Por Adilson Araújo, no site da CTB:
A nova derrota tucana livrou o Brasil das receitas recessivas, temperadas por demissões em massa, fim da política de valorização do trabalho e dos salários, flexibilização da legislação trabalhista, perseguição e criminalização das lutas sociais, restauração de uma política externa subserviente aos EUA e União Europeia, privatização do Banco do Brasil, Caixa Econômica e Petrobras.
Luta de classes
Por essas e outras razões é que consideramos a reeleição de Dilma como uma grande vitória da classe trabalhadora. A burguesia em geral, e em particular os barões da mídia golpista, banqueiros, especuladores, testas de ferro das multinacionais, bem como velhos e novos latifundiários, apoiaram Aécio Neves. Embora divididos e em certa medida desnorteados pela campanha midiática, associada ao terrorismo no mercado de capitais, os trabalhadores e trabalhadoras votaram majoritariamente na presidenta.
Mas das urnas não emergiram apenas boas novas para o Ano Novo. As eleições parlamentares resultaram no avanço das forças conservadoras. A correlação de forças no Congresso Nacional, que já não era boa, sofreu um notório revés e tornou-se ainda mais adversa aos interesses da classe trabalhadora. O ambiente tornou-se mais favorável às forças conservadoras, hostil aos projetos oriundos dos movimentos sociais, partidário da agenda regressiva apresentada por porta-vozes do patronato.
O avanço da direita e da extrema direita, na onda do denuncismo e do falso moralismo, também se refletiu no resultado final da eleição presidencial. Nota-se uma crescente radicalização da luta de classes no Brasil e no mundo, bem como das contradições e conflitos internacionais, fenômenos que têm por pano de fundo a crise econômica e geopolítica do sistema capitalista mundial, que já faz sete anos e, de resto, evidencia os limites históricos do modo de produção burguês e a necessidade objetiva do socialismo.
Avançar nas mudanças
A leitura classista da conjuntura indica que é indispensável avançar nas mudanças para consolidar o que foi conquistado ao longo dos últimos 11 anos, evitar futuros retrocessos e viabilizar a agenda da classe trabalhadora por um novo projeto de desenvolvimento nacional com valorização do trabalho, soberania e democracia, que compreende também a integração da América Latina e a transição para uma nova ordem internacional.
Temos pela frente o grande desafio de elevar o grau de consciência e mobilização da classe trabalhadora e do povo brasileiro, aprofundar as mudanças e lograr o atendimento de demandas históricas do nosso povo e das centrais traduzidas na pauta aprovada em junho de 2010 na 2ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat).
A Conclat aprovou uma agenda classista por um novo projeto de desenvolvimento fundado na valorização do trabalho, na soberania e na democracia, daí extraindo uma pauta unificada. Nela, as centrais propõem mudanças na política econômica (com o fim do malfadado superávit primário; a redução substancial dos juros; o controle do câmbio; a taxação das remessas de lucros); a extinção do fator previdenciário; mais investimentos no SUS, bem como na educação e transporte públicos; reformas democráticas (política, agrária, urbana, tributária, da educação e do Judiciário); integração soberana da AL; democratização da mídia; redução da jornada de trabalho sem redução de salários; rejeição do PL 4330, que escancara a terceirização; igualdade de oportunidade para homens e mulheres; fortalecimento da agricultura familiar; ratificação e regulamentação das convenções 158 e 151 da OIT.
Somente com grandes mobilizações e lutas sociais será possível romper a resistência e a contraofensiva da direita neoliberal e das forças conservadoras. Precisamos politizar e envolver a juventude trabalhadora nas batalhas políticas, ganhar as ruas, praças e avenidas para derrotar a direita golpista e neoliberal, avançar na direção de uma reforma política democrática, da democratização da mídia, da concretização da pauta unitária das centrais e das transformações que a classe trabalhadora e o povo brasileiro reclamam.
Sete anos de luta
O balanço que fazemos da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) em 2014, bem como dos seus sete anos de fundação, também é positivo. Foram sete anos de muitas lutas, coerência classista e ênfase na unidade da classe trabalhadora e do movimento sindical brasileiro. Nossa central é a que mais cresceu no Brasil entre 2008 e 2013, segundo informações do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Contamos hoje com mais de 1000 entidades filiadas, muitas ainda em processo de regularização do cadastro no ministério.
Buscando caminhar em unidade com as demais centrais sindicais, a CTB tem se empenhado na mobilização e conscientização das suas bases, buscando sempre elevar o nível de intervenção e o protagonismo da classe trabalhadora na luta política nacional.
A direção realizou e aprovou o planejamento estratégico, constituiu o Centro de Organização, Apoio e Logística às Entidades Sindicais (projeto Coral), enfatizando o apoio às CTB’s estaduais. Ampliou os investimentos na Comunicação, viabilizando novos projetos gráficos e editoriais para o Portal CTB, as revistas Visão classista, Mulher D’Classe, Rebele-se e Juventude CTB e a publicação do Jornal Olho crítico, com uma tiragem de 100 mil, que inicialmente dialoga mais com a população paulistana, em especial usuários do Metrô, mas com a pretensão de estender seu alcance para todo o país. Prevalece a compreensão de que a Comunicação é um fator decisivo para tornar mais eficiente a nossa propaganda e dialogar mais e melhor com as bases e a sociedade. O papel político da mídia ficou ainda mais claro nas eleições presidenciais deste ano.
Unidade interna
As reuniões da direção executiva e plena sempre foram pautadas por um espírito de unidade na diversidade e respeito às diferentes opiniões dos dirigentes da Central, que por natureza é plural e autônoma em relação aos partidos políticos, contando entre seus filiados partidários de diferentes organizações políticas, além de sindicalistas independentes. As decisões políticas e orientações são atualizadas de forma plural, democrática e coletiva.
No terreno das propostas aprovadas no 3º Congresso, realizado em agosto de 2013, referendadas no Planejamento Estratégico Situacional (PES), destacam-se as prioridades atribuídas à Comunicação e Formação. A concretização do projeto de criação da Escola Nacional da CTB, com foco na formação política da juventude trabalhadora e em estreita parceria com o Centro de Estudos Sindicais (CES), é o principal desafio para 2015. Também colocamos em prática a ideia do mandato itinerante, realizando em dezembro a reunião da Direção Nacional e a comemoração dos sete anos da nossa Central na capital da Bahia.
A compra da sede própria, a implantação do Posto Avançado de Ação Sindical e Institucional (Passi), um espaço de apoio e logística para os dirigentes e movimentos sociais que atuam em Brasília, bem como ponto de articulação política e de pressão junto ao Congresso Nacional, devem inaugurar uma nova fase da central.
Na frente internacional a CTB tem uma das mais importantes tarefas em seus sete anos de existência, que é realizar no Brasil em outubro de 2015 o Encontro Sindical Anti-imperialista e o Simpósio Internacional da Federação Sindical Mundial (FSM) que completa seus 70 anos de luta no dia 3 de outubro do próximo ano. Prevê-se a participação de 200 sindicalistas estrangeiros e representação de 50 países.
A reunião do Conselho, prevista para 2015, deve se constituir numa ferramenta fundamental de atualização da nossa plataforma política e do plano de lutas, elementos substanciais para a vida orgânica e política da Central.
* Adilson Araújo é presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-CTB.
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