Por Roberto Amaral
“Por que o Brasil ainda não deu certo?” perguntava-se Darcy Ribeiro, político, antropólogo, ensaísta, conferencista e romancista, homem de grandes paixões, certamente o mais inquieto dos pensadores brasileiros do século passado, e, sem dúvida alguma, um dos mais profícuos e desassombrados intelectuais-militantes que já tivemos. No seu estimulante O povo brasileiro, que começou a escrever no exílio do Uruguai, aquela pergunta, a cuja busca de resposta dedica sua obra madura, é formulada noutros termos, mais avançados, quando se indaga: “Por que, mais uma vez, a classe dominante nos vencia?” (referia-se à vitória do golpe de 1964). Mas então, como se vê, a própria pergunta já trazia consigo a resposta, na indicação de nossa tragédia histórica como resultado do controle do poder por uma gente medíocre, perversa, anti-nacional, alienada e forânea. Gente muito bem representada, aliás, pelos comensais do regabofe na mansão do especulador Naji Nahas, responsável pela quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, com o qual a casa-grande com seus procuradores (empresários, jornalistas, políticos, advogados) comemorou o acordo inter-elite que, a pretexto de afastar as ameaças de golpe iminente, anunciado no dia 7 de setembro, assegurou ao capitão Bolsonaro a inviabilização do impeachment e a impunidade de seus filhos. Fora o que não se conhece. Como sempre, os acordos se amarram no andar de cima da hierarquia mandante para observação de todo o povo; desta vez o pacto foi traficado com militares, parlamentares e ministros do STF, tendo como costureiro e escrivão o inefável ex-presidente Michel Temer, advogado com vasta experiência nas Docas de Santos.