sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Os ‘coxinhas’ e o casório no Jockey Club

Por Altamiro Borges

Os falsos moralistas da elite paulista, já batizados de “coxinhas”, perderam excelente oportunidade para extravasar seu amor à ética, à tradição, à família e à propriedade. Em pleno Jockey Club, local de ricaços exibicionistas e de estrelas globais, ocorreu na quarta-feira (30) o casamento da filha de Julio Camargo, um dos principais delatores da Operação Lava-Jato. A festança, segundo anteciparam Thais Arbex e Bela Megale na Folha, seria agitada. Mas os tais “coxinhas” não fizeram nenhum protesto contra a corrupção. Talvez alguns até estivessem na lista de convidados especiais do ex-consultor da empreiteira Toyo Setal e ex-representante de várias megacorporações empresariais, como a Samsung.


Segundo a matéria, “no dia 30 de janeiro, às 18h30, Daniel Maluhy, 37, estará no altar da tradicional Nossa Senhora do Brasil, uma das mais concorridas igrejas de São Paulo, à espera da noiva, Roberta Camargo, 32. Ela entrará com o pai, Julio Camargo, condenado no escândalo da Lava Jato e um dos delatores da operação Lava Jato. As revelações do lobista foram a principal origem da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Camargo admitiu fazer parte do esquema de pagamento de propina à Petrobras e foi multado em R$ 40 milhões, a serem pagos à União”.

Em depoimento prestado à Justiça Federal em julho, o lobista afirmou que repassou R$ 5 milhões em propinas ao presidente da Câmara Federal para que um contrato de navios-sonda com a Petrobras fosse viabilizado. Em agosto, ele foi condenado a 14 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Em virtude da sua “colaboração” na delação premiada, a sua pena foi reduzida para cinco anos de cadeia em regime aberto, sem a necessidade de uso de tornozeleira. “Assim, ele poderá aproveitar a cerimônia e uma festa para 600 convidados no Jockey Clube de São Paulo, que já presidiu interinamente”, descreve a Folha, que ainda dá detalhes da festança.

“No Jockey, dois salões estão reservados para a festa desde o início de 2015... Roberta é, com o irmão, Julio Belardi de Almeida Camargo, o Julinho, sócia do pai no haras Old Friends. De acordo com documento da Junta Comercial de São Paulo, a participação dela na empresa é de R$ 2.000 em um capital de R$ 200 mil. Fundado em 1994, o haras é um dos principais criadores de cavalos de competição, daí a ligação da família com o Jockey. Julinho é integrante da diretoria que comandará o clube até 2017... O aluguel dos dois salões reservados pelo casal custa entre R$ 50 mil e R$ 70 mil, segundo a Folha apurou”.

“Funcionários envolvidos na organização do evento relataram que Roberta e Daniel desembolsaram R$ 350 por convidado para o bufê, comandado pelo chef francês Pascal Valero. As bebidas alcoólicas não estão incluídas no pacote de R$ 210 mil. Cerimonialistas consultadas pela Folha disseram que uma cerimônia na Nossa Senhora do Brasil custa, em média R$ 20 mil incluindo a taxa da igreja, a contratação de coral e orquestra e a decoração. O valor, porém, pode ser dividido entre as noivas que casam no mesmo dia. Por determinação da paróquia, Roberta e suas convidadas não poderão usar fendas nem decotes”.

“Os convites começaram a ser entregues na semana passada, às vésperas do Natal, logo depois que Roberta e Daniel fizeram o casamento civil, no dia 17 de dezembro. Um dos presentes mais caros da lista é um fogão de cinco bocas de R$ 15 mil. Artigos de luxo da grife Tânia Bulhões, como um porta-requeijão (R$ 520), um porta-guardanapos (R$ 690) e um porta-adoçantes (R$ 1.160), feitos de prata, além de um aparelho de jantar em porcelana (R$ 6.780), também constam da lista de pedidos do casal”. O casório seria o momento ideal para um protesto dos "coxinhas" contra a corrupção. Mas muitos deles devem ter preferido participar da festança, "sem usar fendas nem decotes” ou alguma fantasia de vestal da ética.

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