Por Gianni Carta, na revista CartaCapital:
Ao anunciar para 600 jornalistas na opulenta Salle de Fêtes do Palácio do Eliseu que não responderia a perguntas “privadas” sobre seu affair reportado na sexta-feira 10 pela revista marrom Closer, Hollande, de 59 anos, admitiu ter uma amante, a atraente mãe de dois filhos de 41 anos.
O enlace amoroso com Gayet se tornou ainda mais transparente quando o presidente garantiu que até fevereiro saberemos se Valérie Trierweiler, a atual primeira-dama, o acompanhará em uma viagem a Washington. Em seguida, Hollande admitiu o seguinte: “Todos passamos por dolorosos períodos em nossas vidas, e esse é o nosso caso”.
Em miúdos, a novela continua.
Enquanto isso, Trierweiler, de 48 anos, continua internada após sofrer uma “crise de depressão” (é o que nos dizem) no fim de semana.
No Eliseu, Hollande, fez um alocução inicial de 20 minutos com o claro objetivo de desviar as atenções pela sua vida pessoal para a economia. Haverá cortes de 15 bilhões de euros nos gastos públicos neste ano e de mais 50 bilhões até 2017. Haverá mais empregos para jovens, os mais afetados em um país onde o nível de desemprego é de 10,3%.
Hollande condenou o antissemitismo, o racismo e a xenofobia em uma França na qual uma integrante da legenda extremista Frente Nacional comparou uma ministra negra a um macaco. “O futuro da França está na Europa”, continuou o presidente.
Terminado o discurso, a primeira pergunta foi sobre a vida privada do presidente da República. À certa altura da coletiva, durante a qual escassos minutos foram dedicados a evasivas respostas de Hollande sobre sua vida pessoal, o presidente martelou: “Não é (o seu caso com Gayet) apenas pessoal. Afeta todos vocês. Fere uma liberdade fundamental: o respeito pela vida privada e a dignidade. A França é um país de grande liberdade, (portanto) temos de ter respeito por nossas vidas privadas e pela dignidade”.
Vida privada para um homem público, ainda mais o chefe de Estado? Ao ser eleito presidente em 2012, François Hollande deveria ter entendido que sua existência não seria mais privada.
Não se trata de uma questão moral. Os franceses são liberais, como prova uma recente enquete realizada pelo Ifop para o semanário Journal du Dimanche: para 77% dos entrevistados, o caso extramarital do chefe de Estado é um questão pessoal – e não afeta em nada sua combalida imagem. Com apenas 15% de aprovação, Hollande é, diga-se, o presidente mais impopular nas últimas cinco décadas.
O chefe de Estado precisa entender que sua vida não é privada porque ele representa a França no seu próprio país e mundo afora. Sua imagem deve ser aquela de uma pessoa segura e determinada, e não a de um homem de meia-idade a atravessar uma crise existencial. E em uma época de crise econômica, ele tem se mostrado ineficaz. Na coletiva de terça, aliás, ele deveria somente apresentar o novo programa econômico para incentivar a criação de empregos. No entanto, jornalistas estrangeiros, e mesmo os discretos colegas franceses, queriam obter mais detalhes sobre o affair do presidente.
O presidente foi ridicularizado. Nas imagens publicadas pela Closer vemos um homem a bordo de uma moto, sempre na garupa e de capacete. O homem na garupa parece ser o presidente. Ele chega em um apartamento a menos de 200 metros do Eliseu com um segurança em outra moto na calada da noite. Tem mais: o segurança leva croissants na manhã seguinte ao apartamento que a amante Gayet emprestou de amigos.
Um presidente de capacete remete ao Batman que sai à noite no seu Batmovel em Gotham City. Talvez ele tenha considerado até ir ao teatro ou ao cinema com Gayet, ambos de capacete, é claro.
E os riscos à sua vida?, conseguiu indagar um repórter na coletiva de terça. “Estou sempre protegido”, revidou o presidente.
Será?
Como pode então o fotógrafo da Closer fazer as fotos do presidente? E se fosse uma arma, não uma máquina fotográfica?
Hollande vive no passado.
As estritas leis de privacidade foram arrefecidas pelas redes sociais. O pacto entre presidentes e a mídia ainda existe, mas a imprensa marrom, como vimos, tem faro para histórias que em outros cantos do mundo seriam reportadas por todas as plataformas da mídia. Tudo começou com o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que dava o ar da graça até na praia para a mídia com sua mulher Carla Bruni.
Já se vão os tempos em que presidentes pintavam e bordavam. Em 1974, Valéry Giscard d’Estaing bateu uma Ferrari contra outro veículo ao lado de mais uma amante às 5 horas da manhã nas cercanias do Arco do Triunfo. O caso foi abafado.
Quando eleito em 1981, François Mitterrand tinha duas famílias, com filhos nas duas casas.
Jacques Chirac teve uma caterva de amantes, algumas bastante atraentes. Bernadette, a mulher oficial do ex-presidente ao seu lado até hoje, sabia dos affairs do marido.
Poderosos têm amantes em qualquer canto do mundo. Mas um affair com o de Hollande, e se resolvido com rapidez, não deveria comprometer sua presidência como a comprometeria a vida dupla de Mitterrand. Quem confiaria em um presidente que vivia em duas casas com diferentes famílias? Ademais, ele se dizia socialista e sempre foi um conservador.
Você compraria um carro usado de Mitterrand, ou de Richard Nixon?
Hollande nunca foi casado. Viveu 30 anos com Ségolène Royal, a candidata socialista à Presidência. Com ela teve quatro filhos, todos agora adultos. O casal se separou após a derrota de Royal para o direitista Sarkozy em 2007. À época, Hollande já saia com a jornalista Trierweiler, do semanário Paris Match.
Mesmo não sendo casados, a companheira oficial de Hollande é a primeira-dama. Não está na hora de acabar com o status jurídico da primeira-dama, especialmente se, e esse parece ser o caso, houver uma nova senhora no Eliseu?
Os candelabros de cristal da Salle de Fêtes do Eliseu, onde se deu a coletiva de terça, pareciam interessados na resposta.
Ao anunciar para 600 jornalistas na opulenta Salle de Fêtes do Palácio do Eliseu que não responderia a perguntas “privadas” sobre seu affair reportado na sexta-feira 10 pela revista marrom Closer, Hollande, de 59 anos, admitiu ter uma amante, a atraente mãe de dois filhos de 41 anos.
O enlace amoroso com Gayet se tornou ainda mais transparente quando o presidente garantiu que até fevereiro saberemos se Valérie Trierweiler, a atual primeira-dama, o acompanhará em uma viagem a Washington. Em seguida, Hollande admitiu o seguinte: “Todos passamos por dolorosos períodos em nossas vidas, e esse é o nosso caso”.
Em miúdos, a novela continua.
Enquanto isso, Trierweiler, de 48 anos, continua internada após sofrer uma “crise de depressão” (é o que nos dizem) no fim de semana.
No Eliseu, Hollande, fez um alocução inicial de 20 minutos com o claro objetivo de desviar as atenções pela sua vida pessoal para a economia. Haverá cortes de 15 bilhões de euros nos gastos públicos neste ano e de mais 50 bilhões até 2017. Haverá mais empregos para jovens, os mais afetados em um país onde o nível de desemprego é de 10,3%.
Hollande condenou o antissemitismo, o racismo e a xenofobia em uma França na qual uma integrante da legenda extremista Frente Nacional comparou uma ministra negra a um macaco. “O futuro da França está na Europa”, continuou o presidente.
Terminado o discurso, a primeira pergunta foi sobre a vida privada do presidente da República. À certa altura da coletiva, durante a qual escassos minutos foram dedicados a evasivas respostas de Hollande sobre sua vida pessoal, o presidente martelou: “Não é (o seu caso com Gayet) apenas pessoal. Afeta todos vocês. Fere uma liberdade fundamental: o respeito pela vida privada e a dignidade. A França é um país de grande liberdade, (portanto) temos de ter respeito por nossas vidas privadas e pela dignidade”.
Vida privada para um homem público, ainda mais o chefe de Estado? Ao ser eleito presidente em 2012, François Hollande deveria ter entendido que sua existência não seria mais privada.
Não se trata de uma questão moral. Os franceses são liberais, como prova uma recente enquete realizada pelo Ifop para o semanário Journal du Dimanche: para 77% dos entrevistados, o caso extramarital do chefe de Estado é um questão pessoal – e não afeta em nada sua combalida imagem. Com apenas 15% de aprovação, Hollande é, diga-se, o presidente mais impopular nas últimas cinco décadas.
O chefe de Estado precisa entender que sua vida não é privada porque ele representa a França no seu próprio país e mundo afora. Sua imagem deve ser aquela de uma pessoa segura e determinada, e não a de um homem de meia-idade a atravessar uma crise existencial. E em uma época de crise econômica, ele tem se mostrado ineficaz. Na coletiva de terça, aliás, ele deveria somente apresentar o novo programa econômico para incentivar a criação de empregos. No entanto, jornalistas estrangeiros, e mesmo os discretos colegas franceses, queriam obter mais detalhes sobre o affair do presidente.
O presidente foi ridicularizado. Nas imagens publicadas pela Closer vemos um homem a bordo de uma moto, sempre na garupa e de capacete. O homem na garupa parece ser o presidente. Ele chega em um apartamento a menos de 200 metros do Eliseu com um segurança em outra moto na calada da noite. Tem mais: o segurança leva croissants na manhã seguinte ao apartamento que a amante Gayet emprestou de amigos.
Um presidente de capacete remete ao Batman que sai à noite no seu Batmovel em Gotham City. Talvez ele tenha considerado até ir ao teatro ou ao cinema com Gayet, ambos de capacete, é claro.
E os riscos à sua vida?, conseguiu indagar um repórter na coletiva de terça. “Estou sempre protegido”, revidou o presidente.
Será?
Como pode então o fotógrafo da Closer fazer as fotos do presidente? E se fosse uma arma, não uma máquina fotográfica?
Hollande vive no passado.
As estritas leis de privacidade foram arrefecidas pelas redes sociais. O pacto entre presidentes e a mídia ainda existe, mas a imprensa marrom, como vimos, tem faro para histórias que em outros cantos do mundo seriam reportadas por todas as plataformas da mídia. Tudo começou com o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que dava o ar da graça até na praia para a mídia com sua mulher Carla Bruni.
Já se vão os tempos em que presidentes pintavam e bordavam. Em 1974, Valéry Giscard d’Estaing bateu uma Ferrari contra outro veículo ao lado de mais uma amante às 5 horas da manhã nas cercanias do Arco do Triunfo. O caso foi abafado.
Quando eleito em 1981, François Mitterrand tinha duas famílias, com filhos nas duas casas.
Jacques Chirac teve uma caterva de amantes, algumas bastante atraentes. Bernadette, a mulher oficial do ex-presidente ao seu lado até hoje, sabia dos affairs do marido.
Poderosos têm amantes em qualquer canto do mundo. Mas um affair com o de Hollande, e se resolvido com rapidez, não deveria comprometer sua presidência como a comprometeria a vida dupla de Mitterrand. Quem confiaria em um presidente que vivia em duas casas com diferentes famílias? Ademais, ele se dizia socialista e sempre foi um conservador.
Você compraria um carro usado de Mitterrand, ou de Richard Nixon?
Hollande nunca foi casado. Viveu 30 anos com Ségolène Royal, a candidata socialista à Presidência. Com ela teve quatro filhos, todos agora adultos. O casal se separou após a derrota de Royal para o direitista Sarkozy em 2007. À época, Hollande já saia com a jornalista Trierweiler, do semanário Paris Match.
Mesmo não sendo casados, a companheira oficial de Hollande é a primeira-dama. Não está na hora de acabar com o status jurídico da primeira-dama, especialmente se, e esse parece ser o caso, houver uma nova senhora no Eliseu?
Os candelabros de cristal da Salle de Fêtes do Eliseu, onde se deu a coletiva de terça, pareciam interessados na resposta.
1 comentários:
Que porcaria! Típico de quem tem o pensamento retrógrado e não tem o que fazer. Um texto que destoa dos outros do blog.
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