Por Marcelo Manzano, no site da Fundação Perseu Abramo:
Mais uma vez a inflação mensal veio abaixo das expectativas do mercado. No mês de março a variação dos preços medida pelo índice oficial (IPCA/IBGE) foi muito próxima de zero (0,09%), de maneira que a taxa acumulada nos últimos doze meses alcançou apenas 2,68%
Com isso, pelo nono mês consecutivo a inflação anual permaneceu abaixo do piso da meta do Banco Central (3%), revelando que o conservadorismo da diretoria do BC tem exagerado no remédio e mantido a taxa de Selic fora do lugar, ainda acima do que seria necessário para o cumprimento da meta.
Contudo, observando-se em separado a variação dos “preços livres” – isto é, aqueles que são influenciados pelos movimentos de demanda e oferta e que, portanto, realmente podem ser afetados pela taxa de juros - a inflação dos últimos doze meses é ainda mais baixa (+1,26%), deixando claro que o nosso atual “regime de metas de inflação” é inadequado para a gestão da política monetária, na medida em que pela sua rigidez impõe uma dose permanentemente excessiva de juros altos.
Não fosse um governo inerte e subserviente aos interesses do mercado financeiro, seria esse o momento ideal para aperfeiçoar o nosso regime de metas. Com a inflação triscando o solo, abre-se uma rara oportunidade para aperfeiçoar o modelo, aproximando-o daqueles que funcionam mais acuradamente nas principais economias do mundo.
Por exemplo, caberia substituir o IPCA “cheio” que hoje é utilizado pelo BC por um outro índice do qual fossem expurgados todos aqueles preços que são considerados “monitorados” (combustíveis, energia, saneamento, medicamentos, planos de saúde, etc.) ou que estejam sofrendo um choque exógeno (isto é, uma influência externa ao mercado). Como parece evidente, nestes casos a flutuação dos preços não decorre de eventuais variações na demanda ou na oferta e por isso não deveria ser considerada como alvo de uma política monetária que tem como único instrumento a taxa básica de juros.
Além disso, uma outra medida importante a ser tomada e para a qual provavelmente não haverá outra ocasião melhor seria eliminar de uma vez por todas as práticas de indexação automática que ainda subsistem em alguns setores da economia brasileira, como por exemplo nos alugueis e nas mensalidades escolares. Curiosamente, os neoliberais, que em 1994 proclamaram aos quatro cantos o fim da indexação e rapidamente desvincularam os salários, deixaram esquecida essa estranha jabuticaba que faz a alegria dos donos do capital em detrimento da corrosão do poder de compra de consumidores, inquilinos e trabalhadores de um modo geral.
Mais uma vez a inflação mensal veio abaixo das expectativas do mercado. No mês de março a variação dos preços medida pelo índice oficial (IPCA/IBGE) foi muito próxima de zero (0,09%), de maneira que a taxa acumulada nos últimos doze meses alcançou apenas 2,68%
Com isso, pelo nono mês consecutivo a inflação anual permaneceu abaixo do piso da meta do Banco Central (3%), revelando que o conservadorismo da diretoria do BC tem exagerado no remédio e mantido a taxa de Selic fora do lugar, ainda acima do que seria necessário para o cumprimento da meta.
Contudo, observando-se em separado a variação dos “preços livres” – isto é, aqueles que são influenciados pelos movimentos de demanda e oferta e que, portanto, realmente podem ser afetados pela taxa de juros - a inflação dos últimos doze meses é ainda mais baixa (+1,26%), deixando claro que o nosso atual “regime de metas de inflação” é inadequado para a gestão da política monetária, na medida em que pela sua rigidez impõe uma dose permanentemente excessiva de juros altos.
Não fosse um governo inerte e subserviente aos interesses do mercado financeiro, seria esse o momento ideal para aperfeiçoar o nosso regime de metas. Com a inflação triscando o solo, abre-se uma rara oportunidade para aperfeiçoar o modelo, aproximando-o daqueles que funcionam mais acuradamente nas principais economias do mundo.
Por exemplo, caberia substituir o IPCA “cheio” que hoje é utilizado pelo BC por um outro índice do qual fossem expurgados todos aqueles preços que são considerados “monitorados” (combustíveis, energia, saneamento, medicamentos, planos de saúde, etc.) ou que estejam sofrendo um choque exógeno (isto é, uma influência externa ao mercado). Como parece evidente, nestes casos a flutuação dos preços não decorre de eventuais variações na demanda ou na oferta e por isso não deveria ser considerada como alvo de uma política monetária que tem como único instrumento a taxa básica de juros.
Além disso, uma outra medida importante a ser tomada e para a qual provavelmente não haverá outra ocasião melhor seria eliminar de uma vez por todas as práticas de indexação automática que ainda subsistem em alguns setores da economia brasileira, como por exemplo nos alugueis e nas mensalidades escolares. Curiosamente, os neoliberais, que em 1994 proclamaram aos quatro cantos o fim da indexação e rapidamente desvincularam os salários, deixaram esquecida essa estranha jabuticaba que faz a alegria dos donos do capital em detrimento da corrosão do poder de compra de consumidores, inquilinos e trabalhadores de um modo geral.
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