Foto: Ricardo Stukert |
O dia a dia de um blogueiro sujo é muito mais complicado do que parece. O imenso financiamento que recebemos durante mais de uma década de governos petistas não foi suficiente para que a gente conseguisse construir uma estrutura que viabilizasse viver apenas das nossas ações informativas nas redes. É preciso fazer de tudo um pouco para garantir a subsistência. Por isso, só na noite de ontem consegui assistir ao depoimento de Lula ao juiz federal Ricardo Leite.
Foi de fato um depoimento histórico, como muitos já registraram. Lula fez sua defesa com uma dignidade invejável para aqueles que estão acostumados a ficar se escondendo em não-respostas quando colocados à frente de um juiz.
Falou sobre tudo que lhe foi perguntado e ainda teve tranquilidade para brincar com situações que de fato beiram o ridículo.
A promotoria, por exemplo, quis saber se Lula atendia no Instituto como presidente de honra do PT, ex-presidente ou presidente do próprio Instituto. Lula não deixou por menos.
Disse que como sempre foi uma única pessoa não imaginava que teria que se dividir em vários para conversar com quem quer que seja. Mas que se soubesse disso, teria alugado duas salinhas para conversar nelas quando fosse falar do PT ou de questões ligadas ao governo.
Não satisfeito, o juiz Ricardo Leite lhe perguntou se conversava com muita gente e sobre o que no Instituto.
Lula não aguentou e perguntou se ele sabia qual o apelido do Instituto. O juiz disse que não. Lula, respondeu: Posto Ipiranga. Porque todo mundo acaba passando lá, doutor. Mesmo quem não precisa. Eu atendo empresário, índio, LGBT, todo mundo. Se eu achar que devo falar em particular com alguém eu falo. Se quiser falar em grupo, falo em grupo. Não tenho essa burocracia.
Sim, amigo leitor, parece conversa de maluco. Por que um ex-presidente da República tem que explicar à justiça com quem conversa, como e de que forma. A pergunta em si já é uma agressão a liberdade individual. Mas pode ser mais do que isso, já começa a se tornar um indício de que estamos num patamar alto de Estado de Exceção.
Um Estado de Exceção onde a Justiça faz uma parte do trabalho e a mídia outra. A cobertura do depoimento de Lula pelos grandes veículos foi vergonhosa. Ao invés de destacar os argumentos do ex-presidente para se defender e a falta de provas do MP para lhe acusar, os analistas à soldo fizeram graça. E usaram a data para atacar de novo Lula.
O jornalismo é outra vítima deste momento assustador. A diferença é que neste caso, quando se quer informação de fato, não dá pra falar para passar lá no Posto Ipiranga. E neste caso, a gente faz o que pode.
Não deixe de assistir a íntegra do depoimento.
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