Por Heloisa Villela, de Washington, no blog Viomundo:
Até quando?
É a pergunta que não me sai da cabeça. Existe um ponto a partir do qual tudo vai pelos ares?
O povo toma as ruas, grita, cobra… Londres está pegando fogo. Em Israel, muita gente partiu para o acampamento nas ruas e praças do pais. E aqui nos Estados Unidos, para uma parcela cada vez maior da população, motivo também não falta para exigir mudança. Mas as ruas continuam silenciosas. Verdadeiros túmulos.
Abro o computador e a primeira notícia que aparece, aqui no meu bairro: psiquiatra mata o filho e se mata em seguida. No bilhete que deixou prá trás, a mulher diz que não aguentava mais tentar driblar as dívidas e o preço da mensalidade escolar já que o filho, portador de uma doença mental, não acompanhava o ritmo da escola pública. Foi um ato de desespero. Dar cabo da própria vida seria cruel com o menino, que dependia dela para tantas coisas. Ela preferiu acabar com tudo.
Sei que existem alguns casos dramáticos pelo país afora. Não deveria me surpreender já que a situação de tantas pessoas é mesmo desesperadora e a rede de amparo social é cada vez menor. E vai diminuir ainda mais.
Aqui nos Estados Unidos, a classe média, base da economia do país, está cada vez mais pobre. E os afro-americanos e latinos, então, mais pobres ainda. Segundo a Pew Reseach Center, a distância entre as minorias e os brancos bateu recorde histórico. Entre 2005 e 2009, a renda média das famílias hispânicas, nos Estados Unidos, caiu 66%. A renda das famílias afro-americanas sofreu uma queda de 53% enquanto a renda média das famílias brancas caiu 16%.
O sonho da segurança do teto próprio se desfaz. As dívidas aumentam. Os empregos somem. Um índice de desemprego de 9,1% não é exatamente o fim do mundo. Mas todo mundo sabe que esse índice é uma piada. Uma ginástica estatística aperfeiçoada no governo Bill Clinton, que exclui da pesquisa as pessoas que passaram bom tempo procurando emprego e, por falta de resultado, simplesmente desistiram de tentar achar algo.
A mesma Secretaria do Trabalho que divulga este número desprovido de significado real também publica, discretamente, o índice de pessoas em idade produtiva que estão trabalhando em empregos de horário integral. Ou seja, nada de juntar aqui os que têm um bico de meio expediente ou de algumas horas por semana. Esse índice mostra que apenas 58,1% da mão de obra empregável do país está na ativa. E os outros 42%, estão fazendo o que?
Perto da minha casa, é comum, hoje, ver pessoas homens e mulheres de todo tipo, cor e credo pedindo ajuda com cartazes. Andando entre os carros quando o sinal fecha. Isso não existia. Em visita recente a Nova York, passei pela Tompkins Square, uma praça no lado leste da cidade. Deparei-me com uma fila que dava volta no quarteirão. “É a sopa”, me refrescou a memória uma amiga que morou naquele lugar durante anos. E o que mais chamou nossa atenção: não eram apenas drogados, bêbados, mendigos, como antigamente. Vi famílias inteiras, com carrinho de bebê, criança pequena pela mão, esperando a hora de receber a comida de graça.
E aí me volta a pergunta: até quando essa gente aguenta tudo calada? Ficou muito óbvio, na recente discussão do teto da dívida americana, que nem um partido nem outro tem compromisso com causa alguma. Roderick Harrison, economista e professor da Universidade Howard, aqui em Washington, me disse que está preocupado. Os próximos meses serão ainda mais difíceis, com mais demissões e consumidores assustados, sem dinheiro prá comprar.
Ele tentou responder a minha pergunta. Ou melhor, explicar o atual estado de coisas:
– Faz tempo que estamos caminhando para a ingovernabilidade…
Pior, diz ele, é a falta de organização da sociedade civil. Os partidos, afirmou, já não representam diferentes camadas da população. E a guinada para a direita é visível. Segundo o professor, somente o povo organizado, na rua, cobrando, vai empurrar o partido democrata, e o governo do presidente Barraca Obama, na direção de soluções para os problemas centrais dos país: desemprego e moradia.
Mas a sociedade parece anestesiada. Os únicos que ainda se mexem e vão prá rua são os seguidores do Tea Party, a ala mais radical e direitista do Partido Republicano. Cadê a raiva, a revolta, a indignação?
Por enquanto, vi isso vir à tona somente neste comentário do jornalista Keith Olbermann, que hoje trabalha na Current TV, do ex-vice-presidente Al Gore. Cáustico e sem meias palavras, ele diz o que eu imaginaria que muitos americanos poderiam estar gritando por aí, se soubessem gritar…
Até quando?
É a pergunta que não me sai da cabeça. Existe um ponto a partir do qual tudo vai pelos ares?
O povo toma as ruas, grita, cobra… Londres está pegando fogo. Em Israel, muita gente partiu para o acampamento nas ruas e praças do pais. E aqui nos Estados Unidos, para uma parcela cada vez maior da população, motivo também não falta para exigir mudança. Mas as ruas continuam silenciosas. Verdadeiros túmulos.
Abro o computador e a primeira notícia que aparece, aqui no meu bairro: psiquiatra mata o filho e se mata em seguida. No bilhete que deixou prá trás, a mulher diz que não aguentava mais tentar driblar as dívidas e o preço da mensalidade escolar já que o filho, portador de uma doença mental, não acompanhava o ritmo da escola pública. Foi um ato de desespero. Dar cabo da própria vida seria cruel com o menino, que dependia dela para tantas coisas. Ela preferiu acabar com tudo.
Sei que existem alguns casos dramáticos pelo país afora. Não deveria me surpreender já que a situação de tantas pessoas é mesmo desesperadora e a rede de amparo social é cada vez menor. E vai diminuir ainda mais.
Aqui nos Estados Unidos, a classe média, base da economia do país, está cada vez mais pobre. E os afro-americanos e latinos, então, mais pobres ainda. Segundo a Pew Reseach Center, a distância entre as minorias e os brancos bateu recorde histórico. Entre 2005 e 2009, a renda média das famílias hispânicas, nos Estados Unidos, caiu 66%. A renda das famílias afro-americanas sofreu uma queda de 53% enquanto a renda média das famílias brancas caiu 16%.
O sonho da segurança do teto próprio se desfaz. As dívidas aumentam. Os empregos somem. Um índice de desemprego de 9,1% não é exatamente o fim do mundo. Mas todo mundo sabe que esse índice é uma piada. Uma ginástica estatística aperfeiçoada no governo Bill Clinton, que exclui da pesquisa as pessoas que passaram bom tempo procurando emprego e, por falta de resultado, simplesmente desistiram de tentar achar algo.
A mesma Secretaria do Trabalho que divulga este número desprovido de significado real também publica, discretamente, o índice de pessoas em idade produtiva que estão trabalhando em empregos de horário integral. Ou seja, nada de juntar aqui os que têm um bico de meio expediente ou de algumas horas por semana. Esse índice mostra que apenas 58,1% da mão de obra empregável do país está na ativa. E os outros 42%, estão fazendo o que?
Perto da minha casa, é comum, hoje, ver pessoas homens e mulheres de todo tipo, cor e credo pedindo ajuda com cartazes. Andando entre os carros quando o sinal fecha. Isso não existia. Em visita recente a Nova York, passei pela Tompkins Square, uma praça no lado leste da cidade. Deparei-me com uma fila que dava volta no quarteirão. “É a sopa”, me refrescou a memória uma amiga que morou naquele lugar durante anos. E o que mais chamou nossa atenção: não eram apenas drogados, bêbados, mendigos, como antigamente. Vi famílias inteiras, com carrinho de bebê, criança pequena pela mão, esperando a hora de receber a comida de graça.
E aí me volta a pergunta: até quando essa gente aguenta tudo calada? Ficou muito óbvio, na recente discussão do teto da dívida americana, que nem um partido nem outro tem compromisso com causa alguma. Roderick Harrison, economista e professor da Universidade Howard, aqui em Washington, me disse que está preocupado. Os próximos meses serão ainda mais difíceis, com mais demissões e consumidores assustados, sem dinheiro prá comprar.
Ele tentou responder a minha pergunta. Ou melhor, explicar o atual estado de coisas:
– Faz tempo que estamos caminhando para a ingovernabilidade…
Pior, diz ele, é a falta de organização da sociedade civil. Os partidos, afirmou, já não representam diferentes camadas da população. E a guinada para a direita é visível. Segundo o professor, somente o povo organizado, na rua, cobrando, vai empurrar o partido democrata, e o governo do presidente Barraca Obama, na direção de soluções para os problemas centrais dos país: desemprego e moradia.
Mas a sociedade parece anestesiada. Os únicos que ainda se mexem e vão prá rua são os seguidores do Tea Party, a ala mais radical e direitista do Partido Republicano. Cadê a raiva, a revolta, a indignação?
Por enquanto, vi isso vir à tona somente neste comentário do jornalista Keith Olbermann, que hoje trabalha na Current TV, do ex-vice-presidente Al Gore. Cáustico e sem meias palavras, ele diz o que eu imaginaria que muitos americanos poderiam estar gritando por aí, se soubessem gritar…
3 comentários:
Se tudo isso for verdade, mostra que o Brasil está melhor de fato. Aqui, basta ir atrás de trabalho que tu consegue ganhando bem ou não. Falando em trabalho, gostaria de sugerir uma matéria sobre essa função de mão-de-obra qualificada. Não consigo entender se estão precisando de engenheiro, curso técnico, mestrado, douturado entre outras coisas quando várias pessoas se formam na faculdade por ano.
Você escreveu Barraca e não Barak,
de propósito ou foi ato falho?
Segundo,o que acho,daqui do Recife,
pois jamais colocarei meus pezinhos
nessa pocilga,é o que disse Sarama-
go depois da fraudada eleição de
Bucho e de novo na re-eleição: au-
tismo coletivo.
Basta assistir aos filmes americanos pra se ter a resposta. Os big-shots conseguiram criar uma nação de zombies, que tudo o que desejam é serem iguais a eles, ter sucesso, dinheiro, ficarem ricos. É o famoso sonho americano. Não existem classes, problemas sociais, antropologia. Só existe a luta entre os bonzinhos (que acabam ricos) e os maus (os 20 milhões que lotam as penitenciárias americanas). Depois de uma lavagem cerebral de grande sucesso por décadas, taí o resultado. Vão acabar como nos seus filmes futurísticos, tipo aqueles que mostram a Estátua da Liberdade em meio a escombros, só com a tocha do lado de fora...
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