Por Rodrigo Vianna, no site Brasil-247:
O bolsonarismo, movimento de inspiração e traços fascistas, segue um padrão: colocar-se sempre em movimento.
O presidente e seus asseclas avançam sobre as instituições: já controlam o poder Executivo, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e agora acabam de eleger aliados para presidir Câmara e Senado. Dos três poderes da República, só o Judiciário mantém-se ainda relativamente imune.
As alianças do bolsonarismo no Parlamento mostram a capacidade de Jair Bolsonaro de fazer um discurso (falso) anti-institucional e, ao mesmo tempo, conquistar posições nas instituições - em parceria com setores da "velha política" que ele antes fingia combater.
A cada vez que ensaia esse tipo de aproximação, Bolsonaro colhe entre aliados "liberais" a avaliação benevolente de que "agora entendeu", e de que merece uma "segunda chance.
A capa da revista Veja, os acenos do mercado financeiro para Artur Lira e a acomodação de setores da direita tradicional com o bolsonarismo indicam a incapacidade da elite "tradicional" de enxergar o óbvio: Bolsonaro tem um projeto autoritário e o fim último de seu projeto é a destruição do que resta de Democracia.
Reparemos também que há um outro padrão nas ações bolsonarescas. A cada vez que perde apoio na população, ele radicaliza o discurso e incentiva o ataque. Finge recuar, para logo em seguida atacar. Sem trégua nem limite.
Isso já ocorrera em maio/junho de 2020, no início da pandemia. Àquela altura, com a economia paralisada e com um discurso de "gripezinha" e "e daí?" diante das mortes, Bolsonaro viu sua popularidade despencar. O auxílio emergencial ainda não havia chegado para socorrê-lo...
Foi naquele momento, temendo a derrocada, que o presidente incentivou manifestações em defesa do Golpe.
Sobrevoou de helicóptero a praça dos Três Poderes, andou a cavalo pela Esplanada, foi a um ato em defesa do AI-5 em frente ao Comando do Exército. Fez isso tudo para garantir que não perderia a fatia mais radical de seus apoiadores: aqueles 20% do país que parecem apoiar um projeto autoritário, aconteça o que acontecer.
Agora, a estratégia se repete.
Bolsonaro cai nas pesquisas, porque o auxílio emergencial acabou e Guedes (com os bancos) chantageia milhões de brasileiros às portas da fome: quer trocar a renovação da "ajuda" por mais cortes e "sacrifícios".
O novo auxílio deve ser implantado só em março, ou abril, mas só surtirá algum efeito dois ou três meses depois. O primeiro semestre de 2021 será de uma árida travessia para os brasileiros, e para o governo que se esfarela enquanto faltam empregos, vacinas e até oxigênio.
O que faz o bolsonarismo?
Apela de novo para o toque de reunir extremista!
A ação de Daniel Silveira, ao atacar e ameaçar o STF, não foi um gesto tresloucado e desmedido, individual. Há método nisso. O mais perigoso: Silveira (um bolsonarista extremado) ataca o STF no momento em que ministros da Corte Suprema enfrentam (tardiamente) o golpismo dos generais.
É evidente que Bolsonaro usa Daniel Silveira para dizer ao generalato: contem conosco para enfrentar o STF.
Bolsonaro usa também esses personagens (frágeis, recalcados, em busca de atenção - como Sara Winter, ou o deputado quebrador de placa) para promover uma escalada verbal que o ajuda a agrupar suas tropas mais extremistas.
Assim como já fizera em 2020, o STF reagiu com a firmeza devida. Prendeu Silveira em flagrante. Fica claro que o deputado desejava a prisão e cumpria uma missão: gravou vídeo enquanto era preso, dobrando a aposta contra o STF, numa tática de instigar os mais radicais do bolsonarismo.
A tática é inteligente mas, a cada movimento desse tipo, o encanto se quebra na base social que elegeu o capitão.
Parte dos (ainda) apoiadores de Bolsonaro se desprende. O presidente e seus asseclas têm uma margem limitada para acionar esse dispositivo de "radicalizar pra manter as tropas reunidas". A cada movimento, as tropas se tornam menores. E quanto menores, mais perigosas.
O covarde Daniel Silveira já quebrou a placa de Marielle em 2018; em 2021, achou que tinha forças para quebrar a ordem democrática. Mas sua ação pode ter ajudado a desenhar mais uma rachadura no muro bolsonarista, que precisa ser golpeado várias vezes para ser enfim derrubado em 2022 - ou, se possível, antes disso.
É fundamental resistir aos arroubos e ameaças, punir os extremistas e isolar o bolsonarismo. Mas é preciso entender que Jair não age sozinho. O troglodita Daniel Silveira é um sinal da aliança que o capitão busca reforçar com os generais. O governo é cada vez mais um governo militar.
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