Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
A mobilização em torno da eleição presidencial se justifica. O país vive uma encruzilhada perigosa e o abismo entre o aprofundamento das contrarreformas e a retomada da democracia é preocupante. A direita, mesmo desarticulada, tem uma plataforma única: retirada de direitos, entreguismo, submissão ao mercado financeiro e diminuição do teor de democracia, com perseguição a movimentos populares, militarização da questão social e garantia do monopólio midiático.
A esquerda ou centro-esquerda, reagindo a uma conjuntura incomum, desenvolveu ações também pouco ortodoxas (como a de dois vices), mas que se justificam na lógica puramente eleitoral. A estratégia de manter a candidatura de Lula até o limite e apostar na transferência de votos se mostra mais realista que a quimera de uma união prévia das esquerdas. Tudo indicaria que um acordo era mais produtivo, mas as candidaturas não reagiram assim.
A realidade está falando mais alto. Lula até agora se mostrou firme na posição de maior liderança do país, mesmo na mais adversa das conjunturas: preso, sem voz e atacado até por parte do campo progressista. Pode não haver precedente na ciência política para a estratégia adotada, mas também não há nada semelhante ao atual momento, com uma prisão questionável juridicamente e claramente identificada com o projeto de manipular o pleito.
Sem contar com a campanha vazada incontinentemente por ministros que deverão julgar a admissibilidade da candidatura. Prelibam a confirmação do golpe e se desnudam das togas para assumir papel político inaceitável. Nesse conluio bem articulado, no entanto, três furos trazem água para o bote golpista. Esqueceram de combinar com os russos e agora se desesperam para retomar o protagonismo eleitoral para chegar, pelo menos, ao segundo turno.
O primeiro é a resistência de Bolsonaro como opção da direita, que apostava em Alckmin e vitaminou o monstro apenas como boi de piranha. Ao cevar a desinformação e a barbárie, colheram o pior, inclusive em termos de política econômica. Mesmo o namoro de parte do empresariado com o “posto Ipiranga” do capitão tem efeitos apenas de capitulação constrangida.
O segundo buraco foi o desprezo do histórico fisiologismo da política do baixo e médio clero. No momento certo, os parlamentares souberam retomar seu cacife na disputa. Foram trampolim para o golpe, depois deixados de lado como descartáveis e agora retornam dando as cartas. Sem eles, as candidaturas do mercado não evoluíram e se viram reféns de uma corja que julgavam dominar. O centrão deu a volta.
O terceiro furo foi a manutenção de Lula como principal candidato popular do país. O diagnóstico dos liberais de cátedra de que a esquerda no país é menor que o ex-presidente, levou à aventura de barrar o candidato para matar a ideia. Ocorreu o contrário. A oposição popular consolidou-se quase totalmente em torno de Lula. Ao identificar nele o adversário principal e um dos polos de uma sociedade conflagrada, a direita, mais antilulista que ideológica, praticamente elevou o candidato petista ao lugar que hoje ocupa.
Se o debate presidencial e em torno dos governos dos estados é importante para os rumos do país, a renovação do Legislativo também é essencial. Chegamos a esse ponto, em que as ideias de nação e os projetos de país se submetem à estratégia puramente eleitoral, exatamente pelo esvaziamento da política partidária. Congresso e assembleias precisam ser renovados de forma profunda. A energia sugada pelas disputas majoritárias e a ausência de uma reforma política pode dar vez ao continuísmo. O que é o pior dos mundos.
Talvez seja um bom método para o cidadão pensar na eleição com os dois lados do cérebro. Na escolha do presidente e governador, usar a porção destra, com sua lógica, razão e cálculo político, para construir um cenário viável de retomada dos rumos da democracia obstruída. Usando a racionalidade, é fácil escolher o candidato que significa mais crescimento econômico, distribuição de renda, políticas públicas, respeito aos direitos humanos.
Do lado esquerdo do cérebro, com sua inteligência emocional, impulsividade, capacidade de sonhar, radicalidade de projetos, coragem moral e utopia, devem vir os fundamentos para a escolha de bons representantes parlamentares. Pessoas identificadas com causas justas, sem acordos de ocasião, com pensamento libertário, solidário e transformador. Os radicais são a melhor segurança nessa hora.
A tensão para os extremos garante o movimento da roda da história. O bom senso conserva, o que é bom, mas insuficiente. Tem hora que só a revolução, no sentido mais generoso da palavra, dá conta das demandas do real.
A esquerda ou centro-esquerda, reagindo a uma conjuntura incomum, desenvolveu ações também pouco ortodoxas (como a de dois vices), mas que se justificam na lógica puramente eleitoral. A estratégia de manter a candidatura de Lula até o limite e apostar na transferência de votos se mostra mais realista que a quimera de uma união prévia das esquerdas. Tudo indicaria que um acordo era mais produtivo, mas as candidaturas não reagiram assim.
A realidade está falando mais alto. Lula até agora se mostrou firme na posição de maior liderança do país, mesmo na mais adversa das conjunturas: preso, sem voz e atacado até por parte do campo progressista. Pode não haver precedente na ciência política para a estratégia adotada, mas também não há nada semelhante ao atual momento, com uma prisão questionável juridicamente e claramente identificada com o projeto de manipular o pleito.
Sem contar com a campanha vazada incontinentemente por ministros que deverão julgar a admissibilidade da candidatura. Prelibam a confirmação do golpe e se desnudam das togas para assumir papel político inaceitável. Nesse conluio bem articulado, no entanto, três furos trazem água para o bote golpista. Esqueceram de combinar com os russos e agora se desesperam para retomar o protagonismo eleitoral para chegar, pelo menos, ao segundo turno.
O primeiro é a resistência de Bolsonaro como opção da direita, que apostava em Alckmin e vitaminou o monstro apenas como boi de piranha. Ao cevar a desinformação e a barbárie, colheram o pior, inclusive em termos de política econômica. Mesmo o namoro de parte do empresariado com o “posto Ipiranga” do capitão tem efeitos apenas de capitulação constrangida.
O segundo buraco foi o desprezo do histórico fisiologismo da política do baixo e médio clero. No momento certo, os parlamentares souberam retomar seu cacife na disputa. Foram trampolim para o golpe, depois deixados de lado como descartáveis e agora retornam dando as cartas. Sem eles, as candidaturas do mercado não evoluíram e se viram reféns de uma corja que julgavam dominar. O centrão deu a volta.
O terceiro furo foi a manutenção de Lula como principal candidato popular do país. O diagnóstico dos liberais de cátedra de que a esquerda no país é menor que o ex-presidente, levou à aventura de barrar o candidato para matar a ideia. Ocorreu o contrário. A oposição popular consolidou-se quase totalmente em torno de Lula. Ao identificar nele o adversário principal e um dos polos de uma sociedade conflagrada, a direita, mais antilulista que ideológica, praticamente elevou o candidato petista ao lugar que hoje ocupa.
Se o debate presidencial e em torno dos governos dos estados é importante para os rumos do país, a renovação do Legislativo também é essencial. Chegamos a esse ponto, em que as ideias de nação e os projetos de país se submetem à estratégia puramente eleitoral, exatamente pelo esvaziamento da política partidária. Congresso e assembleias precisam ser renovados de forma profunda. A energia sugada pelas disputas majoritárias e a ausência de uma reforma política pode dar vez ao continuísmo. O que é o pior dos mundos.
Talvez seja um bom método para o cidadão pensar na eleição com os dois lados do cérebro. Na escolha do presidente e governador, usar a porção destra, com sua lógica, razão e cálculo político, para construir um cenário viável de retomada dos rumos da democracia obstruída. Usando a racionalidade, é fácil escolher o candidato que significa mais crescimento econômico, distribuição de renda, políticas públicas, respeito aos direitos humanos.
Do lado esquerdo do cérebro, com sua inteligência emocional, impulsividade, capacidade de sonhar, radicalidade de projetos, coragem moral e utopia, devem vir os fundamentos para a escolha de bons representantes parlamentares. Pessoas identificadas com causas justas, sem acordos de ocasião, com pensamento libertário, solidário e transformador. Os radicais são a melhor segurança nessa hora.
A tensão para os extremos garante o movimento da roda da história. O bom senso conserva, o que é bom, mas insuficiente. Tem hora que só a revolução, no sentido mais generoso da palavra, dá conta das demandas do real.
0 comentários:
Postar um comentário