Por Cesar Locatelli, no site Jornalistas Livres:
Henrique Meirelles está cotado pelo capital financeiro e pelos magnatas da mídia para ser o 38º presidente do Brasil. Querem que o pior Congresso da história brasileira o eleja, após a queda de Michel Temer.
Ele conta com muitos admiradores entre empresários e economistas, ligados a bancos ou não. Como Joesley Batista, que o convidou, logo que saiu do Banco Central em 2012, para comandar “o conselho consultivo da J&F, holding que, além da JBS, controla outras seis (sic) empresas do grupo, com uma receita total estimada em 65 bilhões de reais”, conforme a revista Exame. “O Meirelles não vai ser apenas um consultor. Vai cobrar resultados dos executivos e traçar estratégias para a expansão do negócio. Agora é com ele”, disse Joesley Batista.
“Tudo agora é com ele!” Ou existiria uma interpretação diferente para a frase de Joesley: “Agora é com ele”? Bem, o grupo J&F agrega as empresas: frigorífico JBS, laticínios Vigor, Flora produtos de higiene e limpeza, Eldorado Celulose, Banco Original, Canal Rural, Oklahoma criação de gado no exterior, Floresta Agropecuária e Alpargatas, fabricante das sandálias Havaianas.
Meirelles saiu da JBS para, no governo Temer, tornar-se o pai do congelamento de gastos públicos por 20 anos, pai da reforma da previdência e pai da reforma trabalhista. Ele tem o perfil que desejamos para ser o 38oPresidente da República Federativa do Brasil?
Engenheiro civil, estudou na Poli, USP. Foi formado para construir prédios, barragens, estradas e viadutos. Aprendeu que as resistências dos materiais são determinadas, que estruturas e concretos podem ser calculados e que os fluidos seguem mecânicas regras. Aprendeu que tudo pode ser reduzido a uma conta e um resultado, que tudo no mundo tem um resultado determinado, preciso.
Meteu-se numa carreira financeira e prosperou. Eficiente na busca do resultado, do lucro.
Aprendeu economia pela ótica do banqueiro. Parece nunca ter questionado se havia outras formas de interpretar as relações econômicas em uma sociedade. Talvez tivesse aprendido que essa “ciência” tem muito mais de social e política do que de matemática. Que a soma de dois mais dois, em questões sociais e humanas, pode resultar em muitas outras coisas além de quatro. Mas, dentro de um banco de capital americano não teve essa oportunidade.
A taxa de juros aplicada pelo Banco Central, por exemplo, independe das vontades e das interpretações políticas daqueles que a determinam, acredita ele. Para a teoria ortodoxa que ele advoga, não há luta de classes na questão dos juros, não há apropriação dos recursos do Estado por interesses de alguns poucos. Essa teoria, tampouco, explicita o poder concentrador de renda dos juros pagos pelo Estado. Só os tresloucados podem imaginar que a taxa de juros básica de uma economia seja a resultante do poder que um pequeno grupo exerce sobre o orçamento federal, uma apropriação de recursos da sociedade inteira pelos escassos endinheirados, banqueiros entre eles.
Um banqueiro nunca aceitaria uma interpretação como essa.
Assim como não aceitam que, em épocas de maré vazante do ciclo econômico, é necessário relaxar o equilíbrio das contas públicas. Meirelles, já septuagenário, ouviu exatamente o contrário por muitos e muitos anos: ajustem-se as contas públicas e cortem-se as despesas que o equilíbrio trará de volta a confiança e o crescimento e o emprego.
Foi o que disse em sua primeira entrevista coletiva, em 13/05/2016, logo após a consolidação do golpe: a queda da confiança e toda a penúria a ela associada, resultam da “insegurança em relação à sustentabilidade futura da dívida pública”. Meirelles se esqueceu que a relação dívida líquida sobre o PIB estava em 60% quando o presidente Fernando Henrique Cardoso entregou o governo a Luís Inácio Lula da Silva e, no mês anterior ao golpe, a dívida/PIB estava em 39%. Não era a dívida que explicava a crise. A crise política e a recusa em aceitar o resultado da eleição explicam melhor a crise econômica do que a sustentabilidade da dívida. Mas a política é indecifrável quando não pode ser reduzida a números, a matemática, não é verdade?
Nem Meirelles e nem os banqueiros admitem que, com crescimento econômico, as contas públicas se ajustam. Não aceitam que o crescimento aumenta a receita de impostos, que podem resultar em superavit e diminuir a dívida. Temem a insolvência do setor público, que algum dia o governo não tenha saída que não um calote na dívida pública. A fantasma da falência do setor público insiste em assombrá-los obstinadamente. Esquecem-se de que não houve calote na dívida pública nem quando a inflação era de 40% ao mês, época em que os governantes do país eram absolutamente despreocupados com a conta que deixariam para seus sucessores.
Mais do que isso, preferem afundar o país em recessão, para grande sofrimento dos mais pobres, e cortar o sangue que colocaria a economia em rota de crescimento. Ao invés de escolher o caminho muito menos doloroso de aumentar, temporariamente, o deficit para o crescimento voltar, para, assim, convencer os empresários de que haverá lucro no fim do túnel se investirem e para convencer os consumidores de que seu emprego não está em risco. Uma vez em crescimento pode-se retomar a austeridade.
Ao contrário, sob aplauso dos importantes personagens no palco do capitalismo financeiro, afirmou no minuto zero do jogo pós-golpe: “Note bem, é importante deixar claro, portanto, quais serão as reformas que deveremos endereçar neste governo. Certamente, a reforma previdenciária é uma delas. A reforma da previdência é uma necessidade evidente, na medida em que mais importante até do que alguém saber o valor, em moeda de hoje, do que será o seu benefício daqui a alguns anos ou com que idade ele se aposentará, mais importante que disso é ter segurança de que ele vai receber a aposentadoria. E para isso é necessário garantir a solvência do sistema de previdência brasileiro”.
Duas reflexões precisam ser feitas sobre essa fala. A primeira é que Meirelles se aliou a Temer e, mesmo com o afastamento ainda provisório da presidenta Dilma Rousseff, juntos queimaram o programa de governo eleito em 2014. A segunda é que, rapidamente, transferiu o ônus do ajuste na previdência, cuja necessidade sequer é consensual, aos pensionistas do INSS, presentes e futuros: “se as regras da Previdência não mudarem pode ser que vocês não recebam nada”. Isso é o que está contido em sua ameaça.
Ele disse ainda que havia vários grupos estudando o assunto e pontuou: “vamos compatibilizar, consolidar todos os estudos que estão em andamento. Fazer as negociações necessárias e apresentar no devido tempo”. Tais negociações podem e devem ter mesmo ocorrido. Sem a presença de trabalhadores, por certo, já que até pelegos reconhecidos estão contrários à reforma.
Bem, engenheiros não precisam negociar com o cimento, nem com os aços. O cálculo determina a quantidade, sem papo furado. Por que com a previdência haveria de ser diferente?
Continuou ele: “A questão da reforma trabalhista, a mesma coisa, não é? É um assunto da maior importância em função da necessidade de se aumentar a produtividade da economia brasileira e isso, certamente, passa pela questão trabalhista e, de novo, vamos negociar, vamos entrar no detalhe e anunciar isso com segurança, não é?”
A fórmula indiscutível, inquestionável da economia dos banqueiros e grandes empresários volta à tona: a produtividade da economia brasileira padece por causa dos direitos trabalhistas que engessam as relações capital e trabalho. Sejamos razoáveis, a formação de engenheiro-banqueiro de Meirelles nunca permitiria que ele questionasse esse dogma da ortodoxia. É preciso dizer, para ele e para todos aqueles que aprovam o corte de direitos dos trabalhadores, que há muitos que acreditam que a produtividade tem a ver com uma sociedade mais justa, mais igual, com acesso universal à educação e com investimentos dos setores público e privado.
Cortar direitos dos trabalhadores é cortar a quantidade de aço da estrutura econômica e social.
Mas, Meirelles não concorda com essas balelas e continua: “Outra coisa é a limitação dos gastos. Não há dúvida de que um dos fatores importantes, que pode dar segurança à população, em relação a esse assunto, é na medida em que se coloque determinados critérios de teto de gastos do governo federal e, também, do setor público como um todo”. Aqui ele se superou, não há outros exemplos no mundo de corte tão radical de gastos públicos quanto a chamada PEC do fim do mundo: “o problema está no sangue, aprofundemos as sangrias”, bem ao gosto medieval.
Podem tirar o cavalinho da chuva. Nem estabilidade e nem confiança, muito menos união, retornarão com o engenheiro-banqueiro na presidência. Só o povo soberano pode decidir quem será o próximo presidente da República. Pelo Voto Direto! Já!
Ele conta com muitos admiradores entre empresários e economistas, ligados a bancos ou não. Como Joesley Batista, que o convidou, logo que saiu do Banco Central em 2012, para comandar “o conselho consultivo da J&F, holding que, além da JBS, controla outras seis (sic) empresas do grupo, com uma receita total estimada em 65 bilhões de reais”, conforme a revista Exame. “O Meirelles não vai ser apenas um consultor. Vai cobrar resultados dos executivos e traçar estratégias para a expansão do negócio. Agora é com ele”, disse Joesley Batista.
“Tudo agora é com ele!” Ou existiria uma interpretação diferente para a frase de Joesley: “Agora é com ele”? Bem, o grupo J&F agrega as empresas: frigorífico JBS, laticínios Vigor, Flora produtos de higiene e limpeza, Eldorado Celulose, Banco Original, Canal Rural, Oklahoma criação de gado no exterior, Floresta Agropecuária e Alpargatas, fabricante das sandálias Havaianas.
Meirelles saiu da JBS para, no governo Temer, tornar-se o pai do congelamento de gastos públicos por 20 anos, pai da reforma da previdência e pai da reforma trabalhista. Ele tem o perfil que desejamos para ser o 38oPresidente da República Federativa do Brasil?
Engenheiro civil, estudou na Poli, USP. Foi formado para construir prédios, barragens, estradas e viadutos. Aprendeu que as resistências dos materiais são determinadas, que estruturas e concretos podem ser calculados e que os fluidos seguem mecânicas regras. Aprendeu que tudo pode ser reduzido a uma conta e um resultado, que tudo no mundo tem um resultado determinado, preciso.
Meteu-se numa carreira financeira e prosperou. Eficiente na busca do resultado, do lucro.
Aprendeu economia pela ótica do banqueiro. Parece nunca ter questionado se havia outras formas de interpretar as relações econômicas em uma sociedade. Talvez tivesse aprendido que essa “ciência” tem muito mais de social e política do que de matemática. Que a soma de dois mais dois, em questões sociais e humanas, pode resultar em muitas outras coisas além de quatro. Mas, dentro de um banco de capital americano não teve essa oportunidade.
A taxa de juros aplicada pelo Banco Central, por exemplo, independe das vontades e das interpretações políticas daqueles que a determinam, acredita ele. Para a teoria ortodoxa que ele advoga, não há luta de classes na questão dos juros, não há apropriação dos recursos do Estado por interesses de alguns poucos. Essa teoria, tampouco, explicita o poder concentrador de renda dos juros pagos pelo Estado. Só os tresloucados podem imaginar que a taxa de juros básica de uma economia seja a resultante do poder que um pequeno grupo exerce sobre o orçamento federal, uma apropriação de recursos da sociedade inteira pelos escassos endinheirados, banqueiros entre eles.
Um banqueiro nunca aceitaria uma interpretação como essa.
Assim como não aceitam que, em épocas de maré vazante do ciclo econômico, é necessário relaxar o equilíbrio das contas públicas. Meirelles, já septuagenário, ouviu exatamente o contrário por muitos e muitos anos: ajustem-se as contas públicas e cortem-se as despesas que o equilíbrio trará de volta a confiança e o crescimento e o emprego.
Foi o que disse em sua primeira entrevista coletiva, em 13/05/2016, logo após a consolidação do golpe: a queda da confiança e toda a penúria a ela associada, resultam da “insegurança em relação à sustentabilidade futura da dívida pública”. Meirelles se esqueceu que a relação dívida líquida sobre o PIB estava em 60% quando o presidente Fernando Henrique Cardoso entregou o governo a Luís Inácio Lula da Silva e, no mês anterior ao golpe, a dívida/PIB estava em 39%. Não era a dívida que explicava a crise. A crise política e a recusa em aceitar o resultado da eleição explicam melhor a crise econômica do que a sustentabilidade da dívida. Mas a política é indecifrável quando não pode ser reduzida a números, a matemática, não é verdade?
Nem Meirelles e nem os banqueiros admitem que, com crescimento econômico, as contas públicas se ajustam. Não aceitam que o crescimento aumenta a receita de impostos, que podem resultar em superavit e diminuir a dívida. Temem a insolvência do setor público, que algum dia o governo não tenha saída que não um calote na dívida pública. A fantasma da falência do setor público insiste em assombrá-los obstinadamente. Esquecem-se de que não houve calote na dívida pública nem quando a inflação era de 40% ao mês, época em que os governantes do país eram absolutamente despreocupados com a conta que deixariam para seus sucessores.
Mais do que isso, preferem afundar o país em recessão, para grande sofrimento dos mais pobres, e cortar o sangue que colocaria a economia em rota de crescimento. Ao invés de escolher o caminho muito menos doloroso de aumentar, temporariamente, o deficit para o crescimento voltar, para, assim, convencer os empresários de que haverá lucro no fim do túnel se investirem e para convencer os consumidores de que seu emprego não está em risco. Uma vez em crescimento pode-se retomar a austeridade.
Ao contrário, sob aplauso dos importantes personagens no palco do capitalismo financeiro, afirmou no minuto zero do jogo pós-golpe: “Note bem, é importante deixar claro, portanto, quais serão as reformas que deveremos endereçar neste governo. Certamente, a reforma previdenciária é uma delas. A reforma da previdência é uma necessidade evidente, na medida em que mais importante até do que alguém saber o valor, em moeda de hoje, do que será o seu benefício daqui a alguns anos ou com que idade ele se aposentará, mais importante que disso é ter segurança de que ele vai receber a aposentadoria. E para isso é necessário garantir a solvência do sistema de previdência brasileiro”.
Duas reflexões precisam ser feitas sobre essa fala. A primeira é que Meirelles se aliou a Temer e, mesmo com o afastamento ainda provisório da presidenta Dilma Rousseff, juntos queimaram o programa de governo eleito em 2014. A segunda é que, rapidamente, transferiu o ônus do ajuste na previdência, cuja necessidade sequer é consensual, aos pensionistas do INSS, presentes e futuros: “se as regras da Previdência não mudarem pode ser que vocês não recebam nada”. Isso é o que está contido em sua ameaça.
Ele disse ainda que havia vários grupos estudando o assunto e pontuou: “vamos compatibilizar, consolidar todos os estudos que estão em andamento. Fazer as negociações necessárias e apresentar no devido tempo”. Tais negociações podem e devem ter mesmo ocorrido. Sem a presença de trabalhadores, por certo, já que até pelegos reconhecidos estão contrários à reforma.
Bem, engenheiros não precisam negociar com o cimento, nem com os aços. O cálculo determina a quantidade, sem papo furado. Por que com a previdência haveria de ser diferente?
Continuou ele: “A questão da reforma trabalhista, a mesma coisa, não é? É um assunto da maior importância em função da necessidade de se aumentar a produtividade da economia brasileira e isso, certamente, passa pela questão trabalhista e, de novo, vamos negociar, vamos entrar no detalhe e anunciar isso com segurança, não é?”
A fórmula indiscutível, inquestionável da economia dos banqueiros e grandes empresários volta à tona: a produtividade da economia brasileira padece por causa dos direitos trabalhistas que engessam as relações capital e trabalho. Sejamos razoáveis, a formação de engenheiro-banqueiro de Meirelles nunca permitiria que ele questionasse esse dogma da ortodoxia. É preciso dizer, para ele e para todos aqueles que aprovam o corte de direitos dos trabalhadores, que há muitos que acreditam que a produtividade tem a ver com uma sociedade mais justa, mais igual, com acesso universal à educação e com investimentos dos setores público e privado.
Cortar direitos dos trabalhadores é cortar a quantidade de aço da estrutura econômica e social.
Mas, Meirelles não concorda com essas balelas e continua: “Outra coisa é a limitação dos gastos. Não há dúvida de que um dos fatores importantes, que pode dar segurança à população, em relação a esse assunto, é na medida em que se coloque determinados critérios de teto de gastos do governo federal e, também, do setor público como um todo”. Aqui ele se superou, não há outros exemplos no mundo de corte tão radical de gastos públicos quanto a chamada PEC do fim do mundo: “o problema está no sangue, aprofundemos as sangrias”, bem ao gosto medieval.
Podem tirar o cavalinho da chuva. Nem estabilidade e nem confiança, muito menos união, retornarão com o engenheiro-banqueiro na presidência. Só o povo soberano pode decidir quem será o próximo presidente da República. Pelo Voto Direto! Já!
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