Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
No fim de janeiro, dei um diagnóstico fácil: “Quanto à imagem, a luz vermelha já está acesa para Bolsonaro”. Era evidente que a avaliação do governo ia piorar. Antes mesmo de completar cem dias, quando tradicionalmente se considera o fim da “lua de mel” da opinião pública com um novo governo, saiu uma pesquisa do Ibope confirmando o prognóstico. Em pouco mais de dois meses, de meados de janeiro a meados de março, a avaliação positiva do governo caiu 15 pontos porcentuais. A confiança da população deteriorou-se, passando de 62% para 49%.
É hora de fazer uma nova aposta: a popularidade de Bolsonaro e a aprovação de seu governo vão continuar a cair nos próximos meses. É até provável que a queda seja rápida e acentuada, levando-o a um cenário parecido com o que enfrentaram Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff no segundo semestre de seu segundo mandato. O tucano atingiu, em agosto de 1999, o índice de apenas 12% de avaliação positiva, enquanto Dilma, nessa altura, estava abaixo de 10%. O capitão pode replicar o desempenho de ambos antes do fim do primeiro ano.
São três os principais motivos que explicam o que ocorre agora e o que deve acontecer daqui para a frente.
1. A base de Bolsonaro é pequena
Contrariando a versão que circulou depois de sua vitória eleitoral, a de que estávamos perante um tsunami que havia inundado a sociedade brasileira, o bolsonarismo sempre foi um fenômeno limitado. Em agosto, na média das pesquisas publicadas, a dois meses do primeiro turno, Bolsonaro mal passava de 15% em listas com Lula e de 20% quando Haddad era apresentado como o candidato do PT.
Essa é sua base própria, formada por pessoas que haviam sido atraídas pela atuação do capitão ao longo de anos e o clima de opinião pública que o País vivia. Para crescer na reta final, beneficiou-se do declínio de outros nomes à direita, incorporando eleitores que o percebiam apenas como instrumento para derrotar o PT.
Bolsonaro foi além de 15% ou 20% mediante a incorporação tardia de pessoas que relutaram em apoiá-lo até as vésperas do pleito. Não votaram nele por seus méritos, mas por falta de opções competitivas na direita ou desencanto com Haddad.
Analisando a queda no Ibope, percebe-se que ela foi maior nos segmentos de renda mais baixa, onde estão os alvos dos ataques que a campanha de Bolsonaro desferiu contra Haddad na semana que antecedeu o primeiro turno. Foi assim que o capitão venceu, mas sem formar uma base que ultrapassasse o núcleo de evangelizados de longa data. Mamadeiras de piroca podem ganhar votos, mas não fornecem autoridade e legitimidade.
2. As expectativas criadas são inadministráveis
Sem base ampla na sociedade, eleito por uma soma de nãos (para alguns, contra o PT; para outros, contra Haddad), o lógico é que Bolsonaro tentasse ser diferente depois da vitória, procurando consolidar o apoio daqueles para quem nunca fora a opção preferencial.
A outra forma de ampliar sua base seria pelo desempenho. O governo teria de atender rapidamente às expectativas que a sua eleição havia criado: “arrumar a bagunça”, “acabar com a violência”, “fazer o Brasil crescer”. São coisas complicadas, mas que haviam sido vendidas como simplíssimas: bastava tirar o PT do governo que tudo estaria resolvido.
É óbvio que nada disso aconteceu de janeiro para cá. E a chance de que qualquer uma dessas metas seja cumprida, por este governo e em qualquer prazo razoável, é zero. Sem contar que as sugestões até agora alinhadas para consegui-lo nada têm de “novo”. As propostas de Paulo Guedes são mais velhas que a Sé de Braga. O pacote de Sérgio Moro, em seu bacharelismo, tem cheiro de naftalina.
3. Bolsonaro é Bolsonaro
Como o escorpião da fábula, Bolsonaro não consegue ser diferente do que é. Mata quem o leva de uma margem do rio à outra, apenas porque não consegue conter seu desejo de matar, mesmo sabendo que se afogará. Não seria por uma mera eleição para presidente que ele se sentiria na necessidade de mudar.
O erro mais grave que um político pode cometer é acreditar que tem superpoderes, algo de que Bolsonaro e sua trupe têm absoluta certeza. Não passa, contudo, do caminho mais curto para o fracasso.
Vão insistir no que sabem fazer: reagir com arrogância à queda de popularidade que os aguarda. A cada pesquisa nova confirmando-a responderão com bravatas. E, assim, vão agravá-la. É só esperar para ver.
É hora de fazer uma nova aposta: a popularidade de Bolsonaro e a aprovação de seu governo vão continuar a cair nos próximos meses. É até provável que a queda seja rápida e acentuada, levando-o a um cenário parecido com o que enfrentaram Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff no segundo semestre de seu segundo mandato. O tucano atingiu, em agosto de 1999, o índice de apenas 12% de avaliação positiva, enquanto Dilma, nessa altura, estava abaixo de 10%. O capitão pode replicar o desempenho de ambos antes do fim do primeiro ano.
São três os principais motivos que explicam o que ocorre agora e o que deve acontecer daqui para a frente.
1. A base de Bolsonaro é pequena
Contrariando a versão que circulou depois de sua vitória eleitoral, a de que estávamos perante um tsunami que havia inundado a sociedade brasileira, o bolsonarismo sempre foi um fenômeno limitado. Em agosto, na média das pesquisas publicadas, a dois meses do primeiro turno, Bolsonaro mal passava de 15% em listas com Lula e de 20% quando Haddad era apresentado como o candidato do PT.
Essa é sua base própria, formada por pessoas que haviam sido atraídas pela atuação do capitão ao longo de anos e o clima de opinião pública que o País vivia. Para crescer na reta final, beneficiou-se do declínio de outros nomes à direita, incorporando eleitores que o percebiam apenas como instrumento para derrotar o PT.
Bolsonaro foi além de 15% ou 20% mediante a incorporação tardia de pessoas que relutaram em apoiá-lo até as vésperas do pleito. Não votaram nele por seus méritos, mas por falta de opções competitivas na direita ou desencanto com Haddad.
Analisando a queda no Ibope, percebe-se que ela foi maior nos segmentos de renda mais baixa, onde estão os alvos dos ataques que a campanha de Bolsonaro desferiu contra Haddad na semana que antecedeu o primeiro turno. Foi assim que o capitão venceu, mas sem formar uma base que ultrapassasse o núcleo de evangelizados de longa data. Mamadeiras de piroca podem ganhar votos, mas não fornecem autoridade e legitimidade.
2. As expectativas criadas são inadministráveis
Sem base ampla na sociedade, eleito por uma soma de nãos (para alguns, contra o PT; para outros, contra Haddad), o lógico é que Bolsonaro tentasse ser diferente depois da vitória, procurando consolidar o apoio daqueles para quem nunca fora a opção preferencial.
A outra forma de ampliar sua base seria pelo desempenho. O governo teria de atender rapidamente às expectativas que a sua eleição havia criado: “arrumar a bagunça”, “acabar com a violência”, “fazer o Brasil crescer”. São coisas complicadas, mas que haviam sido vendidas como simplíssimas: bastava tirar o PT do governo que tudo estaria resolvido.
É óbvio que nada disso aconteceu de janeiro para cá. E a chance de que qualquer uma dessas metas seja cumprida, por este governo e em qualquer prazo razoável, é zero. Sem contar que as sugestões até agora alinhadas para consegui-lo nada têm de “novo”. As propostas de Paulo Guedes são mais velhas que a Sé de Braga. O pacote de Sérgio Moro, em seu bacharelismo, tem cheiro de naftalina.
3. Bolsonaro é Bolsonaro
Como o escorpião da fábula, Bolsonaro não consegue ser diferente do que é. Mata quem o leva de uma margem do rio à outra, apenas porque não consegue conter seu desejo de matar, mesmo sabendo que se afogará. Não seria por uma mera eleição para presidente que ele se sentiria na necessidade de mudar.
O erro mais grave que um político pode cometer é acreditar que tem superpoderes, algo de que Bolsonaro e sua trupe têm absoluta certeza. Não passa, contudo, do caminho mais curto para o fracasso.
Vão insistir no que sabem fazer: reagir com arrogância à queda de popularidade que os aguarda. A cada pesquisa nova confirmando-a responderão com bravatas. E, assim, vão agravá-la. É só esperar para ver.
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