Foto: Antonio Lacerda/EFE |
“Gente por favor, me ajudem! Tem uns caras aqui tentando entrar na minha casa. Por favor, me ajudem!”
Era o grito desesperado da amiga e companheira Sandra, de alguma cidade do Espírito Santo, via redes sociais, na noite de segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017, mesmo dia e mais ou menos mesmo horário em que o ainda Ministro da Justiça, e agora também da Segurança pública, era indicado para ser o novo ministro do STF.
Na mesma noite, um pouco mais tarde, outra amiga, Edivânia, de outra cidade do Espírito Santo, escreve: “Ai, meu Deus, está um desespero por aqui! Uma guerra. Horrível. Estamos trancados em casa. Não tem nem palavras pra descrever o sentimento. Muito triste, o medo mesmo!”
Quem não ficaria com medo e assustado vendo as cenas, os vídeos, os tiros, os saques na televisão, na internet, parecendo que voltamos aos tempos de barbárie, numa guerra sem valores e sem quartel? Cada um cuida de si e ninguém cuida de ninguém, muito menos governos, muitos menos Polícia, iguais bichos do mato sem lei, sem Estado, nem razão!
O título pensado para o artigo desta semana era: ‘O que esperar de 2017?’ Mas os acontecimentos deste início de ano precipitaram-se, estão superando qualquer expectativa e imaginação. A vida obrigou-me a mudar o título, não o assunto. O que está sendo 2017!!!???
Vejamos outros dados para dar sentido mais amplo a um título de artigo que eu jamais pensei em escrever: dar e/ou ver o Brasil como sem futuro, não mais pátria ou nação, ou quase não mais existente. “Com a crise, a base da pirâmide social cresce e volta aos níveis de 2011. As classes D e E ganharam 4,3 milhões de famílias nos últimos dois anos, num percentual atual de 56,5% do total de domicílios. Em 2003, esse número era de 70,2%. Em 2014, caiu para 51,4%. O desemprego aumentou 37% em 2016, ameaçando passar de 12 milhões de desempregados em 2017, cerca de 20 milhões se contarmos aqueles que não se declaram desempregados. A renda caiu 2,3% em 2016. Houve um recuo de 17% da indústria em 2016” (Valor Econômico, 30.01.17).
Não é, portanto, apenas a violência. É a violência e o medo antecedidos e/ou acompanhados de desemprego, de fome, de miséria, de falta de condições de pagar as dívidas, as políticas públicas criadas nos últimos anos sendo desfeitas, atiradas no lixo, a população em situação de rua em rápido crescimento.
A pergunta é: onde vamos parar? O que vai acontecer com o Brasil e seu povo? Ainda existe Brasil? Onde estão os governos? Cuidando do golpe? Cuidando de abafar as denúncias, que agora bateram nos seus costados? Vendendo o Brasil, sua riqueza, suas conquistas e avanços a troco de banana para o grande capital sedento de lucro, um país, e seus governos, que, finalmente, tinha conquistado respeito no mundo?
Felizmente, mais para o final da segunda feira, dia 6 de fevereiro de 2017, enquanto o ainda Ministro da Justiça, que agora é também da Segurança Pública, exibia com orgulho no celular aos seus pares sua indicação para o STF, Sandra, de alguma cidade do Espírito Santo, depois de muita troca de mensagens com muitos amigos e companheiros mais que preocupados, escreve, para alívio de todas e todas. “Meus vizinhos já estão todos aqui. Obrigado, vizinhos e amigos!”
Respirei/respiramos todos aliviados. Se não tem governo que preste, se não tem Polícia, pelo menos tem vizinhos, amigos e companheiros que são solidários e cuidam uns dos outros. É onde temos que nos agarrar: nos amigos, nos vizinhos, nos companheiros. É o que sobrou. Estado, não há mais. Governos, são golpistas ou cheio de corruptos, tomados pelo neoliberalismo. Polícia, cadê a Polícia? E quem é o governador do Espírito Santo, incensado pelos neoliberais como tendo resolvido todos os problemas do Estado (como aliás, da mesma forma está fazendo o governador do Rio Grande do Sul, entre outros, no coro do governo federal)? Qual o nome deste governador, qual seu partido, já que quase nunca se diz que é do PMDB, o partido dos golpistas que estão levando o Brasil ao caos? (Hoje, 10 de fevereiro, cinco dias depois dos fatos que contei, quando concluo este artigo, o ministro da Justiça, que também é agora da Segurança Pública, agora licenciado, anda pelo Senado Federal cabalando votos para ser ministro do STF, enquanto a situação no Espírito Santo, continua igual, senão pior, com risco de se alastrar por outros Estados.)
Finalmente, a grande pergunta: como fazer para recuperar o Brasil-Nação? Como recuperar a autoestima do povo brasileiro? Recomendo um artigo, entre outros tantos: ‘A elite brasileira suicida-se’, de Ruben Bauer Naveira (Em www.luisnassif.com.br). Diz ele: “O ponto de não-retorno foi ultrapassado; é então uma questão de tempo.”
Nas ruas, enfrentar o medo e a repressão (onde isso for possível e houver um mínimo de segurança). Nas ruas, formando consciência. Nas ruas, derrubando os golpistas e traidores da pátria. Nas ruas, vivendo valores que não podem ser esquecidos, como no caso de Sandra: a construção coletiva, a solidariedade, a compaixão, a união. Há muito que fazer em 2017.
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