segunda-feira, 29 de maio de 2017

Aécio, Perrella e a estratégia do PSDB

Do blog Viomundo:

Em gravação telefônica com autorização da Justiça divulgada pelo relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, detonou o aliado Zezé Perrella por ter dito, numa entrevista à radio Itatiaia, de Minas Gerais, que estava feliz por não fazer parte da lista de beneficiários de doações da Odebrecht. Perrella foi eleito senador como suplente de Itamar Franco.

Aécio disse que a declaração de Perrella tinha sido “escrota”, por revelar falta de solidariedade com ele e o ex-governador mineiro e hoje senador Antonio Anastasia e não combinar com a linha de defesa adotada pelo grupo político: separar “o joio do trigo”, ou seja, acusar o PT de se beneficiar da ‘roubalheira’ mas dizer que o PSDB tinha sido beneficiário “apenas” de caixa 2. Anistiar o caixa dois através de uma decisão do Congresso é um dos objetivos dos que pretendem acabar com a Operação Lava Jato.

Aécio lembra a Perrella que a origem do dinheiro utilizado por ele na campanha ao Senado era o mesmo da turma e cutuca: a não ser que tenha saído das quentinhas do Alvimar ou das sementes.

Perrella justifica parte de sua fortuna com a produção de sementes de uma empresa agropecuária, que inclusive teve contratos com o governo de Minas Gerais sob investigação.

O pai de Aécio Neves, ex-deputado Aécio Ferreira da Cunha, já morto, também teria sido beneficiado pelo esquema do programa Minas Sem Fome, conforme denúncia feita pelo Viomundo (ver aqui).

Um dos aeroportos-fantasmas do grupo político do senador afastado está em Montezuma, norte do estado, bem perto da fazenda do lado paterno da família Neves, herdada por Aécio e a irmã Andrea, que está presa.

No Minas Sem Fome, Perrella vendeu sementes através da Limeira Agropecuária e Participações, a empresa que tinha em seu nome o helicóptero apreendido com 450 quilos de pasta base de cocaína no Espírito Santo. O piloto do helicóptero era funcionário da Limeira e “trabalhava” como assessor na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, onde o filho do senador Zezé, Gustavo, é deputado estadual.

Alvimar Pereira Costa, outro mencionado por Aécio na gravação, é irmão de Perrella. Ele é dono de uma empresa acusada de superfaturar no fornecimento de quentinhas em presídios mineiros e na merenda escolar de Montes Claros. Dos contratos de R$ 185 milhões, cerca de R$ 55 milhões teriam sido desviados com superfaturamento e uso de alimentos de baixa qualidade.

Ou seja, na conversa Aécio parece lembrar ao colega senador que sabe de onde vem o dinheiro dos Perrella, uma forma de chantageá-lo a seguir a linha do grupo político a que pertencem. Os contratos de Perrella com o governo do Estado foram fechados enquanto Minas era governada por Antonio Anastasia.

Na gravação entre os dois, divulgada pelo Poder 360 (ver o trecho abaixo), Aécio explicita a estratégia utilizada por vários líderes do PSDB.

Em 06/03/2017, o governador paulista Geraldo Alckmin afirmou: “É preciso separar o joio do trigo. Ter cuidado para não misturar pessoas que fizeram corrupção, se enriqueceram, patrimonialismo, com outros casos”.

Em 19/04/2017, em Portugal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou: “O caixa dois está capitulado de maneira diferente da corrupção, o que é verdade, é só ler o Código Penal e o Código Eleitoral, você vai ver que são coisas diferentes. O que eu disse e repito, é que a Justiça tem que separar o joio do trigo. Tem gente que é acusada sem base, e isso a Justiça, vai dizer”.

Porém, nem todos os inquéritos abertos contra Aécio pelo ministro Edson Fachin (são cinco) dizem respeito a caixa 2.

O senador afastado teria montado esquemas para beneficiar empreiteiras na construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais e no setor de energia, onde controlava as estatais Furnas e Cemig.

O delator Marcelo Odebrecht disse que pagou R$ 50 milhões ao grupo de Aécio só por favores relacionados às empresas de energia.

Na lista de propinas da empresa, Aécio é mencionado como Mineirinho.

Não se tem registro, ainda, de eventuais ligações feitas por Aécio a proprietários de meios de comunicação com o objetivo de “vender” a estratégia de separar “o joio do trigo”, ou seja, o PT do PSDB.

O ministro Edson Fachin divulgou à imprensa cerca de 2.200 grampos, muitos dos quais não ligados diretamente ao objeto da investigação.

Depois, decidiu colocar os que não servem como prova sob segredo de Justiça, mas a íntegra dos grampos já estava nas mãos de dezenas de jornalistas.

Na edição deste final de semana, a revista Veja descobriu com grande atraso que o Brasil vive um “estado policial”, denunciando entre outros o grampo divulgado ilegalmente pelo juiz Sergio Moro entre os ex-presidentes Lula e Dilma. Aí tem coisa.

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