Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Tenho lido definições diversas para este ano atípico que se acaba daqui a pouco, inclusive a de que ele não é (foi) um ano em si mas, na política e no poder, a continuação de 2014. Sendo ou não sendo, todos querem que ele acabe, na vida pública e na vida pessoal também. Na primeira, foi tormentoso. Na vida de cada um, foi um ano de vacas magras depois do tempo das espigas gordas. E gordas não só para os pobres mas também para os ricos.
No que toca à vida política, econômica e social, a representação do país em sua superestrutura, foi meu amigo argentino Guido Nejamskis, responsável pelo 247 em espanhol,. que me lançou a faísca. “Aqui, vendo de longe, parece-me que o Brasil é um pais em momento de autoflagelação”.
Fiquei com isso na cabeça e aderi a esta percepção. Nunca todos se esforçaram tanto para chicotear o próprio país. O governo cometendo erros políticos e econômicos seguidos, às voltas com uma espada de Dâmocles sobre a cabeça da presidente, um impeachment com DNA golpista, pela ausência do crime justificado. A oposição tomando os mais nefastos caminhos em busca de sua oportunidade de poder, rasgando (alguns) compromissos democráticos históricos. E quando a crise passar, ficará a nódoa. O mercado apostando alto na piora de tudo, os empresários céticos, os trabalhadores apáticos e, para completar, esta corrente de intolerância que vai tomando ares cada vez mais fascistas.
Tenho lido definições diversas para este ano atípico que se acaba daqui a pouco, inclusive a de que ele não é (foi) um ano em si mas, na política e no poder, a continuação de 2014. Sendo ou não sendo, todos querem que ele acabe, na vida pública e na vida pessoal também. Na primeira, foi tormentoso. Na vida de cada um, foi um ano de vacas magras depois do tempo das espigas gordas. E gordas não só para os pobres mas também para os ricos.
No que toca à vida política, econômica e social, a representação do país em sua superestrutura, foi meu amigo argentino Guido Nejamskis, responsável pelo 247 em espanhol,. que me lançou a faísca. “Aqui, vendo de longe, parece-me que o Brasil é um pais em momento de autoflagelação”.
Fiquei com isso na cabeça e aderi a esta percepção. Nunca todos se esforçaram tanto para chicotear o próprio país. O governo cometendo erros políticos e econômicos seguidos, às voltas com uma espada de Dâmocles sobre a cabeça da presidente, um impeachment com DNA golpista, pela ausência do crime justificado. A oposição tomando os mais nefastos caminhos em busca de sua oportunidade de poder, rasgando (alguns) compromissos democráticos históricos. E quando a crise passar, ficará a nódoa. O mercado apostando alto na piora de tudo, os empresários céticos, os trabalhadores apáticos e, para completar, esta corrente de intolerância que vai tomando ares cada vez mais fascistas.
O que houve com Chico Buarque foi o emblema disso. Não há limites para a agressividade destes que saíram do armário do conservantismo dispostos a revelar as posições obscuras que antes ocultavam. E a partir para cima dos que pensam diferente. Não gostam do PT, tudo bem. Mas não gostam dos pobres, não gostam da América Latina, não gostam das cotas raciais, detestam os programas sociais e não gostam do Brasil. Pudessem, não voltavam das viagens ao exterior.
A autoflagelação é o resultado desta mistura de elementos.
É como se tivéssemos combinado. Vamos todos trocar socos e pontapés este ano. Vamos também rasgar a lona do circo e quebrar o picadeiro. Vamos ver quem consegue dilapidar mais as grandes possibilidades que até bem pouco tempo faziam do Brasil um país admirado lá fora por sua capacidade de mudar, realizar e se reinventar. Estamos quase voltando a ser um “bananão”, como dizia Paulo Francis, em sua desilusão com a Pátria Amada de braços dados com a ditadura.
Se todos pensarmos em sair disso em 2016, quem sabe? Todos ganharemos. Já é certo que a ruptura insetitucional perdeu força. É incerto que a economia saia do atoleiro, e este é agora o maior desafio do Governo.
O que devíamos fazer, todos, era um compromisso pelo fim da autoflagelação. Que o governo continue governando, e governe melhor. Que a oposição continue "opositando", como brincada Ulysses, mas o faça com responsabilidade. E que nós, cidadãos, cada qual em sua trincheiro, façamos a nossa parte, guardemos nossos chicotinhos e tratemos de colaborar, cada um como pode. Certo é que 2016 não pode ser a continuação de 2015.
E para não terminar com política e pseudo-sociologia, encerremos com poesia. Um poema sobre a passagem do tempo, de Sophia Mello Breyner.
Krónos
Não creias, Lídia que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia
A autoflagelação é o resultado desta mistura de elementos.
É como se tivéssemos combinado. Vamos todos trocar socos e pontapés este ano. Vamos também rasgar a lona do circo e quebrar o picadeiro. Vamos ver quem consegue dilapidar mais as grandes possibilidades que até bem pouco tempo faziam do Brasil um país admirado lá fora por sua capacidade de mudar, realizar e se reinventar. Estamos quase voltando a ser um “bananão”, como dizia Paulo Francis, em sua desilusão com a Pátria Amada de braços dados com a ditadura.
Se todos pensarmos em sair disso em 2016, quem sabe? Todos ganharemos. Já é certo que a ruptura insetitucional perdeu força. É incerto que a economia saia do atoleiro, e este é agora o maior desafio do Governo.
O que devíamos fazer, todos, era um compromisso pelo fim da autoflagelação. Que o governo continue governando, e governe melhor. Que a oposição continue "opositando", como brincada Ulysses, mas o faça com responsabilidade. E que nós, cidadãos, cada qual em sua trincheiro, façamos a nossa parte, guardemos nossos chicotinhos e tratemos de colaborar, cada um como pode. Certo é que 2016 não pode ser a continuação de 2015.
E para não terminar com política e pseudo-sociologia, encerremos com poesia. Um poema sobre a passagem do tempo, de Sophia Mello Breyner.
Krónos
Não creias, Lídia que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia
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