Por Antonio Martins, no site Outras Palavras:
Os monstros surgem nos interregnos – quando o velho ainda não sucumbiu e o novo não nasceu completamente –, escreveu Antonio Gramsci, em meio à ascensão de Mussolini. O árduo cenário brasileiro foi marcado, esta semana, pelo fortalecimento de Jair Bolsonaro, o candidato fascista às eleições de 2018. Ele está neste momento nos Estados Unidos. Anima reuniões de direitistas de churrascaria, homens de acaju e loiras de farmácia que o chamam de “mito”. Mas não viajou para isso. Terá, em Boston e Nova York, encontros com grandes investidores. O homem que defendeu o fechamento do Congresso e a tortura; e que continua dizendo, aos fanáticos de Miami, que dará carta branca aos policiais para matar, está se convertendo numa opção firme dos mercados financeiros – que alguns veem como muito sofisticados – para governar o Brasil. Como isso é possível? E quais os caminhos pra enfrentar Bolsonaro?
O avanço do ex-capitão, afastado da ativa do Exército por deslealdade, seria impossível em todas as eleições anteriores. Deriva do descrédito em relação à velha política. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas, divulgado nesta segunda-feira (9/10), mostrou que mais de 78% dos eleitores não confiam nos políticos, nem nos partidos. Além disso – e mais importante – o percentual dos que preferirão, nas próximas eleições, “votar num candidato fora da política tradicional” é mais de 50% maior do que o daqueles que votarão como sempre.
Dois nomes pleiteiam ser a imagem da “nova direita”: João Dória, prefeito de São Paulo, e Bolsonaro. Dória, velho partidário da privatização total, é, a princípio, o escolhido dos grupos de militância estridente, como o MBL e o Vamos pra Rua. Porém, apressado, lambuza-se rápido demais. Nem bem eleito, abandonou São Paulo para percorrer o Brasil a bordo de jatinhos luxuosos. No fim de semana, uma pesquisa do Datafolha mostrou, entre os paulistanos, uma queda de popularidade fatal, para quem está em início de mandato. E ele não decola, nas pesquisas para a Presidência.
Sobrou para Bolsonaro – e produziu-se uma aproximação interessante, um casamento de conveniências revelador. O candidato, que posava de nacionalista e defensor dos “oprimidos pelos Estado”, está trocando a fantasia. Em Miami, bateu continência à bandeira… americana. Gritou “USA, USA”, junto com os acajus e loiras de farmácia. Afirmou que os trabalhadores precisam escolher: ou dão, ou descem – ou abandonam os direitos, ou não terão empregos. Já não defende as empresas estatais. Já aceita que o “ajuste fiscal” – ou seja, as finanças públicas voltadas não para a Saúde, a Educação e os investimentos em infraestrutura, mas para o pagamento de juros aos banqueiros. Agora, só falta o Bolsonaro oferecer o posto de ministro da Fazenda para o Henrique Meirelles – mas isso ele diz que ainda não faz, não.
O curioso é que as respostas foram imediatas – o que revela os tempos incomuns que vivemos. O MBL, até há alguns dias unha e carne com Dória, parece pronto para bandear. Não tem fibra, não suportou duas semanas de declínio de seu candidato. Já faz acenos a Bolsonaro. Mas o importante não está aí. A economia brasileira é cobiçada. A oligarquia financeira, que às vezes se faz de tão sofisticada, pirou no troglodita e em suas chances de chegar à presidência. O veterano repórter Raymundo Costa, conta no Valor, o principal jornal da elite econômica: “Bolsonaro mitou no mercado”. Grandes empresários e operadores financeiros reúnem-se com o candidato, em encontros que chegam a durar três horas.
O avanço do ex-capitão, afastado da ativa do Exército por deslealdade, seria impossível em todas as eleições anteriores. Deriva do descrédito em relação à velha política. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas, divulgado nesta segunda-feira (9/10), mostrou que mais de 78% dos eleitores não confiam nos políticos, nem nos partidos. Além disso – e mais importante – o percentual dos que preferirão, nas próximas eleições, “votar num candidato fora da política tradicional” é mais de 50% maior do que o daqueles que votarão como sempre.
Dois nomes pleiteiam ser a imagem da “nova direita”: João Dória, prefeito de São Paulo, e Bolsonaro. Dória, velho partidário da privatização total, é, a princípio, o escolhido dos grupos de militância estridente, como o MBL e o Vamos pra Rua. Porém, apressado, lambuza-se rápido demais. Nem bem eleito, abandonou São Paulo para percorrer o Brasil a bordo de jatinhos luxuosos. No fim de semana, uma pesquisa do Datafolha mostrou, entre os paulistanos, uma queda de popularidade fatal, para quem está em início de mandato. E ele não decola, nas pesquisas para a Presidência.
Sobrou para Bolsonaro – e produziu-se uma aproximação interessante, um casamento de conveniências revelador. O candidato, que posava de nacionalista e defensor dos “oprimidos pelos Estado”, está trocando a fantasia. Em Miami, bateu continência à bandeira… americana. Gritou “USA, USA”, junto com os acajus e loiras de farmácia. Afirmou que os trabalhadores precisam escolher: ou dão, ou descem – ou abandonam os direitos, ou não terão empregos. Já não defende as empresas estatais. Já aceita que o “ajuste fiscal” – ou seja, as finanças públicas voltadas não para a Saúde, a Educação e os investimentos em infraestrutura, mas para o pagamento de juros aos banqueiros. Agora, só falta o Bolsonaro oferecer o posto de ministro da Fazenda para o Henrique Meirelles – mas isso ele diz que ainda não faz, não.
O curioso é que as respostas foram imediatas – o que revela os tempos incomuns que vivemos. O MBL, até há alguns dias unha e carne com Dória, parece pronto para bandear. Não tem fibra, não suportou duas semanas de declínio de seu candidato. Já faz acenos a Bolsonaro. Mas o importante não está aí. A economia brasileira é cobiçada. A oligarquia financeira, que às vezes se faz de tão sofisticada, pirou no troglodita e em suas chances de chegar à presidência. O veterano repórter Raymundo Costa, conta no Valor, o principal jornal da elite econômica: “Bolsonaro mitou no mercado”. Grandes empresários e operadores financeiros reúnem-se com o candidato, em encontros que chegam a durar três horas.
O encontro entre o fascismo e os ultraliberais não chega a ser um fenômeno novo. No início dos anos 1970, o Chile, do general Pinochet, foi o primeiro laboratório global para implantação das políticas neoliberais – muito antes dos Estados Unidos de Ronald Reagan ou da Inglaterra de Margareth Thatcher. A foto mostra o célebre encontro de trabalho entre o ditador chileno e o patrono dos neoliberais, o economista Milton Friedman (de terno escuro e mãos no joelho). No cinema, é indispensável assistir a Os Deuses Malditos, a obra magistral em que Lucchino Visconti expõe a irresistível atração entre entre a grande burguesia alemã e o nazismo.
Os fatos mostram que Bolsonaro é uma ameaça real, um risco que não pode ser desprezado. Mas apontam também um caminho claro de resistência – que a esquerda institucional parece teima em não enxergar. Ao se aproximar dos neoliberais, Bolsonaro abandona o espaço que tinha para se apresentar como candidato dos oprimidos, das “vítimas do Estado”. É uma brecha simbólica de enorme importância. Quem atua nas periferias relata que há, ainda hoje, uma parte importante do eleitorado que votará prioritariamente em Lula, mas promete escolher o ex-capitão do exército, como segunda opção.
O giro de Bolsonaro permite desmascará-lo perante este eleitorado. Muito mais: permite traçar uma risca de giz no debate sobre 2018 e sobre futuro do país. Abre espaço para propor à sociedade uma alternativa à aristocracia financeira que estrangula o país. Começa por revogar – por meio de um referendo, ou seja, da democracia direta – a Emenda Constitucional 95, que congela por vinte anos os gastos sociais e já começou a sufocar o serviço público. Implica construir projetos para a recuperação do SUS, o resgate do ensino básico, da Univeridade, da pesquisa científica.
Os fatos mostram que Bolsonaro é uma ameaça real, um risco que não pode ser desprezado. Mas apontam também um caminho claro de resistência – que a esquerda institucional parece teima em não enxergar. Ao se aproximar dos neoliberais, Bolsonaro abandona o espaço que tinha para se apresentar como candidato dos oprimidos, das “vítimas do Estado”. É uma brecha simbólica de enorme importância. Quem atua nas periferias relata que há, ainda hoje, uma parte importante do eleitorado que votará prioritariamente em Lula, mas promete escolher o ex-capitão do exército, como segunda opção.
O giro de Bolsonaro permite desmascará-lo perante este eleitorado. Muito mais: permite traçar uma risca de giz no debate sobre 2018 e sobre futuro do país. Abre espaço para propor à sociedade uma alternativa à aristocracia financeira que estrangula o país. Começa por revogar – por meio de um referendo, ou seja, da democracia direta – a Emenda Constitucional 95, que congela por vinte anos os gastos sociais e já começou a sufocar o serviço público. Implica construir projetos para a recuperação do SUS, o resgate do ensino básico, da Univeridade, da pesquisa científica.
Inclui repensar a Segurança Pública, fora da lógica da “guerra às drogas” – que é um eufemismo para a guerra aos pobes. Envolve um conjunto de políticas de Direito à Cidade e, em especial, resgate das periferias: rios despoluídos, investimentos pesados em metrô, trens, saneamento, urbanização. Substituição do velho Minha Casa, Minha Vida por uma política de oucpação dos espaços urbanos reais – em especial nos centros das metrópoles. Uma nova matriz energética, baseada nas fontes eólica e solar. Um programa de mobilidade interurbana, reconstruindo ferrovias num país de estradas cada vez mais congestionadas. Tantas outras ações.
É um projeto claramente alcançável – agora. Exige um passo a mais, uma transgressão possível que nem Lula, nem Ciro, nem o PSOL atreveram-se até agora a dar. Significa questionar o núcleo da dominação neoliberal: o controle monetário e financeiro sobre as sociedades. É algo básico, lembrar que moeda e finanças não são entes soberanos, deuses que pairam sobre nós – mas apenas instrumentos criados pelos seres humanos e que podem realizar projetos em que as maiorias se engajam.
Os tempos sinalizam que há espaço para quebrar as velhas regras. Alguns, com Bolsonaro, vão fazê-lo em favor para a guerra civil e a tortura. A questão é: estamos dispostos a fazê-lo por outro mundo e outro país possível?
É um projeto claramente alcançável – agora. Exige um passo a mais, uma transgressão possível que nem Lula, nem Ciro, nem o PSOL atreveram-se até agora a dar. Significa questionar o núcleo da dominação neoliberal: o controle monetário e financeiro sobre as sociedades. É algo básico, lembrar que moeda e finanças não são entes soberanos, deuses que pairam sobre nós – mas apenas instrumentos criados pelos seres humanos e que podem realizar projetos em que as maiorias se engajam.
Os tempos sinalizam que há espaço para quebrar as velhas regras. Alguns, com Bolsonaro, vão fazê-lo em favor para a guerra civil e a tortura. A questão é: estamos dispostos a fazê-lo por outro mundo e outro país possível?
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