Por Alan Francisco de Carvalho
Pela primeira vez acontecendo em meio a uma pandemia, o Dia Mundial do Meio Ambiente, neste 5 de junho de 2020, revela as precárias condições de saneamento básico da população, com ênfase nos segmentos mais pobres. No Brasil, somente cerca de 50% dos domicílios possuem rede esgotos; cerca de 15% dos lares sequer possuem água potável em casa. Uma população mais vulnerável ao contágio.
A situação pandêmica, no mundo, evidencia o fosso social: é quatro vezes maior a probabilidade de negros, em sua maioria pobres, morrerem de COVID-19 nos Estados Unidos e no Reino Unidos em relação aos brancos em melhor situação financeira; 60 milhões de pessoas devem engrossar a faixa da pobreza extrema devido à crise sanitária; o número de famintos deve dobrar em relação a 2019, alcançando 265 milhões este ano.
Na América Latina, 3% da população estão na faixa de alta renda e três quartos nas chamadas classes baixa ou média baixa. No Brasil, a imensa maioria dos vitimados pelo coronavírus – e pelo desemprego agravado com a enfermidade disseminada e o decorrente e necessário confinamento – são trabalhadores de baixa renda.
O crime ambiental antecede e – segundo alguns estudiosos – está na base do surgimento e expansão do novo vírus, mas não é uma “ação humana” genérica. Ele atende a interesses classistas, de exploração de recursos naturais visando o lucro, a acumulação de riquezas por parte de uma minoria da população mundial. No início de 2019, a Oxfam (confederação de 19 organizações que atua em mais de 90 países) divulgou que as 26 pessoas mais ricas do mundo detêm a mesma riqueza dos 3,8 bilhões mais pobres, que correspondem a 50% da humanidade. A fortuna dos bilionários aumentou 12% em 2018, o equivalente a US$ 900 bilhões, ou US$ 2,5 bilhões por dia. No Brasil, o 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país, conforme o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em dezembro último.
É o grande capital que apoia e se beneficia de governos que agridem de forma predatória a natureza. O Brasil é um triste exemplo. O Governo Bolsonaro, que investe contra os trabalhadores e os direitos sociais e atende aos interesses do capital financeiro em sua gestão, tem se destacado também na gestão ambiental destrutiva.
Ao longo de sua trajetória política, Jair Bolsonaro incentivou a exploração das áreas ambientalmente protegidas do país, cometendo infrações e defendendo infratores. Assumindo a Presidência da República, afrouxa leis e fragiliza órgãos de preservação ambiental, como os institutos Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio); a flexibiliza e reduz as multas por crimes ambientais; desautoriza fiscais ambientais que destruíram equipamentos apreendidos usados por madeireiros e garimpeiros criminosos; dentre tantas outras ações em andamento.
Na reunião ministerial de 22 de abril, seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, conclamou a aproveitar a oportunidade trazida pela pandemia, em que o foco da mídia está voltada para o novo coronavírus, para mudar regras ambientais que podem ser questionadas na Justiça. Seria o momento de fazer uma “baciada” (foi o termo que usou) de mudanças. "Tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, para simplificar. Não precisamos de Congresso … O emaranhado de regras irracionais atrapalha investimentos, a geração de empregos e, portanto, o desenvolvimento sustentável no Brasil", disse, sob o silêncio cúmplice de seus colegas de governo.
A raiz do problema
Segundo Miguel Nicolelis, neurocientista e coordenador do Consórcio Nordeste (grupo formado pelos nove governadores dessa região brasileira para o desenvolvimento sustentável de seus estados), o sistema capitalista “expôs a toda espécie e planeta à possibilidade de destruir as cadeias de relação de ecossistemas, abrindo o leque de possibilidades da espécie ser extinta. O desequilíbrio com o meio ambiente e na nossa interação com outras espécies animais e com a flora do planeta foi exposto numa ferida que gerou um vírus que pôs o planeta inteiro de joelhos”, afirmou, referindo-se ao COVID-19.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, criado por decisão da Assembleia Geral Organização das Nações Unidas (ONU), serve ao debate da importância de preservar os recursos naturais. Tem por finalidade criar uma postura crítica e ativa em relação aos problemas ambientais existentes no planeta. Para os trabalhadores e sindicalistas, trata-se de uma oportunidade de avançar na compreensão da realidade que nos cerca e apurar a quem serve e a quem se deve responsabilizar e combater pela degradação ambiental.
Nesta sociedade capitalista, inimiga do meio ambiente, vale lembrar o alerta do fundador do socialismo científico, Karl Marx, registrado ainda num de seus primeiros manuscritos, de 1844: “O homem vive da natureza, isto é, a natureza é o seu corpo, e ele precisa manter um diálogo continuado para não morrer. Dizer que a vida física e mental do homem está vinculada à natureza significa simplesmente que a natureza está vinculada a si mesma, pois o homem é parte da natureza”.
* Alan Francisco de Carvalho, coordenador da Secretaria de Comunicação Social da Contee, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino.
Pela primeira vez acontecendo em meio a uma pandemia, o Dia Mundial do Meio Ambiente, neste 5 de junho de 2020, revela as precárias condições de saneamento básico da população, com ênfase nos segmentos mais pobres. No Brasil, somente cerca de 50% dos domicílios possuem rede esgotos; cerca de 15% dos lares sequer possuem água potável em casa. Uma população mais vulnerável ao contágio.
A situação pandêmica, no mundo, evidencia o fosso social: é quatro vezes maior a probabilidade de negros, em sua maioria pobres, morrerem de COVID-19 nos Estados Unidos e no Reino Unidos em relação aos brancos em melhor situação financeira; 60 milhões de pessoas devem engrossar a faixa da pobreza extrema devido à crise sanitária; o número de famintos deve dobrar em relação a 2019, alcançando 265 milhões este ano.
Na América Latina, 3% da população estão na faixa de alta renda e três quartos nas chamadas classes baixa ou média baixa. No Brasil, a imensa maioria dos vitimados pelo coronavírus – e pelo desemprego agravado com a enfermidade disseminada e o decorrente e necessário confinamento – são trabalhadores de baixa renda.
O crime ambiental antecede e – segundo alguns estudiosos – está na base do surgimento e expansão do novo vírus, mas não é uma “ação humana” genérica. Ele atende a interesses classistas, de exploração de recursos naturais visando o lucro, a acumulação de riquezas por parte de uma minoria da população mundial. No início de 2019, a Oxfam (confederação de 19 organizações que atua em mais de 90 países) divulgou que as 26 pessoas mais ricas do mundo detêm a mesma riqueza dos 3,8 bilhões mais pobres, que correspondem a 50% da humanidade. A fortuna dos bilionários aumentou 12% em 2018, o equivalente a US$ 900 bilhões, ou US$ 2,5 bilhões por dia. No Brasil, o 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país, conforme o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em dezembro último.
É o grande capital que apoia e se beneficia de governos que agridem de forma predatória a natureza. O Brasil é um triste exemplo. O Governo Bolsonaro, que investe contra os trabalhadores e os direitos sociais e atende aos interesses do capital financeiro em sua gestão, tem se destacado também na gestão ambiental destrutiva.
Ao longo de sua trajetória política, Jair Bolsonaro incentivou a exploração das áreas ambientalmente protegidas do país, cometendo infrações e defendendo infratores. Assumindo a Presidência da República, afrouxa leis e fragiliza órgãos de preservação ambiental, como os institutos Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio); a flexibiliza e reduz as multas por crimes ambientais; desautoriza fiscais ambientais que destruíram equipamentos apreendidos usados por madeireiros e garimpeiros criminosos; dentre tantas outras ações em andamento.
Na reunião ministerial de 22 de abril, seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, conclamou a aproveitar a oportunidade trazida pela pandemia, em que o foco da mídia está voltada para o novo coronavírus, para mudar regras ambientais que podem ser questionadas na Justiça. Seria o momento de fazer uma “baciada” (foi o termo que usou) de mudanças. "Tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, para simplificar. Não precisamos de Congresso … O emaranhado de regras irracionais atrapalha investimentos, a geração de empregos e, portanto, o desenvolvimento sustentável no Brasil", disse, sob o silêncio cúmplice de seus colegas de governo.
A raiz do problema
Segundo Miguel Nicolelis, neurocientista e coordenador do Consórcio Nordeste (grupo formado pelos nove governadores dessa região brasileira para o desenvolvimento sustentável de seus estados), o sistema capitalista “expôs a toda espécie e planeta à possibilidade de destruir as cadeias de relação de ecossistemas, abrindo o leque de possibilidades da espécie ser extinta. O desequilíbrio com o meio ambiente e na nossa interação com outras espécies animais e com a flora do planeta foi exposto numa ferida que gerou um vírus que pôs o planeta inteiro de joelhos”, afirmou, referindo-se ao COVID-19.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, criado por decisão da Assembleia Geral Organização das Nações Unidas (ONU), serve ao debate da importância de preservar os recursos naturais. Tem por finalidade criar uma postura crítica e ativa em relação aos problemas ambientais existentes no planeta. Para os trabalhadores e sindicalistas, trata-se de uma oportunidade de avançar na compreensão da realidade que nos cerca e apurar a quem serve e a quem se deve responsabilizar e combater pela degradação ambiental.
Nesta sociedade capitalista, inimiga do meio ambiente, vale lembrar o alerta do fundador do socialismo científico, Karl Marx, registrado ainda num de seus primeiros manuscritos, de 1844: “O homem vive da natureza, isto é, a natureza é o seu corpo, e ele precisa manter um diálogo continuado para não morrer. Dizer que a vida física e mental do homem está vinculada à natureza significa simplesmente que a natureza está vinculada a si mesma, pois o homem é parte da natureza”.
* Alan Francisco de Carvalho, coordenador da Secretaria de Comunicação Social da Contee, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino.
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