Foto: Ricardo Stuckert |
Toda a História – a história do homem dominando a natureza – é a história da violência, segundo a narrativa dos vencedores. No Brasil, a história da força ocupante, comandada pela aliança da cruz com o bacamarte a serviço da escravidão e da acumulação do senhor de engenho de não seria diferente, nem distintas suas consequências. De princípio, projeto de pura exploração extrativista, alimentada pela escravidão de negros africanos e o genocídio dos povos originários, o domínio colonial impede a emergência de uma nação, como registra Auguste Saint-Hilaire, viajante francês que aqui esteve entre 1816 e 1822: “[...] A situação funcional dessa população pode ser resumida em uma palavra: o Brasil não tem povo”. O povo, dirá Capistrano de Abreu, escrevendo cerca de cem anos passados, “foi capado e recapado, sangrado e ressangrado”. Sua obra é do início do século passado, e seria relida por Darcy Ribeiro: “Não há, nunca houve, aqui, um povo livre, regendo seu destino na busca da própria prosperidade. [...] Nós, brasileiros, somos um povo sem ser, impedido de sê-lo”.