quinta-feira, 5 de julho de 2018

O Brasil que virá com as eleições

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Na quase pausa para a Copa do Mundo, a pré-campanha presidencial esquenta hoje com a sabatina de seis presidenciáveis no Encontro Nacional da Indústria, megaevento empresarial organizado pela CNI.

Para os executivos presentes, tão importante quanto saber quem pode ganhar é antever o Brasil que será moldado pelas eleições.

Por isso foi grande o afluxo à palestra do diretor do Eurasia Group no Brasil, o cientista político Christopher Garman.

E ele começou avisando que a eleição brasileira, por acontecer num ambiente de grande insatisfação, se não de ressentimento e raiva (como aconteceu também nos EUA, na eleição de Trump, e em alguns dos pleitos europeus), não favorece a eleição de candidatos comprometidos com as reformas que os empresários consideram necessárias.

Mas compensou esta previsão negativa para o auditório com um prognóstico mais animador: a resistência às reformas vem diminuindo e não aumentando. A compressão do drama fiscal hoje é maior no meio político.

E isso autoriza a previsão de que o próximo presidente não fugirá das reformas imperativas, como a previdenciária e a tributária. Elas devem acontecer, mas devem ser mais tímidas que o desejado.

E assim deve ser não por escolha do novo governante mas por conta do sistema de forças que surgirá da eleição.

Tal sistema carregará a contradição entre um Congresso pouco renovado que será uma expressão da velha política, com seus métodos e instrumentos tradicionais, e um presidente que se elegerá prometendo aos insatisfeitos uma nova forma de fazer política. Prometendo, por exemplo, banir o fisiologismo, a troca de cargos por votos no Congresso.

E isso significará, na prática, que ele terá dificuldades para construir a maioria e para aprovar reformas.

Por isso, a previsão de que serão limitadas.

Mas quem mesmo poderá ser ele?

Para Garman, Bolsonaro tem praticamente garantida uma vaga no segundo turno, afirmação que ele ancora no alto índice de voto espontâneo do candidato do PSL, em média 12%.

A disputa da segunda estaria produzindo os movimentos atuais em torno de Ciro Gomes, à esquerda e à direita.

Mas em sua avaliação, é o PT, com o candidato que Lula indicará, que tem chances reais de ir ao segundo turno disputar com Bolsonaro.

Ele sustenta esta previsão invocando também o voto espontâneo em Lula (21%) e seu potencial de transferência de votos, que pode chegar a 47%.

Por certo, tais previsões não agradam os empresários. Bolsonaro estará na sabatina de hoje mas não Lula, é claro, nem um representante do PT. E isso, com base nas previsões de Garman, tornará a sabatina capenga.

Se eles têm mais chances, é sobretudo com eles que se deve discutir e buscar pactuar reformas.

Quem se desculpa?

O ex-ministro Aloizio Mercadante foi acusado pela Lava Jato de ter recebido dinheiro para sua campanha a governador de São Paulo, em 2010, via caixa 2, com base na delação de Ricardo Pessoa, da UTC. Na época, houve fartura de notícias a respeito. Agora o inquérito foi arquivado por falta de provas e não se viu registro sobre o assunto, reclama Mercadante.

“O restabelecimento da verdade dos fatos no processo jurídico não repara os danos causados à minha imagem pública pelos vazamentos seletivos da delação”, diz ele.

Nas redes

Jair Bolsonaro deixou de reinar nas redes sociais e vem perdendo espaço há três meses, constata o monitoramento da consultoria AJA Solutions, coordenado pelos jornalistas Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa.

Quem cresceu no Twitter, em visibilidade e relevância, foram Manuela D’Ávila, João Amoêdo e Guilherme Boulos.

A fatia do ex-presidente Lula vem oscilando mas voltou a subir esta semana.

No Facebook, Amoêdo e Manuela aumentaram o engajamento de usuários (curtidas e comentários).

Em junho, Lula e Bolsonaro ficaram com 31% e 29%, respectivamente, o que significou ligeiro encolhimento para ambos.

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