últimos ano quase dobrou nos últimos seis meses.
As altas inflacionárias estão sendo lideradas pelos aumentos dos preços dos alimentos e de energia. O petróleo chegou a US$ 106 o barril nesta semana, enquanto estava abaixo dos US$ 70 em maio de 2010. Os preços médios da gasolina nos Estados Unidos chegaram a US$ 3,56 por galão, contra US$ 2,76 de um ano atrás.
Os preços dos alimentos também subiram de forma expressiva neste ano, com aumentos de 0,5% em janeiro e 0,6% em fevereiro, de acordo com dados da Secretaria de Estatística do Trabalho.
Estes aumentos de preços elevaram as expectativas de inflação para seus níveis mais altos desde o final de 2008, de acordo com informações divulgadas na sexta pelo índice de impressões do consumidor medido pela Thomson Reuters em parceria com a Universidade de Michigan. Os consumidores esperam uma inflação média de 3,2% ao longo dos próximos cinco anos, 50% mais alta do que no último ano.
Os receios sobre a inflação, aliados a um persistente índice de alto desemprego e salários estagnados, causou uma aguda retração nos sentimentos dos consumidores, cujos números caíram para os seus níveis mais baixos desde novembro de 2009, de acordo com o estudo da Reuters/UM. O índice caiu 12% em março, enquanto que os analistas disseram que isso "indica claramente que os números reais de gastos com consumo irão diminuir".
As últimas informações sobre o PIB, divulgadas na sexta, mostram que a economia norte-americana cresceu mais rapidamente do que as estimativas anteriores previram para 2010, expandindo-se numa taxa de 3,1% no quarto semestre, resultando num crescimento anual de 2,9%. Esse ritmo, no entanto, mal cobre o declínio de 2,6% que o PIB sofreu em 2009, e não representa crescimento econômico suficiente para ter um impacto significativo sobre os empregos.
Os dados mais recentes comprovam a tendência mostrada pelos números do ano passado: as corporações e seus donos estão se enriquecendo através do sofrimento de milhões.
O excedente de mão de obra criado pelo índice de desemprego persistentemente alto – junto com as decorrentes pioras nas condições de trabalho – é a base para o contínuo aumento nos lucros. Mas, para os trabalhadores, os próximos anos anunciam preços mais altos e queda dos salários reais, além dos altos índices de desemprego esperados para perdurar ainda por anos a fio.
* Traduzido para Diário Liberdade por Henrique Abel.
Lucro bilionário do tráfico de imigrantes
Reproduzo reportagem da Red Voltaire, traduzida e publicada no sítio da Adital:
No México, o tráfico de imigrantes é muito mais lucrativo no México do que o tráfico de drogas. Segundo o representante do Escritório das Nações Unidas para o Controle das Drogas e a Prevenção do Delito, Antonio Mazzitelli, somente em 2010, o tráfico de indocumentados na fronteira com os Estados Unidos deixou lucros de 6,6 bilhões de dólares, o que supera consideravelmente os benefícios do narcotráfico.
"Calcula-se que no ano passado o tráfico de migrantes para a fronteira norte com os EUA produziu ao redor de 6,6 bilhões de dólares no pais, o que supera os recursos obtidos pelos carteis do narcotráfico aos Estados Unidos”, destacou Mazzitelli, no marco de sua participação no Fórum de Migração e Trata de Pessoas, realizado em Tuxtla Gutiérrez, capital de Chiapas (sudeste do país). Comentou que, em média, cada migrante mexicano paga entre 1.000 e 2.000 dólares. No entanto, precisou que no caso dos centro-americanos, a cifra seria maior.
O funcionário internacional precisou que as redes criminosas que se dedicam ao tráfico de indocumentados "converteram-se em indústrias transnacionais”, que obtêm benefícios daqueles que querem migrar de seus países e os utilizam como "mulas” para transportar drogas sem importar-lhes se isso coloca suas vidas em risco. (...)
O funcionário internacional deixou claro que o tráfico de indocumentados para a fronteira norte é maior do que "o que podem mover de cocaína da Colômbia para os Estados unidos”.
México
Segundo os estudos do Escritório das Nações Unidas para o Controle das Drogas e a Prevenção do Delito (ONUDD), o México se encontra entre os primeiros países do mundo por peso do negócio que trata de pessoas e por desenvolvimento de redes dedicadas às operações de contrabando e traslado de vítimas. Em grande medida isso se deve à localização geográfica do país: extensas fronteiras com os Estados Unidos no norte; Guatemala e Belize no sul; e sua posição entre dois oceanos o convertem em uma zona muito vulnerável ante esse problema.
Os altos índices de migração ilegal no México contribuem para o desenvolvimento da violação dos direitos de milhares de pessoas que tornam-se vítimas da demanda de serviços sexuais e de mão de obra barata. Segundo os dados do Instituto Nacional de Migração mexicano (INM), no território do país operam mais de cem organizações dedicadas à trata de migrantes.
As principais vítimas da denominada "escravidão do século XXI” são, em primeiro lugar, crianças e mulheres, os mais vulneráveis ante a privação de liberdade, que constituem em mercado de exploração sexual e comercial e de trabalho forçado. Segundo o Instituto Nacional de Estadística e Geografia (Inegi) do México, anualmente, no país latino-americano se encontram em situação de exploração entre 16.000 e 20.000 crianças, dos quais 80% têm entre 14 e 17 anos de idade.
Políticas públicas
No marco do Fórum Internacional de Migração e Trata de Pessoas, o presidente da Associação Nacional de Conselhos de Participação Cívica, Marcos Fastlicht Sackler, convocou a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e a Organização das Nações Unidas (ONU) para somar-se à elaboração de políticas que assegurem soluções eficazes para os problemas da trata de pessoas no país, pois esse problema não conhece fronteiras e deve ser combatido com a cooperação internacional.
No entanto, apesar da grande dimensão que, no México, adquire o traslado de indocumentados e a trata de pessoas, as medidas aplicadas tanto pelo governo federal quanto pelos governos dos Estados já dá seus frutos: a matéria está sendo discutida no âmbito do legislativo.
Em 2007, foi promulgada a Lei para Prevenir e Sancionar a Trata de Pessoas e seu regulamento, em âmbito federal, foi publicado em fevereiro de 2009. Recentemente, a Comissão de Pontos Constitucionais do Senado da República aprovou as reformas dos artigos 19, 20 e 73 da Lei Geral referente ao problema da trata de pessoas para que esse crime seja considerado um delito da mesma gravidade que o sequestro, a violação, o homicídio doloso ou a delinquência organizada. Segundo ditame, todo tipo de trata de pessoas merece prisão preventiva sem direito à fiança, contrário do que acontece atualmente.
No México, o tráfico de imigrantes é muito mais lucrativo no México do que o tráfico de drogas. Segundo o representante do Escritório das Nações Unidas para o Controle das Drogas e a Prevenção do Delito, Antonio Mazzitelli, somente em 2010, o tráfico de indocumentados na fronteira com os Estados Unidos deixou lucros de 6,6 bilhões de dólares, o que supera consideravelmente os benefícios do narcotráfico.
"Calcula-se que no ano passado o tráfico de migrantes para a fronteira norte com os EUA produziu ao redor de 6,6 bilhões de dólares no pais, o que supera os recursos obtidos pelos carteis do narcotráfico aos Estados Unidos”, destacou Mazzitelli, no marco de sua participação no Fórum de Migração e Trata de Pessoas, realizado em Tuxtla Gutiérrez, capital de Chiapas (sudeste do país). Comentou que, em média, cada migrante mexicano paga entre 1.000 e 2.000 dólares. No entanto, precisou que no caso dos centro-americanos, a cifra seria maior.
O funcionário internacional precisou que as redes criminosas que se dedicam ao tráfico de indocumentados "converteram-se em indústrias transnacionais”, que obtêm benefícios daqueles que querem migrar de seus países e os utilizam como "mulas” para transportar drogas sem importar-lhes se isso coloca suas vidas em risco. (...)
O funcionário internacional deixou claro que o tráfico de indocumentados para a fronteira norte é maior do que "o que podem mover de cocaína da Colômbia para os Estados unidos”.
México
Segundo os estudos do Escritório das Nações Unidas para o Controle das Drogas e a Prevenção do Delito (ONUDD), o México se encontra entre os primeiros países do mundo por peso do negócio que trata de pessoas e por desenvolvimento de redes dedicadas às operações de contrabando e traslado de vítimas. Em grande medida isso se deve à localização geográfica do país: extensas fronteiras com os Estados Unidos no norte; Guatemala e Belize no sul; e sua posição entre dois oceanos o convertem em uma zona muito vulnerável ante esse problema.
Os altos índices de migração ilegal no México contribuem para o desenvolvimento da violação dos direitos de milhares de pessoas que tornam-se vítimas da demanda de serviços sexuais e de mão de obra barata. Segundo os dados do Instituto Nacional de Migração mexicano (INM), no território do país operam mais de cem organizações dedicadas à trata de migrantes.
As principais vítimas da denominada "escravidão do século XXI” são, em primeiro lugar, crianças e mulheres, os mais vulneráveis ante a privação de liberdade, que constituem em mercado de exploração sexual e comercial e de trabalho forçado. Segundo o Instituto Nacional de Estadística e Geografia (Inegi) do México, anualmente, no país latino-americano se encontram em situação de exploração entre 16.000 e 20.000 crianças, dos quais 80% têm entre 14 e 17 anos de idade.
Políticas públicas
No marco do Fórum Internacional de Migração e Trata de Pessoas, o presidente da Associação Nacional de Conselhos de Participação Cívica, Marcos Fastlicht Sackler, convocou a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e a Organização das Nações Unidas (ONU) para somar-se à elaboração de políticas que assegurem soluções eficazes para os problemas da trata de pessoas no país, pois esse problema não conhece fronteiras e deve ser combatido com a cooperação internacional.
No entanto, apesar da grande dimensão que, no México, adquire o traslado de indocumentados e a trata de pessoas, as medidas aplicadas tanto pelo governo federal quanto pelos governos dos Estados já dá seus frutos: a matéria está sendo discutida no âmbito do legislativo.
Em 2007, foi promulgada a Lei para Prevenir e Sancionar a Trata de Pessoas e seu regulamento, em âmbito federal, foi publicado em fevereiro de 2009. Recentemente, a Comissão de Pontos Constitucionais do Senado da República aprovou as reformas dos artigos 19, 20 e 73 da Lei Geral referente ao problema da trata de pessoas para que esse crime seja considerado um delito da mesma gravidade que o sequestro, a violação, o homicídio doloso ou a delinquência organizada. Segundo ditame, todo tipo de trata de pessoas merece prisão preventiva sem direito à fiança, contrário do que acontece atualmente.
Guerra na Líbia: a lógica e o atoleiro
Reproduzo artigo de Mauro Santayana, publicado em seu blog:
A eclosão da inteligência na Grécia do século V parece ter consumido quase toda a possibilidade de raciocinar da espécie humana. Sendo assim, sempre nos valemos da experiência intelectual daquele tempo, que os árabes guardaram e devolveram à Europa. Não é difícil encontrar períodos de eclipse da lógica e da ética no curso da História.
Em nossos dias, personalidades políticas, maiores ou menores, dizem coisas que só podemos atribuir à carência intelectual ou a debochado insulto à ética, quando não à convergência das duas situações. A propósito da Líbia, repete-se a velha tática dos dominadores de perverter as palavras, de torcer a semântica, para fazer do certo, errado; e do errado, certo.
O governo de Kadafi fez o que todo governo - de direita ou de esquerda, ditatorial ou democrático - ameaçado faz: reagiu com as forças de que dispunha. A reação era na medida da sublevação: no início, de natureza apenas policial. Com a escalada da rebelião armada, aparentemente justa, contra o governo unipessoal e arbitrário de Kadafi, a violência da repressão também cresceu.
Os americanos, franceses e ingleses decidiram pedir ao Conselho de Segurança autorização para arrasar Kadafi. O Conselho, com a abstenção dos Bric e da Alemanha, autorizou medidas limitadas à zona de exclusão aérea. Os bombardeios, segundo denúncias respeitáveis, têm sido indiscriminados, tal como ocorreu no Iraque, durante muitos anos, e têm matado mulheres, crianças e idosos indefesos.
Intelectuais destacados, mas também simples pessoas do povo, mostram indignação contra essa agressão à lógica da linguagem. A fim de evitar que os civis sejam metralhados, bombardeiam-se as cidades; contra as metralhadoras de Kadafi, disparam-se os mísseis Tomahawk, ao custo de 600.000 dólares cada um. Ao massacre se dá o nome de “proteção”. Essa distorção do sentido dos vocábulos é apontada por observadores no mundo inteiro.
Le Monde publicou ontem um “pequeno dicionário”, para entender essa linguagem dissimuladora, produzido pelo site Acrimed. Não se fala em “guerra”, mas em “resposta”, como se a Líbia houvesse agredido algum dos “aliados” e as operações tivessem caráter defensivo, e não ofensivo; usa-se o termo francês “frapper”, para os ataques, quando frapper significa mais tocar, do que golpear (“frapper” uma bola em jogo de futebol, “frapper” à porta); outro termo usado é o de “frappes non ciblées”, para dissimular os bombardeios ao azar, ou seja, sem alvos definidos, ou seja, para disseminar o terror.
Outra distorção é a de chamar “kadafistas” às tropas do governo de Trípoli, em lugar de designá-las como simplesmente tropas leais, em contraponto às tropas rebeladas. O secretário geral da OTAN, Andrés Rasmussen, disse que a resolução da ONU prevê o embargo de armas, e que o dever da Aliança é proteger os civis, não de armá-los, como querem Obama, Hillary Clinton, Sarkozy e Cameron.
O presidente dos Estados Unidos começa a enfrentar a oposição do Congresso, pelo açodamento com que determinou a ação militar contra a Líbia, sem autorização parlamentar. Mesmo que a operação houvesse sido consentida pelo Conselho de Segurança da ONU, o emprego de armas e tropas necessitava da ratificação prévia do Congresso. Obama violou a Constituição (art.8, n. 11) e, em tese, se tornou passível de um processo de impeachment.
A derrota de Sarkozy na França é um claro recado do inconformismo dos franceses. Na Inglaterra, com as manifestações de protesto, os cidadãos não admitem que haja cortes nos gastos sociais, enquanto se financiam operações de guerra. O Marrocos, que está para a França como Israel para os Estados Unidos, apóia os bombardeios. Os saarauis são os seus palestinos.
Sem a ajuda da ética, essa companheira inseparável da lógica, Obama e seus aliados começam a patinar no atoleiro.
A eclosão da inteligência na Grécia do século V parece ter consumido quase toda a possibilidade de raciocinar da espécie humana. Sendo assim, sempre nos valemos da experiência intelectual daquele tempo, que os árabes guardaram e devolveram à Europa. Não é difícil encontrar períodos de eclipse da lógica e da ética no curso da História.
Em nossos dias, personalidades políticas, maiores ou menores, dizem coisas que só podemos atribuir à carência intelectual ou a debochado insulto à ética, quando não à convergência das duas situações. A propósito da Líbia, repete-se a velha tática dos dominadores de perverter as palavras, de torcer a semântica, para fazer do certo, errado; e do errado, certo.
O governo de Kadafi fez o que todo governo - de direita ou de esquerda, ditatorial ou democrático - ameaçado faz: reagiu com as forças de que dispunha. A reação era na medida da sublevação: no início, de natureza apenas policial. Com a escalada da rebelião armada, aparentemente justa, contra o governo unipessoal e arbitrário de Kadafi, a violência da repressão também cresceu.
Os americanos, franceses e ingleses decidiram pedir ao Conselho de Segurança autorização para arrasar Kadafi. O Conselho, com a abstenção dos Bric e da Alemanha, autorizou medidas limitadas à zona de exclusão aérea. Os bombardeios, segundo denúncias respeitáveis, têm sido indiscriminados, tal como ocorreu no Iraque, durante muitos anos, e têm matado mulheres, crianças e idosos indefesos.
Intelectuais destacados, mas também simples pessoas do povo, mostram indignação contra essa agressão à lógica da linguagem. A fim de evitar que os civis sejam metralhados, bombardeiam-se as cidades; contra as metralhadoras de Kadafi, disparam-se os mísseis Tomahawk, ao custo de 600.000 dólares cada um. Ao massacre se dá o nome de “proteção”. Essa distorção do sentido dos vocábulos é apontada por observadores no mundo inteiro.
Le Monde publicou ontem um “pequeno dicionário”, para entender essa linguagem dissimuladora, produzido pelo site Acrimed. Não se fala em “guerra”, mas em “resposta”, como se a Líbia houvesse agredido algum dos “aliados” e as operações tivessem caráter defensivo, e não ofensivo; usa-se o termo francês “frapper”, para os ataques, quando frapper significa mais tocar, do que golpear (“frapper” uma bola em jogo de futebol, “frapper” à porta); outro termo usado é o de “frappes non ciblées”, para dissimular os bombardeios ao azar, ou seja, sem alvos definidos, ou seja, para disseminar o terror.
Outra distorção é a de chamar “kadafistas” às tropas do governo de Trípoli, em lugar de designá-las como simplesmente tropas leais, em contraponto às tropas rebeladas. O secretário geral da OTAN, Andrés Rasmussen, disse que a resolução da ONU prevê o embargo de armas, e que o dever da Aliança é proteger os civis, não de armá-los, como querem Obama, Hillary Clinton, Sarkozy e Cameron.
O presidente dos Estados Unidos começa a enfrentar a oposição do Congresso, pelo açodamento com que determinou a ação militar contra a Líbia, sem autorização parlamentar. Mesmo que a operação houvesse sido consentida pelo Conselho de Segurança da ONU, o emprego de armas e tropas necessitava da ratificação prévia do Congresso. Obama violou a Constituição (art.8, n. 11) e, em tese, se tornou passível de um processo de impeachment.
A derrota de Sarkozy na França é um claro recado do inconformismo dos franceses. Na Inglaterra, com as manifestações de protesto, os cidadãos não admitem que haja cortes nos gastos sociais, enquanto se financiam operações de guerra. O Marrocos, que está para a França como Israel para os Estados Unidos, apóia os bombardeios. Os saarauis são os seus palestinos.
Sem a ajuda da ética, essa companheira inseparável da lógica, Obama e seus aliados começam a patinar no atoleiro.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Greve na afiliada da TV Globo em Sergipe
Reproduzo artigo de Jacson Segundo, publicado no sítio da Federação Nacional dos Radialistas (Fitert):
Em protesto à maneira como vem sendo dirigida a TV Sergipe – afiliada da Globo no Estado – os funcionários da emissora fizeram uma paralisação nesta segunda-feira (4) exigindo melhorias nas condições de trabalho e a saída do diretor da TV, Paulo Siqueira. Por conta do movimento dos trabalhadores, o programa matinal "Bom Dia Sergipe" não foi ao ar e, em seu lugar, a empresa acabou transmitindo o "Bom Dia Pernambuco".
A paralisação, que começou por volta das 8h, só terminou após uma reunião de sindicalistas com alguns sócios da empresa. A suspensão da atividade não significa, porém, que o movimento acabou. O presidente do Sindicato dos Radialistas de Sergipe, Fernando Cabral, afirma que a mobilização está grande e novos protestos podem acontecer.
Os sócios da empresa têm até a próxima quarta-feira (13) para dar uma resposta às reivindicações dos trabalhadores. “Não queremos mais o Paulo Siqueira. Queremos que se respeite a convenção coletiva, como o pagamento de banco de horas, e também respeito aos dirigentes sindicais”, diz Fernando Cabral, que considerou a paralisação um marco na luta pela libertação dos trabalhadores do Estado.
A emissora é ligada ao ex-governador e ex-deputado federal Albano Franco, do PSDB. Um de seus filhos e sócio da empresa, Ricardo Franco, fez críticas ao presidente da TV, Paulo Siqueira. Em reunião com os sindicalistas, ele afirmou que Paulo teria gasto R$ 120 mil na reforma de sua própria sala, quando o custo previsto era de R$ 20 mil.
Ao mesmo tempo em que o presidente da TV tem esse tipo de gasto elevado em seu próprio benefício, os trabalhadores da empresa tiveram gratificações cortadas. A equipe de jornalismo também teve suas diárias para viagens suspensas. Além disso, os funcionários reclamam de assédio moral constante na emissora. Com um discurso de enxugamento da empresa, Paulo Siqueira já demitiu 42 funcionários (incluindo dirigentes sindicais) em sua gestão, que tem menos de um ano.
A decisão pelo protesto desta segunda foi tomada em assembleia dos trabalhadores realizada na sexta-feira (1°). Além do Sindicato dos Radialistas e dos Jornalistas, também apoiaram o movimento entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Sindicato dos Gráficos.
Histórico
Um dos demitidos de Paulo Siqueira, em 2010, foi o dirigente sindical e radialista Jorge Eduardo Lima Araújo. A arbitrariedade da demissão foi reconhecida pela 1ª Vara de Justiça de Sergipe, que ordenou a reintegração do funcionário ao quadro da empresa, o que acontece em 15 de março deste ano.
O atual diretor da TV Sergipe já causou problemas no Piauí, onde foi administrador da TV Rádio Clube de Teresina S/A e promoveu mais de 60 demissões, segundo o Sindicato dos Radialistas do Piauí. “Em dois momentos reunidos com a direção e a assessoria jurídica da nossa entidade sindical, ele (Paulo Siqueira) se mostrou arrogante, prepotente e debochado, rindo e zombando do povo hospitaleiro e ordeiro do Piauí”, relatam, em nota, os coordenadores do sindicato do Piauí, Val Morais e J. Filho.
Em protesto à maneira como vem sendo dirigida a TV Sergipe – afiliada da Globo no Estado – os funcionários da emissora fizeram uma paralisação nesta segunda-feira (4) exigindo melhorias nas condições de trabalho e a saída do diretor da TV, Paulo Siqueira. Por conta do movimento dos trabalhadores, o programa matinal "Bom Dia Sergipe" não foi ao ar e, em seu lugar, a empresa acabou transmitindo o "Bom Dia Pernambuco".
A paralisação, que começou por volta das 8h, só terminou após uma reunião de sindicalistas com alguns sócios da empresa. A suspensão da atividade não significa, porém, que o movimento acabou. O presidente do Sindicato dos Radialistas de Sergipe, Fernando Cabral, afirma que a mobilização está grande e novos protestos podem acontecer.
Os sócios da empresa têm até a próxima quarta-feira (13) para dar uma resposta às reivindicações dos trabalhadores. “Não queremos mais o Paulo Siqueira. Queremos que se respeite a convenção coletiva, como o pagamento de banco de horas, e também respeito aos dirigentes sindicais”, diz Fernando Cabral, que considerou a paralisação um marco na luta pela libertação dos trabalhadores do Estado.
A emissora é ligada ao ex-governador e ex-deputado federal Albano Franco, do PSDB. Um de seus filhos e sócio da empresa, Ricardo Franco, fez críticas ao presidente da TV, Paulo Siqueira. Em reunião com os sindicalistas, ele afirmou que Paulo teria gasto R$ 120 mil na reforma de sua própria sala, quando o custo previsto era de R$ 20 mil.
Ao mesmo tempo em que o presidente da TV tem esse tipo de gasto elevado em seu próprio benefício, os trabalhadores da empresa tiveram gratificações cortadas. A equipe de jornalismo também teve suas diárias para viagens suspensas. Além disso, os funcionários reclamam de assédio moral constante na emissora. Com um discurso de enxugamento da empresa, Paulo Siqueira já demitiu 42 funcionários (incluindo dirigentes sindicais) em sua gestão, que tem menos de um ano.
A decisão pelo protesto desta segunda foi tomada em assembleia dos trabalhadores realizada na sexta-feira (1°). Além do Sindicato dos Radialistas e dos Jornalistas, também apoiaram o movimento entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Sindicato dos Gráficos.
Histórico
Um dos demitidos de Paulo Siqueira, em 2010, foi o dirigente sindical e radialista Jorge Eduardo Lima Araújo. A arbitrariedade da demissão foi reconhecida pela 1ª Vara de Justiça de Sergipe, que ordenou a reintegração do funcionário ao quadro da empresa, o que acontece em 15 de março deste ano.
O atual diretor da TV Sergipe já causou problemas no Piauí, onde foi administrador da TV Rádio Clube de Teresina S/A e promoveu mais de 60 demissões, segundo o Sindicato dos Radialistas do Piauí. “Em dois momentos reunidos com a direção e a assessoria jurídica da nossa entidade sindical, ele (Paulo Siqueira) se mostrou arrogante, prepotente e debochado, rindo e zombando do povo hospitaleiro e ordeiro do Piauí”, relatam, em nota, os coordenadores do sindicato do Piauí, Val Morais e J. Filho.
Fiori e a nova corrida imperialista
Reproduzo entrevista concedida à jornalista Eleonora de Lucena, publicada no jornal Folha de S.Paulo:
A guerra na Líbia faz parte de uma nova corrida imperialista que vai se aprofundar, diz José Luís Fiori, coordenador do programa de pós-graduação em economia política internacional da UFRJ. Para ele, potências disputam recursos estratégicos na África, mas os conflitos não têm a ver apenas com o petróleo. Nesta entrevista, Fiori fala também sobre o poder dos EUA, que ele enxerga vivendo uma crise de crescimento. A seguir a íntegra da entrevista.
A guerra na Líbia faz parte de uma nova corrida imperialista que vai se aprofundar, diz José Luís Fiori, coordenador do programa de pós-graduação em economia política internacional da UFRJ. Para ele, potências disputam recursos estratégicos na África, mas os conflitos não têm a ver apenas com o petróleo. Nesta entrevista, Fiori fala também sobre o poder dos EUA, que ele enxerga vivendo uma crise de crescimento. A seguir a íntegra da entrevista.
Noblat ampara Bolsonaro; racismo é crime
Reproduzo artigo de Brizola Neto, publicado no blog Tijolaço:
Hoje, em sua coluna em O Globo, o jornalista Ricardo Noblat diz que aqueles que defendem a punição do Sr. Jair Bolsonaro são os “fascistas do bem”.
O Sr. Ricardo Noblat aborda a questão como se a atitude do sr. Bolsonaro tivesse se restringido à homofobia. Embora seja absurdo discriminar alguém por sua opção sexual, não é por essa razão que o Sr. Bolsonaro precisa ser punido pela Câmara dos Deputados.
Hoje, em sua coluna em O Globo, o jornalista Ricardo Noblat diz que aqueles que defendem a punição do Sr. Jair Bolsonaro são os “fascistas do bem”.
O Sr. Ricardo Noblat aborda a questão como se a atitude do sr. Bolsonaro tivesse se restringido à homofobia. Embora seja absurdo discriminar alguém por sua opção sexual, não é por essa razão que o Sr. Bolsonaro precisa ser punido pela Câmara dos Deputados.
O Globo defende Bolsonaro. Qual o motivo?
Reproduzo artigo de Wevergton Brito Lima, publicado no sítio Vermelho:
Em “O Globo” de hoje (segunda, dia 4 de abril), o colunista Ricardo Noblat parte em defesa do deputado federal Jair Bolsonaro, ameaçado de cassação por suas declarações racistas. Ao melhor estilo do PIG (Partido da Imprensa Golpista), Noblat ergue, em sua coluna, um verdadeiro monumento ao sofisma.
A inadequada piada do ex-presidente Lula que, em 2006, brincando com o então prefeito de Pelotas, disse que aquela cidade é “polo exportador de veados”, tem para Noblat o mesmo significado das declarações homofóbicas e racistas do deputado do PP.
Em “O Globo” de hoje (segunda, dia 4 de abril), o colunista Ricardo Noblat parte em defesa do deputado federal Jair Bolsonaro, ameaçado de cassação por suas declarações racistas. Ao melhor estilo do PIG (Partido da Imprensa Golpista), Noblat ergue, em sua coluna, um verdadeiro monumento ao sofisma.
A inadequada piada do ex-presidente Lula que, em 2006, brincando com o então prefeito de Pelotas, disse que aquela cidade é “polo exportador de veados”, tem para Noblat o mesmo significado das declarações homofóbicas e racistas do deputado do PP.
O trabalho escravo na rede Pernambucanas
Reproduzo reportagem de Bianca Pyl, publicada no sítio da Repórter Brasil:
A casa branca, localizada em uma rua tranquila da Zona Norte da capital paulista, não levantava suspeita. Dentro dela, no entanto, 16 pessoas vindas da Bolívia viviam e eram exploradas em condições de escravidão contemporânea na fabricação de roupas.
O grupo costurava blusas da coleção Outono-Inverno da Argonaut, marca jovem da tradicional Pernambucanas, no momento em que auditores fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) chegaram ao local.
A casa branca, localizada em uma rua tranquila da Zona Norte da capital paulista, não levantava suspeita. Dentro dela, no entanto, 16 pessoas vindas da Bolívia viviam e eram exploradas em condições de escravidão contemporânea na fabricação de roupas.
O grupo costurava blusas da coleção Outono-Inverno da Argonaut, marca jovem da tradicional Pernambucanas, no momento em que auditores fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) chegaram ao local.
1964: Não podemos dormir novamente
Reproduzo artigo de Gilson Caroni Filho, publicado no sítio Carta Maior:
Escrever sobre o golpe de Estado de 1964, passados 47 anos, não deixa de ser um trabalho de reconstituição que conserva toda a sua atualidade política no momento em que o sermão pelo esquecimento do passado, pelo desarmamento das vontades, continua sendo pregado pelas mesmas classes e grupos que apoiaram, e depois conduziram o regime autoritário. É bom lembrar que essas forças políticas romperam, na undécima hora, com o núcleo decisório da ditadura, forjando uma transição por alto, que desidratou todos os projetos políticos da oposição progressista.
Isso explica, como que, num passe de mágica, José Sarney, o presidente do PDS, após comandar no Parlamento a batalha contra as "Diretas-já", tenha ressurgido como um dos líderes da redemocratização e candidato à vice-presidência na chapa de oposição junto a Tancredo Neves. Não estamos falando apenas de um projeto pessoal oportunista bem sucedido, mas da incrustação no próprio centro de decisões, de setores políticos e econômicos comprometidos com as concepções do regime político anterior. Não compreender as implicações desse processo nos dias de hoje pode levar a um voluntarismo pueril. Aceitá-lo como fato incontornável é uma resignação em tudo, e por tudo, pusilânime.
O golpe veio para barrar a emergência de um movimento de massas. Não foi para atingir personalidades, ainda que muitas delas tenham desempenhado um papel importante na abertura dos espaços para essa nova dinâmica, mas para conter o crescimento popular.
Como destacou Almino Afonso, ministro do Trabalho no governo João Goulart, o movimento tinha dois objetivos: "Primeiro, barrar o avanço dos movimentos sociais; segundo, impedir a tomada de consciência nacional que começava a esboçar uma linha de resistência internacional com uma nitidez nunca havida antes em nosso passado. Esses dois fatores confluíram gradualmente para um todo mais ou menos homogêneo e, embora não tivéssemos nem partido político para ser expressão desse despertar, nem lideranças claras para se converterem em porta-vozes desses novos atores, essa emergência foi suficientemente forte para alarmar os setores dirigentes do país e seus aliados internacionais, que se associaram na implantação da ditadura"( Folha de S. Paulo, 1/4/1984).
Numa retrospectiva das medidas tomadas naquela época, é impressionante ver, no governo de Jango, a quantidade de iniciativas que foram adotadas, projetadas e enviadas ao Congresso Nacional. Na sua totalidade é inequívoca a vontade de atacar os pilares da estrutura capitalista num país subdesenvolvido.
Disciplinou a remessa dos lucros das empresas estrangeiras, estabeleceu o monopólio da compra do petróleo, desapropriou as refinarias privadas, bem como os latifúndios improdutivos nas margens das rodovias, congelou os aluguéis e buscou o apoio dos sargentos, cabos e soldados, diretamente. Atacando a todos simultaneamente, João Goulart facilitou a aglutinação dos interesses econômicos contrariados em torno dos generais da direita, que chegaram a receber a garantia do Pentágono, conforme documentos divulgados em Washington.
A índole dos golpistas pôde ser apreciada desde os primeiros atos legislativos baixados. Seguiu-se a arrasadora repressão, ampla entrega do subsolo, compra pela União das empresas de serviços públicos pertencentes à Bond & Share (American Power) e depois os da Light, por preços absurdamente abaixo do valor de mercado. A corrupção generalizada nos negócios do Estado e a censura à imprensa - apesar do apoio do baronato do campo midiático - fizeram da noite dos generais a luxúria dos cartéis e grandes corporações.
Apesar de tudo, um fio de continuidade, transverso e denso, percorre a história desses anos. A história dos tempos de arbítrio é a história de uma crise feita de muitas dimensões: das sucessivas crises militares, dos esforços de Geisel e Figueiredo de usar a “abertura” como garantia do monopólio do poder a serviço do grande capital. É, no entanto, no crescimento do movimento popular - da luta pela anistia, da reabertura da UNE à criação do Partido dos Trabalhadores - que se avolumam os choques maiores e as contradições mais profundas do regime. Um ciclo se esgota, mas a história não se encerra. Mobilizar a vontade nacional, tendo como fundamento um pacto social mais justo e não excludente, em defesa da soberania nacional, da cultura brasileira, da sua integridade, visando a realização do bem comum é o projeto nacional posto em pauta desde 2003.
Para continuar sendo exeqüível, é fundamental não ceder terreno. Reafirmar os princípios do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, cumprir as propostas aprovadas na Confecom, avançar na questão agrária e na manutenção do diálogo com os movimentos sociais são passos decisivos para construir uma nação moderna e organizada. Não fazê-lo é conviver com o permanente risco de retrocesso. E nunca é bom desconsiderar o aspecto trágico da História e o papel motriz da violência em sua caminhada. Os golpistas esperam o sono dos justos para lançar os dados do nosso destino. Não podemos dormir novamente.
Escrever sobre o golpe de Estado de 1964, passados 47 anos, não deixa de ser um trabalho de reconstituição que conserva toda a sua atualidade política no momento em que o sermão pelo esquecimento do passado, pelo desarmamento das vontades, continua sendo pregado pelas mesmas classes e grupos que apoiaram, e depois conduziram o regime autoritário. É bom lembrar que essas forças políticas romperam, na undécima hora, com o núcleo decisório da ditadura, forjando uma transição por alto, que desidratou todos os projetos políticos da oposição progressista.
Isso explica, como que, num passe de mágica, José Sarney, o presidente do PDS, após comandar no Parlamento a batalha contra as "Diretas-já", tenha ressurgido como um dos líderes da redemocratização e candidato à vice-presidência na chapa de oposição junto a Tancredo Neves. Não estamos falando apenas de um projeto pessoal oportunista bem sucedido, mas da incrustação no próprio centro de decisões, de setores políticos e econômicos comprometidos com as concepções do regime político anterior. Não compreender as implicações desse processo nos dias de hoje pode levar a um voluntarismo pueril. Aceitá-lo como fato incontornável é uma resignação em tudo, e por tudo, pusilânime.
O golpe veio para barrar a emergência de um movimento de massas. Não foi para atingir personalidades, ainda que muitas delas tenham desempenhado um papel importante na abertura dos espaços para essa nova dinâmica, mas para conter o crescimento popular.
Como destacou Almino Afonso, ministro do Trabalho no governo João Goulart, o movimento tinha dois objetivos: "Primeiro, barrar o avanço dos movimentos sociais; segundo, impedir a tomada de consciência nacional que começava a esboçar uma linha de resistência internacional com uma nitidez nunca havida antes em nosso passado. Esses dois fatores confluíram gradualmente para um todo mais ou menos homogêneo e, embora não tivéssemos nem partido político para ser expressão desse despertar, nem lideranças claras para se converterem em porta-vozes desses novos atores, essa emergência foi suficientemente forte para alarmar os setores dirigentes do país e seus aliados internacionais, que se associaram na implantação da ditadura"( Folha de S. Paulo, 1/4/1984).
Numa retrospectiva das medidas tomadas naquela época, é impressionante ver, no governo de Jango, a quantidade de iniciativas que foram adotadas, projetadas e enviadas ao Congresso Nacional. Na sua totalidade é inequívoca a vontade de atacar os pilares da estrutura capitalista num país subdesenvolvido.
Disciplinou a remessa dos lucros das empresas estrangeiras, estabeleceu o monopólio da compra do petróleo, desapropriou as refinarias privadas, bem como os latifúndios improdutivos nas margens das rodovias, congelou os aluguéis e buscou o apoio dos sargentos, cabos e soldados, diretamente. Atacando a todos simultaneamente, João Goulart facilitou a aglutinação dos interesses econômicos contrariados em torno dos generais da direita, que chegaram a receber a garantia do Pentágono, conforme documentos divulgados em Washington.
A índole dos golpistas pôde ser apreciada desde os primeiros atos legislativos baixados. Seguiu-se a arrasadora repressão, ampla entrega do subsolo, compra pela União das empresas de serviços públicos pertencentes à Bond & Share (American Power) e depois os da Light, por preços absurdamente abaixo do valor de mercado. A corrupção generalizada nos negócios do Estado e a censura à imprensa - apesar do apoio do baronato do campo midiático - fizeram da noite dos generais a luxúria dos cartéis e grandes corporações.
Apesar de tudo, um fio de continuidade, transverso e denso, percorre a história desses anos. A história dos tempos de arbítrio é a história de uma crise feita de muitas dimensões: das sucessivas crises militares, dos esforços de Geisel e Figueiredo de usar a “abertura” como garantia do monopólio do poder a serviço do grande capital. É, no entanto, no crescimento do movimento popular - da luta pela anistia, da reabertura da UNE à criação do Partido dos Trabalhadores - que se avolumam os choques maiores e as contradições mais profundas do regime. Um ciclo se esgota, mas a história não se encerra. Mobilizar a vontade nacional, tendo como fundamento um pacto social mais justo e não excludente, em defesa da soberania nacional, da cultura brasileira, da sua integridade, visando a realização do bem comum é o projeto nacional posto em pauta desde 2003.
Para continuar sendo exeqüível, é fundamental não ceder terreno. Reafirmar os princípios do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, cumprir as propostas aprovadas na Confecom, avançar na questão agrária e na manutenção do diálogo com os movimentos sociais são passos decisivos para construir uma nação moderna e organizada. Não fazê-lo é conviver com o permanente risco de retrocesso. E nunca é bom desconsiderar o aspecto trágico da História e o papel motriz da violência em sua caminhada. Os golpistas esperam o sono dos justos para lançar os dados do nosso destino. Não podemos dormir novamente.
Mídia esconde revoltas em Honduras
Por Altamiro Borges
Na quarta-feira passada, 30 de março, milhares de trabalhadores de Honduras aderiram ao “paro cívico”, convocado pela Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP). A greve geral se estendeu por todo o território hondurenho e foi duramente reprimida pelo governo golpista de Porfírio Lobo. A mídia nativa, porém, não deu destaque ao protesto ou a brutal repressão. Desde o golpe que derrubou o presidente eleito Manoel Zelaya, em junho de 2009, ela continua torcendo pelos golpistas, serviçais dos EUA.
Na quarta-feira passada, 30 de março, milhares de trabalhadores de Honduras aderiram ao “paro cívico”, convocado pela Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP). A greve geral se estendeu por todo o território hondurenho e foi duramente reprimida pelo governo golpista de Porfírio Lobo. A mídia nativa, porém, não deu destaque ao protesto ou a brutal repressão. Desde o golpe que derrubou o presidente eleito Manoel Zelaya, em junho de 2009, ela continua torcendo pelos golpistas, serviçais dos EUA.
Amor e revolução: a luta armada na TV
Reproduzo artigo de Jaime Sautchuk, publicado no sítio Vermelho:
Não sei no que vai dar lá no final, mas o simples fato de o tema servir de ambientação para uma novela na televisão já é importante para a história viva do Brasil. Esta semana, o SBT lançou a novela Amor e Revolução, numa ousada e louvável empreitada de resgate da memória nacional.
A importância desse feito é perceptível nos bastidores da própria novela. Muitos dos atores não tinham nem nascido quando se passaram os fatos ali referenciados. Tiveram de ir aos livros para estudar e neles captar informações que serviram para a construção de seus personagens.
Um desses jovens atores, numa cena da novela, fornece alguma dica do tratamento que o enredo vai dar ao tema. “Vou tirar a limpo essa história do Comando de Caça aos Comunistas; minha mãe foi assassinada e eu preciso tirar isso limpo”, afirma ele.
Esta é uma das cenas que fazem parte do trailer de 10min46s exibido na página do SBT na internet desde a semana anterior ao lançamento da novela, na terça-feira, dia 5 de abril. Pela amostra, a novela pode vir a ser um marco na história da televisão brasileira, tal a naturalidade com que trata de um tema que é tabu nesse ramo de produção televisiva.
Há fortes cenas de tortura, de todas as modalidades, do pau-de-arara ao afogamento, passando pelo abuso sexual. E invasões de aparelhos (locais secretos de reuniões) de organizações da esquerda, com assassinatos a sangue frio, espancamentos e maus-tratos de toda ordem.
O autor
Boa parte do pessoal de criação e do elenco de atores é de gente que já passou pela Rede Globo. O autor da novela, que cuida do roteiro, diálogos, do conteúdo, enfim, é Tiago Santiago. Não é, pois, pouca brincadeira.
Sociólogo, até com pós-graduação, é um sujeito que utilizou a formação acadêmica para seu veio de homem das letras. Sempre se dedicou às artes, como grande conhecedor da realidade da gente comum.
Sua tese de mestrado, por exemplo, é sobre a colonização portuguesa na África. Ele é, também, romancista, teatrólogo, o escambau. Mas começou como ator, atuando com gente do coturno de Paulo José e Dina Sfat.
Já na condição de criador de textos para teatro, trabalhou com a mestra Maria Clara Machado e fez um monte de novelas e programas na Globo, quase sempre voltados para o público juvenil. O programa Malhação e novelas como Vamp são alguns exemplos.
Com isso, quero dizer que, se depender do autor, podemos esperar uma novela voltada para um público mais jovem, mas que vai fazer muito adulto que diz não gostar do ramo ligar a TV.
A direção ficou sob a responsabilidade do veterano Reynaldo Boury, figura que já consta da própria história da TV brasileira. Conhece muito. De quebra, já fazia televisão quando os episódios que agora vai dirigir ocorreram, o que pode ajudar.
Entrando fundo na história
Pelo trailer do SBT, a ambientação é cinematográfica, para lembrar os primórdios da TV. Cenas bem trabalhadas de explosões com pessoas lançadas ao ar, perseguições por ruas e rodovias em fusquinhas, Simcas e DKWs, os carros de então, se misturam com ambientes fechados e falas sussurradas, como convinha na época.
Os cenários são muito bem cuidados, nos trajes, mobiliário e até iluminação. Combinam com diálogos também situados naquele tempo, com palavreado e expressões apropriados.
Não se sabe, por enquanto, o que fez Sílvio Santos, o todo-poderoso do SBT, investir nesse tema. O fato é que tem muito a ver com o crescimento da campanha nacional em favor do esclarecimento do que se passou durante o regime militar, iniciado, por coincidência ou não, em abril de 1964.
Saber do paradeiro dos corpos dos desaparecidos é o mínimo que se pode esperar. Já se pode sentir, por isso tudo, que a novela vai entrar fundo num período importante da história recente do Brasil.
Não sei no que vai dar lá no final, mas o simples fato de o tema servir de ambientação para uma novela na televisão já é importante para a história viva do Brasil. Esta semana, o SBT lançou a novela Amor e Revolução, numa ousada e louvável empreitada de resgate da memória nacional.
A importância desse feito é perceptível nos bastidores da própria novela. Muitos dos atores não tinham nem nascido quando se passaram os fatos ali referenciados. Tiveram de ir aos livros para estudar e neles captar informações que serviram para a construção de seus personagens.
Um desses jovens atores, numa cena da novela, fornece alguma dica do tratamento que o enredo vai dar ao tema. “Vou tirar a limpo essa história do Comando de Caça aos Comunistas; minha mãe foi assassinada e eu preciso tirar isso limpo”, afirma ele.
Esta é uma das cenas que fazem parte do trailer de 10min46s exibido na página do SBT na internet desde a semana anterior ao lançamento da novela, na terça-feira, dia 5 de abril. Pela amostra, a novela pode vir a ser um marco na história da televisão brasileira, tal a naturalidade com que trata de um tema que é tabu nesse ramo de produção televisiva.
Há fortes cenas de tortura, de todas as modalidades, do pau-de-arara ao afogamento, passando pelo abuso sexual. E invasões de aparelhos (locais secretos de reuniões) de organizações da esquerda, com assassinatos a sangue frio, espancamentos e maus-tratos de toda ordem.
O autor
Boa parte do pessoal de criação e do elenco de atores é de gente que já passou pela Rede Globo. O autor da novela, que cuida do roteiro, diálogos, do conteúdo, enfim, é Tiago Santiago. Não é, pois, pouca brincadeira.
Sociólogo, até com pós-graduação, é um sujeito que utilizou a formação acadêmica para seu veio de homem das letras. Sempre se dedicou às artes, como grande conhecedor da realidade da gente comum.
Sua tese de mestrado, por exemplo, é sobre a colonização portuguesa na África. Ele é, também, romancista, teatrólogo, o escambau. Mas começou como ator, atuando com gente do coturno de Paulo José e Dina Sfat.
Já na condição de criador de textos para teatro, trabalhou com a mestra Maria Clara Machado e fez um monte de novelas e programas na Globo, quase sempre voltados para o público juvenil. O programa Malhação e novelas como Vamp são alguns exemplos.
Com isso, quero dizer que, se depender do autor, podemos esperar uma novela voltada para um público mais jovem, mas que vai fazer muito adulto que diz não gostar do ramo ligar a TV.
A direção ficou sob a responsabilidade do veterano Reynaldo Boury, figura que já consta da própria história da TV brasileira. Conhece muito. De quebra, já fazia televisão quando os episódios que agora vai dirigir ocorreram, o que pode ajudar.
Entrando fundo na história
Pelo trailer do SBT, a ambientação é cinematográfica, para lembrar os primórdios da TV. Cenas bem trabalhadas de explosões com pessoas lançadas ao ar, perseguições por ruas e rodovias em fusquinhas, Simcas e DKWs, os carros de então, se misturam com ambientes fechados e falas sussurradas, como convinha na época.
Os cenários são muito bem cuidados, nos trajes, mobiliário e até iluminação. Combinam com diálogos também situados naquele tempo, com palavreado e expressões apropriados.
Não se sabe, por enquanto, o que fez Sílvio Santos, o todo-poderoso do SBT, investir nesse tema. O fato é que tem muito a ver com o crescimento da campanha nacional em favor do esclarecimento do que se passou durante o regime militar, iniciado, por coincidência ou não, em abril de 1964.
Saber do paradeiro dos corpos dos desaparecidos é o mínimo que se pode esperar. Já se pode sentir, por isso tudo, que a novela vai entrar fundo num período importante da história recente do Brasil.
Carol Rocha desabafa sobre a sua demissão
Reproduzo os relatos da jornalista Carol Rocha, demitida pelo Grupo Folha, publicados em seu blog - Veneno Antimonotonia:
A coluna de hoje da ombudsman da Folha de S.Paulo é sobre uma troca de tuítes entre dois jornalistas da empresa - aliás, ex-jornalistas da empresa. A "repórter do Agora", neste caso, sou eu. O diálogo, de três frases, segue abaixo, no texto da própria Suzana Singer - e ao contrário do que alguns disseram, não foi apagado; continua lá no twitter.
A coluna de hoje da ombudsman da Folha de S.Paulo é sobre uma troca de tuítes entre dois jornalistas da empresa - aliás, ex-jornalistas da empresa. A "repórter do Agora", neste caso, sou eu. O diálogo, de três frases, segue abaixo, no texto da própria Suzana Singer - e ao contrário do que alguns disseram, não foi apagado; continua lá no twitter.
“Folha” acha que jornalista é servo?
Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
Na última quarta-feira, eu estava na porta do Hospital Sírio-Libanês, cobrindo a morte de José Alencar para a TV Record. No mesmo horário, dois jornalistas (um da “Folha” e outro do “Agora” – diário que também pertence ao grupo “Folha”) trocavam impressões sobre a cobertura jornalística do fato. Ressalte-se: trocavam impressões usando contas particulares do twitter.
Na última quarta-feira, eu estava na porta do Hospital Sírio-Libanês, cobrindo a morte de José Alencar para a TV Record. No mesmo horário, dois jornalistas (um da “Folha” e outro do “Agora” – diário que também pertence ao grupo “Folha”) trocavam impressões sobre a cobertura jornalística do fato. Ressalte-se: trocavam impressões usando contas particulares do twitter.
domingo, 3 de abril de 2011
A opinião pública, entre o velho e o novo
Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado em seu blog no sítio Carta Maior:
- A decadência irreversível da velha mídia e o surpreendente surgimento
de novas modalidades de formação democrática da opinião pública.
- A decadência irreversível da velha mídia e o surpreendente surgimento
de novas modalidades de formação democrática da opinião pública.
Outdoor garante resposta do MST em PE
Reproduzo matéria publicada no sítio do MST:
Camponeses e camponesas sem terra do Estado de Pernambuco conquistaram uma vitória na luta pela efetivação dos direitos humanos e em defesa da reforma agrária.
A mensagem “Reforma Agrária: Esperança para o campo, comida na sua mesa” encontra-se em 21 outdoors espalhados por todo o estado.
A mensagem foi publicada após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), pela Associação dos Militares Estaduais de Pernambuco (AME), antiga AOSS, e a empresa de outdoors Stampa.
O TAC é fruto de mediação promovida pelo Ministério Público de Pernambuco e se deu em decorrência da veiculação massiva de propagandas de cunho difamatório e preconceituoso contra sem terras, promovida pela antiga AOSS, no ano de 2006, no Estado.
De acordo com o TAC, a associação também terá que publicar retratações públicas aos sem terra no jornal de circulação interna aos membros da associação - e que chega também aos quadros da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros -, além de publicar também na página eletrônica da associação.
Hoje pela manhã as entidades de Direitos Humanos que acompanham o caso, representantes do Ministério Público do Estado, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), além de trabalhadores e trabalhadoras rurais, estiveram presentes no Ministério Público de Pernambuco para uma coletiva de Imprensa sobre o caso.
Dr. Westei Conde y Martin, da promotoria de Direitos Humanos do MP, ressaltou que a medida que garante o direito de resposta aos sem terra que foram criminalizados é inédita em todo o Brasil.
Para Adelmir Antero, da direção estadual do MST, a medida é um fato histórico para a luta dos trabalhadores e trabalhadores rurais e que esta retratação é para todos aqueles que vem sendo massacrados há mais de 500 anos no país.
O Padre Thiago Thorlby, da CPT, reforçou que “a verdadeira propaganda dos camponeses e camponesas está todos os dias em nossa mesa, no almoço e jantar. E enquanto os camponeses produzem alimentos, o governo destina bilhões ao agronegócio que mata, explora e expulsa o povo de suas terras”.
O instrumento judicial utilizado para firmar o TAC foi o da Ação Civil Pública e os outdoors com a mensagem de promoção e defesa dos direitos humanos e da reforma agrária tomarão as ruas do Recife e as estradas do Estado pelas próximas duas semanas.
Para as organizações que acompanham o caso, espera-se que esta medida, além de garantir a retratação aos trabalhadores sem terra, possa estimular o dialogo com a população sobre a importância da luta pela efetivação dos direitos humanos e pelo acesso à terra no Estado, considerado um dos que mais concentra terras e promove violência no campo no Brasil, segundo dados do IBGE e da Comissão Pastoral da Terra.
Histórico do processo
Durante os primeiros meses de 2006, a população do Estado de Pernambuco foi surpreendida com o início de uma ostensiva propaganda contra camponeses e camponesas sem terra, assinada pela antiga Associação dos Oficiais, Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar/Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (AOSS), a atual Associação dos Militares de Pernambuco (AME).
A antiga AOSS havia colocado nas principais vias públicas da cidade do Recife e nas rodovias do estado outdoors com a seguinte mensagem de conteúdo difamatório e preconceituoso contra trabalhadores rurais sem terra: “Sem Terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como isso tudo vai parar?”. A mesma mensagem foi reproduzida em jornais de circulação local, internet, além de emissoras de TV e rádio. Também foram publicados textos igualmente preconceituosos e difamatórios no jornal interno da Associação.
Em resposta à propaganda, entidades de defesa dos direitos humanos, como o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Terra de Direitos, denunciaram o caso ao Ministério Público de Pernambuco. À época, as entidades protocolaram uma representação contra a antiga AOSS, afirmando que o Estado de Pernambuco é um local de extrema tensão agrária e a campanha publicitária, de criminalização da luta legítima dos trabalhadores rurais sem terra, incitava os policiais militares a agirem de maneira violenta contra esses camponeses, estimulando ainda mais o conflito existente no campo.
Além disso, o material publicitário veiculado ultrapassava os ditames da liberdade de expressão e manifestação, vez que, de conteúdo preconceituoso, atentava contra os princípios constitucionais, especialmente a dignidade humana, o direito à organização política e, acima de tudo, o direito de lutar por direitos. Após a denúncia, o Ministério Público abriu o procedimento de nº 06008-0/7 para apurar os fatos, o que desembocou no Termo de Ajustamento de Conduta citado.
As manifestações na luta pela reforma agrária fazem parte do exercício da cidadania em um estado democrático de direito, sendo legítima a forma de manifestação em sua defesa. O exercício do direito à mobilização, a fim de garantir direitos, mais especificamente o direito à terra, e de dar visibilidade aos pleitos sociais, mais que legítimo, é necessário para a real concretização da democracia, principalmente num estado como Pernambuco, em que problemas estruturais como a escravidão, o latifúndio e a privatização dos espaços públicos ainda estão presentes e não são enfrentados. Em Pernambuco, a concentração fundiária alcança o índice GINI de 0,8181, sendo grande parte dessas terras improdutivas. De outro lado, cerca de vinte mil famílias sem terra aguardam a efetivação da política pública de reforma agrária para garantir sua alimentação, seu sustento, sua dignidade.
De caráter amplo e estrutural, a reforma agrária garante o acesso e a concretização de outros direitos humanos, como o direito à moradia, à alimentação e ao trabalho. Além disso, são esses mesmos trabalhadores rurais, que lutam pela reforma agrária, os responsáveis pela construção da soberania alimentar do país: a esmagadora maioria dos alimentos consumido nas cidades vem da agricultura familiar e camponesa, inclusive de assentamentos de reforma agrária. Segundo dados do IBGE a agricultura familiar e camponesa é responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo.
Portanto, trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra, enquanto defensores de direitos humanos que são, mais que lutadores incansáveis pelo combate da desigualdade social (o que só é possível, dentre outras coisas, após uma profunda Reforma Agrária), são brasileiros e brasileiras, na luta pelo direito de viver com dignidade.
Camponeses e camponesas sem terra do Estado de Pernambuco conquistaram uma vitória na luta pela efetivação dos direitos humanos e em defesa da reforma agrária.
A mensagem “Reforma Agrária: Esperança para o campo, comida na sua mesa” encontra-se em 21 outdoors espalhados por todo o estado.
A mensagem foi publicada após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), pela Associação dos Militares Estaduais de Pernambuco (AME), antiga AOSS, e a empresa de outdoors Stampa.
O TAC é fruto de mediação promovida pelo Ministério Público de Pernambuco e se deu em decorrência da veiculação massiva de propagandas de cunho difamatório e preconceituoso contra sem terras, promovida pela antiga AOSS, no ano de 2006, no Estado.
De acordo com o TAC, a associação também terá que publicar retratações públicas aos sem terra no jornal de circulação interna aos membros da associação - e que chega também aos quadros da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros -, além de publicar também na página eletrônica da associação.
Hoje pela manhã as entidades de Direitos Humanos que acompanham o caso, representantes do Ministério Público do Estado, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), além de trabalhadores e trabalhadoras rurais, estiveram presentes no Ministério Público de Pernambuco para uma coletiva de Imprensa sobre o caso.
Dr. Westei Conde y Martin, da promotoria de Direitos Humanos do MP, ressaltou que a medida que garante o direito de resposta aos sem terra que foram criminalizados é inédita em todo o Brasil.
Para Adelmir Antero, da direção estadual do MST, a medida é um fato histórico para a luta dos trabalhadores e trabalhadores rurais e que esta retratação é para todos aqueles que vem sendo massacrados há mais de 500 anos no país.
O Padre Thiago Thorlby, da CPT, reforçou que “a verdadeira propaganda dos camponeses e camponesas está todos os dias em nossa mesa, no almoço e jantar. E enquanto os camponeses produzem alimentos, o governo destina bilhões ao agronegócio que mata, explora e expulsa o povo de suas terras”.
O instrumento judicial utilizado para firmar o TAC foi o da Ação Civil Pública e os outdoors com a mensagem de promoção e defesa dos direitos humanos e da reforma agrária tomarão as ruas do Recife e as estradas do Estado pelas próximas duas semanas.
Para as organizações que acompanham o caso, espera-se que esta medida, além de garantir a retratação aos trabalhadores sem terra, possa estimular o dialogo com a população sobre a importância da luta pela efetivação dos direitos humanos e pelo acesso à terra no Estado, considerado um dos que mais concentra terras e promove violência no campo no Brasil, segundo dados do IBGE e da Comissão Pastoral da Terra.
Histórico do processo
Durante os primeiros meses de 2006, a população do Estado de Pernambuco foi surpreendida com o início de uma ostensiva propaganda contra camponeses e camponesas sem terra, assinada pela antiga Associação dos Oficiais, Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar/Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (AOSS), a atual Associação dos Militares de Pernambuco (AME).
A antiga AOSS havia colocado nas principais vias públicas da cidade do Recife e nas rodovias do estado outdoors com a seguinte mensagem de conteúdo difamatório e preconceituoso contra trabalhadores rurais sem terra: “Sem Terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como isso tudo vai parar?”. A mesma mensagem foi reproduzida em jornais de circulação local, internet, além de emissoras de TV e rádio. Também foram publicados textos igualmente preconceituosos e difamatórios no jornal interno da Associação.
Em resposta à propaganda, entidades de defesa dos direitos humanos, como o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Terra de Direitos, denunciaram o caso ao Ministério Público de Pernambuco. À época, as entidades protocolaram uma representação contra a antiga AOSS, afirmando que o Estado de Pernambuco é um local de extrema tensão agrária e a campanha publicitária, de criminalização da luta legítima dos trabalhadores rurais sem terra, incitava os policiais militares a agirem de maneira violenta contra esses camponeses, estimulando ainda mais o conflito existente no campo.
Além disso, o material publicitário veiculado ultrapassava os ditames da liberdade de expressão e manifestação, vez que, de conteúdo preconceituoso, atentava contra os princípios constitucionais, especialmente a dignidade humana, o direito à organização política e, acima de tudo, o direito de lutar por direitos. Após a denúncia, o Ministério Público abriu o procedimento de nº 06008-0/7 para apurar os fatos, o que desembocou no Termo de Ajustamento de Conduta citado.
As manifestações na luta pela reforma agrária fazem parte do exercício da cidadania em um estado democrático de direito, sendo legítima a forma de manifestação em sua defesa. O exercício do direito à mobilização, a fim de garantir direitos, mais especificamente o direito à terra, e de dar visibilidade aos pleitos sociais, mais que legítimo, é necessário para a real concretização da democracia, principalmente num estado como Pernambuco, em que problemas estruturais como a escravidão, o latifúndio e a privatização dos espaços públicos ainda estão presentes e não são enfrentados. Em Pernambuco, a concentração fundiária alcança o índice GINI de 0,8181, sendo grande parte dessas terras improdutivas. De outro lado, cerca de vinte mil famílias sem terra aguardam a efetivação da política pública de reforma agrária para garantir sua alimentação, seu sustento, sua dignidade.
De caráter amplo e estrutural, a reforma agrária garante o acesso e a concretização de outros direitos humanos, como o direito à moradia, à alimentação e ao trabalho. Além disso, são esses mesmos trabalhadores rurais, que lutam pela reforma agrária, os responsáveis pela construção da soberania alimentar do país: a esmagadora maioria dos alimentos consumido nas cidades vem da agricultura familiar e camponesa, inclusive de assentamentos de reforma agrária. Segundo dados do IBGE a agricultura familiar e camponesa é responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo.
Portanto, trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra, enquanto defensores de direitos humanos que são, mais que lutadores incansáveis pelo combate da desigualdade social (o que só é possível, dentre outras coisas, após uma profunda Reforma Agrária), são brasileiros e brasileiras, na luta pelo direito de viver com dignidade.
Crianças são mortas na agressão a Líbia
Reproduzo artigo de Wálter Maierovitch, publicado no sítio da revista CartaCapital:
No meio da semana passada o presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro ministro britânico David Cameron realizaram a concorrida Conferência de Londres.
Na verdade, foi um “oba-oba” para discussão sobre uma “via de saída” para o tirano Muammar Kadafi.
Sarkozy e Cameron, quando acertaram a realização da conferência, já tinham escolhido até o lugar na parede da lareira para a pele do leão-raís líbio.
A dupla, no entanto, esqueceu que Kadafi continua vivo. E na região da Tripolitânia, ainda Kadafi é considerado o raís (chefe, em árabe).
Ontem, como este blog Sem Fronteiras noticiou em primeira mão, as forças da Aliança Atlântica (Otan-Nato) bombarderam bairros de Trípoli. E 40 civis morreram, como denunciou o mais alto representante do Vaticano na capital da Líbia: monsenhor Martinelli, do Vicariato Apostólico de Trípoli.
Hoje, no quartel-general da missão da Otan-Nato para cumprimento da Resolução 1973 das Nações Unidas, chegou a notícia do bombardeamento noturno de ontem em Zawia e Argobe, situadas a 15 km de distância de Brega: as vizinhas cidades de Brega e Ras Lanuf têm importância estratégica pela existência dos dois maiores e mais importantes terminais petrolíferos da região da Cirenaica.
O “raid” noturno em Zawaia e Argobe resultou em tragédia com a morte, nas suas residências, de 7 civis e ferimentos graves em outros 25.
Atenção: entre os mortos e feridos em Zawia e Argobe a média de idade varia entre 12 e 20 anos de idade.
Na primeira tragédia de 40 vítimas fatais – na quinta-feira, 31, e em bairros de Trípole sob bombardeamento pelas “forças humanitárias” da Otan-Nato –, figuraram várias crianças.
No momento, fala-se em suspensão dos bombardeamentos. A Alemanha, em face do ocorrido, pede a imediata suspensão das ações militares das forças de coalizão na Líbia.
Pano rápido
Tudo se passa em três momentos relevantes:
1. O ministro líbio do Petróleo, Hukri Ghanem, desmente que renunciará e declara fidelidade a Kadafi.
2. O ministro da Defesa dos EUA, depois das bolas foras chutadas pelo presidente Obama e a secretária Hillari Clinton, trabalha para jogar água fria na tese estapafúrdia da mencionada dupla. Obama e a Clinton falaram que estudavam a tese de armar os rebeldes (depois os assessores, com disparate semelhante, mudaram a tese para fornecimento, em substituição, de peças de armas de fogo). Por evidente, não é apropriada pensar em armas rebeldes por quem integra uma coalizão voltada a perpetrar ações humanitárias.
3. O delfim de Kadafi – que estudou na Alemanha e se autoproclamava artista plástico em exposições pagas com dinheiro do povo líbio –, mandou enviados a Londres para tratar de uma eventual divisão da Líbia em dois países: Trípoli-Fezzen (para Kadafi ou para ele Said) e a Cirenaica para os rebeldes. Rebeldes liderados por um Conselho presidido pelo ex-ministro da Justiça de Kadafi, que, depois de perder poder na ditadura, aderiu à revolta em Bengasi.
No meio da semana passada o presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro ministro britânico David Cameron realizaram a concorrida Conferência de Londres.
Na verdade, foi um “oba-oba” para discussão sobre uma “via de saída” para o tirano Muammar Kadafi.
Sarkozy e Cameron, quando acertaram a realização da conferência, já tinham escolhido até o lugar na parede da lareira para a pele do leão-raís líbio.
A dupla, no entanto, esqueceu que Kadafi continua vivo. E na região da Tripolitânia, ainda Kadafi é considerado o raís (chefe, em árabe).
Ontem, como este blog Sem Fronteiras noticiou em primeira mão, as forças da Aliança Atlântica (Otan-Nato) bombarderam bairros de Trípoli. E 40 civis morreram, como denunciou o mais alto representante do Vaticano na capital da Líbia: monsenhor Martinelli, do Vicariato Apostólico de Trípoli.
Hoje, no quartel-general da missão da Otan-Nato para cumprimento da Resolução 1973 das Nações Unidas, chegou a notícia do bombardeamento noturno de ontem em Zawia e Argobe, situadas a 15 km de distância de Brega: as vizinhas cidades de Brega e Ras Lanuf têm importância estratégica pela existência dos dois maiores e mais importantes terminais petrolíferos da região da Cirenaica.
O “raid” noturno em Zawaia e Argobe resultou em tragédia com a morte, nas suas residências, de 7 civis e ferimentos graves em outros 25.
Atenção: entre os mortos e feridos em Zawia e Argobe a média de idade varia entre 12 e 20 anos de idade.
Na primeira tragédia de 40 vítimas fatais – na quinta-feira, 31, e em bairros de Trípole sob bombardeamento pelas “forças humanitárias” da Otan-Nato –, figuraram várias crianças.
No momento, fala-se em suspensão dos bombardeamentos. A Alemanha, em face do ocorrido, pede a imediata suspensão das ações militares das forças de coalizão na Líbia.
Pano rápido
Tudo se passa em três momentos relevantes:
1. O ministro líbio do Petróleo, Hukri Ghanem, desmente que renunciará e declara fidelidade a Kadafi.
2. O ministro da Defesa dos EUA, depois das bolas foras chutadas pelo presidente Obama e a secretária Hillari Clinton, trabalha para jogar água fria na tese estapafúrdia da mencionada dupla. Obama e a Clinton falaram que estudavam a tese de armar os rebeldes (depois os assessores, com disparate semelhante, mudaram a tese para fornecimento, em substituição, de peças de armas de fogo). Por evidente, não é apropriada pensar em armas rebeldes por quem integra uma coalizão voltada a perpetrar ações humanitárias.
3. O delfim de Kadafi – que estudou na Alemanha e se autoproclamava artista plástico em exposições pagas com dinheiro do povo líbio –, mandou enviados a Londres para tratar de uma eventual divisão da Líbia em dois países: Trípoli-Fezzen (para Kadafi ou para ele Said) e a Cirenaica para os rebeldes. Rebeldes liderados por um Conselho presidido pelo ex-ministro da Justiça de Kadafi, que, depois de perder poder na ditadura, aderiu à revolta em Bengasi.
A revista Época e o mensalão requentado
Reproduzo artigo de Miguel do Rosário, publicado em seu blog:
A revista Época se esforçou. A capa desta semana, assinada pelo ex-garoto prodígio da Veja e bolsista do Millenium, Diego Escosteguy, traz aquela linguagem entre barroca e cínica que se tornou marca registrada nas reportagens sobre o mensalão. A matéria, com base no relatório da Polícia Federal enfim concluído, traz uma ou duas novidades, as quais, porém, são tão ansiosa e descaradamente aditivadas com molho velho que perdem todo o sabor. A imagem que me vem é a de uma sopa guardada há semanas na geladeira, a qual lançamos dentro uma cenoura cortada para que pareça fresca.
A escassez de fatos novos no relatório da PF decorre do fato de que o mensalão foi o escândalo mais devassado da história política brasileira. Tivemos várias CPIs, com quebra de sigilos telefônicos e bancários. A imprensa deslocou o grosso de seus efetivos para investigar todos os ângulos do episódio. E a pressão midiático-política da oposição, que chegou a ameaçar a estabilidade institucional, conseguiu, desde o início das investigações, monitorar, vazar e divulgar os resultados parciais dos relatórios da Polícia Federal. Pesquisando rapidamente na internet, descobre-se que praticamente todas as informações apresentadas na matéria já eram do conhecimento público desde 2005, embora sem a credibilidade conferida pela investigação profissional.
Entretanto, o que mais chama atenção na reportagem é sua falta de clareza. O texto lança mão de todas as aquelas velhas estratégias de manipular a informação que vimos tão diabolicamente desenvolvidas no escândalo do mensalão. Existe o ilícito, mas em vez de esclarecer o leitor sobre suas causas, consequências e natureza, a reportagem o confunde, deixando nele apenas um mal estar difuso, uma indignação mal resolvida.
Por exemplo, um trecho da matéria, subtitulado Outras revelações, traz os seguintes quadros:
Temos aí algumas novidades interessantes, que poderiam nos dar uma ideia melhor de onde surgiu o famigerado Marcos Valério, que tinha, segundo a PF, contratos de publicidade com a Petrobrás na era fernandista, e com o governo de Aécio Neves, já durante a era Lula. Mesmo a nota "Lobby no BC", confusa e juridicamente inócua, amarra o Banco Rural ao empréstimo concedido pelo governo FHC ao sistema financeiro, o Proer, através do qual o governo repassou aos bancos o equivalente hoje a mais de 115 bilhões de reais. Ou seja, recheia-se o escândalo da era Lula com maionese tucana.
A matéria inicia com um quadro onde figura aquela linguagem pirracenta que também ganhou notoriedade na cobertura do assunto.
O relatório da PF não prova que o mensalão existiu. Ele apenas confirma o que realmente aconteceu, e que ninguém negou: caixa 2 de campanha eleitoral. Não há, contudo, nos documentos da PF, e quanto mais no trecho sublinhado, qualquer fato comprobatório de que o governo pagou parlamentares para votarem desta ou daquela forma.
O início da matéria, por sua vez, é presunçoso e faz um pre-julgamento:
"Era uma vez, numa terra não tão distante, um governo que resolveu botar o Congresso no bolso".
Lendo a matéria até o final, o que vemos é que, ao contrário, o relatório da PF desmente a tese do mensalão, visto que aponta apenas 28 parlamentares como receptadores de recursos de Marcos Valério. Como se pode botar um Congresso de 513 deputados "no bolso" dando dinheiro a somente 28 dentre eles? Sem contar que a maioria pertencia à base governista e muitos receberam quantias irrisórias, como o professor Luizinho, que virou "mensaleiro" após um assessor sacar 15 mil reais do valerioduto.
Outro item nebuloso da matéria, e que a Época, em vez de tentar esclarecer, joga ainda mais fumaça, é a participação de Daniel Dantas. Esse era para ser o grande "gancho" da matéria, ainda mais considerando que falamos de um indivíduo já condenado pela justiça em três países, Brasil, EUA e Inglaterra.
Segundo o relatório, Dantas teria assinado contratos, através de empresas que controlava, como a Telecom, no valor de R$ 50 milhões com empresas de publicidade de Marcos Valério. Meses depois estourava o escândalo do mensalão. A própria Polícia o aponta como um dos principais financiadores do esquema, mas a revista, sempre tão cínica e maldosa, prefere fazer dessa vez uma interpretação cândida, de que "apenas R$ 3,6 milhões" foram efetivamente repassados.
A Época engole todas as pastilhas de LSD de uma vez só e inclui, como que fazendo parte do "mensalão do PT", uma lista de personalidades que receberam dinheiro das empresas de Valério, mesmo que estas pessoas não tenham nada a ver com a campanha política de 2002 (não a campanha petista, ao menos):
•Pimenta da Veiga, do PSDB, ex-ministro de FHC, recebeu R$ 300 mil
•Gilberto Mansur, jornalista.
•Domingo Guimarães (genro de Marco Maciel).
•Jaqueline Roriz, deputada (PMN-DF).
•Mario Calixto (senador PMDB-RO).
Uma das novidades apresentadas como "quentes", e como elo entre o "mensalão" e a campanha de Lula é a "descoberta" que Freud Godoy, ex-segurança de Lula, recebeu R$ 98 mil de Marcos Valério, e que o pagamento se deu para saldar uma dívida que o PT tinha com Godoy por seu trabalho na campanha. Já se sabia que Godoy recebera 98 mil de Valério desde 2006. E não é novidade nenhuma que o "mensalão" foi para pagar a campanha de Lula em 2002, o que na verdade apenas comprova a tese, admitida pelo PT e pelo próprio Lula, que chegou a ir a TV pedir desculpas, de que se trata de caixa 2 eleitoral, e não pagamento de propina a políticos para votarem em favor do governo.
O interessante é que, à proporção em que se torna cada vez mais claro que o "mensalão" foi um esquema de caixa 2 da campanha eleitoral de 2002, mais a mídia se aferra à tese de "compra de políticos". Não estou diminuindo a gravidade do crime de caixa 2, mas apenas botando os pingos nos is.
Essa matéria da Época não traz nenhuma novidade consistente. Mas tem uma função: tentar ressuscitar o clamor popular, ou pelo menos uma faísca daquele fogaréu que vimos em 2005, e influenciar o voto dos ministros do STF quando estes julgarem o caso este ano.
Reparem nesse trecho:
"O mensalão não foi uma farsa. Não foi uma ficção. Não foi “algo feito sistematicamente no Brasil”, como chegou a dizer o ex-presidente. O mensalão, como já demonstravam as investigações da CPI dos Correios e do Ministério Público e agora se confirma cabalmente com o relatório da PF, consiste no mais amplo (cinco partidos, dezenas de parlamentares), mais complexo (centenas de contas bancárias, uso de doleiros, laranjas) e mais grave (compra maciça de apoio político no Congresso) esquema de corrupção já descoberto no país".
Pode-se ver, no entanto, uma mudança no tom da mídia. Se antes ela falava do mensalão com arrogância e sarcasmo, hoje nota-se-lhe uma postura defensiva. A repetição de negativas é de quem teme perder o controle sobre a narrativa desse escândalo, como de fato está perdendo. Ninguém nega o caixa 2. O que vem sendo questionado é se houve compra do voto no Congresso. Como é possível que o governo comprasse o voto de 513 parlamentares? E para quê? Repare que os mesmos inquisidores que mencionam a compra de votos como um crime de gravidade apocalíptica jamais especularam sobre que votações ocorreram no período que justificassem tamanho esforço e risco. E qual o sentido de comprar apoio de deputados que já votavam em linha com o governo? Lembro que alguém fez uma tabela em que mostrava que, durante o período em que os acusados recebiam o dinheiro do mensalão, o índice de vitórias do governo no Congresso na verdade caiu. A informação foi logo abafada, porque ela não ajuda a dar verossimilhança à narrativa midiática.
Outro exemplo de manipulação da mesma reportagem:
"A metamorfose ambulante
"Ao longo de seu governo, o ex-presidente Lula mudou sua retórica sobre o escândalo. Passou da indignação à negação: 'Não interessa se foi A, B ou C, todo o episódio foi como uma facada nas minhas costas" - Lula, em dezembro de 2005, sobre o episódio do escândalo do mensalão.
'Mensalão é uma farsa' - Lula, em conversa com José Dirceu durante o café da manhã no Palácio da Alvorada em 18 de novembro de 2010. Na ocasião, o ex-presidente avisou que quando deixasse o governo iria trabalhar para desmontar o mensalão".
Não há contradição entre as duas falas do presidente. Ele nunca negou que houve caixa 2. A "farsa" a que ele se refere (e a revista finge não entender) é a versão segundo a qual o governo subornou parlamentares para impor vitórias no Congresso Nacional.
Minha esperança é que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue os acusados com toda a severidade possível, condenando os réus do mensalão por seus crimes, se entenderem que estes ocorreram, mas que aja com justiça e isenção, sem se deixar levar pelas manipulações de uma imprensa comprometida não com a verdade dos fatos mas com as versões que produziu sobre eles, às quais agora se sente na obrigação de bancar até o fim.
"O PIG vai tentar derrubar Dilma"
Reproduzo entrevista concedida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim à revista Nordeste VinteUm:
O jornalista Paulo Henrique Amorim é, indiscutivelmente, uma figura polêmica. Bastou ser anunciado como o palestrante do I Ciclo de Debates Nordeste VinteUm/2011, realizado em fevereiro, na capital cearense, para despertar o interesse de estudantes de comunicação, profissionais de mídia, políticos e curiosos, que disputaram espaço no auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC) para ouvi-lo falar sobre "Mídia: regulação e democracia".
O evento faz parte da estratégia do PH de disseminar, em suas andanças pelo país, ideais de liberdade de expressão e democratização da informação. Pode-se dizer que é uma autêntica cruzada nacional contra o Partido da Imprensa Golpista (PIG), expressão que ele confessa ter sido uma apropriação indébita de uma ideia do deputado Fernando Ferro (PT de Pernambuco), num desabafo contra os grandes veículos de mídia nacionais.
Formado em Sociologia e Política, este carioca, filho de nordestino, é hoje uma das principais estrelas da Rede Record de Televisão e tem no currículo passagens pelo Jornal do Brasil, Rede Manchete, Editora Abril, Rede Globo, TV Bandeirantes, TV Cultura e os sites Zaz, Terra, UOL e iG. Mas é no blog Conversa Afiada que PH Amorim combate o que órgãos da imprensa, blogs políticos e ele próprio tacham de PIG.
Segundo Paulo Henrique Amorim, fazem parte do PIG os conglomerados Globo, Folha e Estadão. “A Veja não está nesta categoria, pois é uma categoria à parte. Ela não é um órgão de comunicação, mas um detrito de maré baixa”, disse ele durante o Ciclo de Debates. Foi assim, afiado, que o jornalista concedeu entrevista exclusiva à Nordeste VinteUm, na qual comenta aspectos do governo Lula, expectativas para o governo Dilma, os 27 processos que responde por parte do banqueiro Daniel Dantas “e assemelhados”, além da urgência da chamada “Ley de Medios”, o marco regulatório, que pretende criar mecanismos para combater a concentração midiática do País.
Paulo Henrique Amorim, qual a principal influência que o PIG exerce no Brasil?
Formar a agenda (os assuntos discutidos no País), mas ele não tem mais o poder de determinar o curso dos acontecimentos. Seu poder se reduziu bastante. No entanto, ainda diz o que deve ser discutido. O que se comentava na Globo é que o Roberto Marinho costumava dizer que “o importante não é o que eu dou, o importante é o que eu não dou”. Ou seja, ao definir o que “dar”, o que noticiar e o que não noticiar, ele tomava uma atitude política. E é assim que a Globo formula a agenda do País. Não discute certos assuntos para discutir outros. Esse é um poder muito forte. Agora repito: é bom esclarecer que o PIG já foi mais forte. A capacidade de influenciar já foi bem maior. Hoje é uma capacidade decrescente.
Dê um exemplo.
Outra dia, enquanto eu navegava no Blog da Dilma, vi que o Daniel (jornalista Daniel Bezerra, criador do blog) teve uma solução muito inteligente: noticiar a festa dos 90 anos da Folha (jornal Folha de São Paulo) como o pré-velório da Folha. A Folha de São Paulo já foi muito mais importante e incisiva do que é hoje. No entanto, quando ela determina o que pode e o que não pode chegar ao conhecimento da opinião pública, ela tem o poder de abafar, ou seja, o PIG abafa, não deixa que o Brasil discuta o Brasil.
Tem um navegante no meu blog Conversa Afiada que diz sempre: “O Brasil não sai na Globo”. O Brasil não vê o que está acontecendo no Nordeste, não vê o que está acontecendo em matéria de obras de infraestrutura, o que está acontecendo com a ascensão social. O Brasil não vê que em 8 anos, durante o governo Lula, foi feito em matéria de redução da pobreza o que teoricamente teria que ser feito em 25. O Brasil fez um esforço espetacular para reduzir a pobreza e conseguirá atingir o objetivo da presidenta Dilma Rousseff, que é acabar com a miséria.
Esse debate não é um debate que se trava no PIG. Por isso que ele ainda tem esse poder discriminatório. O PIG pauta as rádios do interior, jornais do interior e outros portais. Mas com o aumento do consumo de computadores – no ano passado houve um aumento de 23% na venda de computadores no Brasil, o que é espantoso –, o poder do PIG diminui progressivamente. Contudo, não há como negar que esse poder ainda é considerável.
E como você assiste ao insistente preconceito de outras regiões contra o Nordeste?
Sou filho de um baiano e casado com uma baiana. Nasci no Rio de Janeiro, moro em São Paulo. Aqui sou testemunha do preconceito muitas vezes explícito contra o nordestino. A elite paulista é uma elite separatista, que gostaria que São Paulo se desligasse do resto do Brasil. Isso é produto do preconceito e nasce em boa parte do preconceito das próprias elites nordestinas contra os próprios nordestinos. Faz parte de uma estratégia econômica, que é tornar o nordestino a mão de obra escrava.
Isso assusta muito. Assusta inclusive essa classe média ascendente, quando ela descobre que o mecânico da oficina em que ela vai consertar o carro pode ter um carro melhor do que o dela. Aí ela fica desesperada e, se aparece um cara dizendo que isso é por causa da Dilma, e que a Dilma é a favor do aborto, essa classe vai lá e vota na Marina Silva. Agora, quanto mais instituições, como a revista Nordeste VinteUm e o Ciclo de Debates do qual tive a honra de participar, sacudirem a poeira e mostrarem a contribuição do Nordeste para o Brasil, melhor.
Eu estava conversando com minha mulher (jornalista Geórgia Pinheiro – diretora do blog Conversa Afiada) e disse: “Olha, existem três grandes brasileiros de curso internacional: Josué de Castro, Celso Furtado e Paulo Freire. Três nordestinos. O pensamento neoliberal, a direita brasileira do Sudeste e a direita paulista não produziram sequer um quadro brasileiro de trânsito internacional. Fernando Henrique Cardoso é um blefe. José Serra não escreveu um único livro. E o engraçado é que tem a fama de ser um economista competente. Nem diploma de economista ele tem. Eu costumo dizer que esses tucanos de São Paulo, se não fosse o PIG, não passariam de Resende, aquela cidade que divide o estado do Rio de Janeiro e o de São Paulo. Eles ficariam presos lá.
Durante o Ciclo de Debates Nordeste VinteUm, você afirmou que, apesar dos avanços em vários aspectos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não enfrentou o PIG. Acredita que com a presidenta Dilma Rousseff será diferente?
Eu tenho mais fé do que esperança. Os americanos têm um ditado: “O que é, é o que você vê”. Perceba: a presidenta Dilma manteve o ministro da Defesa Nelson Jobim, que no Conversa Afiada chamo de ministro Nelson “John Bim”, pois ele é um informante da embaixada americana, como mostrou o site Wikileaks. Ela tem no Ministério da Justiça um advogado do Daniel Dantas, que é o ministro José Eduardo Cardozo, conhecido pela turma do Dantas como “Zé”.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, trata a questão da “Ley de Medios” quase como se fosse uma coisa pornográfica. Ele trata com muito pudor, muito recato, muita dificuldade. E finalmente a presidenta foi à tal festa dos 90 anos da Folha. O “pré-velório”. Se quiser, ela tem várias explicações plausíveis para isso. Por exemplo: que ela é chefe de Estado. Mas como chefe de Estado ela não pode esquecer que a Folha inventou uma ficha policial falsa dela. A Folha fraudou uma ficha policial da presidenta e isso é uma questão de Estado. Então eu acho que a ida dela à festa da Folha é um mau indício, que se soma aos outros que acabei de mencionar. Pode ser o perfil do Lula. Eu espero estar redondamente enganado e que ela a certa altura diga: “Olha, eu fui à festa da Folha, vou à festa da Globo, pois defendo a liberdade de expressão, a liberdade de expressão é intocável. E agora vou fazer a regulação da mídia”. Espero que eu esteja redondamente enganado e ela redondamente certa.
E caso não ocorra o marco regulatório, o que esperar?
Se não houver marco regulatório, o PIG vai tentar derrubar a Dilma com muita eficiência. O PIG e o Jornal Nacional vão operar a sucessão da presidenta Dilma Rousseff com uma fúria indescritível. Nós ainda não vimos nada. Essa campanha sórdida e calhorda, como disse o grande cearense Ciro Gomes, ao se referir à “campanha contra o aborto” desfechada pelo José Serra durante as eleições, será ultrapassada em “calhordice”.
A Dilma vai sofrer se não houver o marco regulatório. O que também poderá ser uma consequência lamentável é que se não houver um sistema mais aberto, transparente, livre e democrático de comunicação será muito fácil manipular a classe C na sua rápida ascendência, levando-a a uma plataforma moralista e paranoica. A nossa sorte é que “quem nasceu para José Serra nunca será Carlos Lacerda (renomado jornalista e político brasileiro)”, frase boa e que não é minha, é do Brizola Neto (blogueiro).
O Serra nunca será o Lacerda. Mas sempre será possível tentar explorar o lado paranoico moralista de toda a classe média. E o Lula oportunizou a criação de uma gigantesca classe média. Se o PIG continuar tendo a importância que tem através, inclusive, da manipulação que a Globo protagoniza, é possível que essa classe média do Lula se torne “Berlusconiana” (referência a Sílvio Berlusconi – empresário e primeiro-ministro da Itália), ou seja, ela caia no conto do vigário da “calhordice”.
Paulo Henrique, você se arrepende de ter trabalhado na Rede Globo e na revista Veja?
Não. Na Veja eu trabalhei com a equipe pioneira dirigida pelo Mino Carta, que é o maior jornalista brasileiro. Foi com quem aprendi o “bê-á-bá” dessa profissão. E me orgulho muito de ter feito parte daquela equipe. Aprendi ali e procuro até hoje me guiar por algumas instruções elementares que o Mino transmitia para aquela equipe de jovens que tinham a faca entre os dentes, tentando fazer o melhor jornalismo possível do Brasil.
Eu fui trabalhar na Globo porque saí do jornalismo escrito, percebi que o jornalismo escrito era decadente, com salários cada vez menores. Eu saí da direção de redação do Jornal do Brasil, fui mandado embora, e fui trabalhar na TV Manchete, que também estava em crise. Ela comprou, através do chefe do escritório em Brasília, o Alexandre “Maluf” Garcia (jornalista Alexandre Garcia, hoje comentarista da Rede Globo), a candidatura do Paulo Maluf. Mas o Maluf perdeu e a Manchete ficou órfã, foi quando eu fui convidado para trabalhar na Globo. Fui para fazer uma coluna de economia, fiquei pouco tempo nessa função e fui então dirigir o escritório da Globo em Nova York, um dos períodos mais estimulantes da minha vida de repórter.
Qual sua avaliação sobre o efeito prático das Ações Diretas de Inconstitucionalidade por Omissão? (As ADOs são tentativas do professor Fábio Konder Comparato para que o Supremo Tribunal Federal julgue “por omissão” o Congresso Nacional por não legislar sobre três capítulos da Constituição de 1988 que tratam da Comunicação).
O efeito prático disso é nulo. Digamos que o Supremo acate a argumentação do emérito professor Comparato e diga que de fato o Congresso se omitiu. Isso talvez não provoque nem mesmo um piscar de olhos no presidente do Senado, José Sarney, por exemplo, que dividiu a presidência da República com o Roberto Marinho.
Bom, você é conhecido por dizer o que pensa. Como enfrenta os 27 processos que possui?
Pagando. Na verdade, sou processado por Daniel Dantas e seus assemelhados. Pessoas que são ligadas afetivamente, financeiramente e ideologicamente a ele. E tenho vários motivos para acreditar, assim como meus dois advogados, que Daniel Dantas articulou uma ofensiva de processos contra mim para me calar pelo bolso. Isso não vai acontecer porque não tem como me calar pelo bolso, inclusive porque, graças a Deus, que me beijou na testa, eu tenho fonte de renda que me assegura a possibilidade de, com dificuldade, comendo o pão que o diabo amassou, pagar os advogados.
O que poderia dizer sobre a suposta conexão do Daniel Dantas com o PIG?
O Daniel Dantas e o PIG têm uma relação carnal. O “Sistema Dantas de Comunicação” literalmente remunera órgãos de comunicação, colunistas e instituições jornalísticas que, na verdade, são lobistas e organizações de grupos de pressão. E tudo isso fica atrás do biombo da imprensa. Existe um sistema invisível subterrâneo que me permite supor que a relação do Dantas com órgãos de imprensa e jornalistas seja uma relação muito profunda.
O Dantas inovou no Brasil, como disse o delegado Protógenes Queiroz ao longo das investigações da Satiagraha (operação da Polícia Federal Brasileira contra o desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro, resultando na prisão de banqueiros, diretores de banco e investidores, em 2008). Ele inovou porque não comprou só o dono do órgão de imprensa; ele comprou também os jornalistas. Botou dinheiro em cima e embaixo, é o que diz a Satiagraha. Ele tem uma cobertura benévola, é tratado com tapete vermelho. Dão a ele o tratamento que Fernando Henrique Cardoso lhe dá. FHC chama ele de brilhante. É assim que o PIG trata o Dantas.
O delegado Protógenes Queiroz agora é deputado federal. Arrisca uma opinião?
Uma coisa é você fazer jornalismo escrito e fazer televisão. Nesse raciocínio, uma coisa é você ser delegado de polícia e ser deputado federal. Nem todo mundo que faz jornal escrito consegue fazer televisão. Nem todo delegado consegue ser deputado federal. Então, vamos ver se ele consegue se tornar um eficiente deputado federal. Eu faço votos.
As primeiras manifestações dele são alvissareiras. Ele tem alguns projetos interessantes: reforma do código de processo penal, por exemplo. Alguns, ele já transformou em projeto de lei, como aumentar a punição para os criminosos de colarinho branco. Agora, daí a isso prosperar e progredir na tramitação da Câmara, há uma grande distância. Espero que ele reproduza o brilho e o empenho da qualidade do trabalho dele como delegado.
E qual a relação do Daniel Dantas com o PT (Partido dos Trabalhadores)?
O ministro José Eduardo Cardozo, que é do PT de São Paulo, trabalhou para Dantas. Ele advogou para o Dantas e chegou a ir à Itália a fim de defender os interesses do seu cliente junto à “turma”. Imagino que seja um pessoal de “padrões morais elevadíssimos” a turma do Sílvio Berlusconi, que o Dantas tinha lá uma divergência. No meu blog Conversa Afiada, eu falo sobre isso. (No blog, PH Amorim afirma que passou a receber informações de alguém que se identifica como “Stanley Burburinho II”, um “especialista” em “camas de gato”. Alguns documentos destacam que José Eduardo Cardozo tinha um canal direto com Humberto Braz (ex-presidente da Brasil Telecom), condenado à prisão por corrupção com Daniel Dantas na Operação Satiagraha. Mais recentemente, PH Amorim publicou texto no Conversa Afiada sobre o que considera a “tucanização” do PT. “Como diz o Mino Carta, o mensalão ainda está por provar-se. Tem cara de ‘caixa dois’ de campanha e não de mensalidade. Porém, está claro que o PT tucanizou-se, DEMOnizou-se e entrou no jogo do financiamento ilegal de campanhas. Como fez Eduardo Azeredo, em Minas, ex-presidente nacional dos tucanos. E se repetiu nos escândalos do Arruda, do DEMO, de Brasília, aquele que, segundo Alexandre Maluf Garcia, formaria com “Cerra” a chapa vitoriosa ‘vote num careca e leve dois’. O que se impõe ao PT é fazer a mea culpa. Errei, sim! E só readmitir o Delúbio depois de julgado. Delúbio e José Dirceu são o valerioduto pelo qual o dinheiro de Daniel Dantas engordou o PT. As empresas de Dantas em Minas faziam contratos milionários de publicidade no valerioduto e o dinheiro chegava ao PT. Como, no passado, chegava ao PSDB. O passador de bola apanhado no ato de passar bola contaminou todo o sistema político brasileiro. E o PT não terá autoridade moral para falar em honestidade, transparência ou reforma eleitoral enquanto não abrir as contas do Delúbio com aquele a quem chamava, na CPI dos Correios, de ‘dr. Carlinhos’. Carlinhos, como se sabe, foi cunhado de Daniel Dantas e até hoje é seu abre-alas. O Carlinhos é amigo íntimo do ex-senador Heráclito Fortes, que o povo do Piauí preferiu desempregar (...). Se o PT readmitir Delúbio na reunião do diretório nacional, em abril, aplicará a Lei da Anistia a Daniel Dantas e a seu fiel escudeiro, o dr. Carlinhos. E viva o Brasil!
Você se define um blogueiro ansioso. Como avalia o papel das novas mídias?
Eu sou um beneficiário delas. Criei uma nova natureza, um outro Paulo Henrique Amorim, fazendo o meu blog Conversa Afiada. Eu, que era um jornalista limitado no ambiente do jornalismo escrito e depois no jornalismo de televisão, com o tempo, graças a Deus, me tornei também um jornalista de internet. É uma nova natureza e um novo espaço no qual espero permanecer até me aposentar daqui a muitos e muitos anos.
Paulo Henrique, apesar de ressaltar a importância do papel das novas mídias, você destaca que sozinhas elas não fazem revolução. Poderia explicar melhor?
Temos que colocar a internet, as novas mídias e as redes sociais na devida perspectiva. Elas são muito importantes para transmitir informação, esclarecer, divulgar verdades, destampar panelas, dar espaço à indignação da crítica, para a irreverência, para o bom humor. Elas têm um papel muito grande de aglutinação. Para combinar encontros, reuniões, passeatas e assim por diante. Agora isso não faz revolução. O que faz a revolução é a articulação política.
Não podemos transformar as mídias sociais nos novos protagonistas. Isso seria muito bom para a indústria de telecomunicação. Seria muito bom para o pessoal da telefonia móvel, para os donos do Google e Facebook, todo mundo acreditar que eles agora são mágicos, que são capazes de reinventar a história. Isso é uma balela. Só faz eles ficarem mais ricos. Também não é verdade que eles sejam o novo Lawrence da Arábia, que eles chegam lá no Oriente Médio e o redesenham como fez o coronel inglês no início do século passado. Não é verdade. O que faz revolução, o que faz a mudança, é a sociedade, é a articulação, é o germe do partido político.
E o futuro da banda larga?
Brilhante, que pode ser usado para a educação, para a distribuição da informação. Agora, de novo, não é a fórmula mágica.
O jornalista Paulo Henrique Amorim é, indiscutivelmente, uma figura polêmica. Bastou ser anunciado como o palestrante do I Ciclo de Debates Nordeste VinteUm/2011, realizado em fevereiro, na capital cearense, para despertar o interesse de estudantes de comunicação, profissionais de mídia, políticos e curiosos, que disputaram espaço no auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC) para ouvi-lo falar sobre "Mídia: regulação e democracia".
O evento faz parte da estratégia do PH de disseminar, em suas andanças pelo país, ideais de liberdade de expressão e democratização da informação. Pode-se dizer que é uma autêntica cruzada nacional contra o Partido da Imprensa Golpista (PIG), expressão que ele confessa ter sido uma apropriação indébita de uma ideia do deputado Fernando Ferro (PT de Pernambuco), num desabafo contra os grandes veículos de mídia nacionais.
Formado em Sociologia e Política, este carioca, filho de nordestino, é hoje uma das principais estrelas da Rede Record de Televisão e tem no currículo passagens pelo Jornal do Brasil, Rede Manchete, Editora Abril, Rede Globo, TV Bandeirantes, TV Cultura e os sites Zaz, Terra, UOL e iG. Mas é no blog Conversa Afiada que PH Amorim combate o que órgãos da imprensa, blogs políticos e ele próprio tacham de PIG.
Segundo Paulo Henrique Amorim, fazem parte do PIG os conglomerados Globo, Folha e Estadão. “A Veja não está nesta categoria, pois é uma categoria à parte. Ela não é um órgão de comunicação, mas um detrito de maré baixa”, disse ele durante o Ciclo de Debates. Foi assim, afiado, que o jornalista concedeu entrevista exclusiva à Nordeste VinteUm, na qual comenta aspectos do governo Lula, expectativas para o governo Dilma, os 27 processos que responde por parte do banqueiro Daniel Dantas “e assemelhados”, além da urgência da chamada “Ley de Medios”, o marco regulatório, que pretende criar mecanismos para combater a concentração midiática do País.
Paulo Henrique Amorim, qual a principal influência que o PIG exerce no Brasil?
Formar a agenda (os assuntos discutidos no País), mas ele não tem mais o poder de determinar o curso dos acontecimentos. Seu poder se reduziu bastante. No entanto, ainda diz o que deve ser discutido. O que se comentava na Globo é que o Roberto Marinho costumava dizer que “o importante não é o que eu dou, o importante é o que eu não dou”. Ou seja, ao definir o que “dar”, o que noticiar e o que não noticiar, ele tomava uma atitude política. E é assim que a Globo formula a agenda do País. Não discute certos assuntos para discutir outros. Esse é um poder muito forte. Agora repito: é bom esclarecer que o PIG já foi mais forte. A capacidade de influenciar já foi bem maior. Hoje é uma capacidade decrescente.
Dê um exemplo.
Outra dia, enquanto eu navegava no Blog da Dilma, vi que o Daniel (jornalista Daniel Bezerra, criador do blog) teve uma solução muito inteligente: noticiar a festa dos 90 anos da Folha (jornal Folha de São Paulo) como o pré-velório da Folha. A Folha de São Paulo já foi muito mais importante e incisiva do que é hoje. No entanto, quando ela determina o que pode e o que não pode chegar ao conhecimento da opinião pública, ela tem o poder de abafar, ou seja, o PIG abafa, não deixa que o Brasil discuta o Brasil.
Tem um navegante no meu blog Conversa Afiada que diz sempre: “O Brasil não sai na Globo”. O Brasil não vê o que está acontecendo no Nordeste, não vê o que está acontecendo em matéria de obras de infraestrutura, o que está acontecendo com a ascensão social. O Brasil não vê que em 8 anos, durante o governo Lula, foi feito em matéria de redução da pobreza o que teoricamente teria que ser feito em 25. O Brasil fez um esforço espetacular para reduzir a pobreza e conseguirá atingir o objetivo da presidenta Dilma Rousseff, que é acabar com a miséria.
Esse debate não é um debate que se trava no PIG. Por isso que ele ainda tem esse poder discriminatório. O PIG pauta as rádios do interior, jornais do interior e outros portais. Mas com o aumento do consumo de computadores – no ano passado houve um aumento de 23% na venda de computadores no Brasil, o que é espantoso –, o poder do PIG diminui progressivamente. Contudo, não há como negar que esse poder ainda é considerável.
E como você assiste ao insistente preconceito de outras regiões contra o Nordeste?
Sou filho de um baiano e casado com uma baiana. Nasci no Rio de Janeiro, moro em São Paulo. Aqui sou testemunha do preconceito muitas vezes explícito contra o nordestino. A elite paulista é uma elite separatista, que gostaria que São Paulo se desligasse do resto do Brasil. Isso é produto do preconceito e nasce em boa parte do preconceito das próprias elites nordestinas contra os próprios nordestinos. Faz parte de uma estratégia econômica, que é tornar o nordestino a mão de obra escrava.
Isso assusta muito. Assusta inclusive essa classe média ascendente, quando ela descobre que o mecânico da oficina em que ela vai consertar o carro pode ter um carro melhor do que o dela. Aí ela fica desesperada e, se aparece um cara dizendo que isso é por causa da Dilma, e que a Dilma é a favor do aborto, essa classe vai lá e vota na Marina Silva. Agora, quanto mais instituições, como a revista Nordeste VinteUm e o Ciclo de Debates do qual tive a honra de participar, sacudirem a poeira e mostrarem a contribuição do Nordeste para o Brasil, melhor.
Eu estava conversando com minha mulher (jornalista Geórgia Pinheiro – diretora do blog Conversa Afiada) e disse: “Olha, existem três grandes brasileiros de curso internacional: Josué de Castro, Celso Furtado e Paulo Freire. Três nordestinos. O pensamento neoliberal, a direita brasileira do Sudeste e a direita paulista não produziram sequer um quadro brasileiro de trânsito internacional. Fernando Henrique Cardoso é um blefe. José Serra não escreveu um único livro. E o engraçado é que tem a fama de ser um economista competente. Nem diploma de economista ele tem. Eu costumo dizer que esses tucanos de São Paulo, se não fosse o PIG, não passariam de Resende, aquela cidade que divide o estado do Rio de Janeiro e o de São Paulo. Eles ficariam presos lá.
Durante o Ciclo de Debates Nordeste VinteUm, você afirmou que, apesar dos avanços em vários aspectos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não enfrentou o PIG. Acredita que com a presidenta Dilma Rousseff será diferente?
Eu tenho mais fé do que esperança. Os americanos têm um ditado: “O que é, é o que você vê”. Perceba: a presidenta Dilma manteve o ministro da Defesa Nelson Jobim, que no Conversa Afiada chamo de ministro Nelson “John Bim”, pois ele é um informante da embaixada americana, como mostrou o site Wikileaks. Ela tem no Ministério da Justiça um advogado do Daniel Dantas, que é o ministro José Eduardo Cardozo, conhecido pela turma do Dantas como “Zé”.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, trata a questão da “Ley de Medios” quase como se fosse uma coisa pornográfica. Ele trata com muito pudor, muito recato, muita dificuldade. E finalmente a presidenta foi à tal festa dos 90 anos da Folha. O “pré-velório”. Se quiser, ela tem várias explicações plausíveis para isso. Por exemplo: que ela é chefe de Estado. Mas como chefe de Estado ela não pode esquecer que a Folha inventou uma ficha policial falsa dela. A Folha fraudou uma ficha policial da presidenta e isso é uma questão de Estado. Então eu acho que a ida dela à festa da Folha é um mau indício, que se soma aos outros que acabei de mencionar. Pode ser o perfil do Lula. Eu espero estar redondamente enganado e que ela a certa altura diga: “Olha, eu fui à festa da Folha, vou à festa da Globo, pois defendo a liberdade de expressão, a liberdade de expressão é intocável. E agora vou fazer a regulação da mídia”. Espero que eu esteja redondamente enganado e ela redondamente certa.
E caso não ocorra o marco regulatório, o que esperar?
Se não houver marco regulatório, o PIG vai tentar derrubar a Dilma com muita eficiência. O PIG e o Jornal Nacional vão operar a sucessão da presidenta Dilma Rousseff com uma fúria indescritível. Nós ainda não vimos nada. Essa campanha sórdida e calhorda, como disse o grande cearense Ciro Gomes, ao se referir à “campanha contra o aborto” desfechada pelo José Serra durante as eleições, será ultrapassada em “calhordice”.
A Dilma vai sofrer se não houver o marco regulatório. O que também poderá ser uma consequência lamentável é que se não houver um sistema mais aberto, transparente, livre e democrático de comunicação será muito fácil manipular a classe C na sua rápida ascendência, levando-a a uma plataforma moralista e paranoica. A nossa sorte é que “quem nasceu para José Serra nunca será Carlos Lacerda (renomado jornalista e político brasileiro)”, frase boa e que não é minha, é do Brizola Neto (blogueiro).
O Serra nunca será o Lacerda. Mas sempre será possível tentar explorar o lado paranoico moralista de toda a classe média. E o Lula oportunizou a criação de uma gigantesca classe média. Se o PIG continuar tendo a importância que tem através, inclusive, da manipulação que a Globo protagoniza, é possível que essa classe média do Lula se torne “Berlusconiana” (referência a Sílvio Berlusconi – empresário e primeiro-ministro da Itália), ou seja, ela caia no conto do vigário da “calhordice”.
Paulo Henrique, você se arrepende de ter trabalhado na Rede Globo e na revista Veja?
Não. Na Veja eu trabalhei com a equipe pioneira dirigida pelo Mino Carta, que é o maior jornalista brasileiro. Foi com quem aprendi o “bê-á-bá” dessa profissão. E me orgulho muito de ter feito parte daquela equipe. Aprendi ali e procuro até hoje me guiar por algumas instruções elementares que o Mino transmitia para aquela equipe de jovens que tinham a faca entre os dentes, tentando fazer o melhor jornalismo possível do Brasil.
Eu fui trabalhar na Globo porque saí do jornalismo escrito, percebi que o jornalismo escrito era decadente, com salários cada vez menores. Eu saí da direção de redação do Jornal do Brasil, fui mandado embora, e fui trabalhar na TV Manchete, que também estava em crise. Ela comprou, através do chefe do escritório em Brasília, o Alexandre “Maluf” Garcia (jornalista Alexandre Garcia, hoje comentarista da Rede Globo), a candidatura do Paulo Maluf. Mas o Maluf perdeu e a Manchete ficou órfã, foi quando eu fui convidado para trabalhar na Globo. Fui para fazer uma coluna de economia, fiquei pouco tempo nessa função e fui então dirigir o escritório da Globo em Nova York, um dos períodos mais estimulantes da minha vida de repórter.
Qual sua avaliação sobre o efeito prático das Ações Diretas de Inconstitucionalidade por Omissão? (As ADOs são tentativas do professor Fábio Konder Comparato para que o Supremo Tribunal Federal julgue “por omissão” o Congresso Nacional por não legislar sobre três capítulos da Constituição de 1988 que tratam da Comunicação).
O efeito prático disso é nulo. Digamos que o Supremo acate a argumentação do emérito professor Comparato e diga que de fato o Congresso se omitiu. Isso talvez não provoque nem mesmo um piscar de olhos no presidente do Senado, José Sarney, por exemplo, que dividiu a presidência da República com o Roberto Marinho.
Bom, você é conhecido por dizer o que pensa. Como enfrenta os 27 processos que possui?
Pagando. Na verdade, sou processado por Daniel Dantas e seus assemelhados. Pessoas que são ligadas afetivamente, financeiramente e ideologicamente a ele. E tenho vários motivos para acreditar, assim como meus dois advogados, que Daniel Dantas articulou uma ofensiva de processos contra mim para me calar pelo bolso. Isso não vai acontecer porque não tem como me calar pelo bolso, inclusive porque, graças a Deus, que me beijou na testa, eu tenho fonte de renda que me assegura a possibilidade de, com dificuldade, comendo o pão que o diabo amassou, pagar os advogados.
O que poderia dizer sobre a suposta conexão do Daniel Dantas com o PIG?
O Daniel Dantas e o PIG têm uma relação carnal. O “Sistema Dantas de Comunicação” literalmente remunera órgãos de comunicação, colunistas e instituições jornalísticas que, na verdade, são lobistas e organizações de grupos de pressão. E tudo isso fica atrás do biombo da imprensa. Existe um sistema invisível subterrâneo que me permite supor que a relação do Dantas com órgãos de imprensa e jornalistas seja uma relação muito profunda.
O Dantas inovou no Brasil, como disse o delegado Protógenes Queiroz ao longo das investigações da Satiagraha (operação da Polícia Federal Brasileira contra o desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro, resultando na prisão de banqueiros, diretores de banco e investidores, em 2008). Ele inovou porque não comprou só o dono do órgão de imprensa; ele comprou também os jornalistas. Botou dinheiro em cima e embaixo, é o que diz a Satiagraha. Ele tem uma cobertura benévola, é tratado com tapete vermelho. Dão a ele o tratamento que Fernando Henrique Cardoso lhe dá. FHC chama ele de brilhante. É assim que o PIG trata o Dantas.
O delegado Protógenes Queiroz agora é deputado federal. Arrisca uma opinião?
Uma coisa é você fazer jornalismo escrito e fazer televisão. Nesse raciocínio, uma coisa é você ser delegado de polícia e ser deputado federal. Nem todo mundo que faz jornal escrito consegue fazer televisão. Nem todo delegado consegue ser deputado federal. Então, vamos ver se ele consegue se tornar um eficiente deputado federal. Eu faço votos.
As primeiras manifestações dele são alvissareiras. Ele tem alguns projetos interessantes: reforma do código de processo penal, por exemplo. Alguns, ele já transformou em projeto de lei, como aumentar a punição para os criminosos de colarinho branco. Agora, daí a isso prosperar e progredir na tramitação da Câmara, há uma grande distância. Espero que ele reproduza o brilho e o empenho da qualidade do trabalho dele como delegado.
E qual a relação do Daniel Dantas com o PT (Partido dos Trabalhadores)?
O ministro José Eduardo Cardozo, que é do PT de São Paulo, trabalhou para Dantas. Ele advogou para o Dantas e chegou a ir à Itália a fim de defender os interesses do seu cliente junto à “turma”. Imagino que seja um pessoal de “padrões morais elevadíssimos” a turma do Sílvio Berlusconi, que o Dantas tinha lá uma divergência. No meu blog Conversa Afiada, eu falo sobre isso. (No blog, PH Amorim afirma que passou a receber informações de alguém que se identifica como “Stanley Burburinho II”, um “especialista” em “camas de gato”. Alguns documentos destacam que José Eduardo Cardozo tinha um canal direto com Humberto Braz (ex-presidente da Brasil Telecom), condenado à prisão por corrupção com Daniel Dantas na Operação Satiagraha. Mais recentemente, PH Amorim publicou texto no Conversa Afiada sobre o que considera a “tucanização” do PT. “Como diz o Mino Carta, o mensalão ainda está por provar-se. Tem cara de ‘caixa dois’ de campanha e não de mensalidade. Porém, está claro que o PT tucanizou-se, DEMOnizou-se e entrou no jogo do financiamento ilegal de campanhas. Como fez Eduardo Azeredo, em Minas, ex-presidente nacional dos tucanos. E se repetiu nos escândalos do Arruda, do DEMO, de Brasília, aquele que, segundo Alexandre Maluf Garcia, formaria com “Cerra” a chapa vitoriosa ‘vote num careca e leve dois’. O que se impõe ao PT é fazer a mea culpa. Errei, sim! E só readmitir o Delúbio depois de julgado. Delúbio e José Dirceu são o valerioduto pelo qual o dinheiro de Daniel Dantas engordou o PT. As empresas de Dantas em Minas faziam contratos milionários de publicidade no valerioduto e o dinheiro chegava ao PT. Como, no passado, chegava ao PSDB. O passador de bola apanhado no ato de passar bola contaminou todo o sistema político brasileiro. E o PT não terá autoridade moral para falar em honestidade, transparência ou reforma eleitoral enquanto não abrir as contas do Delúbio com aquele a quem chamava, na CPI dos Correios, de ‘dr. Carlinhos’. Carlinhos, como se sabe, foi cunhado de Daniel Dantas e até hoje é seu abre-alas. O Carlinhos é amigo íntimo do ex-senador Heráclito Fortes, que o povo do Piauí preferiu desempregar (...). Se o PT readmitir Delúbio na reunião do diretório nacional, em abril, aplicará a Lei da Anistia a Daniel Dantas e a seu fiel escudeiro, o dr. Carlinhos. E viva o Brasil!
Você se define um blogueiro ansioso. Como avalia o papel das novas mídias?
Eu sou um beneficiário delas. Criei uma nova natureza, um outro Paulo Henrique Amorim, fazendo o meu blog Conversa Afiada. Eu, que era um jornalista limitado no ambiente do jornalismo escrito e depois no jornalismo de televisão, com o tempo, graças a Deus, me tornei também um jornalista de internet. É uma nova natureza e um novo espaço no qual espero permanecer até me aposentar daqui a muitos e muitos anos.
Paulo Henrique, apesar de ressaltar a importância do papel das novas mídias, você destaca que sozinhas elas não fazem revolução. Poderia explicar melhor?
Temos que colocar a internet, as novas mídias e as redes sociais na devida perspectiva. Elas são muito importantes para transmitir informação, esclarecer, divulgar verdades, destampar panelas, dar espaço à indignação da crítica, para a irreverência, para o bom humor. Elas têm um papel muito grande de aglutinação. Para combinar encontros, reuniões, passeatas e assim por diante. Agora isso não faz revolução. O que faz a revolução é a articulação política.
Não podemos transformar as mídias sociais nos novos protagonistas. Isso seria muito bom para a indústria de telecomunicação. Seria muito bom para o pessoal da telefonia móvel, para os donos do Google e Facebook, todo mundo acreditar que eles agora são mágicos, que são capazes de reinventar a história. Isso é uma balela. Só faz eles ficarem mais ricos. Também não é verdade que eles sejam o novo Lawrence da Arábia, que eles chegam lá no Oriente Médio e o redesenham como fez o coronel inglês no início do século passado. Não é verdade. O que faz revolução, o que faz a mudança, é a sociedade, é a articulação, é o germe do partido político.
E o futuro da banda larga?
Brilhante, que pode ser usado para a educação, para a distribuição da informação. Agora, de novo, não é a fórmula mágica.
Bancos dos EUA e a grana do narcotráfico
Reproduzo artigo de David Brooks, do jornal La Jornada, publicado no sítio Carta Maior:
Alguns dos principais bancos e financeiras estadunidenses, entre eles Wells Fargo, Bank of América, Citigroup, American Express e Western Union, lucraram durante anos com a lavagem de dinheiro oriundo do narcotráfico e só pagam multas mínimas, sem que nenhum executivo seja encarcerado quando as autoridades conseguem detectar o negócio ilícito.
Em múltiplos casos fiscalizados durante os últimos anos, estes bancos estadunidenses confessaram não ter cumprido as leis e regulamentos federais para controlar a lavagem de dinheiro, ao participarem das transferências de bilhões de dólares em fundos ilícitos provenientes do narcotráfico mexicano.
Esse é o caso do Wachovia Corp, antes o sexto banco do país, comprado pelo Wells Fargo em 2008 e agora o banco com mais sucursais nos Estados Unidos. O Wells Fargo admitiu perante um tribunal que o Wachovia não vigiou nem informou sobre as atividades suspeitas de lavagem de dinheiro por narcotraficantes, incluindo quantias para a compra de pelo menos quatro aviões nos Estados Unidos, que transportaram um total de 22 toneladas de cocaína. O outro banco envolvido na transferência de fundos com os quais se comprou um desses aviões – um DC-9 que em seguida foi confiscado no México com toneladas de cocaína – foi o Bank of America, reportou o Bloomberg News.
Tudo isso foi revelado num acordo judicial do banco com procuradores federais, em março de 2010. Nos documentos judiciais do caso lidos pelo La Jornada, Wachovia admitiu que não fez o suficiente para detectar fundos ilícitos sob sua administração, na casa de mais de 378,4 bilhões de dólares, em seus negócios com casas de câmbio mexicanas, entre maio de 2004 e maio de 2007.
Desse total, Wachovia processou ao menos 373,6 bilhões em transferências eletrônicas, mais 4,7 bilhões em traslados de dinheiro em espécie e outros 47 bilhões em depósitos de cheques internacionais. Nem todos esses fundos estão vinculados ao narcotráfico, mas segundo as investigações do Departamento de Justiça bilhões não foram sujeitos à fiscalização exigida pela lei, e centenas de bilhões de dólares desses fundos estavam diretamente ligados ao narcotráfico.
Wachovia, violação recorde
Pelo volume total de fundos que não estiveram sujeitos à fiscalização antilavagem de dinheiro, o caso do Wachovia se tornou a maior violação da Lei de Sigilo Bancário na história. Essa lei obriga os bancos a reportarem às autoridades toda transferência de fundos em espécie em valores acima de 10 mil dólares, assim como a informar sobre atividade suspeita de lavagem de dinheiro.
O procurador federal no caso, Jeffrey Sloman, declarou em março, ao anunciar o acordo com Wells Fargo: “A desatenção flagrante de nossas leis bancárias por Wachovia permitiu uma virtual carta branca aos cartéis internacionais de cocaína para financiar suas operações, ao lavarem ao menos 110 milhões de dólares em lucros com a droga”.
Não é que ninguém tenha notado. O próprio banco admitiu perante o Tribunal que já desde 2004 o Wachovia reconheceu o risco. Mas apesar das advertências permaneceu no negócio, segundo os documentos lidos por La Jornada.
Esse negócio era a administração e traslado de fundos de pelo menos 22 casas de câmbio no México que tinham contas no Wachovia. Um exemplo citado nos documentos é o da Casa de Câmbio Puebla S/A, cujos gerentes criaram empresas fictícias para os cartéis e, segundo o Departamento de Justiça, conseguiram lavar uns 720 milhões de dólares, por meio de bancos estadunidenses.
De fato, foi o caso da Casa de Câmbio Puebla que detonou esta investigação das autoridades federais. Desde 2005 algunas transferências de fundos do Wachovia já estavam sob investigação, em suas sucursais em Miami, a partir do México, por meio de casas de câmbio, e estes fundos eram utilizados para comprar aviões destinados ao narcotráfico, informam os documentos judiciais do caso.
Por outro lado, durante esse período o diretor da unidade antilavagem de dinheiro de Wachovia em Londres, Martin Woods, suspeitava que narcotraficantes utilizavam o banco para mover quantias. Ele informou a seus chefes, que lhe ordenaram a deixar o assunto de lado, e por isso renunciou ao seu postos reportou a Bloomberg. Woods disse a essa agência que “é a lavagem de dinheiro dos cartéis pelos bancos que financia a tragédia... Se não se vê a correlação entre a lavagem de dinheiro pelos bancos e as 22 mil pessoas assassinadas no México não se entende o que está em jogo”.
Depois de ser acusado de violar a lei, Wells Fargo, agora dono do Wachovia, comprometeu-se num tribunal federal de Miami a reformar seus sistemas de vigilância. Pagou 160 milhões de dólares em multa e, caso cumpra suas promessas feitas às autoridades federais, estas deixarão os encargos contra o banco em março de 2011.
Esta prática é comum nestes casos e se chama acordo de fiscalização diferida. Por meio dele um banco paga uma multa, coopera com a investigação e se compromete a não violar a lei, mais.
Nenhum empregado recusou a propina
Em sua reportagem a Bloomberg enumera vários outros casos em que bancos pagaram multas e mudaram suas práticas, mas não enfrentaram nenhuma consequência penal importante por suas ações. É o caso da American Express Bank International de Miami, que pagou multas em 1994 e em 2007, do Bank of America, cujas sucursais em Oklahoma City foram utilizadas para comprar aviões para narcotraficantes, bem como as contas em suas sucursais de Atlanta, Chicago e Brownsville, Texas; e também há casos documentados sob investigação sobre o uso de sucursais no México de bancos estrangeiros como o Citigroup, HSBC e Santander.
Outro caso é o do Western Union, que no começo deste ano pagou 94 milhões de dólares para encerrar uma investigação criminal e civil do procurador geral do Arizona, depois que numa operação agentes à paisana da polícia estadual, disfarçados de narcotraficantes, conseguiram subornar, em várias ocasiões, empregados da empresa para trasladar dinheiro de maneira ilícita. Em 20 escritórios diferentes do Western Union, nenhum empregado jamais recusou a propina para permitirem envios de quantias atribuídas a laranjas.
Calcula-se que quase 30 bilhões de dólares em dinheiro vivo se mova de um lado a outro da fronteira mexicana com os Estados Unidos. E uma parte desses recursos é depositada em bancos de ambos os países e em bancos internacionais, a partir dos quais os fundos podem ser trasladados por todo o sistema financeiro internacional.
* Tradução: Katarina Peixoto.
Alguns dos principais bancos e financeiras estadunidenses, entre eles Wells Fargo, Bank of América, Citigroup, American Express e Western Union, lucraram durante anos com a lavagem de dinheiro oriundo do narcotráfico e só pagam multas mínimas, sem que nenhum executivo seja encarcerado quando as autoridades conseguem detectar o negócio ilícito.
Em múltiplos casos fiscalizados durante os últimos anos, estes bancos estadunidenses confessaram não ter cumprido as leis e regulamentos federais para controlar a lavagem de dinheiro, ao participarem das transferências de bilhões de dólares em fundos ilícitos provenientes do narcotráfico mexicano.
Esse é o caso do Wachovia Corp, antes o sexto banco do país, comprado pelo Wells Fargo em 2008 e agora o banco com mais sucursais nos Estados Unidos. O Wells Fargo admitiu perante um tribunal que o Wachovia não vigiou nem informou sobre as atividades suspeitas de lavagem de dinheiro por narcotraficantes, incluindo quantias para a compra de pelo menos quatro aviões nos Estados Unidos, que transportaram um total de 22 toneladas de cocaína. O outro banco envolvido na transferência de fundos com os quais se comprou um desses aviões – um DC-9 que em seguida foi confiscado no México com toneladas de cocaína – foi o Bank of America, reportou o Bloomberg News.
Tudo isso foi revelado num acordo judicial do banco com procuradores federais, em março de 2010. Nos documentos judiciais do caso lidos pelo La Jornada, Wachovia admitiu que não fez o suficiente para detectar fundos ilícitos sob sua administração, na casa de mais de 378,4 bilhões de dólares, em seus negócios com casas de câmbio mexicanas, entre maio de 2004 e maio de 2007.
Desse total, Wachovia processou ao menos 373,6 bilhões em transferências eletrônicas, mais 4,7 bilhões em traslados de dinheiro em espécie e outros 47 bilhões em depósitos de cheques internacionais. Nem todos esses fundos estão vinculados ao narcotráfico, mas segundo as investigações do Departamento de Justiça bilhões não foram sujeitos à fiscalização exigida pela lei, e centenas de bilhões de dólares desses fundos estavam diretamente ligados ao narcotráfico.
Wachovia, violação recorde
Pelo volume total de fundos que não estiveram sujeitos à fiscalização antilavagem de dinheiro, o caso do Wachovia se tornou a maior violação da Lei de Sigilo Bancário na história. Essa lei obriga os bancos a reportarem às autoridades toda transferência de fundos em espécie em valores acima de 10 mil dólares, assim como a informar sobre atividade suspeita de lavagem de dinheiro.
O procurador federal no caso, Jeffrey Sloman, declarou em março, ao anunciar o acordo com Wells Fargo: “A desatenção flagrante de nossas leis bancárias por Wachovia permitiu uma virtual carta branca aos cartéis internacionais de cocaína para financiar suas operações, ao lavarem ao menos 110 milhões de dólares em lucros com a droga”.
Não é que ninguém tenha notado. O próprio banco admitiu perante o Tribunal que já desde 2004 o Wachovia reconheceu o risco. Mas apesar das advertências permaneceu no negócio, segundo os documentos lidos por La Jornada.
Esse negócio era a administração e traslado de fundos de pelo menos 22 casas de câmbio no México que tinham contas no Wachovia. Um exemplo citado nos documentos é o da Casa de Câmbio Puebla S/A, cujos gerentes criaram empresas fictícias para os cartéis e, segundo o Departamento de Justiça, conseguiram lavar uns 720 milhões de dólares, por meio de bancos estadunidenses.
De fato, foi o caso da Casa de Câmbio Puebla que detonou esta investigação das autoridades federais. Desde 2005 algunas transferências de fundos do Wachovia já estavam sob investigação, em suas sucursais em Miami, a partir do México, por meio de casas de câmbio, e estes fundos eram utilizados para comprar aviões destinados ao narcotráfico, informam os documentos judiciais do caso.
Por outro lado, durante esse período o diretor da unidade antilavagem de dinheiro de Wachovia em Londres, Martin Woods, suspeitava que narcotraficantes utilizavam o banco para mover quantias. Ele informou a seus chefes, que lhe ordenaram a deixar o assunto de lado, e por isso renunciou ao seu postos reportou a Bloomberg. Woods disse a essa agência que “é a lavagem de dinheiro dos cartéis pelos bancos que financia a tragédia... Se não se vê a correlação entre a lavagem de dinheiro pelos bancos e as 22 mil pessoas assassinadas no México não se entende o que está em jogo”.
Depois de ser acusado de violar a lei, Wells Fargo, agora dono do Wachovia, comprometeu-se num tribunal federal de Miami a reformar seus sistemas de vigilância. Pagou 160 milhões de dólares em multa e, caso cumpra suas promessas feitas às autoridades federais, estas deixarão os encargos contra o banco em março de 2011.
Esta prática é comum nestes casos e se chama acordo de fiscalização diferida. Por meio dele um banco paga uma multa, coopera com a investigação e se compromete a não violar a lei, mais.
Nenhum empregado recusou a propina
Em sua reportagem a Bloomberg enumera vários outros casos em que bancos pagaram multas e mudaram suas práticas, mas não enfrentaram nenhuma consequência penal importante por suas ações. É o caso da American Express Bank International de Miami, que pagou multas em 1994 e em 2007, do Bank of America, cujas sucursais em Oklahoma City foram utilizadas para comprar aviões para narcotraficantes, bem como as contas em suas sucursais de Atlanta, Chicago e Brownsville, Texas; e também há casos documentados sob investigação sobre o uso de sucursais no México de bancos estrangeiros como o Citigroup, HSBC e Santander.
Outro caso é o do Western Union, que no começo deste ano pagou 94 milhões de dólares para encerrar uma investigação criminal e civil do procurador geral do Arizona, depois que numa operação agentes à paisana da polícia estadual, disfarçados de narcotraficantes, conseguiram subornar, em várias ocasiões, empregados da empresa para trasladar dinheiro de maneira ilícita. Em 20 escritórios diferentes do Western Union, nenhum empregado jamais recusou a propina para permitirem envios de quantias atribuídas a laranjas.
Calcula-se que quase 30 bilhões de dólares em dinheiro vivo se mova de um lado a outro da fronteira mexicana com os Estados Unidos. E uma parte desses recursos é depositada em bancos de ambos os países e em bancos internacionais, a partir dos quais os fundos podem ser trasladados por todo o sistema financeiro internacional.
* Tradução: Katarina Peixoto.
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