Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
O Copom (órgão que define as taxas de juros no Brasil – ou seja, define a quantidade de sangue que o coração financeiro pode bombear para as artérias da economia real)- decidiu, pela segunda vez no governo Dilma, elevar os juros.
Anteontem, na Bahia, Dilma aumentou o Bolsa-Família bem acima da inflação.
Os dois movimentos são aparentemente contraditórios. Essa “contradição” (fora do manual clássico dos liberais que dominaram o governo FHC, e ainda dominam os velhos jornais brasileiros) foi a base do sucesso de Lula.
Façamos uma parada rápida. E vejamos o texto curto que o site “Carta Maior” destaca em sua capa:
“Dilma corrige os valores do Bolsa Família e dá reajuste real ao benefício recebido por 12,9 milhões de famílias. O menor valor da transferencia de renda passa de R$ 22 para R$ 32; o maior, de R$ 200 para R$ 242. Famílias com filhos foram contempladas com as maiores taxas de aumento real. A reunião do Copom desta 4º feira servirá um ‘lexotan’ aos mercados. Se subir 0,5% a taxa de juro básica, a Selic, oferecerá aos rentistas um ‘tranquilizante’ da ordem de R$ 7,5 bilhões/ano; quase quatro vezes o gasto previsto com o reajuste do Bolsa Família que vai beneficiar 50 milhões de brasileiros pobres. Aguardemos a avaliação da mídia para cada um desses dispêndios fiscais.”
A avaliação da mídia já veio. “Dilma corta de um lado e gasta de outro”, dizem os jornais.
Ok, é um fato. Os jornais só não dizem que subir juros (pra conter inflação? Mas a inflação não vem em boa parte do aumento do preço de alimentos, que é mundial?) também é gasto – na medida em que faz aumentar a já trilionária dívida pública! Mas essa é uma discussão à parte…
Observemos com calma outro ponto: o governo Lula conseguiu apoio dos muitos pobres e dos muito ricos. Fez isso com mecanismos como o “Bolsa-Família” – que retirou milhões de basileiros da indigência, e ao mesmo tempo ajudou a girar a economia das regiões mais pobres do país. Ao contrário do que diz o deputado Vacarezza (ele é do PT mesmo?), a grana do Bolsa-Família não vai pra “cachaça”; vai pra comida, roupa… Quem visitou o Nordeste nos ultmos anos (e eu tive a felicidade de ir cinco vezes para o sertão nos últimos quatro anos) percebe como o comércio local cresceu, gerando uma nova classe média nordestina. Fora isso, houve a recuperação do salário-mínimo e a reversão da tendência (que vinha da era FHC) de sufocar o funcionalismo público (com ganhos salariais e novos concursos na era Lula).
Mas Lula também agradou os muitos ricos. Donos de fábricas e grandes comerciantes nunca faturaram tanto – graças ao mercado interno impulsionado pela redução da pobreza. E os rentistas (a minoria ínfima que aplica dinheiro, pra financiar a dívida do governo) seguiram ganhando com os juros mais altos do Planeta.
Quem ficou contra Lula? A velha clase média. Arrochada por impostos, e sem utilizar serviços públicos, essa classe média pensa com o bolso na maior parte. Sente-se prejudicada por esse arranjo de Bolsa-Família (“é esmola”, como dizem) + impostos altos + Estado forte.
Nas semanas anteriores, Dilma tomou medidas variadas na área econômica, sempre no sentido de frear a tendência expansionista do segundo mandato de Lula:
- congelou concursos públicos (desagradando a tradicional base sindical lulista entre o funcionalismo);
- deu aumento de salário mínimo abaixo do reivindicado pelas centrais sindicais (mas dentro da regra estabelecida na era Lula);
- subiu juros;
- cortou 50 bilhões de reais do Orçamento.
Os liberais aplaudiram. A esquerda e os sindicalistas ficaram ressabiados.
Agora, as medidas dessa semana mostram que Dilma segue a mesma fórmula de Lula: um agrado ao “mercado”, aos rentistas e à velha mídia (com juros altos e cortes de gastos públicos), mas sem descuidar da base popular (com aumento acima da inflação para o Bolsa-Família).
Dilma, ao que tudo indica, seguirá se equilibrando entre os dois extremos da pirâmide social (como fez Lula).
Com uma novidade: o movimento de aproximação com a velha mídia é uma tentativa de ganhar a simpatia da velha classe média, que votou em Marina e Serra (e que lê “Veja”, “O Globo”, “Folha”, “Estadão”…)
Quem está de fora desse arranjo por enquanto? Os setores organizados (sindicatos, trabalhadores do mercado formal), a esquerda tradicional, os movimentos sociais.
O cálculo de Dilma, parece-me, é de que esses setores no limite estarão com ela se a coisa apertar. Pode ser arriscado… O presidente da Força Sindical, Paulinho (PDT), já mandou petardos contra o governo. E em recente reunião da “Coordenação de Movimentos Sociais”, o presidente da CUT (central organicamente próxima do governo) deu o recado: “este namoro da Dilma com a mídia vai durar seis meses e aí depois o governo virá nos procurar para sustentá-lo, como fez em 2005”.
Há decepção geral, entre setores que apoiaram Dilma de forma decidida (e decisiva) quando a situação apertou entre o fim do primeiro turno e o início do segundo. Esses setores sentem-se abandonados pelos primeiros movimentos de Dilma.
Isso, talvez, não se reflita nas primeiras pesquisas de opinião após os cem dias inicias de governo. Resta saber se, quando a lua-de-mel com a velha mídia acabar e Dilma sofrer ataques violentos como os sofridos por Lula, ela poderá contar com essa base tradicionals do lulismo? Ainda é cedo pra saber. O certo é que rachaduras se abriram nesses dois primeiros meses.
O Copom (órgão que define as taxas de juros no Brasil – ou seja, define a quantidade de sangue que o coração financeiro pode bombear para as artérias da economia real)- decidiu, pela segunda vez no governo Dilma, elevar os juros.
Anteontem, na Bahia, Dilma aumentou o Bolsa-Família bem acima da inflação.
Os dois movimentos são aparentemente contraditórios. Essa “contradição” (fora do manual clássico dos liberais que dominaram o governo FHC, e ainda dominam os velhos jornais brasileiros) foi a base do sucesso de Lula.
Façamos uma parada rápida. E vejamos o texto curto que o site “Carta Maior” destaca em sua capa:
“Dilma corrige os valores do Bolsa Família e dá reajuste real ao benefício recebido por 12,9 milhões de famílias. O menor valor da transferencia de renda passa de R$ 22 para R$ 32; o maior, de R$ 200 para R$ 242. Famílias com filhos foram contempladas com as maiores taxas de aumento real. A reunião do Copom desta 4º feira servirá um ‘lexotan’ aos mercados. Se subir 0,5% a taxa de juro básica, a Selic, oferecerá aos rentistas um ‘tranquilizante’ da ordem de R$ 7,5 bilhões/ano; quase quatro vezes o gasto previsto com o reajuste do Bolsa Família que vai beneficiar 50 milhões de brasileiros pobres. Aguardemos a avaliação da mídia para cada um desses dispêndios fiscais.”
A avaliação da mídia já veio. “Dilma corta de um lado e gasta de outro”, dizem os jornais.
Ok, é um fato. Os jornais só não dizem que subir juros (pra conter inflação? Mas a inflação não vem em boa parte do aumento do preço de alimentos, que é mundial?) também é gasto – na medida em que faz aumentar a já trilionária dívida pública! Mas essa é uma discussão à parte…
Observemos com calma outro ponto: o governo Lula conseguiu apoio dos muitos pobres e dos muito ricos. Fez isso com mecanismos como o “Bolsa-Família” – que retirou milhões de basileiros da indigência, e ao mesmo tempo ajudou a girar a economia das regiões mais pobres do país. Ao contrário do que diz o deputado Vacarezza (ele é do PT mesmo?), a grana do Bolsa-Família não vai pra “cachaça”; vai pra comida, roupa… Quem visitou o Nordeste nos ultmos anos (e eu tive a felicidade de ir cinco vezes para o sertão nos últimos quatro anos) percebe como o comércio local cresceu, gerando uma nova classe média nordestina. Fora isso, houve a recuperação do salário-mínimo e a reversão da tendência (que vinha da era FHC) de sufocar o funcionalismo público (com ganhos salariais e novos concursos na era Lula).
Mas Lula também agradou os muitos ricos. Donos de fábricas e grandes comerciantes nunca faturaram tanto – graças ao mercado interno impulsionado pela redução da pobreza. E os rentistas (a minoria ínfima que aplica dinheiro, pra financiar a dívida do governo) seguiram ganhando com os juros mais altos do Planeta.
Quem ficou contra Lula? A velha clase média. Arrochada por impostos, e sem utilizar serviços públicos, essa classe média pensa com o bolso na maior parte. Sente-se prejudicada por esse arranjo de Bolsa-Família (“é esmola”, como dizem) + impostos altos + Estado forte.
Nas semanas anteriores, Dilma tomou medidas variadas na área econômica, sempre no sentido de frear a tendência expansionista do segundo mandato de Lula:
- congelou concursos públicos (desagradando a tradicional base sindical lulista entre o funcionalismo);
- deu aumento de salário mínimo abaixo do reivindicado pelas centrais sindicais (mas dentro da regra estabelecida na era Lula);
- subiu juros;
- cortou 50 bilhões de reais do Orçamento.
Os liberais aplaudiram. A esquerda e os sindicalistas ficaram ressabiados.
Agora, as medidas dessa semana mostram que Dilma segue a mesma fórmula de Lula: um agrado ao “mercado”, aos rentistas e à velha mídia (com juros altos e cortes de gastos públicos), mas sem descuidar da base popular (com aumento acima da inflação para o Bolsa-Família).
Dilma, ao que tudo indica, seguirá se equilibrando entre os dois extremos da pirâmide social (como fez Lula).
Com uma novidade: o movimento de aproximação com a velha mídia é uma tentativa de ganhar a simpatia da velha classe média, que votou em Marina e Serra (e que lê “Veja”, “O Globo”, “Folha”, “Estadão”…)
Quem está de fora desse arranjo por enquanto? Os setores organizados (sindicatos, trabalhadores do mercado formal), a esquerda tradicional, os movimentos sociais.
O cálculo de Dilma, parece-me, é de que esses setores no limite estarão com ela se a coisa apertar. Pode ser arriscado… O presidente da Força Sindical, Paulinho (PDT), já mandou petardos contra o governo. E em recente reunião da “Coordenação de Movimentos Sociais”, o presidente da CUT (central organicamente próxima do governo) deu o recado: “este namoro da Dilma com a mídia vai durar seis meses e aí depois o governo virá nos procurar para sustentá-lo, como fez em 2005”.
Há decepção geral, entre setores que apoiaram Dilma de forma decidida (e decisiva) quando a situação apertou entre o fim do primeiro turno e o início do segundo. Esses setores sentem-se abandonados pelos primeiros movimentos de Dilma.
Isso, talvez, não se reflita nas primeiras pesquisas de opinião após os cem dias inicias de governo. Resta saber se, quando a lua-de-mel com a velha mídia acabar e Dilma sofrer ataques violentos como os sofridos por Lula, ela poderá contar com essa base tradicionals do lulismo? Ainda é cedo pra saber. O certo é que rachaduras se abriram nesses dois primeiros meses.
1 comentários:
Li agora no Nassif, o Aécio Neves se aproximando dos sindicatos, a onça está sempre na moita, esperando para atacar
E mais, a Folha querendo jogar esta batata quente chamada MinC nas mãos de Dilma como forma de indispor ainda mais Dilma e sua base
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-agenda-negativa-do-minc
enfim, a direita não dorme no ponto, apenas hibernou por alguns dias, que nem sucuri, só digerindo, assuntando, para poder dar o bote
Quanto a popularidade de Dilma creio que no decorrer de seu governo poderá cair, até mesmo por causa dos ajustes que serão feitos, mas depois ela se recupera, com certeza
Postar um comentário