quarta-feira, 20 de julho de 2011

Kotscho critica os “ataques de Lula”

Por Altamiro Borges

Em seu blog, agora hospedado no portal da Record, o jornalista Ricardo Kotscho critica seu “velho amigo” Lula pelas polêmicas que têm travado ultimamente. Ele diz desconhecer os motivos que levaram a ex-presidente “a subir o tom dos seus discursos em encontros com estudantes [UNE] e sindicalistas [UGT]”, mas conclui que “só Lula sai perdendo com os ataques de Lula”.



Na sua avaliação, o momento político não é oportuno para este “confronto”, em especial contra a mídia hegemônica. “Com seus constantes e cada vez mais irados ataques à imprensa, Lula só dá mais munição para os porta-vozes do bloco mais reacionário da decadente imprensa tucana, que vivem acenando com os fantasmas do ‘controle social da mídia’ e da ‘volta da censura’ como se estivessem torcendo por isso”.

Dilma e o “namorico” com a mídia

Ainda segundo sua leitura política, este confronto não tem servido ao atual governo. “Agindo desta forma, Lula acaba também não ajudando a presidente Dilma, que passa por um momento de sérias dificuldades, em várias áreas do governo, e estava tentando melhorar seu relacionamento com os donos da grande mídia, que a vinham tratando até muito bem antes da crise Palocci”.

Tendo já trabalhado nas redações dos principais jornalões brasileiros, Kotscho avalia que as polêmicas só atiçam os preconceitos de alguns editores e colunistas. “Cada vez que se sentem atacados, mais agressivos eles se tornam, mais motivados a fazer novas denúncias reais ou imaginárias, a criar um permanente clima de crise do fim do mundo no país. A meu ver, só Lula perde com isso, arriscando a sua própria imagem aqui dentro e lá fora”.

“Competir” com a velha mídia

Respeito, mas discordo da opinião de Ricardo Kotscho. E espero que Lula não acate as idéias do seu velho amigo. No livro “Do golpe ao Planalto”, o jornalista descreve com maestria as relações intimas que cultivou com o ex-presidente, desde a retomada das greves metalúrgicas no ABC paulista, passando pelas “Caravanas da Cidadania”, até chegar ao posto de secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República no primeiro mandato de Lula.

Na minha modesta opinião, Lula precisa polemizar cada vez mais com a principal força de oposição no país, o partido da mídia. Como ele mesmo disse no congresso da UNE, é preciso “competir” com a velha imprensa, desmascarando as suas mentiras. Do contrário, abusando das técnicas de manipulação, a mídia golpista sabotará a sua “imagem”, que goza de enorme prestígio junto ao povo. Agora, inclusive, ela inventou a tal de “herança maldita de Lula”.

Esforço pedagógico

No congresso da UGT, o ex-presidente anunciou que viajará o país para “debater política”, para mostrar os avanços do seu governo e para denunciar as manobras da direita brasileira. Esse esforço pedagógico, que infelizmente não foi feito a contento nos seus oito anos de governo, é fundamental para o avanço da consciência política dos brasileiros. Ele serve como contraponto às manipulações da ditadura midiática – às sujeiras dos Murdochs nativos.

Esta postura aguerrida é que mete medo nos barões da mídia. Eles temem o Lula “palanqueiro”, com seus discursos que encontram enorme ressonância junto ao povo. Os tais “formadores de opinião” sabem que não estão mais com a bola toda junto à “opinião pública”. O editorial da Folha de ontem, atacando a volta de Lula aos palanques – “que parece reacender sua vocação messiânica e autoritária” –, mostra que ex-presidente acertou no “momento político”.

Governo acuado

As suas polêmicas, ao contrário do que afirma Kotscho, ajudam o governo Dilma, que se encontra acuado diante do bombardeio da mídia. Há 17 dias, a presidenta sangra diante das graves denúncias de corrupção do Ministério dos Transportes. Já a crise desencadeada pelo súbito enriquecimento do ex-ministro Palocci paralisou o governo por 23 dias. A lua-de-mel entre Dilma e a mídia durou pouco; o “namorico”, como ironizou Lula, virou uma guerra fratricida.

Na mídia golpista, agora só há notícias ruins sobre o atual governo. Parece que o Brasil virou um inferno – um país de ladrões, com desemprego e miséria crescentes. A mesma mídia que blinda os demotucanos, que esconde as suas maracutaias, tenta posar de campeã da ética. Como Murdoch, ela tenta ludibriar os ingênuos e atiçar os ânimos. Alguns “calunistas” inclusive já fazem apelos “à indignação” contra o atual governo, clamam por “protestos de rua”.

Diante desta brutal ofensiva, o governo Dilma se mostra sem personalidade. Parece formado por tecnocratas acuados nas salas com ar condicionado do Palácio do Planalto. Não parte para a ofensiva, não apresenta uma agenda política mais afirmativa, pró-ativa. Rende-se às pressões do “deus-mercado” e do “deus-mídia”. Neste cenário preocupante, os discursos num “tom mais elevado” do ex-presidente Lula ajudam a pautar o debate político na sociedade.

5 comentários:

Adriano Ferrarez disse...

Prezado Altamiro Borges,

Lí o globo de domingo último e as manchetes nos fazem crer que estamos vivendo um momento parecido com o do impeachment de Collor. Gostaria de ver o texto do "imortal" João Ubaldo Ribeiro escrever uma coluna daquelas na época em que FHC comprou sua reeleição ou quando a privataria imperava em nosso país. Não podemos retroceder um milímetro na luta contra a mídia golpista. Infelizmente o que o jornalista da Record (Coxo) propõe é uam "pax romana" em que a mídia golpista armada até os dentes ameaça disparar seus canhões ao menor sinal de contestação de seu poderio. Você destacou bem que o Lula nos seus 8 anos de governo não se movimentou no sentido de educar politicamente o nosso povo e creio, prezado Altamiro, que o Lula jogou um grande balde de água fria na nossa capacidade de mobilização. Mas como Vovó já dizia, "antes tarde do que nunca". Todos nós, homens e mulheres, progressistas desse país devemos dar às mãos ao Lula nessa empreitada. Gostaria que você visitasse meu singelo blog: www.emlugardeumacarta.blogspot.com

Um grande amplexo,

Adriano Ferrarez

Ignez disse...

Gozado, talvez eu seja antiga, pois não consigo entender como se transige em princípios por tão pouco. Ricardo K. - sobrenome complicado - me faz lembrar um ditado: "barco sem rumo vento nenhum ajuda". Ele me parece muito sem rumo. Seus comentários, atualmente, me parecem um grande deserviço à democracia que se procura implantar. Nem por isso concordo com tudo que ocorre no atual governo. Ele devia se perguntar o que seri a o Brasil se não fosse Lula. Aliás, no frigir dos ovos até a Joyce P. - nome complicado também -, colunista social, no programa da Cultura, do Abujamra disse que, depois do governo Lula, o Brasil, e o brasileiro, passaram a existir para o mundo.O Ricardo K. poderia parender com ela. Falta-lhe humildade, talvez.

Rick disse...

Caro Miro,
concordo contigo. O Kotscho quer que o Lula baixe a bola, pra nao melindrar estes farsantes arrogantes que só se preocupam em atacar os avanços conseguidos. Tem mais é que dar na cabeça destas cobras. Se dependesse da minha vontade, já deveria ter sido editada outra lei de imprensa pra enquadrar juridicamente esta terra de ninguem midiatica.

Ronaldo disse...

De tudo e de todos o que mais me impressiona é que o tempo passa, e poucos ainda conhecem o verdadeiro Lula. Ainda conservam aquele estigma de um retirante da seca, que chegou a São Paulo, e teve sorte, apenas sorte. Até chegou a presidente, mas só por sorte. Governou, deu tudo certo, por sorte dele e nossa.
Tomara que o PIG, continue pensando assim por mais uns 10/20 anos.

Anônimo disse...

Pelo q entendi o Ricardo K. tá dando sua pequena colaboração à "grande mídia",quando procura mostrar q deveremos temer e reverenciar a corja midiática. O Lula está certo, a Dilma tá devagar e o Ricardo Kotcho, equivocado.

Lucio Valter