Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A execução da vereadora Marielle Franco é um crime político que não permite dúvidas, hesitações nem falsos questionamentos.
Todo mundo sabe que é preciso escolher um lado - dos direitos humanos e da democracia - para enfrentar o crime e a brutalidade, aposta de quem escolhe a violência como método de solução de conflitos políticos numa sociedade.
Não há dúvida de que, 30 anos anos após a proclamação da Constituição Cidadã, o país caminha para uma encruzilhada.
Por isso você tem todo direito de concordar com as ideias de Marielle. Ou pode discordar de 100%. Acima dessa discussão, contudo, impõe-se uma outro plano da realidade. Estamos falando do direito a vida - o único valor que se encontra acima de outro direito maior, a liberdade.
Num sintoma dos tempos em que vivemos, coube a uma desembargadora do Rio de Janeiro minimizar o crime, uma forma nada sutil de mostrar tolerância diante daquilo que não pode ser tolerado, diminuindo uma tragédia grave demais para não se enxergar, atitude que mostra promiscuidade entre polícia, crime e violência no país.
Vamos prestar atenção: uma vereadora é perseguida e assassinada no centro do Rio de Janeiro, recebe cinco balas na cabeça, e uma alta personagem do Judiciário, com as responsabilidades próprias de uma instituição destinada a cumprir e fazer cumprir as leis em vigor no país sequer demonstra preocupação com um crime dessa gravidade. Não reconhece a seriedade do que ocorreu, nem a urgência do que é preciso fazer. Seu argumento é que se trata de "um cadáver comum como qualquer outro".
Na mesma linha - e com a mesma finalidade política - o deputado Alberto Fraga, uma das estrelas da Bancada da Bala no Congresso, ponta-de-lança da destruição de direitos, denunciou Marielle como "novo mito da esquerda".
O que se pretende, nos dois casos, é impedir que a execução de Marielle Franco seja entendida como aquilo que realmente é: um ato de força numa escalada de violências que pretende abrir caminho para uma ditadura - camuflada ou escancarada.
Num cenário de decomposição das instituições políticas, a reação a um crime dessa envergadura pode ter um efeito decisivo para contribuir para uma reação vigorosa em nome da preservação da democracia. Pode colocar em debate a necessária unidade política para enfrentar um retrocesso cada vez mais nítido no horizonte. Pode dificultar novas operações antidemocráticas já em curso, inclusive um estupro programado da campanha presidencial através do veto a candidatura Lula.
Seria ingenuidade absoluta ignorar ameaças de provocações e possibilidades de novos ataques - agora que o candidato que lidera as pesquisas inicia a caravana no Sul do país.
Mais do que nunca é preciso derrotar instintos autoritários, que latejam em vários poros da sociedade brasileira, que romperam, não pela primeira vez, sabemos todos, a última fronteira da dignidade na luta política - o respeito pela vida humana.
Muito depende do que fizerem as forças que realmente têm importância no jogo.
Parte interessada, Jair Bolsonaro fica em silêncio calculado.
Sua necessidade, hoje, é ganhar credibilidade entre setores das altas rodas que já estão encantados com seu espírito autoritário mas não querem se comprometer com uma versão tão escancarada de fascismo.
Por isso ele veste a máscara da dissimulação. Não pode condenar o crime, sob risco de perder aliados que já conquistou. Tampouco pode manifestar algum tipo de simpatia por um assassinato monstruoso - o risco, aqui, seria perder de vez um apoio que ainda não recebeu.
Em ambiente explosivo, em alta ebulição, uma possível candidatura presidencial de Michel Temer pode ter a volatilidade das aventuras de Luciano Huck estimuladas por FHC. Mas não é a mesma coisa. Tem o Estado na mão e, até segunda ordem, pelo menos um setor das Forças Armadas, o que faz dele uma ameaça muito mais grave do que indicam seus índices nulos de aprovação popular. A intervenção militar no Rio de Janeiro nasceu de um projeto de traços bonapartistas - um mês depois, Marielle Franco tombava assassinada.
Ninguém tem o direito de se fazer de inocente.
A execução da vereadora Marielle Franco é um crime político que não permite dúvidas, hesitações nem falsos questionamentos.
Todo mundo sabe que é preciso escolher um lado - dos direitos humanos e da democracia - para enfrentar o crime e a brutalidade, aposta de quem escolhe a violência como método de solução de conflitos políticos numa sociedade.
Não há dúvida de que, 30 anos anos após a proclamação da Constituição Cidadã, o país caminha para uma encruzilhada.
Por isso você tem todo direito de concordar com as ideias de Marielle. Ou pode discordar de 100%. Acima dessa discussão, contudo, impõe-se uma outro plano da realidade. Estamos falando do direito a vida - o único valor que se encontra acima de outro direito maior, a liberdade.
Num sintoma dos tempos em que vivemos, coube a uma desembargadora do Rio de Janeiro minimizar o crime, uma forma nada sutil de mostrar tolerância diante daquilo que não pode ser tolerado, diminuindo uma tragédia grave demais para não se enxergar, atitude que mostra promiscuidade entre polícia, crime e violência no país.
Vamos prestar atenção: uma vereadora é perseguida e assassinada no centro do Rio de Janeiro, recebe cinco balas na cabeça, e uma alta personagem do Judiciário, com as responsabilidades próprias de uma instituição destinada a cumprir e fazer cumprir as leis em vigor no país sequer demonstra preocupação com um crime dessa gravidade. Não reconhece a seriedade do que ocorreu, nem a urgência do que é preciso fazer. Seu argumento é que se trata de "um cadáver comum como qualquer outro".
Na mesma linha - e com a mesma finalidade política - o deputado Alberto Fraga, uma das estrelas da Bancada da Bala no Congresso, ponta-de-lança da destruição de direitos, denunciou Marielle como "novo mito da esquerda".
O que se pretende, nos dois casos, é impedir que a execução de Marielle Franco seja entendida como aquilo que realmente é: um ato de força numa escalada de violências que pretende abrir caminho para uma ditadura - camuflada ou escancarada.
Num cenário de decomposição das instituições políticas, a reação a um crime dessa envergadura pode ter um efeito decisivo para contribuir para uma reação vigorosa em nome da preservação da democracia. Pode colocar em debate a necessária unidade política para enfrentar um retrocesso cada vez mais nítido no horizonte. Pode dificultar novas operações antidemocráticas já em curso, inclusive um estupro programado da campanha presidencial através do veto a candidatura Lula.
Seria ingenuidade absoluta ignorar ameaças de provocações e possibilidades de novos ataques - agora que o candidato que lidera as pesquisas inicia a caravana no Sul do país.
Mais do que nunca é preciso derrotar instintos autoritários, que latejam em vários poros da sociedade brasileira, que romperam, não pela primeira vez, sabemos todos, a última fronteira da dignidade na luta política - o respeito pela vida humana.
Muito depende do que fizerem as forças que realmente têm importância no jogo.
Parte interessada, Jair Bolsonaro fica em silêncio calculado.
Sua necessidade, hoje, é ganhar credibilidade entre setores das altas rodas que já estão encantados com seu espírito autoritário mas não querem se comprometer com uma versão tão escancarada de fascismo.
Por isso ele veste a máscara da dissimulação. Não pode condenar o crime, sob risco de perder aliados que já conquistou. Tampouco pode manifestar algum tipo de simpatia por um assassinato monstruoso - o risco, aqui, seria perder de vez um apoio que ainda não recebeu.
Em ambiente explosivo, em alta ebulição, uma possível candidatura presidencial de Michel Temer pode ter a volatilidade das aventuras de Luciano Huck estimuladas por FHC. Mas não é a mesma coisa. Tem o Estado na mão e, até segunda ordem, pelo menos um setor das Forças Armadas, o que faz dele uma ameaça muito mais grave do que indicam seus índices nulos de aprovação popular. A intervenção militar no Rio de Janeiro nasceu de um projeto de traços bonapartistas - um mês depois, Marielle Franco tombava assassinada.
Ninguém tem o direito de se fazer de inocente.
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