Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
Foi um fato fortuito o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão federal hoje dominado em seus postos principais por indicados de Michel Temer, ter decidido tornar públicos dois inquéritos embaraçosos para Geraldo Alckmin e o PSDB paulista sobre um cartel de empreiteiras? Ou foi uma vingança de Temer para sabotar os sonhos presidenciais do governador?
O peemedebista ficou furioso com os votos de deputados do PSDB para ele ser processado no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção, formação de quadrilha e obstrução à Justiça. Guardou ira particular contra Alckmin, a quem nos bastidores identificava como principal culpado pelo fato de os tucanos paulistas terem desaguado votos a favor da investigação.
A primeira votação na Câmara ocorreu em 2 de agosto. Temer escapou por 263 votos a 227. No PSDB, houve 22 a favor dele e 21 contra. A maioria dos 21 saiu da bancada paulista.
Naquele dia, um deputado do PSDB de Minas, grupo mais afinado com o presidente, comentava com a reportagem: o placar tucano seria visto pelo Palácio do Planalto e o “Centrão” como obra de Alckmin. O governador, continuava o mineiro, corria risco de ser isolado politicamente por Temer, talvez o PSDB inteiro.
Na época, o prefeito paulistano, João Doria Jr, do PSDB, ainda estava no páreo no tucanato para ser o candidato a presidente, mesmo que tivesse de derrotar o padrinho Alckmin. Cinco dias depois da votação, Temer viajava a São Paulo para reunir-se com Doria na prefeitura. Um gesto sobre seu presidenciável preferido no PSDB.
Foi em 3 de agosto, um dia após a votação na Câmara da primeira “flechada” em Temer, aquela a tratar de corrupção no caso da mala de 500 mil reais em propina, que o Cade instalou os dois inquéritos constrangedores para Alckmin e o PSDB paulista.
Estes inquéritos investigam um cartel de empreiteiras atuante em São Paulo para dividir obras públicas. Eles nasceram de denúncias feitas ao Cade pela Odebrecht em julho de 2017. Alckmin diz que o estado foi “vítima” do cartel e que vai processar as construtoras. Será que o conluio teria funcionado sem o conhecimento de ninguém do governo tucano?
A área do Cade responsável por abrir os inquéritos é a poderosa Superintendência Geral. Em 3 de agosto, esta era comandada em caráter interino por Diogo Thomson Andrade, indicado ao Cade por Dilma Rousseff.
Em setembro, Temer indicou para o cargo o advogado e economista Alexandre Cordeiro Macedo, que assumiu em outubro. Este nutre ligações com o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), de quem foi vice-ministro das Cidades entre 2012 e 2013, e o senador Ciro Ciro Nogueira (PI), ambos do PP, partido do dito “Centrão”.
O outro cargo importante do Cade, o presidente, também está sob a batuta de um indicado de Temer. Alexandre Barreto de Souza era do Tribunal de Contas da União (TCU), onde chefiava o gabinete do ministro Bruno Dantas, um apadrinhado de senadores do PMDB.
Foi Macedo, o superintendente-geral, quem resolveu tornar públicos os inquéritos sobre o cartel de empreiteiras em São Paulo, com despachos na segunda-feira 18. No mesmo dia, assinou outros dois despachos a liberar um histórico dos processos, um calhamaço de informações.
Quando da votação pelos deputados da segunda “flechada” em Temer, em 25 de outubro, o mesmo tucano mineiro que em agosto dizia que o Planalto veria Alckmin como um inimigo, dizia à reportagem: “O Geraldo é experiente, deve saber o que faz. Mas lá no Planalto o pessoal não esquece. A vingança é um prato que se come frio.”
Temer escapou dessa segunda flechada" por 251 votos a 233. No PSDB, foram 23 deputados contra o presidente e 21 a favor.
A quebra do sigilo dos inquéritos é capaz de abastecer a mídia com informações bem no eleitoral ano de 2018. Até aqui, Alckmin parecia o presidenciável menos atingido por denúncias de corrupção. As denúncias contra ele na Operação Lava Jato repousam sem novidades no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agora abre-se um novo flanco capaz de chamuscá-lo, o Cade.
No dia em que a decisão do Cade de quebrar o sigilo veio a público, houve uma reunião de emergência de tucanos em São Paulo. Uma reportagem do site da Folha de S. Paulo daquele dia dizia que o PSDB estava assustado e que já havia munição para ser usada contra o governador.
A munição já foi usada. E por um tucano, o prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio. Disposto a enfrentar Alckmin para ser o presidenciável do PSDB, Virgílio afirmou ao Valor que a candidatura não pode ser definida antes de a denúncia do cartel de empreiteiras ser investigada no partido. “O PSDB tem que dar o exemplo e ouvir Alckmin. Temos uma comissão de ética para isso.”
Temer deve estar se deliciando. A vingança é mesmo um prato que se come frio...
O peemedebista ficou furioso com os votos de deputados do PSDB para ele ser processado no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção, formação de quadrilha e obstrução à Justiça. Guardou ira particular contra Alckmin, a quem nos bastidores identificava como principal culpado pelo fato de os tucanos paulistas terem desaguado votos a favor da investigação.
A primeira votação na Câmara ocorreu em 2 de agosto. Temer escapou por 263 votos a 227. No PSDB, houve 22 a favor dele e 21 contra. A maioria dos 21 saiu da bancada paulista.
Naquele dia, um deputado do PSDB de Minas, grupo mais afinado com o presidente, comentava com a reportagem: o placar tucano seria visto pelo Palácio do Planalto e o “Centrão” como obra de Alckmin. O governador, continuava o mineiro, corria risco de ser isolado politicamente por Temer, talvez o PSDB inteiro.
Na época, o prefeito paulistano, João Doria Jr, do PSDB, ainda estava no páreo no tucanato para ser o candidato a presidente, mesmo que tivesse de derrotar o padrinho Alckmin. Cinco dias depois da votação, Temer viajava a São Paulo para reunir-se com Doria na prefeitura. Um gesto sobre seu presidenciável preferido no PSDB.
Foi em 3 de agosto, um dia após a votação na Câmara da primeira “flechada” em Temer, aquela a tratar de corrupção no caso da mala de 500 mil reais em propina, que o Cade instalou os dois inquéritos constrangedores para Alckmin e o PSDB paulista.
Estes inquéritos investigam um cartel de empreiteiras atuante em São Paulo para dividir obras públicas. Eles nasceram de denúncias feitas ao Cade pela Odebrecht em julho de 2017. Alckmin diz que o estado foi “vítima” do cartel e que vai processar as construtoras. Será que o conluio teria funcionado sem o conhecimento de ninguém do governo tucano?
A área do Cade responsável por abrir os inquéritos é a poderosa Superintendência Geral. Em 3 de agosto, esta era comandada em caráter interino por Diogo Thomson Andrade, indicado ao Cade por Dilma Rousseff.
Em setembro, Temer indicou para o cargo o advogado e economista Alexandre Cordeiro Macedo, que assumiu em outubro. Este nutre ligações com o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), de quem foi vice-ministro das Cidades entre 2012 e 2013, e o senador Ciro Ciro Nogueira (PI), ambos do PP, partido do dito “Centrão”.
O outro cargo importante do Cade, o presidente, também está sob a batuta de um indicado de Temer. Alexandre Barreto de Souza era do Tribunal de Contas da União (TCU), onde chefiava o gabinete do ministro Bruno Dantas, um apadrinhado de senadores do PMDB.
Foi Macedo, o superintendente-geral, quem resolveu tornar públicos os inquéritos sobre o cartel de empreiteiras em São Paulo, com despachos na segunda-feira 18. No mesmo dia, assinou outros dois despachos a liberar um histórico dos processos, um calhamaço de informações.
Quando da votação pelos deputados da segunda “flechada” em Temer, em 25 de outubro, o mesmo tucano mineiro que em agosto dizia que o Planalto veria Alckmin como um inimigo, dizia à reportagem: “O Geraldo é experiente, deve saber o que faz. Mas lá no Planalto o pessoal não esquece. A vingança é um prato que se come frio.”
Temer escapou dessa segunda flechada" por 251 votos a 233. No PSDB, foram 23 deputados contra o presidente e 21 a favor.
A quebra do sigilo dos inquéritos é capaz de abastecer a mídia com informações bem no eleitoral ano de 2018. Até aqui, Alckmin parecia o presidenciável menos atingido por denúncias de corrupção. As denúncias contra ele na Operação Lava Jato repousam sem novidades no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agora abre-se um novo flanco capaz de chamuscá-lo, o Cade.
No dia em que a decisão do Cade de quebrar o sigilo veio a público, houve uma reunião de emergência de tucanos em São Paulo. Uma reportagem do site da Folha de S. Paulo daquele dia dizia que o PSDB estava assustado e que já havia munição para ser usada contra o governador.
A munição já foi usada. E por um tucano, o prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio. Disposto a enfrentar Alckmin para ser o presidenciável do PSDB, Virgílio afirmou ao Valor que a candidatura não pode ser definida antes de a denúncia do cartel de empreiteiras ser investigada no partido. “O PSDB tem que dar o exemplo e ouvir Alckmin. Temos uma comissão de ética para isso.”
Temer deve estar se deliciando. A vingança é mesmo um prato que se come frio...
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