Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Há alguns meses, quando o quadro eleitoral ainda era mais nebuloso, havia uma discussão sobre os fatores que seriam determinantes para o resultado da eleição deste ano.
Prevaleceriam as velhas estruturas do sistema partidário ou o resultado refletiria sua desestruturação, com a vitória de um candidato que encarnasse a negação da política, alimentada pela Lava Jato e pela crise continuada?
A resposta virá das urnas, mas os últimos movimentos dizem que a força das máquinas está prevalecendo e que só restará Jair Bolsonaro como representante da onda “contra tudo o que está aí”.
Essa onda emergiu nas manifestações de 2013, voltou a ganhar força em 2015, e desaguou nos protestos que deram ao Congresso o argumento de que, mesmo não tendo razão jurídica, faria o impeachment de Dilma Rousseff para atender ao “clamor do povo”.
Foi suspeitando que tal sentimento determinaria o resultado da eleição que setores do “establishment” tentaram inventar um candidato falsamente “out sider”, como teria sido Luciano Huck.
A mesma razão levou o PSB a apostar na candidatura do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa. Quando ele caiu fora já era tarde para o PSB construir uma alternativa, e agora está aí, dividido entre o apoio a Ciro Gomes e ao PT. Outros se lançaram com a mesma inspiração, e não chegaram a lugar algum, como os empresários Flávio Rocha, do PRB, e João Amoedo, do Novo. O primeiro já desistiu. Restou apenas Bolsonaro como candidato falsamente antissistema.
Ao modo antigo
Os fatos mais recentes dizem que, apesar de tudo o que foi feito e dito contra a política e os políticos, a eleição será decidida à moda antiga, pela força dos partidos e das máquinas que comandam.
Evidência maior disso foi a disputa entre Ciro Gomes e Geraldo Alckmin pelo apoio do Centrão, que finalmente decidiu-se pelo tucano, colocando-o novamente no jogo, dando-lhe possibilidades reais de chegar ao segundo turno.
O Centrão não agrega necessariamente votos ao candidato, mas instrumentos da caça aos votos, como tempo de TV, palanques nos estados, prefeituras, cabos eleitorais, conexões com líderes regionais e locais, enfim, toda uma cadeia que pode arrastar eleitores.
Preterido pelo PR, Bolsonaro voltou a falar “contra todos” na convenção de domingo.
Até agora não obteve o apoio de nenhum partido para ampliar seus oito segundos de tempo de televisão.
Não conseguiu um vice e o convite pode ser recusado até mesmo por Janaína Paschoal, essa figura que combina de forma inacreditável arrogância e obtusidade. Por mais que as redes sociais tenham se tornado relevantes, elas não substituirão, ainda, a força das máquinas na política. Alckmin vai comandar a maior máquina e é com ele o primeiro enfrentamento de Bolsonaro. O tucano quer recuperar logo, em São Paulo, os votos que perdeu para o ex-capitão.
No jogo convencional, os partidos de esquerda saem com imensa desvantagem em relação à direita que se uniu em torno de Alckmin, com todo seu maquinário. PDT e PT disputam o PSB porque não há mais nada a conquistar neste campo. Em tais condições, a unidade seria o caminho sensato e óbvio mas, para o primeiro turno, é tarde.
Ciro não vai desistir e o PT não quer nem pode abdicar de sua estratégia, de levar ao limite a candidatura de Lula, para só então colocar outro nome na roda e apostar tudo na transferência de votos.
O PT, que venceu quatro eleições presidenciais pilotando grandes coligações, também agora está isolado, correndo atrás do PSB e do PROS. Mas tem Lula, que mesmo preso continua liderando as pesquisas, encarnando a rejeição a tudo que veio depois do impeachment.
Assim, a eleição não apenas será decidida dentro do sistema tradicional, como tende a ser um acerto de contas, que deixará pelo caminho o candidato da extrema-direita, reeditando a polarização PT-PSDB no segundo turno.
Há alguns meses, quando o quadro eleitoral ainda era mais nebuloso, havia uma discussão sobre os fatores que seriam determinantes para o resultado da eleição deste ano.
Prevaleceriam as velhas estruturas do sistema partidário ou o resultado refletiria sua desestruturação, com a vitória de um candidato que encarnasse a negação da política, alimentada pela Lava Jato e pela crise continuada?
A resposta virá das urnas, mas os últimos movimentos dizem que a força das máquinas está prevalecendo e que só restará Jair Bolsonaro como representante da onda “contra tudo o que está aí”.
Essa onda emergiu nas manifestações de 2013, voltou a ganhar força em 2015, e desaguou nos protestos que deram ao Congresso o argumento de que, mesmo não tendo razão jurídica, faria o impeachment de Dilma Rousseff para atender ao “clamor do povo”.
Foi suspeitando que tal sentimento determinaria o resultado da eleição que setores do “establishment” tentaram inventar um candidato falsamente “out sider”, como teria sido Luciano Huck.
A mesma razão levou o PSB a apostar na candidatura do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa. Quando ele caiu fora já era tarde para o PSB construir uma alternativa, e agora está aí, dividido entre o apoio a Ciro Gomes e ao PT. Outros se lançaram com a mesma inspiração, e não chegaram a lugar algum, como os empresários Flávio Rocha, do PRB, e João Amoedo, do Novo. O primeiro já desistiu. Restou apenas Bolsonaro como candidato falsamente antissistema.
Ao modo antigo
Os fatos mais recentes dizem que, apesar de tudo o que foi feito e dito contra a política e os políticos, a eleição será decidida à moda antiga, pela força dos partidos e das máquinas que comandam.
Evidência maior disso foi a disputa entre Ciro Gomes e Geraldo Alckmin pelo apoio do Centrão, que finalmente decidiu-se pelo tucano, colocando-o novamente no jogo, dando-lhe possibilidades reais de chegar ao segundo turno.
O Centrão não agrega necessariamente votos ao candidato, mas instrumentos da caça aos votos, como tempo de TV, palanques nos estados, prefeituras, cabos eleitorais, conexões com líderes regionais e locais, enfim, toda uma cadeia que pode arrastar eleitores.
Preterido pelo PR, Bolsonaro voltou a falar “contra todos” na convenção de domingo.
Até agora não obteve o apoio de nenhum partido para ampliar seus oito segundos de tempo de televisão.
Não conseguiu um vice e o convite pode ser recusado até mesmo por Janaína Paschoal, essa figura que combina de forma inacreditável arrogância e obtusidade. Por mais que as redes sociais tenham se tornado relevantes, elas não substituirão, ainda, a força das máquinas na política. Alckmin vai comandar a maior máquina e é com ele o primeiro enfrentamento de Bolsonaro. O tucano quer recuperar logo, em São Paulo, os votos que perdeu para o ex-capitão.
No jogo convencional, os partidos de esquerda saem com imensa desvantagem em relação à direita que se uniu em torno de Alckmin, com todo seu maquinário. PDT e PT disputam o PSB porque não há mais nada a conquistar neste campo. Em tais condições, a unidade seria o caminho sensato e óbvio mas, para o primeiro turno, é tarde.
Ciro não vai desistir e o PT não quer nem pode abdicar de sua estratégia, de levar ao limite a candidatura de Lula, para só então colocar outro nome na roda e apostar tudo na transferência de votos.
O PT, que venceu quatro eleições presidenciais pilotando grandes coligações, também agora está isolado, correndo atrás do PSB e do PROS. Mas tem Lula, que mesmo preso continua liderando as pesquisas, encarnando a rejeição a tudo que veio depois do impeachment.
Assim, a eleição não apenas será decidida dentro do sistema tradicional, como tende a ser um acerto de contas, que deixará pelo caminho o candidato da extrema-direita, reeditando a polarização PT-PSDB no segundo turno.
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