Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
Primeiro, o projeto “Life Coaching” (treinamento de vida) que contratou o procurador Deltan Dallangol.
Segundo matéria da Folha, Dallagnol será um dos professores do curso “Conquer Leadership Experience” (experiência de conquista de liderança). O curso promete muito.
Funda-se em dez mandamentos, do gênero, “Eu trabalharei duro e sem mimimi”, “Eu vou falhar e falhar de novo até chegar lá”, “Eu conquistarei os meus objetivos de forma ética e honesta” e “Eu serei protagonista da minha vida”.
Diz a matéria:
“A escola diz que aplica metodologia própria desenvolvida no Vale do Silício, região dos Estados Unidos que concentra empresas de alta tecnologia. Segundo a Conquer, as aulas desenvolvem habilidades não ensinadas nas instituições de ensino tradicionais, como oratória, liderança, produtividade, inteligência emocional e persuasão”.
E Dallagnol humildemente anunciou nas redes sociais que “é indispensável melhorar a qualidade da educação, o que envolveria ampliar o currículo tradicional”. E com o tom taxativo dos espíritos superiores diz ser “inconcebível, por exemplo, que não tenhamos no currículo de nossos cursos de direito o ensino sobre negociação, tema que estudei por conta própria quando estava em Harvard [EUA] e que é uma habilidade básica para o operador do direito”, escreveu.
Fantástico!
Vamos conferir o que especialistas internacionais pensam sobre o mercado de “coaching”, na opinião abalizada de Manfred Kets de Vries, especialista em Desenvolvimento de Liderança e Mudança Organizacional do respeitabilíssimo INSEAD.
Diz ele:
“Eu me vejo cada vez mais intimidado por pessoas no mundo do treinamento executivo. Eles me dão uma sensação de desconforto sobre minhas próprias habilidades. Muitos na profissão afirmam poder "desbloquear o potencial latente dos clientes e proporcionar-lhes um senso de auto-realização". Como esses consultores parecem ter muito a oferecer, como posso alcançar as alturas olímpicas nas quais eles professam habitar? Com suas habilidades incríveis, eles dizem que podem "aprofundar a aprendizagem de seus clientes, melhorar seu desempenho e melhorar sua qualidade de vida, tanto pessoal como profissionalmente". Deve ser verdade porque apresentam testemunhos incandescentes de clientes que, graças a suas intervenções que mudam a vida, tornaram-se líderes fenomenais”.
Um dos truques mercadológicos é o do consultor que se diz sempre atento às coisas que seus clientes não querem ver ou não querem ouvir.
Continua ele:
“Devo admitir que essas descrições autobiográficas de treinadores mestres excepcionalmente qualificados prejudicam ainda mais minha autoconfiança. Eu tenho o que é preciso? Mas, juntando-se a suas altas fileiras, parece ser um jogo de contabilidade, exigindo (de acordo com os sites de alguns desses treinadores principais) entre 2.500 a 10.000 horas de experiência de coaching direto. Outro requisito é praticar regularmente "auto-treinamento", um processo que pode "permitir que sua alma surja e seja vista". O que isso é tudo continua sendo um pouco intrigante para mim. Mas, como treinador executivo, eu aparentemente seria "mais cumprido" - e ganharia "mais dinheiro" - se eu me inscreveria em um de seus programas de treinamento”.
O perfil desses conselheiros é serem “confiáveis, críveis, agradáveis, apaixonados, autênticos”. E com abundante utilização de siglas, como FUEL, GROW, SMART, PURE e CLEAR.
Na opinião de Vries, as pessoas que recorrem a esse tipo de marketing geralmente têm pouco ou nenhum treinamento real em psicologia. Não há curas milagrosas nas profissões de ajuda, diz ele. São dois passos para frente, um para trás. Portanto, as promessas exageradas criam expectativas altamente irrealistas. “Essa falta de verdade na publicidade apenas prejudica o vendedor”, diz ele.
Ou, como diz o professor João Jornada, ex-presidente do Inmetro:
"Tudo coerente, o mesmo padrão que tenho visto em vários contextos, especialmente inovação: dar impressão de conhecimento único, sofisticado e arcano, prometendo ensinar os grandes segredos do sucesso, a pedra filosofal, o elixir da longa vida... fórmula consagrada da auto-ajuda picaretosa”.
Primeiro, o projeto “Life Coaching” (treinamento de vida) que contratou o procurador Deltan Dallangol.
Segundo matéria da Folha, Dallagnol será um dos professores do curso “Conquer Leadership Experience” (experiência de conquista de liderança). O curso promete muito.
Funda-se em dez mandamentos, do gênero, “Eu trabalharei duro e sem mimimi”, “Eu vou falhar e falhar de novo até chegar lá”, “Eu conquistarei os meus objetivos de forma ética e honesta” e “Eu serei protagonista da minha vida”.
Diz a matéria:
“A escola diz que aplica metodologia própria desenvolvida no Vale do Silício, região dos Estados Unidos que concentra empresas de alta tecnologia. Segundo a Conquer, as aulas desenvolvem habilidades não ensinadas nas instituições de ensino tradicionais, como oratória, liderança, produtividade, inteligência emocional e persuasão”.
E Dallagnol humildemente anunciou nas redes sociais que “é indispensável melhorar a qualidade da educação, o que envolveria ampliar o currículo tradicional”. E com o tom taxativo dos espíritos superiores diz ser “inconcebível, por exemplo, que não tenhamos no currículo de nossos cursos de direito o ensino sobre negociação, tema que estudei por conta própria quando estava em Harvard [EUA] e que é uma habilidade básica para o operador do direito”, escreveu.
Fantástico!
Vamos conferir o que especialistas internacionais pensam sobre o mercado de “coaching”, na opinião abalizada de Manfred Kets de Vries, especialista em Desenvolvimento de Liderança e Mudança Organizacional do respeitabilíssimo INSEAD.
Diz ele:
“Eu me vejo cada vez mais intimidado por pessoas no mundo do treinamento executivo. Eles me dão uma sensação de desconforto sobre minhas próprias habilidades. Muitos na profissão afirmam poder "desbloquear o potencial latente dos clientes e proporcionar-lhes um senso de auto-realização". Como esses consultores parecem ter muito a oferecer, como posso alcançar as alturas olímpicas nas quais eles professam habitar? Com suas habilidades incríveis, eles dizem que podem "aprofundar a aprendizagem de seus clientes, melhorar seu desempenho e melhorar sua qualidade de vida, tanto pessoal como profissionalmente". Deve ser verdade porque apresentam testemunhos incandescentes de clientes que, graças a suas intervenções que mudam a vida, tornaram-se líderes fenomenais”.
Um dos truques mercadológicos é o do consultor que se diz sempre atento às coisas que seus clientes não querem ver ou não querem ouvir.
Continua ele:
“Devo admitir que essas descrições autobiográficas de treinadores mestres excepcionalmente qualificados prejudicam ainda mais minha autoconfiança. Eu tenho o que é preciso? Mas, juntando-se a suas altas fileiras, parece ser um jogo de contabilidade, exigindo (de acordo com os sites de alguns desses treinadores principais) entre 2.500 a 10.000 horas de experiência de coaching direto. Outro requisito é praticar regularmente "auto-treinamento", um processo que pode "permitir que sua alma surja e seja vista". O que isso é tudo continua sendo um pouco intrigante para mim. Mas, como treinador executivo, eu aparentemente seria "mais cumprido" - e ganharia "mais dinheiro" - se eu me inscreveria em um de seus programas de treinamento”.
O perfil desses conselheiros é serem “confiáveis, críveis, agradáveis, apaixonados, autênticos”. E com abundante utilização de siglas, como FUEL, GROW, SMART, PURE e CLEAR.
Na opinião de Vries, as pessoas que recorrem a esse tipo de marketing geralmente têm pouco ou nenhum treinamento real em psicologia. Não há curas milagrosas nas profissões de ajuda, diz ele. São dois passos para frente, um para trás. Portanto, as promessas exageradas criam expectativas altamente irrealistas. “Essa falta de verdade na publicidade apenas prejudica o vendedor”, diz ele.
Ou, como diz o professor João Jornada, ex-presidente do Inmetro:
"Tudo coerente, o mesmo padrão que tenho visto em vários contextos, especialmente inovação: dar impressão de conhecimento único, sofisticado e arcano, prometendo ensinar os grandes segredos do sucesso, a pedra filosofal, o elixir da longa vida... fórmula consagrada da auto-ajuda picaretosa”.
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