quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Jornal Nacional e Guedes: o que está por vir?

Por Pedro Simon Camarão, no site da Fundação Perseu Abramo:

Jornalistas da Globonews criticaram o ministro da Economia, Paulo Guedes, em função das declarações feitas por ele no Fórum de Davos, na Suíça. Guedes afirmou que o problema do meio ambiente é a pobreza. Embora seja doutor em economia, o ministro não consegue enxergar que setores do agronegócio, madeireiras e garimpeiros ilegais são os grandes desmatadores de florestas.

Além disso, grandes indústrias e, novamente, o agronegócio e os garimpos ilegais poluem os rios e o ar. Há um bom tempo já que toda a comunidade internacional e o Brasil sabem que a busca incessante por enormes quantias de dinheiro é o que destrói o meio ambiente.

Essa realidade já é tão conhecida que nem o jornalismo da TV Globo foi conivente com as declarações do ministro da Economia. O Jornal Nacional não apresentou críticas diretas ao ministro, mas a reportagem sobre a participação dele no Fórum de Davos colocou a postura de Guedes em xeque, porém, sem contrariá-lo.

A Globo sabe o poder que tem e, por isso, age muito conservadoramente para criticar os ícones da direita que são admirados por boa parte do público da emissora. Exatamente em função dessa característica torna-se relevante a forma como o JN tratou as declarações de Guedes. Até aqui o telejornal não havia colocado em questão os posicionamentos do ministro, apenas no caso do AI-5.

Enquanto o Jornal Nacional utiliza uma linguagem pouquíssimo explícita para discordar de Paulo Guedes, jornalistas da Globonews – emissora que foi um dos QGs do golpe de 2016 – foram enfáticos nas críticas que fizeram ao ministro. No início da tarde, a apresentadora do Estudio i, Maria Beltrão, disse que a declaração de Guedes soava um tanto antiga, fora de contexto.

Já durante a noite, no Globonews Em Pauta, o correspondente nos Estados Unidos, Guga Chacra – tido como um expoente do jornalismo da emissora – disse que o ministro deveria pedir desculpas pelo que falou e, publicamente, apresentar um novo posicionamento. Mônica Waldvogel concordou com Chacra.

A discordância pode ser apenas pontual, mas é inédita. Por outro lado, a TV Globo pode estar refletindo a insatisfação de boa parte do mercado com o lento crescimento da economia e com a agenda de reformas – sim, eles querem que a situação de trabalhadores e trabalhadoras fique ainda mais difícil.

Há ainda outra possibilidade: tucana que é, a Globo pode estar construindo espaço para a nova “velha” agenda de economistas como Armínio Fraga, que defende os interesses do mercado, mas com um pouco mais de participação do Estado do que prega a política econômica de Paulo Guedes. A única certeza é que, como sempre, os interesses do povo fica em último lugar na lista de preocupação do telejornalismo nacional.

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