quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Sim, nós temos muita vergonha...

Por Tereza Cruvinel

“As mulheres brasileiras sem dúvida têm um pouco de vergonha”, disse hoje o presidente francês Emmanuel Macron.

Sim, temos não um pouco, mas muita vergonha do presidente machista por sua ofensa grosseira e ultrajante à primeira dama Brigitte Macron. E não só por isso, mas por tudo que ele faz e diz, como o mundo inteiro pode ver neste episódio do incêndio amazônico incentivado por seu discurso permissivo em relação à preservação ambiental.

São muitas as vergonhas domésticas mas agora sofremos o vexame internacional, por termos um presidente que mentiu tanto nesta crise, ora negando a gravidade e a extensão da queimada, ora culpando as ONGS e a imprensa, e quando viu que o mundo não é bobo, como a parcela de brasileiros que embarcou nas fake news e nas mistificações do bolsonarismo, abrigou-se no discurso da ameaça externa à soberania brasileira sobre a Amazônia.

Oh, o patriotismo, a patriotada, último refúgio dos canalhas.

Mas nós, mulheres, temos especial vergonha pela ofensa a Briggite Macron.

Depois que o candidato a embaixador Eduardo Bolsonaro chamou o presidente francês de idiota, e o ministro Salles, do Meio Ambiente, o bolinou na rede com o apelido de Mícrion, Bolsonaro, como bom machão, endossou a piada de mau gosto de um internauta, sugerindo que Macron agia por inveja, por ter uma mulher mais idosa e menos bonita que Michele Bolsonaro.

“Agora entende porque Macron persegue Bolsonaro”. Na ilustração, fotos dos dois casais. O próprio Bolsonaro teve a coragem de ir à rede comentar a postagem: “Não humilha cara”. Sem a vírgula mesmo. De fato, como disse Macron, coisas de quem não está à altura do cargo.

Brigitte Macron é 24 anos mais velha que o marido e os dois têm uma bela história de amor, pela qual venceram preconceitos e dificuldades. Ela é uma primeira dama nas medidas da elegância francesa e da liturgia do cargo.

Quando endossa um piada sexista de tão mau gosto, Bolsonaro confirma seu machismo e o que pensa das mulheres: não devem passar de figuras decorativas ao lado do marido-patrão, e valem pela beleza, pelos atributos físicos, pela juventude.

Pelo parecer, e não pelo ser. Pelo verniz da casca, não pelo conteúdo.

Na campanha, quando dissemos “#Ele não”, sabíamos de tudo isso.

Fomos minoria mas hoje está crescendo o número, não só de mulheres, mas também de brasileiros envergonhados do ocupante da Presidência.

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