sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O agronegócio e a indústria cultural

Por Michele Carvalho, no jornal Brasil de Fato:

O ano de 2019 mal começou e a questão fundiária no Brasil já foi alvo de duros ataques do novo presidente Jair Bolsonaro. Poucas horas depois de ser empossado, o capitão reformado passou para o Ministério da Agricultura a responsabilidade pela demarcação de terras indígenas e quilombolas.

Em outra decisão, Bolsonaro extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). O órgão era formado por 60 pessoas, entre representantes da sociedade civil e do governo, e tinha como objetivo, entre outras tarefas, defender uma alimentação saudável e sem agrotóxico.

O ano novo no jornal O Globo

Por Juliana Gagliardi e João Feres Júnior, no site Manchetômetro:

No primeiro dia do ano, o jornal O Globo adotou já na capa um discurso político ao cobrir, como de costume, a festa da virada em Copacabana. Uma foto enorme do espetáculo de fogos de artifício toma metade do espaço da capa, em cima dela temos a manchete “virada da renovação” seguida do subtítulo “torcida por mudanças no Rio e no Brasil une 2,5 milhões de pessoas em Copacabana” [1]. O jornal foi bem além da descrição dos óbvios desejos de boas festas que as pessoas normalmente trocam nessa data, ao ligar a ideia de renovação aos novos governos eleitos de Jair Bolsonaro e de Wilson Witzel e apresentar o público que compareceu à festa como unidos em torno dessas expectativas. 

O novo chanceler e o escravocrata

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Ao incluir José de Alencar na lista de autores que os brasileiros deveriam ler em seu esforço "para não ter medo" de defenderem seu país, o ministro de Relações Internacionais Ernesto Araújo deu o conselho errado, para a plateia errada, com o personagem errado.

Além de romancista consagrado, José de Alencar (1829-1877) foi um dos mais duros e irredutíveis aliados da escravidão brasileira. Como deputado e como ministro da Justiça, cargo que ocupou por dois anos, travou uma luta, permanente contra a Abolição - o que torna sua indicação, num discurso de posse ministerial, um elemento vergonhoso para um país onde os afrodescendentes formam mais da metade da população, que construiu uma tradição de décadas de boas relações diplomáticas com as nações africanas.

Ódio ao PT segue movendo os bolsonaristas

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

"O medo nos governa. Essa é uma das ferramentas de que se valem os poderosos, a outra é a ignorância" (Eduardo Galeano).

A campanha acabou, o novo governo já tomou posse, a oposição sumiu, mas o ódio ao PT continua do mesmo tamanho.

Entre fanáticos bolsonaristas e novos aliados de ocasião, é isso que move as redes sociais e inspira discursos dos novos donos do poder.

Ninguém fala dos outros 500 partidos que estão querendo cavar uma boquinha no novo governo.

Bolsonaro sinaliza guerra permanente

Charge: Rico Cartum
Por Jeferson Miola, em seu blog:         

Nos discursos de posse no Congresso e no Parlatório do Palácio do Planalto, Bolsonaro optou por uma retórica de guerra.

É improvável que tenha sido uma escolha acidental ou tresloucada. A probabilidade maior, ao invés disso, é de que por trás dessa escolha tem cálculo político e projeção estratégica.

Teoricamente, Bolsonaro mais perderia do que ganharia com esta pregação odiosa e agressiva logo no primeiro ato como presidente empossado. Em regra, todo governo que assume o poder naturalmente conta com a trégua e a relativa parcimônia inicial da imprensa, da sociedade e até mesmo da oposição.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Chico Pinheiro e as tensões na Globo

Por Altamiro Borges

A esquizofrenia diante do governo Jair Bolsonaro – dá total apoio ao seu projeto econômico ultraliberal, mas discorda do seu conservadorismo nos costumes e teme seu autoritarismo na política – tem produzido cenas curiosas na poderosa Rede Globo. Na semana passada, o jornalista Alexandre Garcia pediu abruptamente as contas após mais de 30 anos na emissora. Direitista convicto desde a época em que foi capacho do general João Baptista Figueiredo, o último governante da ditadura militar, até se cogitou que o bajulador dos milicos seria o porta-voz do capitão-presidente – o que ele retrucou nas redes sociais. Agora, outra mexida interna atiça as tensões no império midiático, conforme informa Ricardo Feltrin, colunista no site UOL:

O marido “valentão” de Ana Hickmann

Por Altamiro Borges

Após explicitar sua postura misógina e incitar o ódio nas redes sociais, o medíocre Alexandre Correa, marido de Ana Hickmann – modelo e apresentadora da TV Record – recuou da sua valentia nesta quarta-feira (2). Um dia antes, ele aproveitou a posse de Jair Bolsonaro para compartilhar um “recado” à presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffman, e à deputada federal Maria do Rosário. Na provocação fascista, o valentão – talvez para bajular o bispo e patrão Edir Macedo – rosna: “Avisem a Gleisi e a Maria do Rosário que se sobrevoarem Brasília de vassoura serão abatidas”. A postagem gerou imediata repulsa dos internautas e o sujeito rapidamente retornou para o armário – ou esgoto.

General Mourão, o vice falante

Por Maurício Dias, na revista CartaCapital:

Como poderá ser a relação, ao longo de quatro anos, entre Jair Bolsonaro, presidente, e Hamilton Mourão, vice, após se aconchegarem às cadeiras do poder presidencial? Muito provavelmente tudo será como o ocorrido antes. A obviedade quase sempre guia os interesses políticos. No entanto, há casos de vice-presidentes que calam e de outros que falam.

Posse de Bolsonaro foi um show de horrores

Por Renato Rovai, em seu blog:

A posse de um presidente vale não pelos rococós que dispensam quase 90% do seu tempo, mas pelo momento em que o eleito sobe no parlatório para falar ao público presente na Esplanada. É ali que se dá o recado de qual será o tom do início do governo. É neste discurso que se estabelecem os marcos do marketing que chega.

E a grande novidade é que Michele Bolsonaro não será uma primeira-dama decorativa. Ela falou antes do novo presidente usando a linguagem de libras. Foi tudo meio patético, mas ao mesmo tempo um golaço de marketing. Ao fazer isso ela estabelece uma relação direta com o público deficiente físico, em especial os surdos. São 25% dos brasileiros com alguma deficiência. E 5,4% de surdos. Não é pouca coisa.

Bolsonaro: uma ditadura contra o trabalho

Charge: Ramses Morales Izquierdo/Cuba
Por Osvaldo Bertolino, no site Vermelho:

O debate econômico que se estabeleceu no país com a restauração da receita neoliberal adotada pelo governo golpista do presidente Michel Temer e reforçada pelo programa econômico de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, reflete uma questão de fundo: a regulamentação da relação da relação capital-trabalho. Mesmo interditado pelo monopólio midiático, esse debate será, possivelmente, uma das discussões que mais mobilizarão as energias do país nos próximos anos.

A resistível ascensão de Jair e Hamilton

Por Osvaldo Coggiola, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Os mecanismos políticos que permitiram a chegada da extrema direita ao governo do Brasil foram deflagrados em 2015, no primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff, em reuniões de parlamentares opositores e situacionistas, além de juristas e economistas de todas as cores políticas e ideológicas, organizadas por um deputado federal piauiense do PSB, Heráclito Fortes. A iniciativa, como se sabe, culminou na apresentação da moção de destituição da presidenta. No mesmo ano, Jair Bolsonaro, que votou no impeachment em nome e em memória do principal torturador da ditadura militar, anunciou sua intenção de concorrer ao Planalto em 2018. 

De que cor será a camisa de força de Damares?

Por Carlos Fernandes, no blog Diário do Centro do Mundo:

Por princípios, jamais duvido da palavra de uma mulher que tem a coragem de denunciar uma violência sexual contra ela própria ou contra qualquer outra.

Não são poucas as que por medo, vergonha, dependência ou quantos outros motivos existam se calam e deixam de buscar ajuda para algo tão terrível e, infelizmente, tão comum nesses tempos incomuns.

Por isso mesmo, a civilidade, a decência, a solidariedade e a justiça impõem uma regra muito clara para os casos em que essas barreiras são heroicamente quebradas: até prova em contrário, uma mulher que denuncia a violência que sofreu, é sim, uma vítima.

Bolsonaro e a hora de desagradar

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Não se sabe se já será anunciada hoje, na primeira reunião da trupe ministerial, a proposta de reforma previdenciária.

O Globo, porém, antecipa o que seriam as medidas propostas e, na essência, uma versão ampliada do projeto de Michel Temer que a gravação de Joesley Batista congelou.

As coisas são ainda muito vagas para que se possa analisar, mas é evidente que algumas coisas estão sendo postas apenas para que possam ser retiradas, como a proporcionalidade do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago aos 65 anos a idosos e deficientes da baixa renda para 50% ou 60% do salário mínimo, o que não passa nem neste Congresso.

2019: um voo cego rumo ao incerto?

Charge: William Medeiros
Por Leonardo Boff, em seu blog:

Os últimos anos foram muito atormentados em nosso país. Aconteceu um discutível impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, acusações sérias de corrupção a seu sucessor, o Presidente Temer, a obra devastadora do Lava-Jato com aplicação rigorosa da lawfare e a prisão de Lula, o maior líder popular, por um julgamento claramente sem parcialidade e desprovido de provas materiais, criticado pelos mais conceituados juristas nacionais e estrangeiros.

Começa a era dos Milicos do Senhor

Charge: Marian Kamensky/Áustria
Do blog Socialista Morena:

Em um inédito discurso em Libras, a primeira-dama Michelle Bolsonaro deu o tom exato do que serão os próximos quatro anos de governo: uma mistura de religião com militarismo. Emblematicamente, ao terminar sua curta fala em que a palavra “Deus” foi citada quatro vezes, a evangélica Michelle fez um gesto de continência, seguindo o exemplo do marido, o capitão Jair, no Rolls Royce oficial, que por sua vez citou “Deus” nove vezes em seus dois discursos. O casal perfeito.

Quando a paranoia toma posse

Salário mínimo: a primeira vítima

Por Altamiro Borges

Em um gesto com forte simbolismo, o primeiro ato do novo governo foi reduzir o reajuste do salário de milhões de trabalhadores, aposentados e pensionistas do Brasil. Segundo informa o site da revista Exame, uma referência da cloaca empresarial que apoiou a candidatura do fascista, “o presidente Jair Bolsonaro assinou nesta terça-feira (2), horas depois da sua posse, decreto onde fixou o salário mínimo em R$ 998 para o ano de 2019, representando um aumento de 4,61% em relação ao ano passado... O valor é inferior aos R$ 1.006 calculados pelo antigo governo. A informação foi publicada no Diário Oficial em edição extra”.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Discurso de Bolsonaro é puro diversionismo

Por Altamiro Borges

Como já registrou Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo, “a posse de Bolsonaro foi um fiasco”. Ela ficou abaixo da expectativa de público projetada pelos bolsonaristas e alardeada pela mídia chapa-branca. “A equipe do presidente anunciou que colocaria na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios mais de 250 mil pessoas – havia assessores falando em 500 mil. A ideia era quebrar o recorde de público na posse de Lula, em 2003 – 250 mil. Mas na festa de Bolsonaro, segundo cálculo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), compareceram 115 mil”. Ela também foi um fracasso na presença de líderes estrangeiros – a mais baixa desde a posse de Collor de Mello, em 1990. O que não faltou na cerimônia de posse desta terça-feira (1) foi a retórica agressiva, arrogante, tosca e mentirosa do fascista, que ainda não desceu do palanque e segue pregando o ódio e a intolerância.

O palanque eterno de Bolsonaro

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Todos os presidentes do Brasil Democrático, ao tomarem posse - começando por Tancredo Neves, cujo de discurso foi lido por José Sarney, pois fora operado na véspera - fizeram referências à pobreza, à desigualdade e à busca de justiça social.

Estas expressões não apareceram nas duas falas de Jair Bolsonaro ao ser empossado ontem.

Ele falou como quem segue no palanque, fustigando adversários e prometendo combate, apesar de uma promessa paradoxalmente perdida no conjunto: a de “construir uma sociedade sem discriminação ou divisão”.

O espetáculo da fascistização

Por Marcelo Zero

Brasília está sitiada para a posse do presidente que defende a tortura e a ditadura.

Há um enorme aparato militar ostensivo distribuído em pontos estratégicos e de grande visibilidade.

A Esplanada e a Praça dos Três Poderes, o coração da cidade, estão cercadas por tropas numerosas.

A toda hora, helicópteros militares sobrevoam a cidade de Niemeyer e Lúcio Costa.

Parece que estamos em guerra ou que há uma quartelada em andamento.

Alega-se que tudo isso seria necessário em nome da segurança do evento.