domingo, 21 de outubro de 2018

Jesus de Bolsonaro não existe nos evangelhos

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Bolsonaro, Malafaia e sua turma de fundamentalistas religiosos saudosos da ditadura dizem falar “em nome de Jesus” contra a esquerda. Por um destes caprichos do destino, o candidato de extrema-direita ainda por cima se chama Jair MESSIAS Bolsonaro. A maior parte das fake news que a campanha do candidato está espalhando ilegalmente nas redes tem como característica usar a fé cristã das pessoas para acusar o adversário Fernando Haddad, do PT, das maiores barbaridades, e assim angariar fotos entre os evangélicos.

Os próprios ataques da extrema-direita a peças de teatro e exposições de arte têm como pano de fundo fazer as pessoas crerem que estas expressões artísticas são “pecaminosas” à luz da religião que professam. Quer dizer, baseiam a censura em supostas ideias “cristãs”. Mas este Cristo que tudo proíbe, tudo pune, que só pensa em bens materiais e que vê maldade em tudo não está nos evangelhos. Desafio qualquer um destes fundamentalistas religiosos a me mostrar onde, no Novo Testamento, Jesus ensina a agir como eles agem.

Não existe homofobia no Novo Testamento. Jesus nunca falou nem uma só palavra contra os homossexuais.

Ao contrário dos pastores que apoiam Bolsonaro, todos milionários às custas da fé dos ingênuos, Jesus tinha desprezo pelo dinheiro. “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” (Lucas 18:18-30).

Jesus não só não dava a menor importância aos bens materiais, como expulsou os vendilhões do templo. “Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio” (João 2:15-16). Esses pretensos líderes religiosos em torno de Bolsonaro seriam todos tratados por ele como vendilhões do templo e expulsos a pontapés das igrejas. Este, aliás, é o único momento dos evangelhos em que Jesus usa violência física.

Dizer que “as minorias devem se curvar às maiorias”, ser xenófobo, dizer que os pobres são pobres “porque não se esforçaram” ou falar que “bandido bom é bandido morto”, como defende o candidato de extrema-direita, tampouco são atitudes cristãs. Jesus Cristo disse com todas as letras para dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, receber bem os estrangeiros e tratar os presos como gente (Mateus 25:31-46). Jesus, ao contrário dos bolsonaristas, era um grande defensor dos direitos humanos.

A mensagem de Jesus não era de punição aos “pecadores” e sim de compreensão com quem “pecou”, de estender a mão e erguer os caídos. Os fundamentalistas religiosos bolsonaristas atiram pedras e incitam o povo a atirar pedras. Estariam, portanto, do lado oposto de Jesus na cena contada no episódio da adúltera, que muitos identificam com Maria Madalena. “Aquele que dentre vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe atire uma pedra” (João 7:53 até João 8:1-11). Ao fazer isso, Cristo se impunha contra a lei de Moisés, que condenava o adultério. Ou seja: já naquela época, o Velho Testamento, seguido ao pé da letra por estes “cristãos” de hoje em dia, era considerado ultrapassado. E Jesus, afinal, era a Boa Nova.

Bolsonaro, Malafaia e companhia, portanto, não seguem os preceitos cristãos. Eles se guiam pelos conceitos do Velho Testamento, onde, além de condenar a homossexualidade, havia coisas como promover sacrifícios de animais, não comer carne de porco e frutos do mar, não fazer tatuagem, proibir sexo antes do casamento, chicotear criminosos, apedrejar pessoas até a morte… Quem segue isso? O que essa gente faz é falar em Jesus, mas utilizam como base o Velho Testamento, que de certa forma Cristo aboliu ao nascer. Malafaia, Bolsonaro, Feliciano et caterva na verdade não são cristãos, porque tecnicamente Jesus Cristo ainda não nasceu para eles. Ainda estão na Velha Bíblia de Jeová, antes do nascimento de Cristo.

A maior evidência disso é que, ao pregarem o ódio ao PT e à esquerda, Bolsonaro e seus fundamentalistas descumprem a principal mensagem de Jesus Cristo, que era de amor ao próximo, já que ele resumiu os Dez Mandamentos de Moisés em apenas dois: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas” (Mateus 22:37-40).

Os verdadeiros cristãos devem abrir os olhos. Também está no Novo Testamento que chegariam falsos Messias falando em nome de Jesus. “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! ‘Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7:15-20)

Para terminar, peço aos bolsonaristas que me respondam com sinceridade: Jesus, que foi chicoteado, apedrejado e por último crucificado, defenderia sob qualquer hipótese a tortura de seres humanos, como faz Bolsonaro? Segundo o papa Francisco, jamais, porque tortura é pecado mortal.

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