Por Luciano Coutinho, no site da Fundação Maurício Grabois:
Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, Coreia, entre outros, se engajaram numa renhida disputa pela liderança em novas tecnologias. Não é para menos, a 4ª revolução industrial vai redesenhar o mapa geoeconômico global; os modelos de negócio e as lideranças de mercado irão mudar. Está em jogo a posição competitiva de cada país.
Nos anos 90 a abertura comercial multilateral induziu a fragmentação geográfica da produção de várias cadeias de valor, com destaque para as indústrias de equipamentos de TI, componentes, bens de capital, automobilística. As empresas multinacionais dos países avançados terceirizaram a produção, principalmente para os tigres asiáticos (Taiwan, Coreia, China).
Essas grandes empresas foram se concentrando nos estágios nobres de design, P&D e marketing de seus produtos. Surgiram, no limite, as empresas fabless ou fablites, como a Apple e a Qualcomm, que contratam toda a manufatura de seus produtos a fornecedores asiáticos. Inicialmente os fornecedores asiáticos eram manufaturadores especializados, com salários e preços baixos e sem marcas próprias. Mas, com o passar do tempo, automatizaram processos, investiram muito em P&D, difundiram novas marcas nos mercados domésticos e partiram para disputar a liderança mundial com as grandes empresas ocidentais.
Pressionados pela forte ascensão da Coreia e da China, os países industriais avançados reagiram adotando estratégias de inovação mais arrojadas, ampliando seus dispêndios privados e públicos em ciência, tecnologia e inovação. Ganhou corpo nos últimos anos uma verdadeira corrida tecnológica entre os principais países industriais ocidentais e asiáticos.
Os Estados Unidos querem manter sua liderança em ciência e pretendem recuperar competitividade em manufatura avançada. Em 2017, seu dispêndio total em P&D somou US$ 533 bilhões (2,7% do PIB). O Japão visa alcançar gastos de US$ 202 bilhões em P&D, subindo de 3% para 4% do PIB, almejando uma sociedade superinteligente. A Alemanha investiu US$ 105 bilhões em 2017, concentrando seu foco na manufatura 4.0, integrada e inteligente. A Coreia planeja a automação avançada de todo seu sistema fabril.
A China dispendeu, em 2017, US$ 279 bilhões em P&D, equivalente a 2,5% do PIB. Este investimento vem crescendo firmemente e é necessário para chegar ao status de potência industrial intermediária em 2035 e alcançar a liderança tecnológica mundial em 2049. Sob a supervisão direta do presidente Xi Jinping, a estratégia da China é, sem dúvida, a mais ambiciosa.
Na abertura do 19º Congresso da Academia de Ciências, semana passada, o líder chinês sublinhou a necessidade de “promover uma integração profunda entre a internet, a big data e a inteligência artificial com a economia real, transformando os modelos de negócio da indústria chinesa em direção ao topo das cadeias globais de valor”.
O presidente Xi exortou a academia e o governo a promoverem reformas para dinamizar o ecossistema de inovação formado por empresas, universidades e instituições de pesquisa. Defendeu esforços concertados para desenvolver rupturas tecnológicas inéditas. Assinalou que a China deve trilhar seu caminho com autonomia, mas deve fazê-lo em um ambiente aberto e integrado à comunidade científica e tecnológica global.
De fato, a China vem assumindo papel destacado em projetos internacionais de Big Science e participa de redes colaborativas de excelência em inteligência artificial, edição genômica e nanotecnologias. Combina objetivos nacionais de longo prazo com pragmatismo. A cooperação com empresas estrangeiras líderes, através de joint ventures, vem sendo incentivada, por exemplo, nas áreas de saúde (biofármacos e equipamentos médicos), circuitos integrados para computação de alta performance, baterias eficientes para veículos elétricos.
São crescentes os investimentos na formação de cientistas, engenheiros e matemáticos. Talentos estrangeiros, assim como emigrantes chineses que se destacam em pesquisas no exterior, são seduzidos a radicarem-se na China, com remuneração diferenciada e acesso a infraestrutura científica de ponta.
Graças à iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL), o projeto Indústria-2027, inspirado pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), permitiu a pesquisadores dos Institutos de Economia da UFRJ e da Unicamp mapear as estratégias nacionais de inovação. Uma equipe de 75 especialistas avaliou os impactos potenciais das novas tecnologias, identificando riscos e oportunidades para a indústria brasileira.
As análises indicam que, até 2027, todos os sistemas industriais brasileiros enfrentarão riscos disruptivos. Uma pesquisa de campo mostrou que a adoção de processos digitais de última geração corresponde hoje a um percentual muito pequeno. Não obstante, há uma parcela expressiva da indústria – de 60% – que pretende migrar para gerações mais avançadas nos próximos 10 anos. Há oportunidades interessantes a serem capturadas. Permanece, porém, o desafio de modernização da parcela de 40% que tem dificuldades para avançar, especialmente as MPE.
O Brasil não dispõe de uma estratégia nacional de inovação de longo prazo. O nosso sistema de C&T I enfrenta hoje uma brutal compressão orçamentária e os programas de governo estão focados nas urgências de curto prazo. Deveriam dar atenção aos desafios postos pelas inovações disruptivas. O tempo é curto e não espera por retardatários.
* Publicado originalmente no Portal da Indústria.
Nos anos 90 a abertura comercial multilateral induziu a fragmentação geográfica da produção de várias cadeias de valor, com destaque para as indústrias de equipamentos de TI, componentes, bens de capital, automobilística. As empresas multinacionais dos países avançados terceirizaram a produção, principalmente para os tigres asiáticos (Taiwan, Coreia, China).
Essas grandes empresas foram se concentrando nos estágios nobres de design, P&D e marketing de seus produtos. Surgiram, no limite, as empresas fabless ou fablites, como a Apple e a Qualcomm, que contratam toda a manufatura de seus produtos a fornecedores asiáticos. Inicialmente os fornecedores asiáticos eram manufaturadores especializados, com salários e preços baixos e sem marcas próprias. Mas, com o passar do tempo, automatizaram processos, investiram muito em P&D, difundiram novas marcas nos mercados domésticos e partiram para disputar a liderança mundial com as grandes empresas ocidentais.
Pressionados pela forte ascensão da Coreia e da China, os países industriais avançados reagiram adotando estratégias de inovação mais arrojadas, ampliando seus dispêndios privados e públicos em ciência, tecnologia e inovação. Ganhou corpo nos últimos anos uma verdadeira corrida tecnológica entre os principais países industriais ocidentais e asiáticos.
Os Estados Unidos querem manter sua liderança em ciência e pretendem recuperar competitividade em manufatura avançada. Em 2017, seu dispêndio total em P&D somou US$ 533 bilhões (2,7% do PIB). O Japão visa alcançar gastos de US$ 202 bilhões em P&D, subindo de 3% para 4% do PIB, almejando uma sociedade superinteligente. A Alemanha investiu US$ 105 bilhões em 2017, concentrando seu foco na manufatura 4.0, integrada e inteligente. A Coreia planeja a automação avançada de todo seu sistema fabril.
A China dispendeu, em 2017, US$ 279 bilhões em P&D, equivalente a 2,5% do PIB. Este investimento vem crescendo firmemente e é necessário para chegar ao status de potência industrial intermediária em 2035 e alcançar a liderança tecnológica mundial em 2049. Sob a supervisão direta do presidente Xi Jinping, a estratégia da China é, sem dúvida, a mais ambiciosa.
Na abertura do 19º Congresso da Academia de Ciências, semana passada, o líder chinês sublinhou a necessidade de “promover uma integração profunda entre a internet, a big data e a inteligência artificial com a economia real, transformando os modelos de negócio da indústria chinesa em direção ao topo das cadeias globais de valor”.
O presidente Xi exortou a academia e o governo a promoverem reformas para dinamizar o ecossistema de inovação formado por empresas, universidades e instituições de pesquisa. Defendeu esforços concertados para desenvolver rupturas tecnológicas inéditas. Assinalou que a China deve trilhar seu caminho com autonomia, mas deve fazê-lo em um ambiente aberto e integrado à comunidade científica e tecnológica global.
De fato, a China vem assumindo papel destacado em projetos internacionais de Big Science e participa de redes colaborativas de excelência em inteligência artificial, edição genômica e nanotecnologias. Combina objetivos nacionais de longo prazo com pragmatismo. A cooperação com empresas estrangeiras líderes, através de joint ventures, vem sendo incentivada, por exemplo, nas áreas de saúde (biofármacos e equipamentos médicos), circuitos integrados para computação de alta performance, baterias eficientes para veículos elétricos.
São crescentes os investimentos na formação de cientistas, engenheiros e matemáticos. Talentos estrangeiros, assim como emigrantes chineses que se destacam em pesquisas no exterior, são seduzidos a radicarem-se na China, com remuneração diferenciada e acesso a infraestrutura científica de ponta.
Graças à iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL), o projeto Indústria-2027, inspirado pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), permitiu a pesquisadores dos Institutos de Economia da UFRJ e da Unicamp mapear as estratégias nacionais de inovação. Uma equipe de 75 especialistas avaliou os impactos potenciais das novas tecnologias, identificando riscos e oportunidades para a indústria brasileira.
As análises indicam que, até 2027, todos os sistemas industriais brasileiros enfrentarão riscos disruptivos. Uma pesquisa de campo mostrou que a adoção de processos digitais de última geração corresponde hoje a um percentual muito pequeno. Não obstante, há uma parcela expressiva da indústria – de 60% – que pretende migrar para gerações mais avançadas nos próximos 10 anos. Há oportunidades interessantes a serem capturadas. Permanece, porém, o desafio de modernização da parcela de 40% que tem dificuldades para avançar, especialmente as MPE.
O Brasil não dispõe de uma estratégia nacional de inovação de longo prazo. O nosso sistema de C&T I enfrenta hoje uma brutal compressão orçamentária e os programas de governo estão focados nas urgências de curto prazo. Deveriam dar atenção aos desafios postos pelas inovações disruptivas. O tempo é curto e não espera por retardatários.
* Publicado originalmente no Portal da Indústria.
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