Por Marcelo Zero, no blog Viomundo:
A respeito das incrivelmente desinformadas “acusações” contra Gleisi Hoffmann, por ter dado uma entrevista à TV Al Jazeera, à qual foi absurdamente associada a uma espécie de incitação a ações da Al-Qaeda no Brasil, aqui vão algumas informações básicas:
1- A Al Jazeera é a maior emissora do mundo árabe e tem sede em Doha, Catar, país bastante conservador. É conhecida por ser um espaço de comunicação democrática no mundo árabe.
Antes da Al-Jazeera, o público árabe tinha, em geral, somente acesso a canais oficiais controlados por governos, com frequência autoritários. A Al Jazeera rompeu com esse oligopólio estatal, mesmo sendo também uma TV parcialmente governamental, e passou a veicular informações plurais com bastante independência.
2- Tal independência provocou reações negativas no Ocidente. Nas guerras do Afeganistão e do Iraque, por exemplo, os escritórios da Al Jazeera foram bombardeados pelas forças norte-americanas, pois sua cobertura destoava do ufanismo das TVs norte-americanas.
Na ocasião, a Al Jazeera recebeu um prêmio por sua resistência à censura. A homenagem foi do grupo britânico Index on Censorship (Índice de Censura), concedida em razão da independência da Al Jazeera e sua reputação de divulgar notícias confiáveis.
O lema da empresa é “a opinião e a outra opinião”, evidenciando sua pluralidade. Até mesmo judeus são convidados para falarem na Al Jazeera.
3- Além da Al Jazeera árabe, há a Al Jazeera in English (internacional) e até uma Al-Jazeera America. O grupo tem 70 escritórios espalhados pelo mundo e, somente no mundo árabe, uma audiência televisiva de 53 milhões.
4- Quanto ao Catar, país com renda per capita superior a US$ 80 mil e dono da terceira maior jazida de gás natural do mundo, trata-se de país de política externa conservadora, muito alinhada ao Ocidente, como a dos países do Golfo Pérsico de um modo geral, mas também com boas relações com Moscou e Irã, em virtude dos interesses comuns no comércio do gás natural.
Saliente-se que é no Catar que os EUA possuem a sua maior base militar no Oriente Médio. Trata-se da base aérea de Al Udeid. Tal base serve de comando estratégico para as operações que os EUA e aliados realizam no Afeganistão e no Iraque.
5- Assim sendo, associar a Al Jazeera e o Catar à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico é simplesmente ridículo. Coisa de energúmenos preconceituosos. Ou de gente de profunda má-fé, que gosta de desenvolver discursos fascistas e de ódio.
6- O interesse da Al Jazeera sobre o presidente Lula é perfeitamente compreensível.
Com Lula, o Brasil aprofundou muito suas relações com o mundo árabe e o Oriente Médio, com ganhos comerciais e diplomáticos expressivos para nosso país. A corrente de comércio brasileira com o Oriente Médio pulou de US$ 3,7 bilhões, em 2002 (último ano de FHC), para US$ 18, 4 bilhões, em 2014.
Ou seja, os governos do PT multiplicaram por 5 o intercâmbio comercial com os países do Oriente Médio. Além disso, houve grande aproximação diplomática e política com os países dessa região.
Nesse processo, os estados brasileiros exportadores de alimentos se beneficiaram muito, já que o Oriente Médio tem produção agrícola insuficiente para suprir as suas necessidades. Em 2016, ano de crise, o Rio Grande do Sul exportou US$ 1,12 bilhão para o Oriente Médio, graças esses mercados abertos pelo Presidente Lula.
7- Ao contrário do que as cabeças ignaras podem supor, o mundo árabe é bastante diverso, tanto em termos religiosos quanto políticos e culturais.
Há países muitos conservadores e aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, por exemplo, e países que tem uma política externa independente ou conflitante com a da maior potência do planeta.
Há também países sunitas e países xiitas. Há, do mesmo modo, cristãos, no mundo árabe. Há até mesmo judeus, nos países árabes.
8- O Brasil, sob os governos do PT, procurou, pragmaticamente, manter boas relações com todos eles, pois é do nosso interesse nacional do país que assim seja.
Desse modo, mantivemos boas relações com os países do Golfo, que são conservadores e alinhados aos EUA, mas também mantivemos boas relações com a Síria, o Irã e outros países que têm uma inserção geopolítica distinta. Essa atitude não discriminatória do Brasil fez do nosso país uma autêntica liderança mundial e converteu Lula no primeiro grande líder internacional brasileiro.
9- Nosso país tem muita afinidade com o mundo árabe e recebeu, especialmente no final do século XIX e no início do século XX, um grande contingente de imigrantes árabes, provenientes do Líbano e da Síria, então sob domínio do Império Otomano, que deram inestimável contribuição à nossa formação social e cultural.
10- No que tange à questão palestina, o Brasil é um defensor histórico de um Estado palestino soberano, viável e territorialmente coeso, tal como recomenda a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 181, de 1947.
11- Muito ao contrário do que as mentes distorcidas e xenófobas podem supor, árabe e muçulmano não são sinônimos de “radical” e “terrorista”.
A imensa maioria da população árabe e da população muçulmana é pacífica e ordeira e abomina o terrorismo. Associar uma coisa à outra implica promover discurso de ódio e discurso racista e xenófobo, crimes passíveis de punição em nossa legislação.
12- Diga-se de passagem, segundo o Institute for Economics and Peace (IEP), think thank que se dedica a mensurar e analisar o terrorismo em todo o mundo, boa parte das vítimas do terrorismo está justamente no Oriente Médio.
Assim, em 2014, 41% das mortes por terrorismo ocorreram no Oriente Médio e no Magreb. Trata-se da região com o maior número de atentados e mortes por terrorismo. Portanto, a população árabe e muçulmana é a mais afetada pelo terrorismo.
13- A presidenta Gleisi, como fez com todas as outras emissoras do mundo, apenas denunciou a prisão política de Lula e mencionou a solidariedade internacional para com o único presidente do Brasil que realmente alcançou envergadura mundial.
Tal solidariedade não se restringe ao mundo árabe, mas também se verifica na África, nas Américas, na Europa, na Ásia etc.
14- Os ignorantes talvez não saibam, mas o presidente Lula goza de grande prestígio internacional, de modo que há enorme interesse, por parte das emissoras do planeta, no seu caso. O mundo questiona a prisão, numa condenação sem provas, desse grande líder comparável à Mandela.
15- O movimento de solidariedade mundial ao presidente Lula cresce a cada dia e a entrevista à Al Jazeera se insere dentro dessa tendência internacional. É isso que irrita os golpistas.
16- A reação preconceituosa e beócia à entrevista da presidenta Gleisi reflete profunda ignorância histórica, diplomática e política e revela mentalidade xenófoba e autoritária, típica de quem não aceita diferenças étnicas, culturais.
A respeito das incrivelmente desinformadas “acusações” contra Gleisi Hoffmann, por ter dado uma entrevista à TV Al Jazeera, à qual foi absurdamente associada a uma espécie de incitação a ações da Al-Qaeda no Brasil, aqui vão algumas informações básicas:
1- A Al Jazeera é a maior emissora do mundo árabe e tem sede em Doha, Catar, país bastante conservador. É conhecida por ser um espaço de comunicação democrática no mundo árabe.
Antes da Al-Jazeera, o público árabe tinha, em geral, somente acesso a canais oficiais controlados por governos, com frequência autoritários. A Al Jazeera rompeu com esse oligopólio estatal, mesmo sendo também uma TV parcialmente governamental, e passou a veicular informações plurais com bastante independência.
2- Tal independência provocou reações negativas no Ocidente. Nas guerras do Afeganistão e do Iraque, por exemplo, os escritórios da Al Jazeera foram bombardeados pelas forças norte-americanas, pois sua cobertura destoava do ufanismo das TVs norte-americanas.
Na ocasião, a Al Jazeera recebeu um prêmio por sua resistência à censura. A homenagem foi do grupo britânico Index on Censorship (Índice de Censura), concedida em razão da independência da Al Jazeera e sua reputação de divulgar notícias confiáveis.
O lema da empresa é “a opinião e a outra opinião”, evidenciando sua pluralidade. Até mesmo judeus são convidados para falarem na Al Jazeera.
3- Além da Al Jazeera árabe, há a Al Jazeera in English (internacional) e até uma Al-Jazeera America. O grupo tem 70 escritórios espalhados pelo mundo e, somente no mundo árabe, uma audiência televisiva de 53 milhões.
4- Quanto ao Catar, país com renda per capita superior a US$ 80 mil e dono da terceira maior jazida de gás natural do mundo, trata-se de país de política externa conservadora, muito alinhada ao Ocidente, como a dos países do Golfo Pérsico de um modo geral, mas também com boas relações com Moscou e Irã, em virtude dos interesses comuns no comércio do gás natural.
Saliente-se que é no Catar que os EUA possuem a sua maior base militar no Oriente Médio. Trata-se da base aérea de Al Udeid. Tal base serve de comando estratégico para as operações que os EUA e aliados realizam no Afeganistão e no Iraque.
5- Assim sendo, associar a Al Jazeera e o Catar à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico é simplesmente ridículo. Coisa de energúmenos preconceituosos. Ou de gente de profunda má-fé, que gosta de desenvolver discursos fascistas e de ódio.
6- O interesse da Al Jazeera sobre o presidente Lula é perfeitamente compreensível.
Com Lula, o Brasil aprofundou muito suas relações com o mundo árabe e o Oriente Médio, com ganhos comerciais e diplomáticos expressivos para nosso país. A corrente de comércio brasileira com o Oriente Médio pulou de US$ 3,7 bilhões, em 2002 (último ano de FHC), para US$ 18, 4 bilhões, em 2014.
Ou seja, os governos do PT multiplicaram por 5 o intercâmbio comercial com os países do Oriente Médio. Além disso, houve grande aproximação diplomática e política com os países dessa região.
Nesse processo, os estados brasileiros exportadores de alimentos se beneficiaram muito, já que o Oriente Médio tem produção agrícola insuficiente para suprir as suas necessidades. Em 2016, ano de crise, o Rio Grande do Sul exportou US$ 1,12 bilhão para o Oriente Médio, graças esses mercados abertos pelo Presidente Lula.
7- Ao contrário do que as cabeças ignaras podem supor, o mundo árabe é bastante diverso, tanto em termos religiosos quanto políticos e culturais.
Há países muitos conservadores e aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, por exemplo, e países que tem uma política externa independente ou conflitante com a da maior potência do planeta.
Há também países sunitas e países xiitas. Há, do mesmo modo, cristãos, no mundo árabe. Há até mesmo judeus, nos países árabes.
8- O Brasil, sob os governos do PT, procurou, pragmaticamente, manter boas relações com todos eles, pois é do nosso interesse nacional do país que assim seja.
Desse modo, mantivemos boas relações com os países do Golfo, que são conservadores e alinhados aos EUA, mas também mantivemos boas relações com a Síria, o Irã e outros países que têm uma inserção geopolítica distinta. Essa atitude não discriminatória do Brasil fez do nosso país uma autêntica liderança mundial e converteu Lula no primeiro grande líder internacional brasileiro.
9- Nosso país tem muita afinidade com o mundo árabe e recebeu, especialmente no final do século XIX e no início do século XX, um grande contingente de imigrantes árabes, provenientes do Líbano e da Síria, então sob domínio do Império Otomano, que deram inestimável contribuição à nossa formação social e cultural.
10- No que tange à questão palestina, o Brasil é um defensor histórico de um Estado palestino soberano, viável e territorialmente coeso, tal como recomenda a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 181, de 1947.
11- Muito ao contrário do que as mentes distorcidas e xenófobas podem supor, árabe e muçulmano não são sinônimos de “radical” e “terrorista”.
A imensa maioria da população árabe e da população muçulmana é pacífica e ordeira e abomina o terrorismo. Associar uma coisa à outra implica promover discurso de ódio e discurso racista e xenófobo, crimes passíveis de punição em nossa legislação.
12- Diga-se de passagem, segundo o Institute for Economics and Peace (IEP), think thank que se dedica a mensurar e analisar o terrorismo em todo o mundo, boa parte das vítimas do terrorismo está justamente no Oriente Médio.
Assim, em 2014, 41% das mortes por terrorismo ocorreram no Oriente Médio e no Magreb. Trata-se da região com o maior número de atentados e mortes por terrorismo. Portanto, a população árabe e muçulmana é a mais afetada pelo terrorismo.
13- A presidenta Gleisi, como fez com todas as outras emissoras do mundo, apenas denunciou a prisão política de Lula e mencionou a solidariedade internacional para com o único presidente do Brasil que realmente alcançou envergadura mundial.
Tal solidariedade não se restringe ao mundo árabe, mas também se verifica na África, nas Américas, na Europa, na Ásia etc.
14- Os ignorantes talvez não saibam, mas o presidente Lula goza de grande prestígio internacional, de modo que há enorme interesse, por parte das emissoras do planeta, no seu caso. O mundo questiona a prisão, numa condenação sem provas, desse grande líder comparável à Mandela.
15- O movimento de solidariedade mundial ao presidente Lula cresce a cada dia e a entrevista à Al Jazeera se insere dentro dessa tendência internacional. É isso que irrita os golpistas.
16- A reação preconceituosa e beócia à entrevista da presidenta Gleisi reflete profunda ignorância histórica, diplomática e política e revela mentalidade xenófoba e autoritária, típica de quem não aceita diferenças étnicas, culturais.
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