Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
Imprensa e democracia têm tudo em comum. Uma não existe sem a outra. É preciso liberdade para levar informações relevantes a todos os cidadãos. Por outro lado, sem informação de qualidade não se garante um ambiente efetivamente democrático.
É preciso cuidar dos dois lados. Um olho na democracia, outro no jornalismo. A onda de demissões nos grandes jornais brasileiros é, por isso mesmo, motivo de preocupação. Pode ser que, de uma só vez, se esteja atentando contra os dois lados. Abrindo o flanco para uma sociedade de pessoas desinformadas e com menos autonomia na tomada de decisões e vitaminando um jornalismo marcado por interesses particulares.
Existe uma crise no negócio da comunicação em todo o mundo. Há muitas vias para se compreender o cenário de dificuldades: a perda de relevância política do setor; a entrada em cena de uma tecnologia que conflita com as bases econômicas tradicionais do negócio; o esvaziamento do jornalismo como ferramenta de conquista do conhecimento. Jornal atualmente não conta, não põe dinheiro na conta e não ajuda a contar a história.
Esse conjunto de crises se reflete na diminuição de receitas e tem levado as empresas a abrirem mão de seus melhores profissionais em nome do corte de gastos. Uma espécie de ajuste fiscal em escala reduzida. Quem vem perdendo com isso é o leitor, que passa a receber menos informação, menos análise, menos luz. E dá para ver o resultado: a cada dia os jornais estão mais fininhos em páginas, superficiais em conteúdo e iguais em opinião. O pensamento único é, ao mesmo tempo, inimigo da pluralidade e da profundidade. Rápido e rasteiro.
Parece óbvio que a saída para o jornalismo, num ambiente em que a informação explode em todas as direções, deveria ser a aposta na qualidade da informação. O que vai fazer um leitor buscar um veículo de comunicação e não outro é a capacidade de dar mais substância aos fatos. Se for para ficar na superfície, as redes sociais são imbatíveis.
No entanto, os grandes jornais não entenderam a lição e estão mandando para casa a inteligência e ficando com as curtidas. Há uma tendência ao mimetismo entre a notícia trabalhada com ética e a barafunda emocional de dados que circula nas redes. Hoje, os sites de busca e de relacionamento se tornaram porta de entrada para a procura por informação jornalística, o que é um risco. Os próprios veículos trouxeram o cavalo de troia para dentro de suas redações.
Mas é preciso atenção. O capitalismo geralmente descobre um jeito próprio de adiar as crises estruturais, quase sempre pelo exercício da política, no pior sentido do termo. Num ambiente de eterna lamentação sobre as perdas do setor, as Organizações Globo, que recentemente demitiram cerca de 300 profissionais, alegando crise, curiosamente emplacaram seus três principais executivos na lista dos homens mais ricos do mundo. Somados os patrimônios dos manos Marinho, não há outro empresário de mídia capaz de lhes fazer frente no planeta.
A conta parece não fechar, mas se explica. A crise do negócio pode afetar a imprensa em todo o mundo, mas no Brasil se escora numa dimensão protegida pela confusão estabelecida historicamente entre benefícios privados e recursos públicos. Para se ganhar dinheiro no setor em nosso país parece não ser necessário produto de qualidade e nem mesmo audiência. Quanto mais o Jornal Nacional perde público e os diários impressos despencam no IVC, mais o sistema se defende. Aumento de verbas públicas, projetos especiais e bônus de veiculação são apenas alguns dos instrumentos.
Nem mesmo alguns governos eleitos ano passado, que sentiram na carne o estilo pernicioso dos meios de comunicação que não fizeram jornalismo – antes se engajaram desavergonhadamente na campanha – são capazes de romper com esse ciclo. Há um misto de covardia e vaidade que paralisa a reação dos responsáveis pela comunicação na área pública. Não há nada mais político no Brasil que a mídia técnica, nada mais narcisista que a pretensa impessoalidade das estratégias de marketing público.
O modelo de comunicação brasileiro protegeu historicamente as grandes empresas, quando não foi fiador de sua gênese e desenvolvimento, por meio de grana de publicidade, isenção de impostos de insumos e empréstimos de pai para filho. Sem falar que o setor nunca viu investimento relevante e indutor nas áreas da diversidade cultural, da produção independente, da imprensa popular e do jornalismo público.
O resultado dessa contradição não vai demorar a se expressar pelo seu pior prognóstico. Teremos um jornalismo sem jornalistas, uma imprensa sem opinião, uma sociedade baseada na fofoca. Poucos empresários bilionários e uma ordem informativa indigente. Aí, jornalismo e democracia vão ocupar faixas distintas. E vai ser ruim para os dois lados.
Imprensa e democracia têm tudo em comum. Uma não existe sem a outra. É preciso liberdade para levar informações relevantes a todos os cidadãos. Por outro lado, sem informação de qualidade não se garante um ambiente efetivamente democrático.
É preciso cuidar dos dois lados. Um olho na democracia, outro no jornalismo. A onda de demissões nos grandes jornais brasileiros é, por isso mesmo, motivo de preocupação. Pode ser que, de uma só vez, se esteja atentando contra os dois lados. Abrindo o flanco para uma sociedade de pessoas desinformadas e com menos autonomia na tomada de decisões e vitaminando um jornalismo marcado por interesses particulares.
Existe uma crise no negócio da comunicação em todo o mundo. Há muitas vias para se compreender o cenário de dificuldades: a perda de relevância política do setor; a entrada em cena de uma tecnologia que conflita com as bases econômicas tradicionais do negócio; o esvaziamento do jornalismo como ferramenta de conquista do conhecimento. Jornal atualmente não conta, não põe dinheiro na conta e não ajuda a contar a história.
Esse conjunto de crises se reflete na diminuição de receitas e tem levado as empresas a abrirem mão de seus melhores profissionais em nome do corte de gastos. Uma espécie de ajuste fiscal em escala reduzida. Quem vem perdendo com isso é o leitor, que passa a receber menos informação, menos análise, menos luz. E dá para ver o resultado: a cada dia os jornais estão mais fininhos em páginas, superficiais em conteúdo e iguais em opinião. O pensamento único é, ao mesmo tempo, inimigo da pluralidade e da profundidade. Rápido e rasteiro.
Parece óbvio que a saída para o jornalismo, num ambiente em que a informação explode em todas as direções, deveria ser a aposta na qualidade da informação. O que vai fazer um leitor buscar um veículo de comunicação e não outro é a capacidade de dar mais substância aos fatos. Se for para ficar na superfície, as redes sociais são imbatíveis.
No entanto, os grandes jornais não entenderam a lição e estão mandando para casa a inteligência e ficando com as curtidas. Há uma tendência ao mimetismo entre a notícia trabalhada com ética e a barafunda emocional de dados que circula nas redes. Hoje, os sites de busca e de relacionamento se tornaram porta de entrada para a procura por informação jornalística, o que é um risco. Os próprios veículos trouxeram o cavalo de troia para dentro de suas redações.
Mas é preciso atenção. O capitalismo geralmente descobre um jeito próprio de adiar as crises estruturais, quase sempre pelo exercício da política, no pior sentido do termo. Num ambiente de eterna lamentação sobre as perdas do setor, as Organizações Globo, que recentemente demitiram cerca de 300 profissionais, alegando crise, curiosamente emplacaram seus três principais executivos na lista dos homens mais ricos do mundo. Somados os patrimônios dos manos Marinho, não há outro empresário de mídia capaz de lhes fazer frente no planeta.
A conta parece não fechar, mas se explica. A crise do negócio pode afetar a imprensa em todo o mundo, mas no Brasil se escora numa dimensão protegida pela confusão estabelecida historicamente entre benefícios privados e recursos públicos. Para se ganhar dinheiro no setor em nosso país parece não ser necessário produto de qualidade e nem mesmo audiência. Quanto mais o Jornal Nacional perde público e os diários impressos despencam no IVC, mais o sistema se defende. Aumento de verbas públicas, projetos especiais e bônus de veiculação são apenas alguns dos instrumentos.
Nem mesmo alguns governos eleitos ano passado, que sentiram na carne o estilo pernicioso dos meios de comunicação que não fizeram jornalismo – antes se engajaram desavergonhadamente na campanha – são capazes de romper com esse ciclo. Há um misto de covardia e vaidade que paralisa a reação dos responsáveis pela comunicação na área pública. Não há nada mais político no Brasil que a mídia técnica, nada mais narcisista que a pretensa impessoalidade das estratégias de marketing público.
O modelo de comunicação brasileiro protegeu historicamente as grandes empresas, quando não foi fiador de sua gênese e desenvolvimento, por meio de grana de publicidade, isenção de impostos de insumos e empréstimos de pai para filho. Sem falar que o setor nunca viu investimento relevante e indutor nas áreas da diversidade cultural, da produção independente, da imprensa popular e do jornalismo público.
O resultado dessa contradição não vai demorar a se expressar pelo seu pior prognóstico. Teremos um jornalismo sem jornalistas, uma imprensa sem opinião, uma sociedade baseada na fofoca. Poucos empresários bilionários e uma ordem informativa indigente. Aí, jornalismo e democracia vão ocupar faixas distintas. E vai ser ruim para os dois lados.
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