Por Marco Aurélio Weissheimer, no blog RS-Urgente:
O Rio Grande do Sul não cansa de passar vergonha na cena nacional. O mais recente capítulo desta saga vexaminosa foi protagonizada pela senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS). A ex-colunista política e ex-chefe da sucursal da RBS em Brasília ficou incomodada com uma entrevista que a presidenta nacional do PT, a senadora Gleise Hoffmann (PT-PR), concedeu à rede Al Jazeera, onde, entre outras coisas, definiu a condição de Lula como a de um preso político, trancafiado na carceragem da Polícia (política) Federal, em Curitiba. “Que essa exortação não tenha sido para convocar o Exército Islâmico a vir ao Brasil proteger o PT!” – disse Ana Amélia Lemos em sua conta no Twitter. O imaginário da senadora não hesitou em associar a Al Jazeera ao Estado Islâmico.
Não se tratou de um deslize ou escorregão verbal. Em ano eleitoral, Ana Amélia Lemos vem flertando abertamente com a extrema-direita gaúcha que saiu definitivamente do armário. Recentemente, rasgou elogios, durante uma convenção estadual do PP (partido que, nunca é demais lembrar, é herdeiro da nada gloriosa Arena, principal sustentáculo da ditadura civil-militar criminosa instalada no país apos o golpe de 1964), Ana Amélia Lemos fez uma homenagem às cidades que “botaram a correr a caravana de Lula”. “Atirar ovo, levantar o relho, para mostrar onde estão os gaúchos”, bradou a patriótica senadora no encontro que definiu a pré-candidatura do deputado federal Luiz Carlos Heinze ao governo do Estado nas eleições (se é que ocorrerão) de 2018.
Heinze tem o mesmo DNA de Ana Amélia Lemos. Em uma audiência pública realizada em novembro de 2013 no município de Vicente da Fontoura, região norte do Estado, o atual pré-candidato do PP alinhou seus adversários na categoria do “tudo que não presta”: quilombolas, índios, gays, lésbicas…”. Na mesma ocasião, ele sugeriu a ação armada dos agricultores para enfrentar a turma do “tudo que não presta”. “O que estão fazendo os produtores do Pará? No Pará, eles contrataram segurança privada. Ninguém invade no Pará, porque a Brigada Militar não lhes dá guarida lá e eles têm de fazer a defesa das suas propriedades”, disse o parlamentar. Pará, Estado de Eldorado de Carajás, onde 19 sem terra foram assassinados pela Polícia Militar no dia 17 de abril de 1996.
Luiz Carlos Heinze e Ana Amélia Lemos não são pontos fora da curva. Fazem parte de um mecanismo (para usar uma palavra da moda) que ganhou espaço no Rio Grande do Sul nas últimas décadas, graças, entre outras coisas, à máquina de propaganda construída pela RBS, uma das corporações midiáticas filiadas à rede Globo, que se agigantaram durante a ditadura. Ana Amélia Lemos, aliás, foi Cargo em Comissão (CC) do próprio marido, já falecido, o senador biônico Octávio Omar Cardoso, em 1986, acumulando essa função com o cargo de chefe da Sucursal da RBS, em Brasília. Na época, Ana Amélia era diretora da sucursal da RBS, em Brasília, assinando uma coluna no jornal Zero Hora. A jornalista mudou-se para Brasília em 1979, acompanhando seu então marido Octávio Omar Cardoso, suplente do senador biônico Tarso Dutra (falecido em 1983), e efetivado no cargo em 1983, exercendo-o até 1987. Na capital federal atuou como repórter e colunista do jornal Zero Hora, da RBS TV, do Canal Rural e da rádio Gaúcha. Em 1982, foi promovida à diretora da Sucursal em Brasília.
Em agosto de 2003, em um artigo profético, o então deputado estadual Flavio Koutzii afirmou: “a extrema-direita brasileira mora nos Pampas”. Em sua introdução, o artigo lembrou uma antiga (e atual) lição de Albert Camus: “denominar incorretamente alguma coisa aumenta o grau de infelicidade no mundo”. Em tempos, onde o absurdo se combina com o surrealismo e a mentira, é saudável o esforço por denominar corretamente as coisas. O hino rio-grandense, entoado nos estádios de futebol do Estado com um ufanismo irrefletido e catatônico, diz “sirvam as nossas façanhas de modelo à toda terra”. Quais são as nossas façanhas mesmo? Fazer apologia do racismo, do escravagismo, do machismo, da homofobia, da xenofobia?
Neste mesmo momento, o Rio Grande do Sul é governado por um governador e um partido obscurantistas que propõem como caminho para o desenvolvimento do Estado a extinção de todas as fundações responsáveis pela produção de inteligência. Então, não parece exagero dizer, a partir desta combinação de obscurantismo, preconceito, intolerância e ignorância, que o RS se tornou a vanguarda do atraso no Brasil.
Os “gordos de caminhonete” – na feliz expressão cunhada por Vanessa Patriota – que abundam no Rio Grande do Sul e em outros estados onde o agronegócio deitou suas raízes, gostam de apontar os estados do Nordeste e do Norte como expressão do atraso no país. Na verdade, é a expressão de um mundo invertido. O lugar mais atrasado e retrógrado do Brasil situa-se hoje no extremo sul do País. Não expressa, necessariamente, a consciência da maioria da população, mas é o reflexo de uma cultura de autoritarismo, oportunismo e ignorância quem vem sendo alimentada com regularidade nas últimas décadas. Essa cultura não é motivo de orgulho nem de comemorações. As verdadeiras façanhas desta terra ainda estão soterradas por um entulho de ignorância, truculência, machismo e racismo.
Não se tratou de um deslize ou escorregão verbal. Em ano eleitoral, Ana Amélia Lemos vem flertando abertamente com a extrema-direita gaúcha que saiu definitivamente do armário. Recentemente, rasgou elogios, durante uma convenção estadual do PP (partido que, nunca é demais lembrar, é herdeiro da nada gloriosa Arena, principal sustentáculo da ditadura civil-militar criminosa instalada no país apos o golpe de 1964), Ana Amélia Lemos fez uma homenagem às cidades que “botaram a correr a caravana de Lula”. “Atirar ovo, levantar o relho, para mostrar onde estão os gaúchos”, bradou a patriótica senadora no encontro que definiu a pré-candidatura do deputado federal Luiz Carlos Heinze ao governo do Estado nas eleições (se é que ocorrerão) de 2018.
Heinze tem o mesmo DNA de Ana Amélia Lemos. Em uma audiência pública realizada em novembro de 2013 no município de Vicente da Fontoura, região norte do Estado, o atual pré-candidato do PP alinhou seus adversários na categoria do “tudo que não presta”: quilombolas, índios, gays, lésbicas…”. Na mesma ocasião, ele sugeriu a ação armada dos agricultores para enfrentar a turma do “tudo que não presta”. “O que estão fazendo os produtores do Pará? No Pará, eles contrataram segurança privada. Ninguém invade no Pará, porque a Brigada Militar não lhes dá guarida lá e eles têm de fazer a defesa das suas propriedades”, disse o parlamentar. Pará, Estado de Eldorado de Carajás, onde 19 sem terra foram assassinados pela Polícia Militar no dia 17 de abril de 1996.
Luiz Carlos Heinze e Ana Amélia Lemos não são pontos fora da curva. Fazem parte de um mecanismo (para usar uma palavra da moda) que ganhou espaço no Rio Grande do Sul nas últimas décadas, graças, entre outras coisas, à máquina de propaganda construída pela RBS, uma das corporações midiáticas filiadas à rede Globo, que se agigantaram durante a ditadura. Ana Amélia Lemos, aliás, foi Cargo em Comissão (CC) do próprio marido, já falecido, o senador biônico Octávio Omar Cardoso, em 1986, acumulando essa função com o cargo de chefe da Sucursal da RBS, em Brasília. Na época, Ana Amélia era diretora da sucursal da RBS, em Brasília, assinando uma coluna no jornal Zero Hora. A jornalista mudou-se para Brasília em 1979, acompanhando seu então marido Octávio Omar Cardoso, suplente do senador biônico Tarso Dutra (falecido em 1983), e efetivado no cargo em 1983, exercendo-o até 1987. Na capital federal atuou como repórter e colunista do jornal Zero Hora, da RBS TV, do Canal Rural e da rádio Gaúcha. Em 1982, foi promovida à diretora da Sucursal em Brasília.
Em agosto de 2003, em um artigo profético, o então deputado estadual Flavio Koutzii afirmou: “a extrema-direita brasileira mora nos Pampas”. Em sua introdução, o artigo lembrou uma antiga (e atual) lição de Albert Camus: “denominar incorretamente alguma coisa aumenta o grau de infelicidade no mundo”. Em tempos, onde o absurdo se combina com o surrealismo e a mentira, é saudável o esforço por denominar corretamente as coisas. O hino rio-grandense, entoado nos estádios de futebol do Estado com um ufanismo irrefletido e catatônico, diz “sirvam as nossas façanhas de modelo à toda terra”. Quais são as nossas façanhas mesmo? Fazer apologia do racismo, do escravagismo, do machismo, da homofobia, da xenofobia?
Neste mesmo momento, o Rio Grande do Sul é governado por um governador e um partido obscurantistas que propõem como caminho para o desenvolvimento do Estado a extinção de todas as fundações responsáveis pela produção de inteligência. Então, não parece exagero dizer, a partir desta combinação de obscurantismo, preconceito, intolerância e ignorância, que o RS se tornou a vanguarda do atraso no Brasil.
Os “gordos de caminhonete” – na feliz expressão cunhada por Vanessa Patriota – que abundam no Rio Grande do Sul e em outros estados onde o agronegócio deitou suas raízes, gostam de apontar os estados do Nordeste e do Norte como expressão do atraso no país. Na verdade, é a expressão de um mundo invertido. O lugar mais atrasado e retrógrado do Brasil situa-se hoje no extremo sul do País. Não expressa, necessariamente, a consciência da maioria da população, mas é o reflexo de uma cultura de autoritarismo, oportunismo e ignorância quem vem sendo alimentada com regularidade nas últimas décadas. Essa cultura não é motivo de orgulho nem de comemorações. As verdadeiras façanhas desta terra ainda estão soterradas por um entulho de ignorância, truculência, machismo e racismo.
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