sábado, 21 de novembro de 2015

O futuro do peronismo na Argentina

Por Vanessa Martina Silva, de Buenos Aires, no site Opera Mundi:

No domingo (22/11), os argentinos vão às urnas para eleger um novo presidente. Mas, além da Casa Rosada, outra disputa se articula nos bastidores políticos. Trata-se de ver, após 12 anos de governo kirchnerista, que forças irão liderar o peronismo. De acordo com o jornalista Luis Bruschtein, editor do jornal argentino Página/12, “ganhe [Daniel] Scioli ou [Mauricio] Macri, haverá uma forte reestruturação dentro do peronismo”.

Bruschtein é filho de Laura Bonaparte, uma das Mães da Praça de Maio, que morreu no ano passado. Ele teve o pai, duas irmãs e um irmão desaparecidos na ditadura militar (1966-1973). Por essa razão, exilou-se no México, onde exerceu o jornalismo e, de volta à Argentina, integra a equipe do jornal Página/12, fundado em 1987. Em entrevista a Opera Mundi, ele avalia o cenário do peronismo no país pós-kirchnerista e a campanha eleitoral no país.

Realinhamento

A colocação de Bruschtein ajuda a entender a movimentação de peronistas contrários ao governo da presidente Cristina Kirchner em torno do candidato por ela apoiado, Daniel Scioli.

Por ser um movimento com ampla base popular e com ideologia diversa, o peronismo tem como característica a adaptação aos diferentes cenários políticos e econômicos do país. Assim, o apoio dos peronistas Felipe Solá, Ignacio Mendiguren e Eduardo Duhalde ao candidato do governista FPV (Frente para a Vitória – coalizão de partidos que apoiam o governo de Cristina Kirchner) é uma reação aos eleitores que, apesar da sinalização dada pela Frente Renovadora (comandada por Massa) a favor de Macri, votarão em Scioli.

“No caso de Solá, ele responde à sua base social porque percebeu que seus mais de 1,5 milhão de eleitores vão votar em Scioli. Se não estivessem fazendo essa avaliação, não dariam esse apoio de forma tão aberta”, diz Bruschtein.

Já Mendiguren, que é ex-presidente da União Industrial Argentina, está representando a linha econômica do setor industrial. Bruschtein ressalta que o setor das pequenas e médias indústrias “é mais alinhado às referências econômicas da FPV, de aprofundamento da industrialização, e por isso é favorável a Scioli”.

Disputa interna

No que se refere à disputa por liderança dentro do peronismo, Bruschtein avalia que os apoiadores de Massa “querem manter um pé dentro do peronismo para a disputa interna que seguramente vai ocorrer tanto se Scioli ganhar, como se perder”.

Ainda para o jornalista, Massa tem uma “expectativa de ganhar um espaço importante dentro do peronismo, desbancando um pouco o kirchnerismo. Nessa especulação, é conveniente para Massa que Scioli perca, porque isso afetaria tanto Scioli como o kirchnerismo e deixaria Massa como força importante para o movimento”.

Cenário para domingo

Bruschtein é cuidadoso ao avaliar o resultado eleitoral. "É difícil tirar conclusões. Há erros [por parte do governo] e uma grande campanha midiática a favor de Macri e contra Scioli”. Mas, aponta alguns sinais “há uma geração de menos de 30 anos cuja única experiência é esse governo e eles não têm ideia de que pode haver outro que seja regressivo”.

Além disso, “Macri e Scioli são governantes [o primeiro, da Cidade de Buenos Aires, e o segundo, governador da província]. A cidade é muito pequena e tem um orçamento muito alto, então é mais fácil que a província, que é metade do país. Os dois têm erros na gestão, mas Macri soube ter mentalidade publicitária desde o começo. Scioli chegou tarde nisso e não destacou os aspectos positivos da gestão."

Candidatos

Nesta quinta-feira (19/11), ocorreu o encerramento de campanha de ambos os candidatos e, desde esta sexta-feira (20/11) tem início o silêncio eleitoral, estando os candidatos e eleitores proibidos de fazer campanha política, exceto nas redes sociais.

Para demonstrar um comportamento federalista, Macri, que é muito vinculado à capital portenha, escolheu o Monumento aos Heróis da Independência, em Humahuaca, na província de Jujuy, no norte do país, como local para seu último comício.

Já Scioli, que tem feito uma campanha intensa pelo país, realizou dois atos de encerramento. Um em Mar del Plata, na tarde dequi nta, e outro no coração de La Matanza, cidade estratégica para o peronismo.

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