Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os jornais destacam, nas edições de quarta-feira (6/5), mais uma manifestação de eleitores oposicionistas contra o Partido dos Trabalhadores, ocorrida na noite anterior, quando foi ao ar a propaganda da agremiação em rede nacional de TV. Nenhuma surpresa no fato, embora a imprensa registre que o barulho foi menos intenso e ocorreu em menos cidades do que nos protestos do mês de março.
Para o partido que lidera a aliança governista em Brasília, trata-se de uma rotina a ser absorvida e administrada com a definição de seu papel no jogo político: o PT precisa decidir se ainda faz jus ao significado de suas duas letras, ou se mergulhou de vez no bazar em que se transformou o Congresso Nacional. A resposta a essa questão também refere diretamente ao modo como o partido e o próprio governo se relacionam com a imprensa, porta-voz e patrocinadora da oposição.
Esse desafio está explícito numa foto publicada pelo Globo, que mostra, na sacada de um apartamento do bairro de Higienópolis, região de alta classe média de São Paulo onde mora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma senhora e sua empregada uniformizada, lado a lado, batendo panelas. Seria esse um indício de que o partido que promoveu o fenômeno da mobilidade social na última década está perdendo apoio nas classes de renda baixa?
Também é interessante observar, como anota o Estado de S. Paulo em sua versão digital (ver aqui), que, enquanto os oposicionistas saíam às janelas, os petistas se manifestavam nas redes digitais – o Twitter registrou a expressão #TonaLutaPeloBrasil, de apoio ao governo Dilma, como uma das mais comentadas no período. A versão impressa do jornal paulista não traz essa informação – e pode-se especular o quanto a comunicação confusa do Planalto contribui para desestimular seus apoiadores.
O noticiário sobre o pacote de ajustes na economia destaca, na quarta-feira (6), a dificuldade que tem a bancada governista para tomar uma posição quanto às Medidas Provisórias 664 e 665, que propõem mudanças no pagamento de benefícios trabalhistas, como a pensão por morte, auxílio-doença, seguro-desemprego e abono salarial.
Nas redes sociais, percebe-se que há uma desinformação geral sobre o tema, mesmo nos grupos de debate formados por jornalistas.
Aposta no consumo
O panelaço ganha as primeiras páginas dos jornais de circulação nacional, que também dão destaque a esse dilema dos petistas, no contexto em que o Executivo não consegue esclarecer como irá reduzir as despesas do Estado e ao mesmo tempo preservar os direitos dos assalariados.
Com um olho na urgência de superar as dificuldades conjunturais e o outro na perda de popularidade do governo, o PT enfrenta as consequências de seu maior erro estratégico em mais de uma década no poder: bancou o acesso dos mais pobres a níveis mais satisfatórios de consumo, mas deixou de lado a educação política de sua clientela.
Conforme foi registrado neste espaço mais de uma vez, a primeira geração de jovens que conquistaram o acesso à universidade com os programas sociais do governo petista se mostra menos conservadora que seus pais, mas há uma tendência natural a que se torne mais cautelosa à medida em que amadurece e passa a enfrentar os dilemas da autonomia. Ao mesmo tempo, as crescentes dificuldades para ampliar ou manter o financiamento da educação superior podem produzir uma ruptura nessa base do petismo.
Business as usual
O panelaço não foi notado por integrantes do grupo de ativistas digitais reunido em São Paulo para um encontro com um time de executivos do New York Times e da Endeavor, entidade não governamental que apoia empreendedores. No entanto, o protagonismo da mídia tradicional no contexto político radicalizado foi um dos temas tratados em algumas das conversas, e é justamente nesse aspecto que se abrem oportunidades para o Times e outros títulos importantes da imprensa internacional ampliarem sua atuação no Brasil.
As conversas giraram em torno de iniciativas no campo da mídia e, embora estivessem presentes representantes da imprensa tradicional, as maiores atenções estavam voltadas para empreendedores inovadores, que podem contribuir para consolidar certas marcas globais no cenário brasileiro de comunicação.
O evento simbolizava de certa maneira o momento da imprensa nacional: enquanto seus principais protagonistas se envolvem na disputa partidária, comprometendo sua reputação, o New York Times articula a expansão de sua presença no mercado brasileiro.
Para o partido que lidera a aliança governista em Brasília, trata-se de uma rotina a ser absorvida e administrada com a definição de seu papel no jogo político: o PT precisa decidir se ainda faz jus ao significado de suas duas letras, ou se mergulhou de vez no bazar em que se transformou o Congresso Nacional. A resposta a essa questão também refere diretamente ao modo como o partido e o próprio governo se relacionam com a imprensa, porta-voz e patrocinadora da oposição.
Esse desafio está explícito numa foto publicada pelo Globo, que mostra, na sacada de um apartamento do bairro de Higienópolis, região de alta classe média de São Paulo onde mora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma senhora e sua empregada uniformizada, lado a lado, batendo panelas. Seria esse um indício de que o partido que promoveu o fenômeno da mobilidade social na última década está perdendo apoio nas classes de renda baixa?
Também é interessante observar, como anota o Estado de S. Paulo em sua versão digital (ver aqui), que, enquanto os oposicionistas saíam às janelas, os petistas se manifestavam nas redes digitais – o Twitter registrou a expressão #TonaLutaPeloBrasil, de apoio ao governo Dilma, como uma das mais comentadas no período. A versão impressa do jornal paulista não traz essa informação – e pode-se especular o quanto a comunicação confusa do Planalto contribui para desestimular seus apoiadores.
O noticiário sobre o pacote de ajustes na economia destaca, na quarta-feira (6), a dificuldade que tem a bancada governista para tomar uma posição quanto às Medidas Provisórias 664 e 665, que propõem mudanças no pagamento de benefícios trabalhistas, como a pensão por morte, auxílio-doença, seguro-desemprego e abono salarial.
Nas redes sociais, percebe-se que há uma desinformação geral sobre o tema, mesmo nos grupos de debate formados por jornalistas.
Aposta no consumo
O panelaço ganha as primeiras páginas dos jornais de circulação nacional, que também dão destaque a esse dilema dos petistas, no contexto em que o Executivo não consegue esclarecer como irá reduzir as despesas do Estado e ao mesmo tempo preservar os direitos dos assalariados.
Com um olho na urgência de superar as dificuldades conjunturais e o outro na perda de popularidade do governo, o PT enfrenta as consequências de seu maior erro estratégico em mais de uma década no poder: bancou o acesso dos mais pobres a níveis mais satisfatórios de consumo, mas deixou de lado a educação política de sua clientela.
Conforme foi registrado neste espaço mais de uma vez, a primeira geração de jovens que conquistaram o acesso à universidade com os programas sociais do governo petista se mostra menos conservadora que seus pais, mas há uma tendência natural a que se torne mais cautelosa à medida em que amadurece e passa a enfrentar os dilemas da autonomia. Ao mesmo tempo, as crescentes dificuldades para ampliar ou manter o financiamento da educação superior podem produzir uma ruptura nessa base do petismo.
Business as usual
O panelaço não foi notado por integrantes do grupo de ativistas digitais reunido em São Paulo para um encontro com um time de executivos do New York Times e da Endeavor, entidade não governamental que apoia empreendedores. No entanto, o protagonismo da mídia tradicional no contexto político radicalizado foi um dos temas tratados em algumas das conversas, e é justamente nesse aspecto que se abrem oportunidades para o Times e outros títulos importantes da imprensa internacional ampliarem sua atuação no Brasil.
As conversas giraram em torno de iniciativas no campo da mídia e, embora estivessem presentes representantes da imprensa tradicional, as maiores atenções estavam voltadas para empreendedores inovadores, que podem contribuir para consolidar certas marcas globais no cenário brasileiro de comunicação.
O evento simbolizava de certa maneira o momento da imprensa nacional: enquanto seus principais protagonistas se envolvem na disputa partidária, comprometendo sua reputação, o New York Times articula a expansão de sua presença no mercado brasileiro.
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