sábado, 5 de janeiro de 2019

A experiência do “governo paralelo”

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Em 1990, após a vitória de Fernando Collor na eleição de 1989, o PT decidiu montar um “governo paralelo” em contraponto ao oficial. Foram escolhidos “ministros” e tudo, com o objetivo de mostrar à população as diferenças entre os dois projetos de país e as medidas que seriam tomadas por Lula na comparação com o que estava sendo feito pela direita. É hora de os partidos de esquerda, capitaneados pelo PT, PSOL e PCdoB, reeditarem esta experiência.

Sobre política, distração e destruição

Por Silvio Almeida, no site Jornalistas Livres:

O atual governo tem três núcleos:

1. O ideológico-diversionista. Serve apenas para manter a moral da “tropa” em alta, dando representatividade e acomodação psicológica a quem realmente acredita que o Brasil é socialista, que existe ideologia de gênero ou que a terra é plana. Serve também para causar indignação e tristeza nos “progressistas” e, assim, desviar a atenção das questões centrais manejadas pelos núcleos 2 e, especialmente, pelo 3. Pode também ser utilizado para criar bodes expiatórios: se algo der errado em qualquer setor dir-se-á que foi porque não houve “pulso” para combater a ameaça vermelha, os defensores dos direitos humanos ou os apologistas da ideologia de gênero. Basta trocar por outro mais moderado ou ainda mais alucinado, a depender das circunstâncias. Por mais que haja oportunismo, é importante que os recrutas desse núcleo acreditem nas coisas que dizem. É o exército de Brancaleone, mas causará muitos estragos.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Até o Estadão critica bravatas de Bolsonaro

Por Altamiro Borges

Os dois discursos de posse de Jair Bolsonaro – o mais “protocolar”, lido no Congresso Nacional, e o mais “agressivo”, rosnado no Parlatório diante dos seus fanáticos seguidores – continuam gerando celeuma. Se o objetivo das bravatas, típicas de seus tuites, era o de promover o diversionismo e evitar temas mais sensíveis – como o desemprego ou a contrarreforma da Previdência –, o fascistoide obteve sucesso. Até o decadente e oligárquico Estadão, o imprenso que dá o maior apoio ao novo governo entre os principais jornais do país, publicou um editorial duro contra os discursos, o que é bem emblemático. Vale conferir alguns trechos:

Os primeiros dias do governo militar

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Passo 1 - juntando as peças do jogo

Vamos juntar algumas peças dos discursos de posse e das declarações do novo governo Jair Bolsonaro.

* Sua promessa de extirpar o socialismo e o marxismo do país.

* A proposta de unificar a Nação.

* A proposta do Ministro das Relações Exteriores de abrir a estrutura do Itamarati a não diplomatas.

* A proposta do Ministro da Educação de transformar as escolas municipais em escolas militares.

Trump ameaça política externa de Bolsonaro

Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:

A possibilidade de um processo de impeachment, cada vez mais perto da Casa Branca, coloca em xeque a principal aposta do governo Jair Bolsonaro em sua política externa. Mais do que as investigações contra Donald Trump – conduzidas pelo procurador especial Robert Mueller, que apura supostas interferências da Rússia nas eleições de 2016 –, pesam contra o republicano pesadas desconfianças dentro de seu próprio partido.

As fontes do veneno

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Os discursos e iniciativas do ministro da Economia, Paulo Guedes, recebem maior atenção do mercado, é claro, mas também da mídia.

Guedes, entretanto, estaria dizendo as mesmas coisas se fosse ministro de outro presidente alinhado ao liberalismo econômico.

O que nos exige maior vigilância são as palavras e atos dos ministros que integram o núcleo duro ideológico de extrema-direita.

Bolsonaro não descerá do palanque

Por Marcelo Zero

É tocante ver a expectativa ansiosa com que a imprensa e certos setores políticos esperam algum gesto republicano, de conciliação, de comprometimento democrático, ou mesmo de mínima civilização por parte de Bolsonaro et caterva.

Mesmo após serem tratados como porcos em chiqueiro, há veículos e profissionais que dizem torcer pelo “êxito” do governo neofascista, que candidamente preveem que Bolsonaro deverá “governar para todos”, que ele fará concessões “em nome da governabilidade”, que ele terá de “conviver com as instituições democráticas”, que as “perspectivas para a economia são boas”, que isso tende a “distender o ambiente político”, que o “mercado está otimista” etc.

O agronegócio e a indústria cultural

Por Michele Carvalho, no jornal Brasil de Fato:

O ano de 2019 mal começou e a questão fundiária no Brasil já foi alvo de duros ataques do novo presidente Jair Bolsonaro. Poucas horas depois de ser empossado, o capitão reformado passou para o Ministério da Agricultura a responsabilidade pela demarcação de terras indígenas e quilombolas.

Em outra decisão, Bolsonaro extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). O órgão era formado por 60 pessoas, entre representantes da sociedade civil e do governo, e tinha como objetivo, entre outras tarefas, defender uma alimentação saudável e sem agrotóxico.

O ano novo no jornal O Globo

Por Juliana Gagliardi e João Feres Júnior, no site Manchetômetro:

No primeiro dia do ano, o jornal O Globo adotou já na capa um discurso político ao cobrir, como de costume, a festa da virada em Copacabana. Uma foto enorme do espetáculo de fogos de artifício toma metade do espaço da capa, em cima dela temos a manchete “virada da renovação” seguida do subtítulo “torcida por mudanças no Rio e no Brasil une 2,5 milhões de pessoas em Copacabana” [1]. O jornal foi bem além da descrição dos óbvios desejos de boas festas que as pessoas normalmente trocam nessa data, ao ligar a ideia de renovação aos novos governos eleitos de Jair Bolsonaro e de Wilson Witzel e apresentar o público que compareceu à festa como unidos em torno dessas expectativas. 

O novo chanceler e o escravocrata

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Ao incluir José de Alencar na lista de autores que os brasileiros deveriam ler em seu esforço "para não ter medo" de defenderem seu país, o ministro de Relações Internacionais Ernesto Araújo deu o conselho errado, para a plateia errada, com o personagem errado.

Além de romancista consagrado, José de Alencar (1829-1877) foi um dos mais duros e irredutíveis aliados da escravidão brasileira. Como deputado e como ministro da Justiça, cargo que ocupou por dois anos, travou uma luta, permanente contra a Abolição - o que torna sua indicação, num discurso de posse ministerial, um elemento vergonhoso para um país onde os afrodescendentes formam mais da metade da população, que construiu uma tradição de décadas de boas relações diplomáticas com as nações africanas.

Ódio ao PT segue movendo os bolsonaristas

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

"O medo nos governa. Essa é uma das ferramentas de que se valem os poderosos, a outra é a ignorância" (Eduardo Galeano).

A campanha acabou, o novo governo já tomou posse, a oposição sumiu, mas o ódio ao PT continua do mesmo tamanho.

Entre fanáticos bolsonaristas e novos aliados de ocasião, é isso que move as redes sociais e inspira discursos dos novos donos do poder.

Ninguém fala dos outros 500 partidos que estão querendo cavar uma boquinha no novo governo.

Bolsonaro sinaliza guerra permanente

Charge: Rico Cartum
Por Jeferson Miola, em seu blog:         

Nos discursos de posse no Congresso e no Parlatório do Palácio do Planalto, Bolsonaro optou por uma retórica de guerra.

É improvável que tenha sido uma escolha acidental ou tresloucada. A probabilidade maior, ao invés disso, é de que por trás dessa escolha tem cálculo político e projeção estratégica.

Teoricamente, Bolsonaro mais perderia do que ganharia com esta pregação odiosa e agressiva logo no primeiro ato como presidente empossado. Em regra, todo governo que assume o poder naturalmente conta com a trégua e a relativa parcimônia inicial da imprensa, da sociedade e até mesmo da oposição.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Chico Pinheiro e as tensões na Globo

Por Altamiro Borges

A esquizofrenia diante do governo Jair Bolsonaro – dá total apoio ao seu projeto econômico ultraliberal, mas discorda do seu conservadorismo nos costumes e teme seu autoritarismo na política – tem produzido cenas curiosas na poderosa Rede Globo. Na semana passada, o jornalista Alexandre Garcia pediu abruptamente as contas após mais de 30 anos na emissora. Direitista convicto desde a época em que foi capacho do general João Baptista Figueiredo, o último governante da ditadura militar, até se cogitou que o bajulador dos milicos seria o porta-voz do capitão-presidente – o que ele retrucou nas redes sociais. Agora, outra mexida interna atiça as tensões no império midiático, conforme informa Ricardo Feltrin, colunista no site UOL:

O marido “valentão” de Ana Hickmann

Por Altamiro Borges

Após explicitar sua postura misógina e incitar o ódio nas redes sociais, o medíocre Alexandre Correa, marido de Ana Hickmann – modelo e apresentadora da TV Record – recuou da sua valentia nesta quarta-feira (2). Um dia antes, ele aproveitou a posse de Jair Bolsonaro para compartilhar um “recado” à presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffman, e à deputada federal Maria do Rosário. Na provocação fascista, o valentão – talvez para bajular o bispo e patrão Edir Macedo – rosna: “Avisem a Gleisi e a Maria do Rosário que se sobrevoarem Brasília de vassoura serão abatidas”. A postagem gerou imediata repulsa dos internautas e o sujeito rapidamente retornou para o armário – ou esgoto.

General Mourão, o vice falante

Por Maurício Dias, na revista CartaCapital:

Como poderá ser a relação, ao longo de quatro anos, entre Jair Bolsonaro, presidente, e Hamilton Mourão, vice, após se aconchegarem às cadeiras do poder presidencial? Muito provavelmente tudo será como o ocorrido antes. A obviedade quase sempre guia os interesses políticos. No entanto, há casos de vice-presidentes que calam e de outros que falam.

Posse de Bolsonaro foi um show de horrores

Por Renato Rovai, em seu blog:

A posse de um presidente vale não pelos rococós que dispensam quase 90% do seu tempo, mas pelo momento em que o eleito sobe no parlatório para falar ao público presente na Esplanada. É ali que se dá o recado de qual será o tom do início do governo. É neste discurso que se estabelecem os marcos do marketing que chega.

E a grande novidade é que Michele Bolsonaro não será uma primeira-dama decorativa. Ela falou antes do novo presidente usando a linguagem de libras. Foi tudo meio patético, mas ao mesmo tempo um golaço de marketing. Ao fazer isso ela estabelece uma relação direta com o público deficiente físico, em especial os surdos. São 25% dos brasileiros com alguma deficiência. E 5,4% de surdos. Não é pouca coisa.

Bolsonaro: uma ditadura contra o trabalho

Charge: Ramses Morales Izquierdo/Cuba
Por Osvaldo Bertolino, no site Vermelho:

O debate econômico que se estabeleceu no país com a restauração da receita neoliberal adotada pelo governo golpista do presidente Michel Temer e reforçada pelo programa econômico de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, reflete uma questão de fundo: a regulamentação da relação da relação capital-trabalho. Mesmo interditado pelo monopólio midiático, esse debate será, possivelmente, uma das discussões que mais mobilizarão as energias do país nos próximos anos.

A resistível ascensão de Jair e Hamilton

Por Osvaldo Coggiola, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Os mecanismos políticos que permitiram a chegada da extrema direita ao governo do Brasil foram deflagrados em 2015, no primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff, em reuniões de parlamentares opositores e situacionistas, além de juristas e economistas de todas as cores políticas e ideológicas, organizadas por um deputado federal piauiense do PSB, Heráclito Fortes. A iniciativa, como se sabe, culminou na apresentação da moção de destituição da presidenta. No mesmo ano, Jair Bolsonaro, que votou no impeachment em nome e em memória do principal torturador da ditadura militar, anunciou sua intenção de concorrer ao Planalto em 2018. 

De que cor será a camisa de força de Damares?

Por Carlos Fernandes, no blog Diário do Centro do Mundo:

Por princípios, jamais duvido da palavra de uma mulher que tem a coragem de denunciar uma violência sexual contra ela própria ou contra qualquer outra.

Não são poucas as que por medo, vergonha, dependência ou quantos outros motivos existam se calam e deixam de buscar ajuda para algo tão terrível e, infelizmente, tão comum nesses tempos incomuns.

Por isso mesmo, a civilidade, a decência, a solidariedade e a justiça impõem uma regra muito clara para os casos em que essas barreiras são heroicamente quebradas: até prova em contrário, uma mulher que denuncia a violência que sofreu, é sim, uma vítima.

Bolsonaro e a hora de desagradar

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Não se sabe se já será anunciada hoje, na primeira reunião da trupe ministerial, a proposta de reforma previdenciária.

O Globo, porém, antecipa o que seriam as medidas propostas e, na essência, uma versão ampliada do projeto de Michel Temer que a gravação de Joesley Batista congelou.

As coisas são ainda muito vagas para que se possa analisar, mas é evidente que algumas coisas estão sendo postas apenas para que possam ser retiradas, como a proporcionalidade do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago aos 65 anos a idosos e deficientes da baixa renda para 50% ou 60% do salário mínimo, o que não passa nem neste Congresso.