domingo, 28 de fevereiro de 2021

Brasil à beira do colapso do sistema de saúde

Por Gabriel Valery, na Rede Brasil Atual:

O Brasil registrou 1.337 mortos pela covid-19 nas últimas 24 horas. A semana se encaminha para ser a de maior número de vítimas do novo coronavírus desde o primeiro contágio no país, no final de fevereiro de 2020. O vírus segue com disseminação fora de controle levando o Brasil ao colapso do sistema de saúde. A média móvel diária de mortes, calculada em sete dias, está em seu patamar mais alto: 1.153.

Em relação ao número de infectados, o Brasil soma 10.455.630, com acréscimo de 65.169 no último período. A curva epidemiológica de contágio mantém-se em nível mais elevado do que na primeira onda de impacto da covid-19, registrada entre junho e setembro. Enquanto isso o país permanece sem ações em âmbito federal para controle da doença. E também vacina em ritmo muito lento.



Curvas epidemiológicas médias de novos casos e mortes diárias
Fonte: Conass


De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Brasil chegou hoje (26) ao seu pior patamar. O Boletim Observatório Covid-19 revela que o país tem a maior ocupação de UTIs da história; mais de 80%. O percentual de leitos com pacientes passa dos 90% no Amazonas (94,6%), Ceará (92,2%), Paraná (91,9%), Rondônia (97,1%) e Santa Catarina (93,4%). Entre 80% e 90%, estão Acre (88,7%), Distrito Federal (87%), Goiás (89,2%), Pernambuco (85%), Rio Grande do Norte (81,4%), Rio Grande do Sul (83,6%) e Roraima (82,2%).

“A gravidade deste cenário não pode ser naturalizada e nem tratada como um novo normal. Mais do que nunca urge combinar medidas amplas e envolvendo todos os setores da sociedade e integradas nos diferentes níveis de governo”, afirma o boletim.

Mentiras e desinformação

No mesmo dia em que o país registrou mais mortos pela covid-19, chegando a mais de 251 mil óbitos, o presidente Jair Bolsonaro, em uma live, voltou a espalhar fake news e desinformação. Ele tratou uma pesquisa realizada na internet como se fosse um estudo de uma universidade alemã, para afirmar que máscaras fazem mal à saúde. A posição dele diverge do consenso mundial da comunidade científica. Diante disso, o presidente figurou durante o dia de hoje entre os assuntos mais comentados das redes sociais com a hashtag #BolsonaroGenocida.

Para o epidemiologista da Fiocruz Amazonas Jesem Orellana, o momento é de lamento e preocupação. “A Fiocruz reconhece que o sistema de saúde do Brasil encontra-se neste momento próximo ao colapso”, disse, em entrevista para o programa Bom pra Todos, da TVT. “Temos cada vez mais claro que se não afastarmos o presidente da República e seu ministro incompetente vamos seguir para o desconhecido. Não temos ideia do que vai acontecer. Estamos em um cenário trágico com semanas e semanas com a média móvel acima de mil e quebrando recorde de mortes diárias”, completou

O descontrole do surto no país e a realidade do número acentuado de vítimas e novos casos diários indica que o futuro próximo seguirá trágico. “As próximas semanas vão ser muito difíceis. Principalmente nas grandes metrópoles com o aumento significativo das internações hospitalares e ameaças de colapso. Seguindo o curso do histórico da doença, temos mais pelo menos umas três ou quatro semanas dramáticas. Se não implementarmos medidas de contenção teremos um prolongamento do drama por mais semanas e meses. Não sabemos aonde vamos parar”, disse Jesem.

2021 perdido

As atitudes do governo Bolsonaro estão entre as principais razões para o Brasil ser o segundo país com mais mortos no mundo. E viver a aceleração da doença, caminhando para o colapso do sistema de Saúde, enquanto o resto do planeta aponta para a redução de casos e mortes. Jesem Orellana lembra que o presidente segue com sua postura de negar a ciência.

“Não temos expectativas positivas em relação ao controle da pandemia. Escutamos o presidente dizendo que máscaras são prejudiciais à saúde”, disse o epidemiologista. “Enquanto isso nosso processo de imunização massiva já está perdido em 2021. É realmente muito preocupante a situação. Já perdemos a luta contra a covid-19 no primeiro semestre de 2021. Não há a menor chance de virarmos o jogo. Falhamos nas medidas de contenção, não há expectativas de medidas de isolamento e menos ainda de vacinação em massa”, completou.

Grupo de risco

A influência de Bolsonaro, que estimula aglomerações, nega o isolamento e as máscaras e já chegou a espalhar mentiras sobre perigos inexistentes das vacinas, é parte da construção de um grupo especial de risco. São pessoas que, levadas pelo discurso do presidente, negligenciam a própria saúde e de seus familiares. “Pior do que se contaminando, o grupo de risco do bolsonarismo está disseminando o coronavírus para pessoas de seu convívio. São pessoas que representam o pior dos fatores de risco”, diz o cientista.

“Nesta segunda onda, muitas pessoas jovens têm morrido sem histórico de comorbidades. Boa parte dessas pessoas entre 25 e 50 anos são negacionistas que aderem à narrativa errática de não usar máscaras, promover aglomerações, negar a pandemia. Esse, sem nenhuma dúvida, é o pior de todos os grupos de risco: os negacionistas seguidores da narrativa do governo Bolsonaro. Eles nos levam a essa situação de hoje de descontrole”, completou.

Vacinação

O Brasil continua a registrar taxa de vacinação baixa. Foram administradas 7,8 milhões de doses. Com isso, apenas 2,92% da população recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19. Para Jesem, o processo de imunização completo no país está comprometido durante 2021. “Impossível porque erramos em 2020. Não firmamos os contratos necessários, conduzimos uma política externa diplomática desastrosa com nosso principal fornecedor, a China”, disse.

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