Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Se você pegar os jornais de hoje e torcê-los, sairá um líquido esverdeado e mal cheiroso.
O Globo amanheceu manipulando como se não houvesse amanhã.
O ambiente é perfeito para quem não tem compromisso com nada.
Muita informação, boa parte oriunda de delações premiadas, algumas sem sequer ligação entre si, dando margem a todo o tipo de especulação golpista.
Misture tudo com bastante mensalão e Zé Dirceu e pronto!
O nomezinho de brincadeira, petrolão, vale só para o PT.
Para o PSDB (cujo nome sequer é citado), é “cartel” de trens.
Em editorial, o jornal insinua descaradamente que a defesa, pelo PT, do fim das contribuições legais de empresas a campanhas seria prova de corrupção.
Ou seja, a opinião da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que já votaram a questão, a convicção de todos os movimentos sociais, das milhões de assinaturas recolhidas para reforma política, os milhares de artigos de intelectuais, tudo isso é solenemente desprezado pela Globo.
Todo mundo foi comprado pelo petrolão.
Menos a Globo, é claro, apesar de ser ela a empresa para onde escorrem todos os recursos do país, legais ou ilegais: é onde as empreiteiras anunciam, onde se defendem (pagando caro, obviamente), onde o governo anuncia e onde o governo se defende (pagando publicidade).
Não podemos esquecer que a maior parte do dinheiro do “mensalão”, os recursos da Visanet, também foram parar na Globo, na forma de publicidade. Há documentos comprovando que a Globo recebeu mais de R$ 5 milhões da DNA Propaganda, no contrato da Visanet.
O Bônus de Volume pago à DNA, considerado um dos crimes do mensalão, foi pago pela Globo.
A Globo tem uma vida fácil demais. Em virtude de sua posição monopolista, ela consegue a proeza de ser paga pelo próprio governo para… dar golpe no governo.
Ao cabo, a Globo conclui, no editorial de hoje de seu jornal impresso:
(…) “a expertise petista neste ramo vem de longe — das prefeituras paulistas e também da montagem da rede de apoio partidário à primeira candidatura Lula, em 2002. Já é parte da História o relato das negociações financeiras a portas fechadas entre José Dirceu e Valdemar Costa Neto, então PL, sobre o pagamento do dote de José Alencar, para o empresário ser o vice de Lula. Ali já era o mensalão.
Tudo pode estar interligado, de 2002 a 2014.”
É um ataque político sórdido, à beira da insanidade. Lembra-me um documentário sobre o John Lennon, em que um maluco invade a sua chácara e dá com o músico no jardim, com alguns amigos. O maluco então grita: “John! Que bom te encontrar! Agora tudo faz sentido!”
Ao que John, delicadamente, responde: “Não, meu chapa, você é que está chapado”.
Se o Globo quiser “interligar” tudo, de 2002 a 2014, deveríamos lembrar todas as manipulações patrocinadas pelo próprio jornal, a começar pela Ação Penal 470.
Ontem Miguel Reale Jr, um respeitado teórico do direito, em artigo para a Folha, acusa o Judiciário e o Ministério Público de estarem, no caso da Lava Jato, recorrendo ao “veneno do arbítrio” e passando “por cima dos princípios constitucionais informativos do processo penal”, com vistas a um suposto combate a corrupção.
O que Reale, um jurista conservador, não diz é que há, evidentemente, um embate político e partidário por trás da Lava Jato.
As mesmas forças, exatamente as mesmas forças, que forçaram a Ação Penal 470, repetem o modus operandi.
Pegam um escândalo real, e o distorcem integralmente.
As empreiteiras têm negócios com todas as prefeituras e com todos os governos estaduais, ou seja, com todos os partidos, fazem doações para todos, mas a culpa é somente do PT.
O principal delator agora é Augusto Mendonça Neto, da Toyo Setal, um dos fundadores da PEM Engenharia, que por sua vez é uma das sócias da TTrans, uma das principais réus no trensalão.
Parece até piada. O delator do petrolão é réu do trensalão.
O problema, como sempre, é a Babel midiática, a manipulação, que visa apenas confundir e gerar desgaste político contra o PT.
Os leitores se perguntam, perplexos, porque o PT não responde.
Ora, o PT não tem mais quadro. Simples assim.
O partido vem sendo desossado brutalmente desde que ganhou as eleições em 2002.
A única solução para o PT seria investir profundamente na formação de novos quadros.
O PT tem de deixar de ser muquirana e investir dinheiro em cursos de formação de massa, para gerar cérebros para si mesmo, que possam participar da luta política no país.
Investir em mídia.
Investir em think tanks.
A mesma coisa vale para o governo.
O governo também foi desossado. E também tem de investir em formação política, em novas lideranças, em think tanks, para o bem da nossa democracia.
O terrorismo penal da Ação Penal 470, onde se condenou um porção de gente sem necessidade de prova, em cima de uma verdadeira ficção, deu um excelente resultado.
Apavorou os quadros políticos do governo.
O governo vive acuado, com medo.
Todo mundo orando para que seu nome não seja arrastado no “mar de lama”.
A pena imposta a Marcos Valério, duas vezes maior que a do goleiro Bruno, acusado de matar, esquartejar e dar aos cães a mãe de seu próprio filho, produziu um trauma no sistema jurídico brasileiro.
Por que trauma?
Porque se consumou ali um ato de terrorismo político, midiático e, por fim, judicial.
O governo e o PT ainda não sabem como lidar com isso.
Ambos saem de uma crise e mergulham em outra, sem tempo de respirar ou refletir.
Ganharam as eleições em virtude das políticas sociais, não porque tivessem desenvolvido uma resposta adequada ao golpe jurídico-político que foi a Ação Penal 470, e que, agora vemos, volta à baila.
A Globo quer martelar o termo “petrolão” porque entende que o “mensalão” foi um sucesso político.
Marcos Valério operou para o PSDB durante décadas. Operou um ano para o PT e recebeu uma condenação superior a 40 anos de prisão.
E olha que, com o PSDB, foi dinheiro público purinho da silva. Com o PT, foi verba privada, do Visanet.
Não interessa. Até isso conseguiram: transformar os recursos da Visanet em públicos. Ayres Brito, em explanação psicodélica, ao vivo no julgamento do mensalão, disse que a prova de que a Visanet era pública estava em seu nome: “Companhia Brasileira de Meios de Pagamento”.
Para sairmos desse atoleiro golpista em que estamos mergulhados desde 2005 será preciso investir em cultura também, denunciando a mídia como um ator político que se recusa a dizer ao público que ele é isso: um ator político.
A mídia finge que está na plateia, apenas descrevendo o que acontece no palco. Não está. A mídia está no palco, operando as luzes, pagando outros atores, subornando a equipe técnica.
O último filme de Murilo Salles, O Fim e os Meios, retrata a nossa decadência cultural, que por sua vez também sofre com o monopólio.
É um filme ruim, medíocre, porque não questiona a imprensa.
O antagonista é um político caricato. A jornalista é uma heroína.
O primeiro filme moderno, Cidadão Kane, é um questionamento à imprensa e ao monopólio da mídia.
Desde então o cinema americano tem produzindo inúmeras obras para questionar o papel da mídia e da imprensa na democracia.
Aqui, não, porque a Globo também domina o cinema. Para o filme fazer sucesso, precisa ter ator da Globo. Para o filme vender, tem de anunciar na Globo.
Não há sequer literatura de ficção questionando o papel da mídia.
Vivemos uma ditadura branca, onde o assunto mais importante de uma democracia pós-moderna, a mídia, não pode ser debatido com liberdade.
Pelo Tijolaço, sabemos agora que o novo ataque midiático, via Gilmar Mendes, atacando Dilma pelo flanco eleitoral, é uma doação da Gerdau que também foi feita, em igual valor, para Aécio Neves e Marina.
Essa é razão pela qual os “técnicos do TSE” não querem aprovar as contas de Dilma.
Alguém aí ouviu a opinião dos “técnicos do TSE” sobre a mesma doação, da mesma Gerdau, para Aécio e Marina?
Alguém aí ouviu a opinião dos “técnicos do TSE” sobre o jatinho fantasma de Marina Silva?
Alguém aí leu os editorais da nossa mídia falando nisso?
Eu só sei que, quando Dilma tomar posse, em janeiro de 2015, e quando o novo ministério estiver formado, a pressão das bases será violentíssima para que o governo entre na luta pela democracia.
Falar em reforma política sem falar antes em democracia da mídia é piada.
Democracia da mídia é muito mais do que aprovar uma lei democrática no Congresso.
É investir na luta contra o monopólio da informação.
É parar de anunciar na grande mídia e investir na pluralidade, como manda a Constituição e o bom senso democrático.
Como será possível discutir reforma política, ou qualquer reforma, se a direita golpista, através do monopólio econômico, mantém o controle da agenda política nacional?
Vide o caso de Gilmar Mendes, prendendo há quase um ano (!), a votação sobre a doação de empresa a partido político.
Não dá mais para um país com essa magnitude ter uma agenda política pautada por duas ou três famílias que devem sua fortuna e poder à ditadura militar, e à toda corrupção inerente a um ambiente político autoritário.
Se você pegar os jornais de hoje e torcê-los, sairá um líquido esverdeado e mal cheiroso.
O Globo amanheceu manipulando como se não houvesse amanhã.
O ambiente é perfeito para quem não tem compromisso com nada.
Muita informação, boa parte oriunda de delações premiadas, algumas sem sequer ligação entre si, dando margem a todo o tipo de especulação golpista.
Misture tudo com bastante mensalão e Zé Dirceu e pronto!
O nomezinho de brincadeira, petrolão, vale só para o PT.
Para o PSDB (cujo nome sequer é citado), é “cartel” de trens.
Em editorial, o jornal insinua descaradamente que a defesa, pelo PT, do fim das contribuições legais de empresas a campanhas seria prova de corrupção.
Ou seja, a opinião da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que já votaram a questão, a convicção de todos os movimentos sociais, das milhões de assinaturas recolhidas para reforma política, os milhares de artigos de intelectuais, tudo isso é solenemente desprezado pela Globo.
Todo mundo foi comprado pelo petrolão.
Menos a Globo, é claro, apesar de ser ela a empresa para onde escorrem todos os recursos do país, legais ou ilegais: é onde as empreiteiras anunciam, onde se defendem (pagando caro, obviamente), onde o governo anuncia e onde o governo se defende (pagando publicidade).
Não podemos esquecer que a maior parte do dinheiro do “mensalão”, os recursos da Visanet, também foram parar na Globo, na forma de publicidade. Há documentos comprovando que a Globo recebeu mais de R$ 5 milhões da DNA Propaganda, no contrato da Visanet.
O Bônus de Volume pago à DNA, considerado um dos crimes do mensalão, foi pago pela Globo.
A Globo tem uma vida fácil demais. Em virtude de sua posição monopolista, ela consegue a proeza de ser paga pelo próprio governo para… dar golpe no governo.
Ao cabo, a Globo conclui, no editorial de hoje de seu jornal impresso:
(…) “a expertise petista neste ramo vem de longe — das prefeituras paulistas e também da montagem da rede de apoio partidário à primeira candidatura Lula, em 2002. Já é parte da História o relato das negociações financeiras a portas fechadas entre José Dirceu e Valdemar Costa Neto, então PL, sobre o pagamento do dote de José Alencar, para o empresário ser o vice de Lula. Ali já era o mensalão.
Tudo pode estar interligado, de 2002 a 2014.”
É um ataque político sórdido, à beira da insanidade. Lembra-me um documentário sobre o John Lennon, em que um maluco invade a sua chácara e dá com o músico no jardim, com alguns amigos. O maluco então grita: “John! Que bom te encontrar! Agora tudo faz sentido!”
Ao que John, delicadamente, responde: “Não, meu chapa, você é que está chapado”.
Se o Globo quiser “interligar” tudo, de 2002 a 2014, deveríamos lembrar todas as manipulações patrocinadas pelo próprio jornal, a começar pela Ação Penal 470.
Ontem Miguel Reale Jr, um respeitado teórico do direito, em artigo para a Folha, acusa o Judiciário e o Ministério Público de estarem, no caso da Lava Jato, recorrendo ao “veneno do arbítrio” e passando “por cima dos princípios constitucionais informativos do processo penal”, com vistas a um suposto combate a corrupção.
O que Reale, um jurista conservador, não diz é que há, evidentemente, um embate político e partidário por trás da Lava Jato.
As mesmas forças, exatamente as mesmas forças, que forçaram a Ação Penal 470, repetem o modus operandi.
Pegam um escândalo real, e o distorcem integralmente.
As empreiteiras têm negócios com todas as prefeituras e com todos os governos estaduais, ou seja, com todos os partidos, fazem doações para todos, mas a culpa é somente do PT.
O principal delator agora é Augusto Mendonça Neto, da Toyo Setal, um dos fundadores da PEM Engenharia, que por sua vez é uma das sócias da TTrans, uma das principais réus no trensalão.
Parece até piada. O delator do petrolão é réu do trensalão.
O problema, como sempre, é a Babel midiática, a manipulação, que visa apenas confundir e gerar desgaste político contra o PT.
Os leitores se perguntam, perplexos, porque o PT não responde.
Ora, o PT não tem mais quadro. Simples assim.
O partido vem sendo desossado brutalmente desde que ganhou as eleições em 2002.
A única solução para o PT seria investir profundamente na formação de novos quadros.
O PT tem de deixar de ser muquirana e investir dinheiro em cursos de formação de massa, para gerar cérebros para si mesmo, que possam participar da luta política no país.
Investir em mídia.
Investir em think tanks.
A mesma coisa vale para o governo.
O governo também foi desossado. E também tem de investir em formação política, em novas lideranças, em think tanks, para o bem da nossa democracia.
O terrorismo penal da Ação Penal 470, onde se condenou um porção de gente sem necessidade de prova, em cima de uma verdadeira ficção, deu um excelente resultado.
Apavorou os quadros políticos do governo.
O governo vive acuado, com medo.
Todo mundo orando para que seu nome não seja arrastado no “mar de lama”.
A pena imposta a Marcos Valério, duas vezes maior que a do goleiro Bruno, acusado de matar, esquartejar e dar aos cães a mãe de seu próprio filho, produziu um trauma no sistema jurídico brasileiro.
Por que trauma?
Porque se consumou ali um ato de terrorismo político, midiático e, por fim, judicial.
O governo e o PT ainda não sabem como lidar com isso.
Ambos saem de uma crise e mergulham em outra, sem tempo de respirar ou refletir.
Ganharam as eleições em virtude das políticas sociais, não porque tivessem desenvolvido uma resposta adequada ao golpe jurídico-político que foi a Ação Penal 470, e que, agora vemos, volta à baila.
A Globo quer martelar o termo “petrolão” porque entende que o “mensalão” foi um sucesso político.
Marcos Valério operou para o PSDB durante décadas. Operou um ano para o PT e recebeu uma condenação superior a 40 anos de prisão.
E olha que, com o PSDB, foi dinheiro público purinho da silva. Com o PT, foi verba privada, do Visanet.
Não interessa. Até isso conseguiram: transformar os recursos da Visanet em públicos. Ayres Brito, em explanação psicodélica, ao vivo no julgamento do mensalão, disse que a prova de que a Visanet era pública estava em seu nome: “Companhia Brasileira de Meios de Pagamento”.
Para sairmos desse atoleiro golpista em que estamos mergulhados desde 2005 será preciso investir em cultura também, denunciando a mídia como um ator político que se recusa a dizer ao público que ele é isso: um ator político.
A mídia finge que está na plateia, apenas descrevendo o que acontece no palco. Não está. A mídia está no palco, operando as luzes, pagando outros atores, subornando a equipe técnica.
O último filme de Murilo Salles, O Fim e os Meios, retrata a nossa decadência cultural, que por sua vez também sofre com o monopólio.
É um filme ruim, medíocre, porque não questiona a imprensa.
O antagonista é um político caricato. A jornalista é uma heroína.
O primeiro filme moderno, Cidadão Kane, é um questionamento à imprensa e ao monopólio da mídia.
Desde então o cinema americano tem produzindo inúmeras obras para questionar o papel da mídia e da imprensa na democracia.
Aqui, não, porque a Globo também domina o cinema. Para o filme fazer sucesso, precisa ter ator da Globo. Para o filme vender, tem de anunciar na Globo.
Não há sequer literatura de ficção questionando o papel da mídia.
Vivemos uma ditadura branca, onde o assunto mais importante de uma democracia pós-moderna, a mídia, não pode ser debatido com liberdade.
Pelo Tijolaço, sabemos agora que o novo ataque midiático, via Gilmar Mendes, atacando Dilma pelo flanco eleitoral, é uma doação da Gerdau que também foi feita, em igual valor, para Aécio Neves e Marina.
Essa é razão pela qual os “técnicos do TSE” não querem aprovar as contas de Dilma.
Alguém aí ouviu a opinião dos “técnicos do TSE” sobre a mesma doação, da mesma Gerdau, para Aécio e Marina?
Alguém aí ouviu a opinião dos “técnicos do TSE” sobre o jatinho fantasma de Marina Silva?
Alguém aí leu os editorais da nossa mídia falando nisso?
Eu só sei que, quando Dilma tomar posse, em janeiro de 2015, e quando o novo ministério estiver formado, a pressão das bases será violentíssima para que o governo entre na luta pela democracia.
Falar em reforma política sem falar antes em democracia da mídia é piada.
Democracia da mídia é muito mais do que aprovar uma lei democrática no Congresso.
É investir na luta contra o monopólio da informação.
É parar de anunciar na grande mídia e investir na pluralidade, como manda a Constituição e o bom senso democrático.
Como será possível discutir reforma política, ou qualquer reforma, se a direita golpista, através do monopólio econômico, mantém o controle da agenda política nacional?
Vide o caso de Gilmar Mendes, prendendo há quase um ano (!), a votação sobre a doação de empresa a partido político.
Não dá mais para um país com essa magnitude ter uma agenda política pautada por duas ou três famílias que devem sua fortuna e poder à ditadura militar, e à toda corrupção inerente a um ambiente político autoritário.
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